Cheguei hoje de Portugal
Estava um tempo fantástico em que
pude saborear a luminosidade sublime do céu de Portugal!
Vi as pessoas, boas, a correr
para um futuro que parece melhorar mas de porvir muito difícil e incerto! Vi a
tristeza e a revolta de muitos para quem a vida parece andar para trás! Vi
também o sonho e a alegria de pessoas que crêem apesar de tudo! Vi a leviandade
de muitos que, na esperança de mudanças, vivem obstinados na crítica aos
partidos mas não estão dispostos a mudar a própria vida.
Não pude compreender que, num
Estado, já há anos em bancarrota, os partidos já não tenham feito governos de
grande coligação dos partidos maiores, para salvação do país; noutros países,
em que os partidos não olham apenas para o próprio umbigo e o povo anda
acordado, quando o Estado se encontra em dificuldade, fazem-se grandes
coligações para se congregarem forças que doutro modo se perderiam em
discussões infrutíferas (caso da grande coligação na Alemanha). Não pude
compreender que o povo ainda se não tenha dado conta desta necessidade,
preferindo deixar os partidos viverem sem compromisso, à custa do Estado e a
enganar o povo no jogo do pingue-pongue. Não pude compreender que tudo fala em
nome do povo contra tudo e contra todos esquecendo que a vida é compromisso e
que o povo só pode viver bem na colaboração de trabalhadores e patrões; fala-se
de povo e esquece-se que quem determina o andar da nação é a classe média e
superior. A classe média abdicou e não se encontra à altura do papel que
deveria realizar no Estado e no país.
Cheguei de Portugal, um país de
opiniões e partidos mas sem Estado nacional. Apesar da crise, o país continua a
não querer acordar. Continua, acabrunhado pela crise, a viver debaixo das
mantas do dogmatismo da opinião e duma crítica pela crítica que se contenta em
despejar a bexiga fora do penico. Estive num país que tem uma grande cultura e
um povo simples, criativo e bom mas a quem falta uma “burguesia” cultural,
económica e política com espírito patriótico. Em Portugal temos indivíduos,
amigos, famílias e partidos; só não temos Estado, País nem Nação; falta-nos
falta a consciência de povo, estado e nação.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
4 comentários:
Pode transparecer presunção da minha parte, mas como se faz acordo com um bando de aldrabões dos tipos do PSD?
Mário Moura
Prezado senhor Mauro Moura, compreendo a sua questão mas o grande problema de algumas democracias partidárias situa-se na sua incapacidade de assumir compromissos.
Temos os partidos que temos, todos eles têm vivido ao serviço das suas clientelas. A única maneira que o povo teria para os levar a agir em favor do Estado seria obriga-los a tomar compromisso fazendo Grande Coligação; isto levaria a uma discussão pública mais centrada na coisa pública e não na coisa partidária que só conhece o seu bem e o mal dos outros.
Num Estado em que mais que a democracia vale o partidarismo não se pode partir do ideal. A nação e o estado terão de ser construídos pouco a pouco. Para isso a camada social que poderia determinar os destinos da nação terá de assumir responsabilidade para não deixar o destino da nação ao sabor do partidarismo divisionista. Em países em que os partidos não se apoderaram do Estado, como é o caso da Alemanha, criam-se governos de grandes coligações para que os maiores partidos se ocupem da coisa nacional e não da coisa partidária. Triste é a situaç1bo portuguesa em que o povo não obriga os partidos à formação de Grandes Coligações. Assim, estas são obrigadas a elaborar programas governamentais resultados do compromisso, comprometendo uns e outros; assim se impede a demagogia partidária do bota-abaixo do adversário e se supera o extremo partidarismo saciador de clientelas. Naturalmente que, quando se formam governos de grandes coligações ganham, pelo menos, a nível ideológico, os partidos pequenos que não fazem parte da grande coligação.
Atenciosamente
António Justo
Entendo tudo isto, Senhor António Justo, isto da coligação e de partidos não se apossarem do país. Do pouco que já consegui compreender da atual situação de Portugal, da maneira política, dos eleitores (a maioria reacionários) e da política econômica. A política é mesmo um desastre, um grupinho aqui, outro ali, e mais um acolá. Os eleitores já tenho dito. A política econômica é um desastre. Simplesmente para que Portugal aderisse à Comunidade Europeia e seu mercado comum, vocês tiveram de vender a alma, liquidaram a produção e agora (é o que mais senti) estão perdendo o traço cultural. Mas não fique triste, pois aqui no Brasil temos tudo isto e mais alguma coisa. Parece que a cada dia vamos caindo para o abismo institucional da Nação e o pior é que o sistema político presidencial dificulta e muito a derrubada do governo, que, apesar de suas boas intenções, todos os dias aparece uma falcatrua do tamanho de um bonde, aliás, da Petrobras. O atual governo aqui é uma grande coligação, parece mais um amontoado de pedintes, que primeiramente procuram aproveitar o máximo em benesses próprias e depois em favor dos partidos, é o tal aparelhamento partidário. Uma desgraça! Por conta disto a corrupção se perde nos escaninhos dos tribunais e a população fica sempre ao léu. Saudações e espero que encontremos uma luz ao final do túnel,
Mauro, in Diálogos-Lusófonos, 17.04.2014
Sim, Senhor Mauro Moura, Segundo a minha opinião a “luz ao final do túnel” virá quando, na sociedade, o grupo social com capacidade de reflexão e influência ganhar consciência nacional e de povo. Só este será capaz de mover o país contrariando o comodismo e aproveitamento dos Meios de Comunicação Social, da justiça e da administração que se encontram ao serviço do status quo. O povo não existe; o que existe são interesses e interesseiros encostados ao Estado. Grande abraço António Justo
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