quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A Queda do Socialismo favoreceu a Degradação social ocidental (1)




Da Economia social para a Desregulação capitalista liberal
António Justo
Os donos do dinheiro e do poder atacam sistematicamente o padrão da economia social europeia que permitia uma vida honrada e perspectivas de futuro com segurança para a maioria da população. Este sistema conseguiu gerar o milagre económico alemão e um bem-estar geral na Europa. Hoje é desmontado pela filosofia económica e social anglo-saxónica e pela visão asiática, aliada ao desejo duma EU que se quer afirmar em relação à América e à Asia.

Até 1998 a Europa tinha uma ordem económica de mercado social orientada para o bem-estar de toda a população. Possibilitava uma classe média abrangente e uma classe baixa remediada e uma classe alta reduzida de ricos mas com uma certa consciência social. O imposto sobre o consumo era insignificante; o imposto sobre os ricos era superior a 50% e as leis laborais tinham em conta a dignidade humana. Com a queda do socialismo (União Soviética) deixou de haver uma força concorrente que metia medo a um capitalismo desalmado e motivava os Estados ocidentais a tomar medidas económicas que possibilitavam a existência dum capitalismo de rosto humano. Na concorrência entre o bloco ocidental e o do leste, as elites económicas e políticas ocidentais estavam empenhadas em conseguir melhor nível de vida para os seus cidadãos e em demonstrá-lo; tinham de convencer com o melhor nível de vida dos seus cidadãos a sua superioridade perante o socialismo.

Emanuel Kant resumia toda a ética económica europeia ao princípio do “bem-comum” como princípio superior de acção. Ao contrário, o pragmatismo económico anglo-saxónico pensa resolver o problema do bem-comum através do ditado económico dum mercado que tudo regula.

 A estratégia da União Europeia para se tornar a primeira referência económica do mundo e os exageros do paternalismo de Estado ajudaram os gangsters do dinheiro a impor ao Estado social um liberalismo económico selvagem. 

A política social e económica, em nome de um racionalismo e utilitarismo absorvente, foi destruída, de dia para dia, e com ela a coesão social que antes havia. A solidariedade só pode ser cimentada por uma emotividade ética que leva à relação humana entre patronato e operariado. A redução do ideário nacional / individual ao mercado competitivo e a um código jurídico racional, que pretende substituir o ideário cultural/ético pela luta pelas necessidades básicas, não cria felicidade e leva à explosão da crise como se deu em 2008. As zonas periféricas do euro são o barómetro do estado dum sistema económico.

Com a Queda da União Soviética deixa de haver Concorrência no bem servir
Com a criação da zona euro e da economia globalista foi interrompida a economia social de mercado de prosperidade para todos. O trabalho digno dá lugar ao trabalho precário e desumano, flexível e temporário, a firmas emprestadoras de trabalhadores, baixos salários e ao mercado desregulamentado. O Estado, pressionado e comprometido com as forças económicas, deixou de impor um quadro regulador da economia, perdendo o controlo sobre os bancos e estes deixaram de ser os financiadores da economia real para se tornarem em casinos do capital de jogadores da bolsa. O poder financeiro começou a ser de tal ordem superior ao poder do Estado que tem a possibilidade de comprar também a política. Tudo se equaciona agora em termos mercantis. Deixamos de ter empresários de fundo humanista para termos capitalistas liberalistas desenraizados.
 
Corrupção económico-política coerente
Em qualquer sector que se observa lá se encontra uma rede corrupta de interesses de compadrio entre serviços públicos, partidos empresas e justiça. A corrupção encontra-se de tal modo orquestrada que nações como Portugal para poderem viver têm de recorrer à troica que legitima a corrupção. Em texto claro: vivemos num sistema económico coerente na corrupção. A corrupção estatal pede ajuda para sobreviver aos corruptos internacionais.

Até aos anos 90 havia uma relação de solidariedade entre patronato e operariado. Com a globalização, muitíssimas firmas que antes estavam ligadas a grandes famílias nacionais passam a pertencer a sociedades de accionistas internacionais só interessados no lucro da produção sem laços com o trabalhador. Fomentam relações de trabalho péssimas, importando-se apenas da especulação com firmas e com os trabalhadores: da colaboração mais ou menos condicionada passa-se à rivalidade. 

Fomenta-se o radicalismo e desmonta-se uma democracia já de si doente
A poupança radical conduz ao desespero e asfixia a iniciativa. Como consequência, nas zonas de crise, acentua-se o radicalismo a todos os níveis sociais; o nacionalismo aumenta numa altura em que nações se encontram ameaçadas. O norte e o sul da europa têm mentalidades diferentes, não se entendendo a nível económico.
Entre a França e a Alemanha há discrepância na concepção da Europa. A França quer uma europa centralista (como ela) e a Alemanha uma europa federalista.

Egoisticamente a Alemanha exige uma política de poupança radical para o sul tal como a que praticou na sua crise dos anos trinta esquecendo que essa política foi a que possibilitou a subida de Hitler ao poder. É verdade que a Alemanha se tornou fiadora de um trilhão de Euros dos países em dificuldade e isso preocupa-a sobremaneira. Mas a EU não pode limitar a sua posição, em relação ao sul, a medidas meramente fiscais e mercantilistas. Sem margem de manobra para sanear as dívidas, devido a uma carga tributária já exorbitante sobre trabalho e energias, os governos limitam-se a adiar as soluções. A EU terá de perguntar-se porque é que foi interrompida a prosperidade para todos.

A administração estatal precisava de ser expurgada de maus hábitos crónicos mas a economia precisa de espaço para criar alternativas fomentadoras de postos de trabalho.
Deixamos de ter empresários para termos capitalistas desalmados. Isto porque a rede dos políticos corruptos com assento e mordomias em empresas são os mesmos que preparam as leis que favorecem o compadrio.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@gmail.com

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