A
nova forma do discurso político
Por António Justo
Na Alemanha
dá-se muita importância ao que se passa politicamente nos USA. A posição de Trump com o apoio
do Brexit, uma mudança de política mais complacente com a Rússia, bem como a
anunciada política de restrição aos imigrantes e maior controlo dos muçulmanos
assusta uma Europa que segue uma política da cultura das portas abertas.
A Europa social-democrata
receia que com Trump, se intensifique na opinião pública europeia o processo de
fortalecimento dos conservadores e dos países membros da EU que advogam uma
política restritiva em relação aos refugiados recebam ventos favoráveis.
Clinton é vista como a garante
do sistema democrático e Trump com a sua intenção de diminuir os impostos
favorece uma economia capitalista liberal pura e deste modo a USA distanciar-se-ia mais da EU porque tal
política implicaria o favorecimento das empresas, distorções de
concorrência e mais dessolidarização com os desprotegidos do sistema. Há muitos medos
porque está muito em jogo, no aspecto económico, social e estratégico.
A política externa,
independentemente de quem assuma o poder como presidente, continuará a servir
orientada sobretudo pelos interesses estratégicos americanos. A política
interna continuará a ser mitigada. Quer Clinton quer Trump são patriotas.
Em política tornam-se difíceis
previsões. Muitos viam em Obama o salvador do mundo e na realidade, sob a sua
administração, a paz no mundo ainda piorou.
O
menor empenho dos USA na Europa, como quer Trump, significaria maiores
sobrecargas económicas da EU em benefício da NATO. Na qualidade de
potência europeia a Alemanha teria de apressar o seu papel de braço forte de
uma Europa mais militarizada.
Já na regência de Obama, a
Alemanha e com ela a EU começaram a impulsionar
o orçamento militar para irem assumindo mais “responsabilidade” nos conflitos
mundiais através da NATO e assim aliviar os USA no assumir de novas tarefas para
que os USA se ocupem mais da Ásia. Daqui é que soprarão os ventos e ventanias que
determinarão o futuro e não da Europa. A Europa
independentemente do inquilino da Casa Branca assumirá mais responsabilidade
militar na NATO e no mundo.
Tacitamente, sem que a opinião
pública note, os governos já aumentam os orçamentos militares. Para se preparar
o povo para a militarização da Europa, já se fala da necessidade de introduzir
o serviço militar obrigatório.
A
campanha eleitoral americana revela a introdução de uma nova forma do discurso
político (saber secreto e Internet) como se vê na intervenção do FBI na
campanha eleitoral. O discurso americano revela a era Facebook, de expressão
mais popular. As intervenções do FBi, do WikiLeaks (Assange)
e o novo estilo da retórica de Trump obrigam a estratégias mais populares das
controvérsias que questionam fundamentalmente os poderes estabelecidos e a sua
correspondente estratégia do politicamente correcto que tem levado os fazedores
da opinião pública a trazer uma tesoura na cabeça que sanciona já na origem a
produção do texto gerando no público uma consequente censura automática que
leva as pessoas, por decência do oportuno, a não poderem dizer o que pensam
(isto cria raiva na barriga!...).
Até agora só os chicos espertos da política se afirmavam, agora parece que
qualquer chico esperto pode ter chance de ser ouvido e de intervir na sociedade.
Na opinião pública foi muito
criticada a maneira privada sexista de Trump em relação a mulheres mas não foi
discutida com a mesma intensidade a gravidade de Clinton como pessoa pública no
seu ‘emailgate’.
Em política uma coisa é a conversa e outra é a prática!
O republicanismo americano é estável podendo permitir-se mesmo
derrapagens graves como as do seu candidato.
António da Cunha
Duarte Justo
http://antonio-justo.eu/?p=3928
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