A Alemanha sai à Rua com
Medo do Islamismo – uma Iniciativa que pode fazer Escola na UE
António Justo
Em muitas cidades alemãs
reúnem-se, às segundas-feiras, milhares de manifestantes protestando contra a
“islamização do Ocidente”. Sob o nome Pegida (Patriotas europeus contra a
islamização do Ocidente) são regularmente organizadas manifestações; entre
outras, a de 15.12.2014, em Dresden contou com 15 mil manifestantes, cidade
onde o movimento tem mais expressão.
Fenómeno novo é o facto de a organização
e participantes advirem do centro da sociedade. Há um medo difuso que a
“Alemanha se abula a si mesma” (Jardins infantis que deixaram de festejar o S.
Martinho e lugares em que os tradicionais “mercados de Natal” mudam o nome para
“Mercados de Inverno” supostamente para não ferir os sentimentos islâmicos). Desde que a Alemanha também começou a
produzir islamistas (550 a combater pelo Estado Islâmico), a sociedade
tornou-se mais inquieta, embora a polícia alemã tenha tido até agora conseguido
impedir casos de terrorismo interno. É um facto que os extremistas islâmicos têm interesse em dividir as sociedades porque
assim torna-se mais fácil para eles motivar e recrutar prole para as milícias terroristas
do Estado Islâmico.
Segundo dados oficiais das
estatísticas alemãs, em 2013 viviam na Alemanha 16,1 milhões de imigrantes (e
descendentes) o que corresponde a 20,5% da população. Cerca de 4,3 milhões são
muçulmanos, sendo de origem turca 2,5 milhões. 9,7 milhões de estrangeiros têm
nacionalidade alemã ou dupla nacionalidade. Em 2013 imigraram 465.000 para a
Alemanha. Além disso em 2013 entraram 110.000 solicitantes de asilo. Em 2014, até
novembro, foram registados 155.427 solicitantes e destes foram reconhecidos
como refugiados 26.842; muitos dos não reconhecidos continuam a viver na
Alemanha.
Embora os alemães façam muito
pelos refugiados, o povo começa a insurgir-se contra a islamização do país,
também porque este é o grupo que mais exigências especiais apresenta e porque
não é propriamente possível ter-se conhecimento sobre a sua vida nos guetos. Radicais
salafistas apoiam o Estado Islâmico enviando extremistas alemães para a “guerra
santa”.
Paralelamente às manifestações de
Pegida são organizadas contramanifestações de outras organizações. Um conflito
de potenciais imprevisíveis! Segundo um inquérito 49% dos alemães mostra
compreensão pelas manifestações de Pegida.
A classe política está preocupada
pelo facto de se poder organizar uma corrente desestabilizadora da política e
dos partidos. Por enquanto, estes apelam a que não se deixem infiltrar por
forças da extrema-direita. A política tem dormido e permitido a formação de
verdadeiros guetos que, também devido à criminalidade entre solicitantes de
asilo leva muitos a questionar-se se entre eles não há terroristas. Para
complicar, também há alemães que vivem em certas regiões e se sentem como
estrangeiros no próprio país. Por outro lado a Alemanha, devido ao trauma da
guerra, tem muito medo e com razão, de movimentos populistas.
Razões para preocupação causam
também os neonazis que se podem sentir estimulados com manifestações do género
(numa casa prevista para refugiados deu-se um fogo com prejuízo de 700.000€ e
que se presume ter sido fogo posto). Medos difusos e o medo dos guetos
islâmicos parecem justificar a expressão popular de uma sociedade que até ao
presente não se preocupou com uma política de imigração séria e em que as
muitas mesquitas (na Alemanha há 326 mesquitas e cerca de 2.600 casas de culto,
bem como inúmeras chamadas "mesquitas de quintal") não têm uma panorâmica
sobre os seus frequentadores. Os políticos terão de pensar mais sobre a
política de imigração se querem servir melhor os imigrados e a população em
geral.
A Alemanha tem um problema que a
política e os meios de comunicação social reprimiram pois contentavam-se com a
designação de racista para quem se manifestasse criticamente contra certas
protuberâncias sociais. Com o surgir de Pegida, esta receita, tal como fazer
tabu de temas não chegará. Agora que surge uma inflação de manifestações em
muitas cidades, admoestando para o perigo da infiltração islâmica, a sociedade-bem
envergonha-se sem saber como reagir.
Parte da sociedade maioritária
sente-se ameaçada pelo desenvolvimento e pela acção de grupos extremistas muçulmanos.
Tipicamente, os vários grupos sociais,
em vez de encarar objectivamente o problema, no sentido de dialogar em vez de
julgar, opõem-se uns como manifestantes e outros como contramanifestantes, uns contra
os outros, com se cada grupo quisesse, à sua maneira, salvar a nação. Este
encontro na rua de grupos contrários pode contribuir para a escalação de uma
potencial de violência latente há muito reprimido, devido principalmente ao
facto de a política ter dormido sem dar resposta para problemas pendentes.
Seria irresponsável desqualificar as manifestações como resultado do medo
perante culturas estranhas. Este é um
processo que, a não ser encarado objectivamente atingirá toda a Europa e
simplesmente pelo facto de antes ser um problema reduzido à classe
desfavorecida e agora se tornar num problema da classe média, isto é, do centro
da sociedade. O medo dos retornados da “guerra santa” excita o espírito de muitos
que querem, em paz, conservar os bens e os direitos adquiridos.
