FRAQUEZA SISTÉMICA DA POLÍTICA INTERNA PORTUGUESA
Por António Justo
Quando observo partidos na Alemanha e os comparo com partidos portugueses fico
triste com a amarga impressão que Portugal
não tem partidos do povo, quando muito tem corporações de interesses rivais ou
cooperantes, dentro da população.
Por vezes fica-se com a sensação que os políticos portugueses fazem
política para o seu Estado e não para o povo (país). A eleição de Trump é um
acto desesperado e um apelo do povo ocidental aos políticos para que mudem de
atitude e de política. O povo no mundo ocidental já não se encontra numa idade escura,
ele já vai pensando também, não se contentando com o devaneio do sentir-se
honrado com a companhia de algum político ou doutor ou simplesmente ambientado com
o embalar de alguma cassete.
A democracia portuguesa não está forte nem fraca, apenas vegeta cronicamente
porque é dirigida por interesses de alguns grupos que não precisam de prestar
contas sérias a ninguém (quando muito a Bruxelas e aos bancos internacionais!) e
estão-se marimbando para o bem-comum e para o bem nacional; na formação da
opinião pública domina ainda o proselitismo jacobino: o que conta são os
sentimentos, estratagemas e não os factos.
Que país é este tão
endividado e tão engravatado?
Já Luís de Camões desabafava
acerca dos líderes da nação dizendo: “O fraco rei faz fraca a forte gente”. Fracos são os que têm o privilégio da
informação e o monopólio da interpretação; fracos
são os deputados que se permitem aumentos salariais nos cargos políticos quando
a maioria dos reformados e da população tem ordenados de fome! (Imagine-se só a
diferença que vai de um reformado em Portugal com 290 euros por mês e a de um
senhor com uma reforma de 50.000 euros por mês? E Isto num país em que a
esquerda influente não come menos que os adversários que oficialmente combate!).
E alguns ainda se queixam do povo para justificarem o mal da governação ou do
próprio partido.
A população é como as
crianças: dá a mão a quem a leva e come o pão que lhe dão! Portugal não tem povo, tem população e a
razão disso está no facto dos partidos serem grupos corporativistas com
interesses próprios satisfeitos à custa do Estado e das suas instituições. A
vida pública nacional parece surgir da ilusão de uma vida nacional gerada
sobretudo pela dinâmica de lutas das diferentes corporativas entre si. É
sintomático aqui o facto de a população encontrar sempre uma desculpa para não
se preocupar com as causas de um Estado quase bancarrota e não questionar a
capacidade dos próprios governantes, sejam eles de que cor sejam. Os grupos
corporativistas conseguiram legitimar os seus interesses apenas com sentimentos
à margem dos factos porque se apoderaram do Estado e suas instituições. Para
ascender ao poder e bem governar não deveria ser suficiente ter a administração
pública, os funcionários do Estado e algumas agremiações mais ou menos
satisfeitos!
As nossas elites
nunca gostaram do cheiro a povo
A República nunca se deu bem
com o povo e o povo também não a compreendeu! E isto porque em Portugal não há a tradição de partidos
populares, o que há são corporações, sem organizações de base fortes que tenham
capacidade para imporem aos órgãos superiores dos partidos os seus
representantes; então quando muito há organizações
de base fracas que resignam e por isso aceitam os paraquedistas que a elite do
partido ou do sindicato nomeia. Isto provoca uma relação mafiosa e vaidosa
de representantes apresentados ao povo mas que foram gerados no espírito
antipopular. Temos assim um Estado enredado
em interesses corporativos sem a consciência de que nele há país e povo porque
as elites podem viver do Estado e do fraco copianço do que acontece politica e
socialmente no estrangeiro, sem precisarem de povo. A população que o país tem
vai chegando para manter as necessidades dos que se governam. De uma maneira
geral, estes, nas suas campanhas eleitorais, dão umas corridas no meio dos
arraiais e uma vez eleitos fazem o que lhes interessa sem que alguém lhes Peça
contas; no máximo os eleitores castigam-nos com uma legislatura de tipo
sabático até às sequentes eleições. A população não foi habituada a orientar-se
pelos factos, foi educada a seguir apenas os sentimentos num país em que os
beneficiados do Estado não se interessam pelos factos porque sempre fomentaram
uma política de decisões orientadas para oscilações sentimentais.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo http://antonio-justo.eu/?p=3951
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