Aeroporto Mário Soares – Imposição de mais um
modelo controverso à consciência portuguesa?
António Justo
Não queremos
ver Portugal limitado a uma casa assombrada dos espíritos políticos
Na república, a virtude não parece mercadoria que se venda nem que se
coloque em lugar nobre! Seria embaraçoso colocá-la nos altares da nação porque
então a corrupção comprometida passaria a não ter atracção nem cobertura. A República que era contra os ídolos da
Monarquia, sem pôr a mão na consciência, substitui-os pelos ídolos da
república. Aquela república dos homens do avental aproveita-se para
entronizar os seus comparsas, de maneira qualificada mas discreta. Um Portugal desaportuguesado,
de cima, continua a implementar modelos controversos para assim eternizarem um país
de espírito faccioso e divisionista. Cultiva-se um ideário de consciência política
partidária individualista que se quer confundível com a consciência comunitária
portuguesa (que consequentemente degenera num patriotismo empolado). Em vez de
se auto-incensar, a política tem como tarefa fomentar também modelos da cultura
e da integração no imaginário português. Na carência de um ideário cultural
nacional, fomenta-se uma sociedade de tipo casa assombrada ocupada por
espíritos políticos. Precisamos de menos ruído político para nos intervalos do
seu silêncio termos espaço público para a cultura. Só assim poderemos dar ao
povo a oportunidade de se tornar rei de si mesmo e desviar-se da escravidão.
Proposta precipitada de Marcelo Rebelo de Sousa
O senhor Presidente
da República precipitou-se ao sugerir (15.01.) que o possível novo aeroporto de
Lisboa, a ser construído no Montijo, se chame Aeroporto Mário Soares. Ainda o ovo não saiu do ânus
da galinha e já as bochechas políticas têm um nome redondo para lhe dar. Com
estas e outras o senhor presidente revela-se como um oportuno continuador de um
regime de comparsas e amigos preocupado em colocar os seus “santos” no Olimpo
de Portugal para o povinho venerar! Como povo habituado a ser colocado à
procura de gambozinos não nota sequer que o senhor presidente, à boa maneira do
centralismo francês aportuguesado, se adianta com a proposta e assim prescinde da formação de opinião a partir do
povo e indirectamente pressupõe a questão da decisão da construção daquele
aeroporto, como facto consumado. Deste modo vem dar continuidade à realidade
macrocefálica de uma capital sem corpo e também não tem em conta a falha
sísmica do Vale do Tejo.
O rescrito da nação
terá de deixar de ser delineado só pelos caracteres políticos do Estado.
Portugal precisa de uma outra narrativa, uma narrativa com um fio condutor não
do poder mas do espírito cultural, para poder tornar-se num impulso criativo
para uma geração de novos portugueses e novos políticos. Não precisamos só de
homens, que de regime em regime se afirmem pela oposição ou pela afirmação, precisamos
de personalidades da cultura com capacidade de atrair uns e outros. Mário
Soares é uma grande personalidade dentro do partido socialista português mas
como personalidade nacional provocou grandes bens e grandes males.
O futuro de um povo depende do cuidado dos seus
mitos
O pressuposto do futuro está na memória. É natural que um país precise
de pessoas de referência que permaneçam no ideário popular para, de forma
duradoura, configurarem o sentimento de identidade nação-povo. O que não é
natural é que devido ao provincialismo antiquado da classe política refugiada
em Lisboa, os políticos continuem a querer impor os seus corifeus como
personalidades exemplares para o país.
A República portuguesa seria bem aconselhada se procurasse fora da
política as suas personalidades de referência. Portugal tem tido, na sua história,
personalidades de alta relevância na cultura, na literatura, nas artes e nas
ciências; este é o campo propício onde se encontram personalidades de
referência nacional e internacional, propícias para a sustentabilidade na
formação da alma portuguesa. A república tem produzido personalidades demasiado
partidárias e controversas para poderem servir de exemplo e funcionarem como factores
de integração do povo português. Mário Soares teve o mérito, de, com outros,
impedir a implantação da ditadura comunista e neste sentido se provar como
democrata mas nunca poderá ser um homem modelo consensual, sendo, como tal,
impróprio como factor de identidade nacional. Não se contesta a sua imagem como
ícone partidária na paisagem democrática.
Enquanto, numa democracia partidária, a política e a notícia escandalosa
continuarem a dominar o espaço da arena pública, a cultura do país está
condenada a definhar!
A quem aproveita isto?
Em política há
sempre uma pergunta que deveria ser colocada sempre como prova dos nove do que
se faz ou pretende fazer: quem se beneficia com isto?
Não seria de benefício para Portugal querer construir um regime político
sobre as cinzas do estado novo sem ter consciência de que para se construir um
Estado moderno seria também necessária a coragem de se reduzir a cinzas os
malefícios crónicos da república e que infelizmente Soares também incorpora e
representa. Um povo é um rio que flui ininterruptamente não podendo ser interrompido
nem transformado em barragens sucessivas desta ou daquela ideologia!
De República vermelha para república arco-íris
Algo não é racional na lógica republicana e na política que segue de
colocar os seus ídolos no Olimpo republicano! Por um lado muda o nome de Ponte
Salazar para Ponte 25 de Abril e por outro destrona o Salazar como se ele não
fizesse parte da república. Ou será que querem fazer do Olimpo republicano
apenas um lugar para a esquerda e para maçónicos? Num Portugal inteiro, o
Olimpo republicano precisa de todos os “santos” para venerar! (Já que falamos em “santos”; não haverá aí
uma Maria da Fonte que, para desenfastiar, possa figurar como santa no
Horizonte republicano? Tem talvez a desvantagem de cheirar a povo num
Olimpo iluminado que para continuar a ser coerente consigo mesmo terá de ser
masculino!)