Parte dos manifestantes querem
ajudar os refugiados muçulmanos, outros têm medo deles devido à sua quantidade
e coesão social e outros ainda da extrema-direita e da extrema-esquerda e de
permeio Hooligans e fanáticos querem desacreditar as manifestações; entre eles
também os há que se misturam entre os manifestantes com a única intenção de
fazer barulho e desestabilizar o Estado. Expressões infelizes de representantes
islâmicos onde se afirma que a Alemanha é contra o islão juntam mais fogo à chama
da irracionalidade. De facto a Alemanha respeita o direito a manifestações e
muitos manifestantes da Pegida são cidadãos conscientes e pessoas de boa
vontade. De facto, muitos dos manifestantes em algumas cidades fazem parte do
resto da sociedade, e o que move muitas
pessoas é o medo do seu futuro dado este mostrar-se cada vez mais incerto para
muitos e a Alemanha não ter uma política de imigração definida como acontece
nos USA e no Canadá. Outros ainda não percebem a razão por que os
pretendentes a asilo se dirijam sobretudo para a UE e não em direcção aos
países ricos árabes.
Pegida é um fenómeno muito
complexo para poder ser equacionado em sentenças políticas. Trata-se, na sua
maioria, de ”cidadãos preocupados”; muitos sentem-se estrangeiros na própria
terra, ou não vêem as suas preocupações tomadas a sério pela política. Todos os
grupos sociais deveriam entrar em diálogo e não só para fazer reivindicações. O
facto de em Dresden ter havido 15.000 manifestantes na última segunda-feira
preocupa a chanceler alemã que não quer ver “arremetidas” ou propaganda contra
estrangeiros que são bem-vindos à Alemanha. Por parte da opinião pública alemã,
das igrejas, partidos e organizações há
grande apreensão e receio sobre as consequências de um tal movimento que pode
servir grupos extremistas.
Deste modo, os terroristas conseguem, com a sua estratégia, em nome do
Islão destruir estados africanos e ao mesmo tempo começar a desestabilizar uma
sociedade europeia tradicionalmente consensual.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu
2 comentários:
Será que o diálogo entre civilizações é uma utopia, uma miragem? Os conceitos tradicionais de ‘Ocidente’ e ‘Oriente são fundamentados em quê? A História nos ensina? O medo é fundamentado na sabedoria?
Sobre este tema contamos com muitos autores a abordar uma polêmica que tantos males tem trazido à humanidade. Gosto de acompanhar estas leituras que sugerem alternativas ou não! E que nos podem ajudar a ser menos preconceituosos.
A Universidade de Coimbra publicou em 2004 , textos que nos ajudam refletir sobre a história das relações Ocidente-Oriente e o que podemos compreender.
Diálogo de Civilizações – viagens ao fundo da História, em busca do tempo perdido
Coordenador: João Gouveia Monteiro
Língua: Português
ISBN: 972-8704-37-2
Editora: Imprensa da Universidade de Coimbra
Edição: 1.ª
Data: Dezembro 2004
Dimensões: 240 mm x 170 mm
N.º Páginas: 149
in Diálogos Lusófonos
O Diálogo entre as civilizações terá de ser encarado de forma aberta na confluência dos interesses de todos mas numa estratégia e tentativa de autossuperação.
Não será certamente uma miragem mas um trabalho imenso a realizar dado nos encontrarmos num diálogo de civilizações fechadas e civilizações em termos de abertura. Geralmente, a opinião pública contenta-se com um pensar em termos do ou… ou, quando a realidade não pode ser reduzida a esta perspectiva porque é complexa e a-perspectiva (incluindo mesmo contradições) e como tal a ser pensada em termos do não só… mas também… O pensar polar simplista, ou do verdadeiro - falso, é superficial e foge à realidade humana. Quanto mais informações tivermos, tais como as de “Diálogo de Civilizações” e muitas outras, mais a própria perspectiva se alarga em pequenos passos no sentido da visão integral. O que ajuda a criar uma consciência da a-perspectividade da realidade. Lógica e factos são os instrumentos que temos para no ocuparmos… A conexão de generalizações (!) de observações de factos, de que se serve também a Ciência pode ajudar-nos ao alargamento da própria perspectiva e conhecimento no diálogo com outras igualmente válidas desde que colocada numa perspectiva aberta. Só na tangente dos diversos interesses e perspectivas se pode encontrar um relâmpago da realidade que pode ajudar a mudar as percepções no sentido de um futuro melhor, na direcção de um saber mais alargado mas sempre incompleto porque provisório. Aqui surgiria o princípio da tolerância que nos deveria levar a identificar e criticar, de forma complementar mas crítica, todos os factos e tendências anti-humanitárias presentes na teoria e no agir de cada civilização. Só uma visão inclusiva que integre também a alternativa será prometedora de um futuro mais digno e humano para todos. Para isso pressupõe-se a abertura e a boa vontade de todos numa atitude nobre de alijar cargas que não sirvam a dignidade humana e dos povos numa relação respeitosa entre uns e outros. Aqui poderíamos entrar na discussão por vezes paradoxal da tolerância.
O melhor sucesso para todos os de boa vontade no sentido de informar para que cada um de nós se forme e reconheça a temeridade da própria posição.
Bom Natal e próspero Ano Novo
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
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