O Extremismo político português só é constatável em pequenos Grupos que o importam e na Rectórica
Por António Justo
A virtude está no meio! O extremismo depende da
distância do centro e também este é variável, se se parte da ideologia
dominante numa mundivisão político-social. Numa época em que a crença dominante
é a do pensar politicamente correcto, torna-se difícil determinar o que é
centro. O extremismo político tem a ver com a rejeição de um Estado
constitucional democrático. A extrema
esquerda vê no capitalismo e no patriotismo o mal do sistema e trabalha para
instalar um novo regime e a extrema direita caracteriza-se, principalmente, por
um nacionalismo xenofóbico.
A sociedade portuguesa não
corre o perigo de produzir extremismos políticos: os que tem tido são
oportunamente importados. É uma sociedade acomodada que se expressa
politicamente mais pela boa fé, pela mediania e pelo seu caracter de
intermediário (conciliador). Os multiplicadores de ideias e ideologias chegam
sempre um pouco atrasados a Portugal; geralmente através de “burgueses”
insatisfeitos que se aproveitam das fraquezas do sistema político.
Na incapacidade de se criar
um pensamento conservador e um pensamento progressista de matriz própria,
importam-se ideologias destemperadas, sem espaço para as temperar ao
nosso modo e menos ainda para produzirmos as nossas. Por isso passamos a
andar politicamente, como nação, atrás da História, o que, por vezes, também
nos poupa as asperezas de alguns erros...
Razões da moderação à direita na sociedade portuguesa
Um país com 20% de pobres e
com um milhão de reformados com reformas inferiores a 250€ mensais não é tão
homogéneo como parece. Apesar disso mantem-se um país socialmente pacífico,
moderado, acolhedor, trabalhador e ordeiro.
O Artigo Artigo 46.º 4 da Constituição (1976) proíbe organizações que
representem valores fascistas ou racistas.
Na cultura política portuguesa a compreensão democrática é
anti-ultra-direitista. Na opinião de comentadores internacionais, a Constituição portuguesa, de coloração socialista, não aplica a mesma
medida para as forças comunistas ou anárquicas.
O uso do método d'Hondt nas eleições desde 1975
impede também ele o aparecimento de partidos pequenos e favorece os partidos
maioritários (populares). O embargamento
da ideologia à direita tem ajudado a impedir a formação de um polo radical com
expressão institucional política (ao contrário do que acontece à esquerda)
e deste modo impossibilitando a confrontação de extremismos, por ausência de um
extremismo militante de direita. Por outro lado, a influência maçónica opera
como factor de sustentabilidade a uma facção republicana influente de timbre
socialista. Daí uma certa distorção da sociedade portuguesa quanto à percepção
do que é esquerda e do que é direita, em comparação com a sociedade da Europa
central e norte (p.ex. atitude do PS partido português e SPD partido irmão
alemão!).
O Golpe de 25 de Novembro
(Ramalho Eanes, Melo Antunes, Jaime Neves, etc.) interrompeu em Portugal a
acção dos protagonistas do terrorismo internacional, que tinha entregado as
colónias aos grupos de guerrilha comunista. Esta correcção da revolução recusou
todo o extremismo, sobretudo o da direita.
A partir do Golpe, deu-se
também a uma socialdemocratização de todos os partidos com excepção de alguns partidos da esquerda
(Marxista-Leninista, Trotskista e maoista).
O problema ganhou mais relevância com a Geringonça
porque antes o extremismo de esquerda não participava no poder, mas, com o
governo de António Costa, o Poder assumiu uma certa radicalização, dado o
partido socialista, para formar Governo, ter de conceder muito espaço ao
partido Bloco de Esquerda (Marxista-Leninista e Trotskista) que propaga agendas
internacionais da marxização da cultura ocidental).
Uma mentalidade portuguesa universalista, respeitadora do indivíduo e da sua
expressão pessoal e um espírito católico
ainda presente na sociedade portuguesa, têm possibilitado um comportamento
moderado e tolerante também entre os partidos.
Quanto mais liberdade no sistema político mais
potencialidade se nota para o aparecimento de posições mais individualizadas e
também extremas; em Portugal a liberdade encontra-se mais na mão das
corporações e o descontentamento social é mais fácil de ser instrumentalizado
contra os patrões do que contra a classe política que se iliba de
responsabilidades criando uma cultura política do culpabilizar o partido
adversário e assim desviar as atenções do cidadão de políticas factuais
concisas (principalmente a esquerda comporta-se em tempo útil de governação
como se estivesse em permanente campanha eleitoral; a direita é mais cómoda e
indolente neste sentido, contando com um certo apoio de muitas pessoas não
politizadas).
