segunda-feira, 24 de junho de 2019

LIBRA – A MOEDA DO FACEBOOK

De Democracias partidárias para Democracias por acções?

António Justo
Com o anúncio do Facebook de querer criar uma moeda (Libra) digital, no primeiro semestre de 2020, os Bancos nacionais encontram-se em estado de alerta, pelo que isso implicaria para o sistema bancário em geral e para os reagrupamentos de interesses nacionais.

Para o banco alemão “o Facebook poderia tornar-se no maior gestor de activos do mundo e, deste modo, relevante no sistema."

Os bancos centrais deixariam de determinar as regras do jogo, o que se tornaria um problema para o branqueamento de capitais, o financiamento do terrorismo e a evasão fiscal. Um outro aspecto importante que levará todos os governos a levantarem-se contra uma possível moeda concorrente  vem do facto de que, com tal criação, os governos deixariam de ter um instrumento importantíssimo no controlo dos cidadãos  como é a rede dos bancos (o número da conta bancária, tornou-se a nível de controlo indirecto dos passageiros, um índice seguro sobre quem viaja de um país para outro).

De facto uma moeda digital do Facebook, que tem 2,7 mil milhões de utilizadores, poderia possibilitar a milhões de utilizadores diários pagarem bens e serviços a preços mais reduzidos.
Pôr-se-ia a questão se dinheiro do banco central seria mais seguro do que o dinheiro privado. A verdade é que a concorrência, em geral, beneficia o cliente. 

O jornal BILD informou que após o anúncio do Facebook de publicar sua própria moeda digital, o preço da criptomoeda Bitcoin subiu rapidamente em curto espaço de tempo, atingindo a maior cotação desde 2018 (1). 

Hoje já se fala que a moeda Libra deve estar indexada ao euro e a outras moedas e e estar sujeita ao IVA nas transacções. 

Este seria mais um golpe na soberania dos Estados e um passo largo na realização do capitalismo liberal.

Os banqueiros apontam para o perigo de os estados-nação se tornarem dependentes de uma única corporação gigante como Facebook. 

De acordo com o Wall Street Journal, o Facebook tem apoiantes, entre eles, as duas empresas de cartões de crédito Visa e Mastercard, o provedor de serviços de pagamento PayPal e o provedor de serviços de viagens Uber (2).

Se é bem verdade que os Estados precisam de instituições que temperem a ganância de impostos dos governos, é certo que uma tal medida, sem regulação estatal, corresponderia a mais um grande passo  na implantação da total ditadura do capital e do dinheiro como único elixir existencial.

Será que o nosso sistema de democracia partidária não se tornaria numa democracia por acções? 

© António da Cunha Duarte Justo
(1)   A designação de criptomoeda para a moeda digital do Facebook é incorrecta (não pode ser comparada à criptomeda Bitcoin).

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