“Portugal
e Espanha criam demasiados licenciados”
António Justo
Segundo o Globo - DN, Ângela
Merkel, na Confederação das Associações Patronais Alemãs (BDA), fez a
observação que Portugal e Espanha produzem demasiados licenciados
universitários, insistindo na necessidade de se promover o ensino vocacional
(profissional). A indústria e a economia de uma nação constroem-se com formação
profissional e com experiência laboral.
Em termos de estatística a
Doutora Merkel meteu o pé na argola, porque, segundo o gabinete europeu de
estatísticas, em 2013, 25,3% da população da União Europeia entre os 15 e os 64
anos tinha completado estudos superiores: Irlanda com 36,3%, Reino Unido 35,7%,
Alemanha 25,1%, Portugal 17,6%, Itália 14,4% e, no fim da lista, a Roménia com
13,9%.
O facto de a Alemanha ter um
sistema económico muito forte, devido, em grande parte, à formação profissional
dual da Alemanha, no âmbito do ensino médio e superior, e à sua política
económica e financeira, só se justificaria a sua afirmação na medida em que é necessário
ligar o estudo à prática (ensino teórico e prático) para se criarem
profissionais do trabalho com espírito empreendedor.
As preocupações de Merkel têm mais
em vista a defesa dos interesses da economia alemã do que a dos países latinos
da EU. Ao contrário de Helmut Kohl - o europeu – a chanceler fomenta uma
política nacional egoísta, tal como a da nova geração de políticos das grandes
potências europeias, apenas interessadas na defensa dos interesses nacionais.
Merkel, tem a experiência da economia
da antiga DDR (Alemanha socialista de leste) e da BRD. Depois da união a
Alemanha continua a transferir bilhões de euros por ano para a sua parte de
Leste e esta encontra-se ainda atrasada depois de 25 anos de grandes
transferências.
A
moeda única - Euro - torna a EU a responsável pelo descalabro
dos
países periféricos
A sua política de poupança para a
EU, neste contexto, destrói as economias mais fracas. Não pode haver
crescimento sem investimento! São sínicas as exigências colocadas aos países
do sul sem programas apoiantes da conjuntura. Estes não têm hipótese nem
perspectiva (A Grécia nunca pagará a dívida; Portugal também perderá o que lá
tem); destroem as novas gerações e arruínam o futuro das economias fracas (É
um crime o que se está a passar com o desemprego da camada jovem da sociedade
europeia – os Estados salvaram os Bancos e não disponibilizam moedas para a
criação de empregos – o exemplo da reacção do governo da Islândia em
relação aos Bancos foi calado nos Media de toda a Europa). As economias fortes
extorquem os especialistas das economias fracas e destroem as indústrias
locais, obrigando as firmas e o pessoal qualificado a emigrar. Os países
pequenos não têm investidores nem empresas com capacidade de competir e de
resistir com os grandes. Apesar de tudo, os estados têm de fomentar o
investimento assumindo a fiança de pequenos e médios investidores.
Com a união do Euro, a União
Europeia tornou-se política e economicamente responsável pelo descalabro das
economias periféricas; insiste porém em fugir à responsabilidade. Ninguém tem a
coragem de erguer a voz, porque os que o poderiam fazer ganham com a situação.
O estado da EU é doentio e
enganador porque a doença é crónica e não passageira como se pretende dar
a intender: o Euro,
que deveria fomentar uma identidade europeia comum,
revela-se como o problema
fundamental,
atendendo às diferentes tradições de economias nacionais cuja estabilidade era
garantida pela valorização e desvalorização das diferentes moedas e que agora
são, inevitavelmente, determinadas
pelas multinacionais que vivem do Euro. O equilíbrio e a capacidade de meneio
entre as diferentes economias foram aniquilados com a moeda única. Com o Euro,
um país não pode valorizar ou desvalorizar a sua moeda e interferir na concorrência
internacional tendo de se manter no euro,
sem possibilidade de compensação. Quem paga a factura são os países carentes e
as pessoas médias privadas endinheiradas dos países fortes.
O problema de diferentes economias
ainda hoje se sente entre as diferentes regiões fortes e fracas da Alemanha,
apesar da sua união se ter dado já há 25 anos e o Leste receber anualmente
bilhões de euros da solidariedade.
Os padrões económicos que valem
para a Alemanha não valem para um país da periferia. As economias dos países
têm diferentes velocidades. Um sistema económico latino não tem a mesma
velocidade do de um país nórdico, pelo que o do sul nunca chegará a ter o mesmo
nível de produção.
O valor de uma moeda depende do nível
de produção de
uma nação. Por isso há economistas que defendem a ideia de se manter o Euro
como moeda de referência central, tal como acontecia outrora com o ECU e que
cada economia volte à sua velha moeda.
A política,
seguida pelo Estado alemão em relação à Alemanha de leste,
deveria ser aplicada também na relação dos países europeus fortes com os países
fracos. Na Alemanha quebra-se um imposto de solidariedade de 5% sobre os
impostos a todo o trabalhador que é depois transferido para a antiga Alemanha
socialista; além disso as regiões fortes transferem bilhões de euros para
as regiões fracas da Alemanha para assim se ir criando um equilíbrio.
Vai sendo tempo de Merkel e outros
deixarem de admoestar os países de economias fracas; quando
o fazem é para desviarem as atenções dos verdadeiros problemas que eles mesmos
criaram.
António da Cunha Duarte Justo
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