Construir
um Portugal mais temperado e menos revoltado
Por António Justo
O que une o
centro-direita (governo) e o centro-esquerda (PS) são o compromisso com o
liberalismo económico e o consequente seguimento do imperativo da desregulação
ditada por Bruxelas. Direita e esquerda
do arco do poder têm assim o seu centro comum vinculativo (intervenção da
EU e do FMI – as obediências orçamentais comuns que não permitem diferenciação
de políticas económicas); deste modo os partidos do arco do poder de Portugal
abstêm-se praticamente do predicado esquerda ou direita, o que veneficia os outros partidos da esquerda e obriga o PS a grande
ginástica na estratégia de chamar as atenções públicas para si e de ocupar o
país com discussões táticas sobre as diferentes personalidades e facções do PS;
disto vive bem (permite-lhe também absorver desertores de esquerdas mais
radicais mas com aspirações a participar concretamente no poder) ocupando a
mente dos portugueses já de si perdida em debates não produtivos. O jornalismo também vê assim o seu trabalho
simplificado porque para fazer notícia só precisa de andar atrás dos cabeças ou
de algum que urine fora do penico.
Cria-se assim uma dinâmica de contínua
necessidade de perfilagem dentro e fora do partido. Certamente por isso se movem tanto as ondas da emoções
nacionais tendo-se a impressão (a quem viveu no estrangeiro) que Portugal se encontra em contínua campanha
eleitoral sem grande tempo para dar suficiente atenção às questões
fundamentais da economia e da cultura. Mesmo agora, que deveria ser tempo útil
de discussão da negociação de programas para se encontrar compromissos para a
governação dos próximos quatro anos, assiste-se, como de costuma, à discussão sobre
personalidades partidárias e não sobre temas discutíveis do programa.
O
Norte europeu orienta-se por Programas o Sul por Partidos
Os partidos da Alemanha, para defenderem o bem-estar do país,
passam muito tempo na discussão e elaboração de programas de governo e na
formação de coligações governamentais; isto porque cuidam pelo futuro do país
em vez de dividirem a nação nos da manjedoura da direita ou da esquerda. Por isso os partidos alemães preferiram fazer uma grande
coligação que preparou responsavelmente um programa de governo que precisou de
80 dias de conversações até chegar ao dia do compromisso; depois passou à
governação abandonando a discussão. Na
Suécia seis partidos conseguiram elaborar e comprometer-se num programa que é
válido até 2022; isto independentemente dos governos que surjam.
Urge
ultrapassar a mentalidade política bipolar de um Portugal desde sempre afirmada
pelo sistema partidário a viver da polarização. Já vai sendo tempo de construir
um Portugal mais temperado menos revoltado. A vida é curta, não olhes para trás
senão tropeças nos que se te adiantam.
O problema dos partidos à esquerda do PS (e
dos radicais do PS) é quererem continuar a levar uma vida de alto nível à custa
do capitalismo liberal pautado pela Zona Euro e no seu interior regalar-se com
a satisfação de ideias contraditórias puras e inocentes ou com postos públicos que lhes dão imunidade em relação às ideias que defendem
(a viver do sistema) que criticam mas não solucionando os problemas da pobreza.
O ser humano é
um consumidor de histórias e o que o mais distrai são histórias, por isso há
tantas que se tornam verdadeiras porque mal contadas…; uma delas: "Bem
prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz." Com isto
fomos ensinados a aceitar e justificar a violência do poder. A teoria é bela, o
problema só está na prática (Veja-se a saga das personalidades do 25 de Abril e
seus discípulos – afirmaram-se contra o capitalismo e à custa dele enriqueceram
mantendo a conversa de esquerda para inglês ver e a sapata do povo carente que
tudo sustenta).
Uma política
partidária responsável deveria constituir uma coligação, pelo menos, dos dois
partidos mais votados. Com isso ganhariam, naturalmente, os partidos mais à
esquerda mas Portugal ganharia mais ainda. Com uma grande coligação talvez se
iniciasse em Portugal uma política e um discurso menos partidário, mais
objectivo e mais no sentido de todo o povo português.
Tudo isto
contribui para a maneira de ser do nosso país que Miguel Torga tão bem define:”
Somos, socialmente, uma colectividade
pacífica de revoltados” e que eu comentaria com as palavras: Somos um grupo de
colectividades civis sem a consciência de povo, por isso sempre descontentes e
revoltados.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
Pegadas do Tempo
www.antonio-justo.eu
1 comentário:
A BOLSA PREMIOU AS ELEIÇÕES PORTUGUESAS E CASTIGA AGORA A DISCUSSÃO PÓS-ELEIÇÕES
Os juros do tesouro português a 10 anos (juros de dívida) desceram no dia pós-eleições para 2,32%. Agora o receio de ser posta em perigo a consolidação orçamental e consequente implementação das reformas em Portugal, leva o mercado internacional da dívida a reagir subindo os juros para 2,4% segundo refere Sapo Economia. A Grécia, onde a instabilidade é maior paga 7,97% de juros pela sua dívida pública a 10 anos.
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