No Carrossel das Nações e
das Culturas a Europa revela já tonturas
António Justo
As eleições europeias revelaram que está em
curso a fragmentação e polarização das paisagens políticas europeias e a
necessidade de implementação de políticas do ambiente. Com as eleições, os Verdes
e os partidos pequenos começam a ter maior representatividade nos parlamentos,
apesar do sistema favorecer os partidos grandes.
Em parte, a Alemanha está para os países
europeus como a América para a Europa. Na Alemanha já se verifica o tempo de
viragem dos partidos estabelecidos: a CDU também perdeu eleitorado embora
continue à frente (28,9%), os Verdes (20,5%) conseguiram atrair a esquerda
liberal do SPD, que viu reduzidos os seus eleitores de 27,31 para 15,8%.
A História não para, ela é de quem a acompanha e a muda. De momento tudo
procura e ninguém encontra! Na Alemanha, a juventude marcou presença nas urnas
e a afluência geral do eleitorado foi de 61,5%.
Um outro fenómeno a manifestar-se é o facto
de artistas conhecidos começarem a candidatar-se como pessoas individuais e
conseguirem assento no parlamento. Ver em nota os resultados dos partidos na
Alemanha (1) e noutros países (2). Verdes e pequenos partidos registam as maiores subidas
(3).
Constata-se que, na consciência popular,
avança o proteccionismo de Trump, não só na praça pública, mas também através
de um populismo domesticado dentro dos próprios partidos, o que denota uma
certa adaptação aos novos ventos. De facto, mesmo os chamados populistas AfD
lutam por domar o seu populismo (expressão emocional popular) para que, com o
tempo, possam afirmar-se como populismo civilizado à imagem do que acontece nos
partidos já estabelecidos no sistema. Com o desmoronar dos grandes partidos
populares, como a CDU e o SPD, os populismos de esquerda e de direita ganhará
mais expressão.
De notar que embora esteja a dar-se um
tornado a nível dos chamdos partidos populares, permanece um equilíbrio
nacional da cidadania de esquerda e de direita, na forma de estar política dos diferentes
países, apesar de aqueles se encontram em navio a afundar-se; só na península
ibérica, onde o discurso ideológico tem mais peso nas actividades
governamentais, é que não. Na Alemanha, o partido os Verdes encontra-se a
caminho de se tornar num partido popular e prestes a substituir o SPD nas
rédeas do poder; outros partidos minúsculos também marcam presença.
O facto da fragmentação e polarização das
paisagens políticas europeias obrigará os partidos a mudar a estratégia de
conversações em formações de governo mais complexas e, por outro
lado, a um acentuar de identidades partidárias com a consequência de, em vez de
dialogarem, rivalizarem; também isto significará uma mudança de
atitude na relação entre os tradicionais partidos formadores de
governos na Europa central e norte e terá consequências a nível da EU na
procura de consensos menos fáceis.
A acompanhar a greve do clima na paisagem
juntou-se a greve das escolas a apoiá-lo, tentando assim irromper contra um
cepticismo governamental ainda distanciado. O motor de arranque para a
mudança sistémica da classe governante nos países europeus é movido pelas
mudanças climáticas e pela imigração descontrolada e um certo desrespeito pela
própria cultura.
A juventude, desta vez mais participativa,
quer que o futuro lhe pertença, tendo emprestado, para isso, a sua voz aos
partidos e movimentos verdes e não aos negociantes do hoje! A Europa
encontra-se agora mais dividida entre os que puxam a corda em direcção ao
futuro e os que a puxam em direcção ao passado. Um encontro de pausa para voltar
ao meio seria o mais adequado!
A situação da EU não é boa e sofre de vários
desalinhamentos e exigirá paciência para a construção de coligações
multipartidárias com novas plataformas de conversações na gestão da coisa
pública; na consequência teremos regimes políticos mais instáveis como tem
acontecido com a Itália. Isso tornar-se-á já visível nas discussões para
a substituição de Jean-Claude Juncker na escolha do novo presidente da
Comissão.
Numa sociedade cada vez mais diferenciada
também se torna compreensível um certo desconsolo nos monopólios dos Media e o
descontentamento na classe política estabelecida. A velhice não perdoa e
a juventude, se não é burra, aproveita-se.
Para cá dos Pireneus os eleitores hesitam ainda na vontade de mudar o sistema de partidos clássicos, mas os partidos defensores de programas verdes e ecológicos já se encontrem a iniciar os primeiros passos para pisar a arena pública; são ainda demasiado fracos, mas o exemplo da Europa central encoraja-os. A variedade de partidos eleitos em Portugal já aponta para uma sociedade pronta a deixar de sonhar com maiorias absolutas.
© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=5458
(1)
Resultados: CDU 28,9% (29 deputados), Verdes
20,5% (21), SPD 15,8% (16), AfD 11% (11), Die Linke 5,5% (5), FDP 5,4% (5), Die
partei: 2,4% (2), Freie Wähler: 2,2% (2), Tierschutpartei:1,4% (1),ÖDP 1% (1),
Piraten 0,7% (1), Familie 0,7% (1), Volt 0,7% (1). https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=wahlen+ergebnisse
(2)
Na
França Le Pen consegue com 24,2% do eleitorado, mais votantes do que La
République en Marche, do presidente da República (22,4%). Na Polónia os
conservadores conseguem 42,2% enquanto a oposição conseguiu 39,1%. Na Grécia os
conservadores ganham com 33,5% enquanto o chefe do governo Tsipras só consegue
25%. Na Úngria o partido de Viktor Orbán consegue 56%. Na Dinamarca vencem os
sociais democratas com 22,2% e os populistas de direita descem para 11,8%.
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