Classificação da Liberdade de Imprensa
por Países em 2019
António Justo
A
organização “Jornalistas sem fronteiras” publicou a lista de classificação da
liberdade de imprensa 2019 e, como de costume, a Escandinávia obtém a melhor
posição: 1° Noruega, 2°Finlândia, 3° Suécia, 12° Portugal, 13° Alemanha, 29°Espanha, 32°França, 33° Reino Unido, 103°Moçambique, 105° Brasil
°,109° Angola, 178° Eritreia, 178 Coreia do Norte e 180° Turquemenistão (1).
A abertura e liberdade de uma
sociedade pode ser medida pelo nível da liberdade de imprensa. Uma sociedade
dividida ataca e culpabiliza o que é diferente, fomentando um clima
misantrópico. Naturalmente que há grandes diferenças entre os 180 países
abrangidos pela investigação sobre a liberdade jornalística. Há países em que
domina o medo de medidas de retaliação e de prisão como é o caso da Turquia e
muitos outros. O direito ao acesso a informação livremente pesquisada torna-se
num privilégio cada vez mais raro, atendendo à pressão de grupos fortes com
interesses próprios dentro de uma sociedade. Atualmente acentua-se o perigo de
páginas críticas da Internet censuradas.
Relativamente à Alemanha, a
organização “Jornalistas sem fronteiras” criticou a lei alemã que desde 2018
entrou em vigor e que obriga, redes como Facebook, a eliminar conteúdos
obviamente ilegais, no prazo de 24 horas após a apresentação da queixa. A
ameaça com multas de milhões e também com penas para os suspeitos, pode levar à
supressão de contribuições jornalísticas por medo de multas.
Imprensa desdentada
Os poderes estabelecidos preferem uma Imprensa desdentada
e o jornalista sente-se, muitas vezes, dependente de quem paga a reportagem ou
notícia; o pensar politicamente correcto provoca, por vezes, previamente uma
certa autocensura. Há jornalistas sem posição pré-definida que trabalham num
clima de medo de informar criticamente quer no sentido da esquerda quer no da direita.
Uma mundivisão intolerante torna-se indiferenciada
reduzindo a boa política aos do próprio partido ou ideologia e a má política
aos adversários. Importante é que política, Estado e imprensa não se unam e
também que não sejam considerados como adversários. Numa sociedade da
diversidade de opiniões, próprio de uma democracia aberta, ninguém precisa de
combater ou difamar ninguém embora cada um tenha o direito a manifestar e
defender os seus interesses que não devem excluir os interesses adversários nem
declará-los como maus.
A imagem do desenvolvimento social numa sociedade pode
observar-se na sua maneira de apreciar diferenciadamente interesses e valores.
Dentro e fora de Portugal, nunca poderá haver uma linha
informativa ideologicamente independente porque quer jornalistas quer elementos
do CGI não são eunucos, na qualidade de delegados de grupos de interesses! Uma
sociedade que não esteja consciente disto está mais predisposta a ser enganada!
Opinar da independência da RTP é como, na generalidade,
falar da virgindade das meninas e dos meninos antes do casamento! Um dos poucos critérios seguros para
análise da questão (não fossem os “anticoncetivos”!) seria ver até que ponto o
jornalismo investigativo contribui para a correcção de atitudes abusivas de
governos, oposição, economia e ONGs; ou até que ponto levaram à deposição de
ministros, à queda de um governo, a chefes de empresas terem de atempadamente
abandonar o cargo! Isso torna-se num busílis e para mais em países acomodados,
em que muitos multiplicadores sociais trazem a tesoura da censura na cabeça!
Numa sociedade portuguesa reguila, dos clubes, mas alegre e contente, torna-se
difícil um civismo crítico capaz de pensar para lá dos limites partidários!
Um outro factor que impede a imprensa portuguesa de ser
mais isenta situa-se na malaise do pensamento político português que, na praça
pública, é equacionado apenas em termos de direita ou de esquerda: um fruto do
jacobinismo que se tornou numa doença crónica do argumentar social português! O
mesmo se diga nas comparações e análises de caracter regionalista (patriotismo
estomacal!). De facto, a afirmação de que a RTP, em comparação com as outras é
mais ou menos equilibrada, revela-se numa falácia. O critério de orientação de
avaliação da independência da RTP a partir da comparação com as privadas
portuguesas manca muito, tal como pensar a sociedade em termos de direita ou de
esquerda, passando a polaridade a ter
demasiado peso como critério de orientação. Pior ainda quando os polos são
deficitários não se podendo então seguir como orientação o princípio filosófico
de que a „virtude” se encontrará no meio”! Talvez a juventude surgente
possibilite uma sociedade de opinião mais focada na realidade
económico-cultural e menos em termos polares de esquerda e de direita.
Em Portugal predominam os Media desdentados,
mais virados para o sentimento, para o catastrófico e para o clubismo. Como exemplo de uma imprensa sem dentes
temos também agora o caso, na Alemanha, da aceitação não crítica da recusa das
diferentes fracções partidárias não elegerem os candidatos da AfD para
vice-presidente no Bundestag e no Landtag Hessen. Aí são sistematicamente
boicotados pelos outros partidos, embora cada fracção partidária tenha direito
a um vice-presidente. E isto acontece ao mais alto nível, da democracia, quando
a consequência seria abolir a lei do direito das fracções parlamentares a terem
Vice-presidentes! Não é legítimo que a
concorrência político-partidária determine as regras democráticas básicas.
Não é boa uma sociedade cega do olho esquerdo nem do olho direito. Claudia Roth
dos Verdes é vice-presidente do Bundestag, embora tenha participado numa
manifestação com os autonomistas de esquerda que ostentavam cartazes
"Morte à Alemanha” “Deutschland Verrecke"!
Precisa-se uma sociedade de olhos bem abertos
sejam eles o da esquerda ou o da direita! Só assim se poderá evitar o populismo
das massas e o populismo da ideologia da elite formadora de opinião pública.
© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=5395
Notas no site.
Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=5395
(1)
Lista
dos países: https://www.reporter-ohne-grenzen.de/weltkarte/#rangliste-der-pressefreiheit
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