Já numa acção operada no nevoeiro tinham trocado o nome de Aeroporto da
Portela para Aeroporto Humberto Delgado. Gago
Coutinho e Sacadura Cabral ficaram a ver navios! O cultivo da memória da
história de Portugal tornar-se-ia embaraçosa para os nossos boys!
Em tempos em que governa a instabilidade emocional, penso que seria um
acto de racionalidade, optar-se pela denominação de AEROPORTO POVO DE PORTUGAL, num país que se diz republicano, democrático e não gostar de santos!
O Olimpo português
é um lugar sem exigências e como tal não faz sombra à corrupção política. O
problema surge para os terráqueos que vivem num Estado em bancarrota e a ter de
festejar os seus responsáveis como grandes estrelas no seu horizonte!
Os tempos políticos que correm, dado
serem propícios a gerar muitos políticos do oportuno, deveriam deixar os
políticos viver à vontade, mas exigir deles o critério de não terem o
descaramento de desonrar o povo obrigando-o a ajoelhar perante os seus nomes.
Porque não dar o nome das localidades aos aeroportos? Pouco a pouco se vai
tendo a certeza que nos encontramos numa democracia sem baronesas mas que
tropeça nos barões.
António da Cunha
Duarte Justo
© Pegadas do Espírito no Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4127
A “PONTE SALAZAR” DEPOIS “PONTE 25 DE ABRIL” COMEMOROU O
SEU 50° ANIVERSÁRIO
A Ponte Salazar, inaugurada a 6 de Agosto de 1966, passou há 42 anos a ser
chamada Ponte 25 de Abril. Era na altura a quinta maior ponte suspensa do mundo
e a maior fora dos EUA.
Uma República envergonhada de si mesma rouba ao passado o que não lhe
pertence na esperança de viver do princípio, que o povo é massa de manobra e
tudo o que vem à rede é peixe e o que não mata engorda.
Em nome da liberdade, os abrilistas apropriaram-se do nome da ponte. Agora,
nos meios socais, parte da esquerda sisuda e arrependida reconhece que fez mal
e por isso, surgiu entre ela a ideia de lhe mudar o nome para Ponte da
Liberdade, como se a liberdade tivesse dono e em Lisboa já não houvesse uma
Avenida da Liberdade anterior à revolução!
O povo português tem sido enganado ao ver ser atribuída a liberdade em
Portugal à revolução de Abril. O movimento da liberdade já há muito se
encontrava no coração e nas actividades de muitos portugueses de esquerda e de
direita que actuavam não só nos ambientes comunistas.
É ilegítimo querer fazer passar a ideia que a liberdade e a democracia eram
propriedade de forças radicais da esquerda.
Os senhores abrilsitas até da razão se apoderaram ao assenhorarem-se da
revolução cultural em via também em torno do Bispo do Porto, Dom António e da
camada jovem que vivia o espírito do movimento 68 e anteriormente pelas grandes
discussões de preparações para o Vaticano II no meio católico. Doutro modo
teriam de consequentemente assumir também as barbaridades e traições executadas
por uma esquerda radical anterior e posterior ao 25 de Abril.
Um dia a ponte 25 de Abril voltará a ser chamada Ponte Salazar, não por
razões de revanchismo ou de saudade de autoritarismos mas por razões de memória
e de justiça num povo que precisa de pontos salientes para melhor se orientar.
Vive-se bem da ideologia servida ao povo como ópio tranquilizante. O
problema é crónico mas torna-se proveitosa a lucidez de o reconhecer.
© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do
Espírito no Tempo http://antonio-justo.eu/?p=4127
2 comentários:
Tem cidadãos que criam e mostram uma personalidade meritória e por isso tem obrigação de conserva-la,sem necessidade de melhora-la. Esta frase atribuiriamos a você,de quem temos uma referência DEMOCRÁTICA,total e absoluta.E é por isso que diremos “Batizar um determinado local”com o nome do ex-Presidente da Republica,o mais votado na sua história,não nos parece ser uma imposição de um modelo
Gabriel Cipriano
FB
Sim, não ponho a questão do mérito mas sim a questão de se procurar reservar para a memória de Portugal pessoas controversas da política (estas já têm o seu lugar na História).
A história de Abril ainda está muito fresca para se poder ter dela e dos seus actores uma avaliação objectiva. Ainda se encontram muitas pessoas e muitos interesses demasiado vivos! Sou também do parecer que nos lugares expostos da nação se coloquem os grandes representantes da Cultura.
Não se vê coerência em democracia criarem-se tantas ícones políticas que fazem o seu serviço como outros cidadãos anónimos com a agravante de se terem enriquecido no cargo.Porque não usar o nome da terra onde se coloca o Aeroporto, não teria nada em contrário em denominar o Aeroporto com o nome de Soares se fosse ele a pagá-lo e oferecê-lo ao país. Em consciência democrática poria então o nome Aeroporto Povo de Portugal ou no caso de quererem um nome então Fernando Pessoa ou alguém pioneiro na navegação aérea!
Sabe, caro Gabriel Cipriano, tudo é uma questão de perspectiva. Para mim, embora tenha respeito por todos os políticos não merecem porém serem colocados como exemplo nacional quando levaram a empresa que dirigem (o Estado ) à falência e não trabalham na integração de um Portugal que se quer também regional mas não na fraqueza!
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