Existe
um Islão não político?
António Justo
Factores impulsionadores da
violência
O Islão considera a política e a religião como uma
unidade inseparável (sem separação entre poder secular e poder religioso) e, ao
mesmo tempo, subjuga a dignidade da pessoa aos interesses da comunidade e segue
o princípio selectivo da evolução dando a razão ao mais forte. Como na ditadura
do proletariado também no islão o indivíduo é meio e não fim em si; os
interesses do grupo justificam a imolação do indivíduo porque o que está em
causa é a justificação da superioridade da cultura (instituição) e não a relação
pessoal e comunitária; tais pressupostos fomentam a violência e a guerra porque
vinculam totalmente a pessoa (individual, religiosa e politicamente) ao sistema
seu que se afirma contra outros sistemas.
Cultura
do gueto contra cultura aberta
Uma sociedade para
ser pacífica tem de ser plural, tem de partir da liberdade e da dignidade
individual e não dos meros
interesses da instituição que faz do crente um escravo de Deus e da religião.
Os políticos ocidentais não se importam com a dupla estratégia dos membros de países de
cultura árabe: os muçulmanos, no estrangeiro, exigem abertura social-cultural
da sociedade acolhedora para se afirmarem nela como gueto e a nível nacional interno
perseguem ou discriminam quem não for muçulmano.
Assim se processa um método sub-reptício de invasão de
uma cultura pela outra sem contrapartidas nem acordos bilaterais
correspondentes. O argumento muçulmano
usado, de que a nossa sociedade ocidental deve abrir-lhe totalmente as portas
pelo facto de se definir como sociedade aberta, não é coerente e não legitima,
por outro lado, que a sociedade muçulmana do país de origem se afirme como
monolítica e fechada, quando, no estrangeiro, se afirme na sociedade aberta
como gueto.
Representantes
islâmicos escondem, no seu diálogo com os políticos e com os representantes de
outras religiões, que na sua religião mais que de religião e ética se trata de
poder e influência religiosa e política. Considerando as coisas meramente sob o
pressuposto do poder, o grande forte da cultura islâmica perante outras
culturas reside ainda no facto de não distinguir entre religião e política, entre
poder religioso e poder secular, considerando o islão como factor de identidade
nacional, cultural e individual.
Representantes
do islão, para defenderem o seu satus quo, procuram, inteligentemente, confundir
os parceiros de diálogo dizendo que Maomé tinha ao mesmo tempo uma função
religiosa e política (falava ao mesmo tempo como profeta e como guerreiro
comandante. Deste modo as mensagens
de Maomé são consideradas ao mesmo tempo políticas e religiosas ou conforme dê
mais vantagem; esta foi uma estratégia que o islão fez e faz na sua política
imperialista. Palavra de honra e vinculativa só há em relação aos da própria
religião.
Uma outra estratégia de branqueamento da violência
islâmica é afirmar-se que fundamentalistas também os há nos cristãos. Naturalmente
todas as pessoas trazem consigo o bem e o mal mas há uma grande diferença quando
se valem da violência e da repressão.
Neste sentido, a religião muçulmana torna-se num
instrumento político que através da instrumentalização do súbdito muçulmano
opera uma invasão agressiva, ao não permitir liberdade individual ao crente e ao
utilizar a religião como único factor de poder e de expansionismo hegemónico (pena
de morte, procriação, mulheres e escravas) e definir como muçulmano todo o
filho de pai islâmico (por isso, uma muçulmana que se casasse com um não muçulmano
constituiria motivo de vergonha e desonra para a família que chega a motivar assassino
por motivo de honra, como acontece, por vezes, também na Alemanha). Como se
verifica, o poder islâmico é de uma congruência insuperável no sentido de fazer
valer a sua posição perante os de fora. O Islão não mudará enquanto não se
abrir à teologia e enquanto continuar posse de associações e funcionários com
um emaranhado de interesses que ligam a religião ao chauvinismo nacional. Exemplo:
Ditib – confederação de associações turcas na Alemanha - tem representado
interesses antidemocráticos da Turquia que com o seu ministério da religião e correspondente
envio rotativo de imames vê o fascismo turco ser apoiado na Alemanha em
contraposição com os princípios democráticos da sociedade alemã. Na Alemanha e
noutros países as instituições conservadoras islâmicas são muito fortes e
consideram-se os únicos parceiros de diálogo e a política como precisa de
parceiros organizados, para o diálogo, fomenta-os; os muçulmanos mais liberais são arredados dos órgãos de co-decisão e
deste modo impede-se um Islão mais humanista. Assim se vai formando uma
sociedade paralela de religião totalitária. Na Alemanha nas ruas das grandes cidades, torna-se
visível uma invasão islâmica no vestir das mulheres. Depois de mais de 40 anos
de presença turca cada vez se nota mais o avanço do islão de lenço na cabeça.
