Por António Justo
O Homem ao procurar Deus descobre-se a si
mesmo. Quando o Homem Adão se escondia de Deus, Deus perguntava-lhe “Adão onde
estás?” Este jogo do mito de Adão e Eva repetimo-lo ontem e hoje e
repeti-lo-emos amanhã e depois. Trazemos connosco o gene divino e para nos
definirmos procurámo-lo também fora.
O estudo da fenomenologia das religiões
torna-se muito útil. O estudo comparativo das religiões, sob o método da
exegese que se aplica no estudo da Bíblia, ajuda a descobrir as diferentes
filosofias, antropologias e sociologias a que a correspondente divindade dá
forma.
A História das religiões é evolutiva e
corresponde à História do Homem e da correspondente cultura num processo
recíproco de identificação individual e cultural; o mesmo se diga na tentativa
de se definir o ser humano e Deus. A teologia está consciente de que o falar
sobre Deus é uma tentativa de definir e encontrar a própria ipseidade e que
revela mais o ser humano que Deus! Daí a constatação bíblica do “homem criado à
imagem e semelhança de Deus” num processo relacional com a consequente
proibição de se elaborarem imagens de Deus. A crença ou não crença em Deus e o
falar dela mais que a essência de Deus revela a necessidade do crente ou
do ateu de se definir em relação ao outro, ou ao totalmente outro. Cada
antropologia, cada sociologia precisa de factores de identificação específicos
que a formem e expressem.
Hoje, em determinadas sociedades que se
encontram em período de decadência, assiste-se a uma tendência niilista de
desidentificação que leva ao perigo da arbitrariedade e ao equívoco de se
confundir o estar com o ser. Não podemos ter linguagem sem gramática embora
seja importantíssimo não identificar uma com a outra. Tanto a pessoa como a
cultura implicam narrativas, um conteúdo em diferentes textos. O ser humano sem
o mistério permaneceria no estado de bicho. O discurso controverso é a sua
chance!
António Justo
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