quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A Chanceler alemã desvia a Bola para Canto ao falar da EU



“Portugal e Espanha criam demasiados licenciados”


António Justo
Segundo o Globo - DN, Ângela Merkel, na Confederação das Associações Patronais Alemãs (BDA), fez a observação que Portugal e Espanha produzem demasiados licenciados universitários, insistindo na necessidade de se promover o ensino vocacional (profissional). A indústria e a economia de uma nação constroem-se com formação profissional e com experiência laboral. 

Em termos de estatística a Doutora Merkel meteu o pé na argola, porque, segundo o gabinete europeu de estatísticas, em 2013, 25,3% da população da União Europeia entre os 15 e os 64 anos tinha completado estudos superiores: Irlanda com 36,3%, Reino Unido 35,7%, Alemanha 25,1%, Portugal 17,6%, Itália 14,4% e, no fim da lista, a Roménia com 13,9%. 

O facto de a Alemanha ter um sistema económico muito forte, devido, em grande parte, à formação profissional dual da Alemanha, no âmbito do ensino médio e superior, e à sua política económica e financeira, só se justificaria a sua afirmação na medida em que é necessário ligar o estudo à prática (ensino teórico e prático) para se criarem profissionais do trabalho com espírito empreendedor.

As preocupações de Merkel têm mais em vista a defesa dos interesses da economia alemã do que a dos países latinos da EU. Ao contrário de Helmut Kohl - o europeu – a chanceler fomenta uma política nacional egoísta, tal como a da nova geração de políticos das grandes potências europeias, apenas interessadas na defensa dos interesses nacionais.

Merkel, tem a experiência da economia da antiga DDR (Alemanha socialista de leste) e da BRD. Depois da união a Alemanha continua a transferir bilhões de euros por ano para a sua parte de Leste e esta encontra-se ainda atrasada depois de 25 anos de grandes transferências.

A moeda única - Euro - torna a EU a responsável pelo descalabro
dos países periféricos

A sua política de poupança para a EU, neste contexto, destrói as economias mais fracas. Não pode haver crescimento sem investimento! São sínicas as exigências colocadas aos países do sul sem programas apoiantes da conjuntura. Estes não têm hipótese nem perspectiva (A Grécia nunca pagará a dívida; Portugal também perderá o que lá tem); destroem as novas gerações e arruínam o futuro das economias fracas (É um crime o que se está a passar com o desemprego da camada jovem da sociedade europeia – os Estados salvaram os Bancos e não disponibilizam moedas para a criação de empregos – o exemplo da reacção do governo da Islândia em relação aos Bancos foi calado nos Media de toda a Europa). As economias fortes extorquem os especialistas das economias fracas e destroem as indústrias locais, obrigando as firmas e o pessoal qualificado a emigrar. Os países pequenos não têm investidores nem empresas com capacidade de competir e de resistir com os grandes. Apesar de tudo, os estados têm de fomentar o investimento assumindo a fiança de pequenos e médios investidores. 


Com a união do Euro, a União Europeia tornou-se política e economicamente responsável pelo descalabro das economias periféricas; insiste porém em fugir à responsabilidade. Ninguém tem a coragem de erguer a voz, porque os que o poderiam fazer ganham com a situação. 

O estado da EU é doentio e enganador porque a doença é crónica e não passageira como se pretende dar a intender: o Euro, que deveria fomentar uma identidade europeia comum, revela-se como o problema fundamental, atendendo às diferentes tradições de economias nacionais cuja estabilidade era garantida pela valorização e desvalorização das diferentes moedas e que agora são, inevitavelmente, determinadas pelas multinacionais que vivem do Euro. O equilíbrio e a capacidade de meneio entre as diferentes economias foram aniquilados com a moeda única. Com o Euro, um país não pode valorizar ou desvalorizar a sua moeda e interferir na concorrência internacional tendo de se manter no euro, sem possibilidade de compensação. Quem paga a factura são os países carentes e as pessoas médias privadas endinheiradas dos países fortes. 

O problema de diferentes economias ainda hoje se sente entre as diferentes regiões fortes e fracas da Alemanha, apesar da sua união se ter dado já há 25 anos e o Leste receber anualmente bilhões de euros da solidariedade. 

Os padrões económicos que valem para a Alemanha não valem para um país da periferia. As economias dos países têm diferentes velocidades. Um sistema económico latino não tem a mesma velocidade do de um país nórdico, pelo que o do sul nunca chegará a ter o mesmo nível de produção. 

O valor de uma moeda depende do nível de produção de uma nação. Por isso há economistas que defendem a ideia de se manter o Euro como moeda de referência central, tal como acontecia outrora com o ECU e que cada economia volte à sua velha moeda.

A política, seguida pelo Estado alemão em relação à Alemanha de leste, deveria ser aplicada também na relação dos países europeus fortes com os países fracos. Na Alemanha quebra-se um imposto de solidariedade de 5% sobre os impostos a todo o trabalhador que é depois transferido para a antiga Alemanha socialista; além disso as regiões fortes transferem bilhões de euros  para as regiões fracas da Alemanha para assim se ir criando um equilíbrio.

Vai sendo tempo de Merkel e outros deixarem de admoestar os países de economias fracas; quando o fazem é para desviarem as atenções dos verdadeiros problemas que eles mesmos criaram.
António da Cunha Duarte Justo

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