A liberdade religiosa no cristianismo e nos países
ocidentais favorece o avanço do Islão que não concede liberdade nem
contrapartidas e por outro lado enfraquece a laicidade nos países de cunho cristão.
A proibição de
interpretar o Corão de maneira histórico-crítica (ao contrário do que acontece no
cristianismo) reduz a espiritualidade individual ou grupal a uma incrustação de
palavras cultuais e culturais que permanecem estáticas nas mensagens éticas do
século VII. Assim, a religião muçulmana
é uma religião política sendo uma farsa falar-se do islão político, quando, na
realidade, o que a jurisprudência muçulmana só permite o islão político porque
só considera a liberdade e a dignidade individual da pessoa numa relação de
subjugação e de súbditos da sua cultura árabe e esta como a única verdadeira; uma certa tolerância só é taticamente
usada num período de transição até que o grupo islâmico se torne maioria. O islão é
intolerante, servindo-se da ambiguidade, como meio de afirmação, e do fascismo
religioso não só como factor identitário mas também como estratégia hegemónica. Na Europa há cientistas do islão que, pelo facto de
defenderem uma análise histórico-crítica do Corão e de Maomé, vivem sob
vigilância policial para não se tornarem vítimas de algum atentado islâmico. O Corão tem muitas revelações jurídicas que requerem
localização histórica para não prolongarmos ad infinitum muitos dos seus costumes
primitivos.
O islão também
tem, muitas vezes, má fama por não reconhecer que o terrorismo islâmico tem a
ver com o islão: por toda a parte se assiste à prática da violência islâmica no mundo mas publicamente
afirma a sua vontade de paz e não se observe em nenhuma parte manifestações islâmicas
contra o terrorismo.
A interpretação
oficial de que o Corão é literalmente palavra de Deus dá razão e motiva os
terroristas muçulmanos a fazerem o que fazem porque isso está escrito no Corão
e Maomé foi o primeiro a dar o exemplo de violência e não cumprimento de
acordos. Os líderes
islâmicos continuam a manter longe deles a autocrítica e não se preocupam por
uma auto-compreensão mais adequada aos tempos modernos.
O
Deus de uma cultura espelha a realidade do Homem dessa cultura
Para se poder compreender textos antigos, a sua leitura
terá de ser feita no seu contexto histórico e também serem submetidos à análise
histórico-crítica. Querer interpretá-los apenas literalmente como fazem os
muçulmanos e os Testemunhas de Jeová leva a confundir o seu espírito com o
corpo (escrita) que lhes dá forma.
O mesmo se diga sobre a história do desenvolvimento da consciência
ética e moral! Por outro lado a revelação de Deus também não se deixa reduzir a
uma rima, nem ao casulo de uma cultura nem tão-pouco à imagem que esta faz dele
para se poder definir e subsistir; o lugar da revelação de Deus é a pessoa que
vive em comunidade e como tal só serve o Homem a cultura que o liberta e não a
cultura ou religião que o subjuga com armaduras pesadas e impostas para fazer
dele apenas soldado e se afirmar à custa dele. Soldado implica guerra, a não ser que se entenda como irmão da
caridade e do amor que que disponibiliza a sua vida em serviço do próximo vendo
em cada pessoa um filho de Deus independentemente da sua fé ou crença.
