Do caso
insólito de uma Nação inteira em Orgasmo fora do Lugar
António Justo
José Sócrates -
o Berlusconi português - parece um figo maduro a gingar na figueira 25 de
Abril. Esta tem muitos outros figos prontos a cair e outros ainda a amadurecer,
neste jardim outonal de brandos costumes “à beira mar plantado”. Será que
Portugal se quer restabelecer? Por enquanto, ainda se encontram muitos outros
figos melados bem agarrados à figueira já murcha por tanto chupar e pela já
sumida terra do jardim. Mas Portugal se se quer salvar, por algum lado há-de
começar. Do húmus dos figos caídos talvez a terra se torne fértil.
O Ministério Público na sequência
de investigação de casos de crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento
de capitais mandou deter, José Sócrates (ex-primeiro ministro) para
interrogatório judicial, e também um sujeito ligado ao grupo Lena, outro à
empresa de Carlos Santos Silva e um outro representante da empresa
multinacional farmacêutica Octapharma, de que José Sócrates é empregado desde
2013, segundo informou o jornal Sol.
Muitos “inocentes”, ficaram
escandalizados pelo facto de Sócrates ter sido preso no aeroporto de Lisboa às
22H, à chegada de Paris, e lá já se encontrarem as câmaras de TV, caso que os
leva a especular sobre “fugas de informações”.
Fuga de
informações?! Quando é que as não houve em Portugal? Isto parece
conversa encomendada para desviar do assunto principal (a corrupção
institucionalizada) para coisas marginais. A opinião pública portuguesa é
geralmente encharcada com coisas que falam ao coração para desviar da mente e
assim desobrigarem a atenção duma corrupção tanto da esquerda como da direita
mas que se quer manter anónima nas caves da nação. Também a justiça e os
órgãos do Estado precisam do folclore das detenções para se irem safando; a
corrupção também banha as suas praias; não vivêssemos nós num Portugal tão
pequenino de amigos e vizinhos.
Também se fala de “Justiça versus
Política”! Isso também não, nunca houve; o que sempre houve foi uma política
telenovela para o povo português e muitíssimos mações e amigos bem posicionados
também na justiça que bem sabem contribuir para a desinformação. Justiça
atenta à política seria completamente impossível, no nosso Portugal moderno,
atendendo à actividade da maçonaria (de timbre inglês e francês) e outras
forças, fomentadoras da promiscuidade política, financeira, dos Media e da
Justiça, que manobram a partir de um Portugal subterrâneo, onde se encontram em
erupção, desde as Invasões Francesas.
O problema da interferência e
conivência entre os poderes é já antigo, é um legado republicano que vem não só
da politização da justiça mas da “judicialização” da política que se deve a um
Estado minado por organizações fortes, num país pequeno onde todos os grandes
se conhecem e se julgam ser a casa do povo de um país ordinariamente
partidarizado porque despolitizado. Defender uns para atacar outros
implicaria reduzir a questão à alternativa: Lúcifer ou Belzebu; o que
significaria continuar a fomentar um pensar bipolar que leva a pactuar com a
corrupção!
A Democracia portuguesa está já
saturada de corrupção; é de recordar, entre outros, os casos dos diamantes em
torno de Soares, dos projectos para um novo aeroporto, das parcerias
público-privadas (PPP), da Casa Pia, dos Submarinos, dos vistos gold, de José
Sócrates, etc.; tudo deu em águas de bacalhau; tudo isto revela apenas a ponta
do icebergue, num Portugal de esquerdas que se tornaram milionárias quando
queriam acabar com as direitas milionárias.
Chegou a hora em que seria óbvio
salvar a honra da República e devolver a dignidade ao povo, deixando de
continuar a pensar apenas no tradicional sistema bipolar. Seria chegada a hora
de saudar e apoiar as forças do Ministério Público e de Juízes que mostrem
caracter e boa intenção, para que se comece a arrumar com o suborno e a
corrupção encostada ao Estado Português; em vez disso enxovalha-se o juiz que
precisaria da força de uma opinião pública renovada, para se atreverem a
iniciar outros processos. Muitos acólitos dos diferentes senhorios ficam
medrosos e logo se apressam a desculpar a corrupção vigente, com o argumento
que personalidades do outro partido também são corruptas, segundo a máxima: os
meus são ladrõezitos e os dos outros são ladrões. Nesta lógica, do salve-se a
ladroeira, legitima-se toda a corrupção e o país em vez de se regenerar
continua a masturbar-se, como sempre.
A coragem do juiz poderia ser um
sinal de que a honradez e a justiça de muita gente desorganizada mas honrada
querem ter palavra em Portugal. Naturalmente, também a Justiça deveria, para se
tornar credível, proferir um mea culpa e deixar de se servir de direitos
reservados para deputados, secretários de estado e ministros; não o faz porque
acima da Justiça imperam certamente outros interesses e outras ordens.
Se o povo não está atento, e não
pode está-lo, esta será a hora dos operadores subterrâneos do Estado que
desconversarão sobre esta “tragédia pessoal” de grande quilate, de modo a ficar
tudo na mesma, com tudo a favor da contínua tragédia de um povo indefeso. Partidarizar
o discurso é justificar a corrupção que em Portugal é institucional, como
já foi constatado publicamente.
Sem a mudança radical da justiça
portuguesa, Portugal não toma emenda. Portugal não tomará emenda enquanto
continuar a analisar a sua vida sob as perspectivas partidárias.
A prisão de José Sócrates parece
um acto desesperado no sentido de recuperar alguns créditos na confiança
popular. Naturalmente, para engavetar este tubarão teriam de engavetar
muitíssimos outros e estes não deixam porque são todos amigos entre si e a rede
que os assiste foi feita à prova de corrupção. Em Portugal, e em países
frágeis, em vez de se engavetar os criminosos engavetam-se os processos.
A questão é de tal modo enredada
e a luta das famílias tradicionais e das famílias partidárias é tal, num
Portugal pequenino mas dos grandinhos, que não deixa espaço para uma solução
satisfatória. Enquanto em Portugal, para se subir, for preciso entrar em
instituições parasitas do Estado, não será possível formar-se uma alternativa
honrosa.
Sócrates, ex-primeiro ministro
português, agora o número 44 da Prisão de Évora, é uma grande oportunidade para
toda a nação pensar sobre as razões que levaram Portugal e as instituições
portuguesas a chegar ao ponto extremo onde chegaram.
António da Cunha Duarte Justo
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