Fobias de extremos de Direita e de Esquerda como estabilizadores do Sistema
António Justo
Tudo fala do problema das novas
forças de direita e esquerda que irão desestabilizar a União Europeia (EU)
quando grande parte dos problemas virá do eixo Alemanha-França. A verdadeira ameaça da UE encontra-se nos
problemas não resolvidos entre Alemanha, França e Inglaterra e na debilidade de
países do sul.
Os egoísmos nacionais manifestam-se no rejuvenescer do nacionalismo que uma
opinião pública controlada tenta vender como catástrofe de extremismos de
Direita ou de Esquerda. Até às eleições a opinião pública via o
risco da UE nos países de economia fraca; agora querem-no ver nas forças anti UE
de esquerda e de direita. O que vem à tona é a desestabilização de uma Europa com
a crescente fragmentação partidária e consequente insegurança dos tradicionais
partidos do poder que se têm de orientar de novo para se manterem no poder. A
sua má política provocou o descontentamento geral e manifestou-se nos eleitores
contestadores.
Seria natural que o fenómeno do
nacionalismo acontecesse no sul, em países com forte crise económica. Mas o
maior indicador do problema europeu revela-se no facto de o nacionalismo se
acentuar mais ainda nos países de economias fortes. O nacionalismo cresce nos
países de economia fraca (Portugal honrosa excepção) porque se vêm expostos à exploração
internacional e também aumenta nos países fortes porque as populações querem
manter o seu alto nível de vida jogando à defesa e à custa dos mais fracos.
As eleições francesas questionam o eixo da UE: Alemanha-França
O Problema da UE é de cabeça e estômago.
Se tivermos em conta o liberalismo económico adoptado pela EU na sequência da
ideologia globalista, a Alemanha adaptou a sua política ao globalismo enquanto
a política francesa, embora seja a segunda economia da Europa, não se adaptou
às novas leis que determinam o mercado.
Na Alemanha o mercado e a política afirmam-se
como dois parceiros em pé de igualdade, na França a política é mais dirigista reservando
para ela o poder de dominar o mercado e a produção. A dicotomia que se observa
na França entre economia e política repete-se entre política e sindicatos; a
política tem medo dos sindicatos, não reagindo adequadamente à economia
globalista. Daí a grande crise económica e estrutural da França.
Na França como nos países do sul continua a
acreditar-se na independência e no poder todo-poderoso da política esquecendo
que se esta não for bem controlada, as forças económicas facilmente compram os
políticos passando a viver descansadamente com políticos e sem o incómodo de
terem de estar atentos a políticas económicas nacionais.
A Alemanha é o melhor exemplo dos piores defeitos e das melhores virtudes
de governação
O historiador Ralf Jaksch, afirma no HNA que a
economia francesa é marcadamente mercantilista e como tal precisa da legitimação
política o que a torna mais constante mas a incapacita de reagir tão atempadamente
às forças do mercado. a economia francesa é uma influência duradoura
mercantilista.
A política e os sindicatos alemães,
mais flexíveis à competição económica, prepararam-se para a batalha da globalização,
já nos finais dos anos 90, princípios de 2000; neste sentido uniu-se governo, oposição, sindicatos e patronato
para organizarem compromissos a nível nacional para fazerem as necessárias reformas
relativas ao mercado de trabalho e poderem manter-se na primeira liga da exportação.
Deste modo, a Alemanha reagiu como povo e não só os grupos de interesse dentro dela,
como acontece principalmente nas nações do sul. Assim a Alemanha tranou-se ainda
mais competitiva e com produtos tecnológicos de maior qualidade, podendo assim
manter preços estáveis de exportação porque não tem a concorrência de outros
países, a esse nível. Devido a esta política alemã os seus custos unitários de
trabalho só subiram 10% enquanto na França subiram 30%. Isto é muito relevante
em termos de preços competitivos de exportação. A mercadoria mercantilista
francesa não se adaptou à política económica liberal determinada pela UE e por
isso o eleitorado castiga os partidos estabelecidos de maneira catastrófica. A
França do Euro não pode recorrer à desvalorização da moeda como fazia antes com
o Franco para regular a concorrência no mercado dos produtos. Mais ainda, um euro
forte torna-se, num impedimento para economias europeias mais fracas que se encontram
mais expostas à concorrência de mercados e produtos de fora da Europa. A arma
da capacidade de concorrência através da desvalorização da moeda só poderia ser
compensada com a desvalorização do euro o que implicaria uma guerra mais
declarada entre as economias fortes e menos à custa das economias menos concorrentes.
A guerra que antigamente se dava nos campos de batalha acontece agora nos
bancos centrais e nas bolsas.
Os defensores da globalização
apresentam como meio de solução, para os problemas económicos da França e dos
países do Sul, a flexibilidade do mercado de trabalho e a diminuição das
cobranças e dos encargos das empresas. Isto implicaria menos dinheiro na bolsa
do trabalhador e do que vive da assistência social. Esta estratégia apenas
empurra os custos da concorrência estrangeira para as camadas socias mais
carenciadas e transpõe a guerra dos preços dos produtos, entre as empresas
fortes, para a concorrência entre as camadas carentes das nações fora da Europa
e as da Europa.
A Eleições para o PE da UE ainda
vão fazer correr muita tinta.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
2 comentários:
Ótimo texto.
Ao que tudo indica a Alemanha continuará firme e forte no controle da Europa ocidental (e boa parte da Oriental). Espanta-me um pouco uma certa inanição da Itália, um país que tem peso demográfico na Europa e forte cultura. Tudo na EU parece girar em tono do eixo Alemanha-França , e nas proximidades , Inglaterra (que ora sente-se europeia, ora norte-americana, quando lhe convém). Aproveito e parabenizo ao sr.Antônio Justo, sem dúvida tem contribuído muito ao nosso entendimento das engrenagens que movem o velho continente. Abraços aos participantes. Saudações ao sr. Antônio Justo In Diálogos Lusófonos 22.05.2014
São apenas as dores de aflição da cultura e da economia da UE Tudo na UE gira a nível económico em torno do Euro e a nível cultural em torno da desautorização das nacionalidades e das tradições culturais. Pretende-se construir uma sociedade aberta com um mínimo de princípios e o máximo de leis para se legitimar a dissolução dos estados nacionais na grande União Europeia! Por isso se manifesta tanta rebeldia! Quanto à Inglaterra, esta nunca teve o coração no continente europeu. Quer manter a sua independência nacional e só jugar nas partidas que lhe dão lucro. Dela não há muito a esperar! Quanto à Itália é um país altamente endividado e tal como os países do sul sem ter feito as reformas que deveriam ter sido feitas em consequência da política económica da EU, tem ainda muito que andar. O que há a esperar é que ela se junte à França fazendo força para que a moeda euro enfraqueça para que os países estruturalmente menos preparados para a concorrência com os países fora da União Europeia tenham mais chances do que têm tido com um euro forte. (Isto levaria os magnates mundiais do dinheiro a Fugir!…) O Euro e as desigualdades estruturais económicas continuarão a ser o osso duro de roer no futuro entre as economias mais avançadas e as menos competitivas. Em breve se farão ouvir vozes (nacionalistas) apelando a que se crie uma zona de euro forte e outra de euro fraco. Também isto não será fácil porque o que movia a Europa era a Alemanha e a França e a França encontra-se económica e demograficamente muito debilitada. Obrigado
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