Um outro factor da moderação
social portuguesa deve-se também à circunstância de o regime político tratar
bem as suas elites, que uma vez insatisfeitas provocariam instabilidade
política. (Portugal tem 220 generais dos
quais 114 na reserva; tem tantos generais de quatro estrelas como a Alemanha
(quatro). A moderação do povo é
acompanhada por uma certa cumplicidade de um corporativismo encostado ao Estado
e sem vocação para a população. Desde que os grandes ou pretendentes a
sê-lo se encontrem satisfeitos, o povo acomoda-se sempre porque não tem a quem
se encostar (como hipérbole observamos no reino animal este fenómeno em relação
às hienas, à sua presa e aos outros animais que esperam até que elas se
saciem).
Uma outra razão do nosso
espírito temperado vem do facto de Portugal ainda não ter tido uma experiência
com o islamismo como têm as nações ricas da Europa (na Suécia a viragem é
radical). A fragilidade do sistema social português e a pobreza tem colocado
Portugal fora da rota da imigração muçulmana.
Por outro lado, o
radicalismo da extrema direita verifica-se mais em Estados com experiência das
ditaduras socialistas (Veja-se o caso do radicalismo alemão que vem sobretudo
da antiga DDR: país do real socialismo e outros países do antigo domínio
soviético).
O extremismo político
português, vem de fora e é contrário ao génio português que pouco tem de
protestante sendo universalista e amante da festa. Recorde-se o radicalismo importado pelo Marquês
de Pombal, as invasões francesas, os extremismos pré-república, a acção das
forças escondidas por trás da carbonária,
o cobarde assassínio do rei e os inícios da república que conduziram à
ditadura militar (1926) e, na consequência, os 40 anos do regime autoritário de
Salazar que se caracterizava por ocupar o espectro nacionalista e combater os
movimentos moderados de esquerda e de extrema esquerda; de não esquecer o comunismo soviético, marxista-leninista e
maoista, que esteve na base da revolução do 25 de Abril e que deixou uma
opinião pública com conexão à esquerda na sequência de um ideário maçónico
socialista.
O desequilíbrio,
gerado por uma esquerda destemperada dominante, cria na sociedade um sentimento
de insegurança que desestabiliza a ala conservadora da sociedade, fomentando-se
assim pequenos grupos à esquerda e à direita que criam a sensação do caos
social.
Se observarmos a vida dos líderes das nossas
esquerdas, que se arrogam a defesa dos desbeneficiados do sistema, elas
continuam com a mentalidade burguesa que combatem ad extra, só que disfarçada
numa vida burguesa ad intra, encostada ao Estado. Também este tem sido um
factor de resfriamento de extremismos latentes.
O drama português vem do facto
de ser um povo demasiado propenso a influências; no regime de Salazar
adaptou-se à maneira de ser do Estado Novo e, no que toca à atualidade,
interiorizou de tal modo a propaganda do regime de abril que não nota as partes
do seu cérebro branqueadas por ele, passando a viver de forma adaptada ao
pensar do novo regime, tal como vivia antes em relação ao velho; o que é mas
grave na mentalidade actual é o facto moralista de pensar que a sociedade
portuguesa pós 25 de Abril é melhor e de
mentalidade qualitativamente diferente da do antigo regime. Esta mentalidade
leva o povo a viver no equívoco de que a liberdade e a justiça são propriedade
da esquerda. Assim se vai embalando uma sociedade em valores e contravalores
entre “esquerda” e “direita” sem exigências em termos de eficiências
governativas. Vive-se a nível físico social superficial uma paz dos cemitérios
com governos que se alternam, mas que, em vez de manterem um equilíbrio com uma
certa neutralidade governativa para poderem beneficiar o Estado, o minam devido
a uma contínua intervenção pública de caracter jacobino.
Portugal o que tem a menos à
direita tem a mais à esquerda; o bem-estar de uma sociedade revela-se mais
eficiente quando a relação entre conservadores e progressista é normal e
equilibrada. Na discussão
política e nos meios de comunicação social chega a ter-se a impressão que há
donos da democracia e que a esquerda se tornou, por graça do 25 de Abril (da
Geração 68, a nível internacional), no pontífice da interpretação da opinião,
determinando substancialmente a opinião pública.
O Extremismo político português é
constatável em grupos que o importam, na rectórica e nalguma legislação ou
regulamentações de caracter ideológico. A inexistência de um CDS e de um PSD fortes, ou melhor, a sua desestabilização
significará a desestabilização do PS e uma consequente radicalização da
sociedade.
Uma democracia eficiente tem de manter os extremos à direita e à esquerda de maneira a não ultrapassar os 10-15%, doutro modo dá lugar ao caos. Em Portugal, devido à mentalidade do povo, à situação corporativista e ao paternalismo autoritário das forças do Estado, não há perigo de se chegará a ter extremismos violentos como é comum ver-se fora de Portugal. O extremismo é, também ele, comutado num zelo nobilitado de defesa de uma República propriedade imaterial de alguns que, de boa vontade, a confundem com o bem-comum!
© António da Cunha Duarte Justo
Pedagogo
(Português e História) e ex-membro activo do PS, SPD e CDU.
In “Pegadas do
Tempo” , http://antonio-justo.eu/?p=5199
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