A PROVOCAÇÃO
ELEVA O EFEITO EMOCIONAL
António Justo
Há grupos que apostam
na missiva emocional como único critério de interpretação e explicação de
factos complexos que exigem abordagens complementares para serem tratados com
seriedade. Nestas andanças da opinião pública há muitos que recorrem da mal-interpretarão
e da provocação, para elevarem o efeito emocional que, por vezes, chega mesmo a
embotar a razão.
O governo alemão organizou
uma série de Eventos sob o título “Viver bem na Alemanha”. Entre eles conta-se
o “diálogo com o cidadão” de Ângela Merkel com 32 alunos em Rostock, onde uma
jovem palestiniana chorou e a chanceler se dirigiu a ela e a afagou.
Este encontro de
15.07 foi o 99° evento de diálogo é o segundo com a participação directa da
chanceler. Nele a jovem libanesa Reem, a quem, depois de 4 anos de estadia,
ainda não foi reconhecido o estatuto de refugiada, falou sobre a sua vontade de
querer viver a vida sem preocupação de futuro como vivem outros jovens e
referiu-se à sua situação e de outros refugiados ou pretendentes a tal que
vivem na insegurança.
A Chanceler disse
que o governo prepara uma lei que facilita a situação para pessoas em situação como
a dela e que um processo de asilo não deve levar tanto tempo a ser concluído. Referiu
que há muitos milhares de pessoas no Líbano e milhares de milhares de pessoas
em África que desejam vir para a Alemanha mas a "A Alemanha não pode
acolher todos” os que querem vir do Líbano, da África, etc.
Passados momentos
a jovem começou a chorar e a chanceler dirigiu-se a ela para a afagar e
referiu-se ao projecto de lei em vista que simplificará a duração do processo.
Os jornais em
toda a Europa aproveitaram-se do assunto para difamar e mal-interpretar o
evento. Os títulos de muitas notícias fomentaram o preconceito contra a Doutora
Merkel e contra políticos como se os políticos fossem sempre pessoas sem
sentimentos.
A exploração da
parte emocional dos temas não serve a objectividade e deforma a opinião porque
não contempla a parte factual-racional tornando-se mal-intencionada ao saber que
há um determinado público que só tem acesso a notícias emocionais.
A imprensa
sensacionalista logo titulou “Merkel Rainha de coração frio” sugerindo que
Merkel não deveria só afagar a jovem que chorava mas prometer-lhe a estadia.
Uma Chanceler,
pelo facto de o ser, não pode arbitrariamente passar por cima das leis que
regulam um estado de direito; se além de a consolar fizesse uma excepção para a
família Reem logo o cidadão se levantaria e atacaria a Chanceler porque também
ela tem de obedecer às leis.
Foi uma
experiência difícil para a jovem e para a Chanceler. Experiências destas podem ajudar
a humanizar a feitura das leis. No caso da pretendente a asilo, a quem não foi
concedido ainda o direito de asilo e que se encontra na Alemanha com a família
há quatro anos, pode vir em seu benefício um projecto de lei que prevê a permissão
de estadia na Alemanha (não podendo ser deportados) para pessoas que vivam há
mais de 4 anos na Alemanha e mostrem boas condições de integração (conhecimento
da língua, etc. como revela a jovem Reem).
Junto o site onde
se pode ver toda a conversa entre Ângela Merkel e a jovem: https://www.gut-leben-in-deutschland.de/SharedDocs/Blog/DE/07-Juli/2015-07-15-dialog-kanzlerin.html?nn=1328644
António da Cunha
Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
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