Deus revela-se à medida que o Homem é capaz de entendê-lo
e a sua imagem de Deus é a melhor definição do que ele é e pretende ser. Por
isso embora só haja um Deus, há contudo
diferentes e quase contraditórias imagens dele (religiões). Por isso Deus não é
igual a Deus e consequentemente religião não é igual a religião.
Em relação ao islão necessitam-se diferentes abordagens
dos textos sagrados, como se faz na teologia ocidental; isto ajuda a evitar
fundamentalismos sem a necessidade de se desfazer dos textos nem, por outro
lado, de amarrar o sentido à casca das palavras ou aos interesses de uma
instituição em que a dignidade humana não seja o princípio de soberania social.
A
nossa percepção depende do contexto porque somos feitos também de comunidade
Em geral, o erro dos dirigentes muçulmanos vem do facto
de não permitirem a análise contextual histórico-crítica, considerando o Corão
como um monólogo de auto-revelação divina: um monólogo sem parceiro que o
entenda.
O ser humano só se reconhece no diálogo ou no encarar um oposto
(o rosto do outro leva-me a reconhecer e a perceber o meu rosto, sem
necessidade de, para ser, negar o outro!). Por isso o ser humano é o resultado
do diálogo em diálogo. No diálogo pessoal e cultural de Deus com o Homem
revelam-se simultaneamente Deus e o Homem na continuação do diálogo criador-criatura. O entender do homem é, também ele, uma revelação de si
mesmo e de Deus. Deus dá-lhe a mão para que o humano deixe de rastejar e se
levante na afirmação-procura do que é mais que uma imagem projectada num ecrã
material.
No princípio era a
Palavra, a Informação e esta tornou-se carne, revela-nos já o evangelho de S.
João. Do diálogo surge comunidade, a comunidade dialogante que não se reduz ao
diálogo do eu com um tu mas que se realiza no nós (comunidade). Por isso Deus é
trinitário, não se reduz ao deserto de um monólogo de um ausente consigo mesmo,
nem à crusta da terra porque esta encobre vida. É comunicação do ser, expressa
no estar, no sempre a tornar-se (acontecer).
Deus é a relação por excelência que faz da vida relação, não
podendo ser limitador da relação como quer o Islão, com muitas frases do Corão,
que procura, através delas, aprisionar Deus na cultura árabe e legitimar a
opressão e a perseguição dos vizinhos (dos fora do gueto: os denominados ímpios
ou incrédulos). Também muitos muçulmanos
terroristas justificam o seu agir violento com o Corão, interpretando-o à letra
mas não notando que muitos textos do Corão se encontram em contradição e que
neles Alá muda de opinião conforme os interesses da situação, por vezes muito
mundanos.
Naturalmente, o conteúdo do Corão ou de uma revelação não
pode ser reduzido ao contexto histórico ou a uma história edificante para o
tempo. Trata-se de ver o que a casca do texto encobria para hoje melhor
compreendermos a verdade profunda que ele esconde e que também hoje usamos para
melhor nos definirmos, percebermos e expressarmos. Não se trata apenas de
descobrir o conteúdo ético ou histórico mas a espiritualidade que dele brota
como eco de Deus, na expressão que encobre o exprimido.
Em contexto apologético, representantes muçulmanos falam
muito de justiça e misericórdia que são naturalmente valores que se referem ao
tratamento, ao manejo exterior e que se podem encontrar também no Corão. Mais
importante que a justiça e a misericórdia é o amor, o amago do que é vida,
relação, o único suporte de tudo o resto.
O Islão tornar-se-á cada vez mais anacrónico se não se
orientar mais no sentido da espiritualidade e não permitir a análise histórico-crítica
das suas fontes.
© António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e
Pedagogo
Pegadas do
Espírito no Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4096
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