A eleição de Trump marca o fim da época pós-guerra
António Justo
O antigo embaixador dos USA na Alemanha, john Kornblum, confessou na
imprensa alemã: “A tutela americana sobre a Europa foi retirada para sempre … A eleição de Trump marca o fim do mundo
pós-guerra". “Agora os europeus talvez encontrem uma vontade reforçada
para assumir responsabilidade”. Nesta perspectiva, o compromisso social europeu
com a sua população correrá grande risco e o radicalismo aumentará.
As responsabilidades das potências estratégias mundiais em relação ao
globo serão redistribuídas. A Europa
terá de assumir a sua defesa e de se preocupar mais com a África enquanto os
USA se preocuparão mais com eles e com a Ásia. Talvez a Europa central, na
perspectiva económica e estratégica, tenha de olhar mais para a Rússia e menos
para a Turquia. Naturalmente não agradaria nada aos americanos se a tecnologia alemã
e as matérias-primas russas cooperassem, porque deste modo se fortaleceriam
mutuamente. A Alemanha tem de ter países para onde exportar, doutro modo, uma
Alemanha instável tornaria a Europa ainda mais insegura.
Na sequência da eleição de Trump, Estados e empresas multinacionais
vêem-se obrigados a reunir-se. A 14.11, os ministros da defesa e dos negócios
estrangeiro da EU reuniram-se e declararam terem de assumir novas
responsabilidades. Determinaram para já a criação de um Centro para a Liderança das operações civis e militares na EU a
efectuar em 2017. Doutro modo os USA continuarão a ter como parceiros os
diferentes países europeus não se sentindo motivados a sobrecarregar o próprio orçamento
militar para defender a Europa. A Nato foi abusada e instrumentalizada pela
Turquia na sua guerra contra os curdos, dando apoio clandestino a grupos
sunitas terroristas e afirma-se cada vez mais como um estado fascista mas a
Europa é demasiado fraca para poder reagir adequadamente.
As consequências da nova política americana já se fazem sentir numa
Europa tradicionalmente instável (com excepção do período que foi do fim da segunda
guerra mundial até à queda da União Soviética). Na sequência da nova onda, os países membros da EU passarão a não permitir
tanta intromissão de Bruxelas nos assuntos nacionais mas também não podem
permitir que um só governo, o de Ângela Merkel queira impor a todos os membros da
EU a sua política de boas-vindas aos refugiados. A EU, que deveria ser unida, encontra-se em contradição ao ser
condicionada pela Alemanha e por outro lado, também os políticos dos países
membros terem de fazer vista grossa ao que se passa em Bruxelas, para poderem sobreviver. Os políticos portugueses poderão
permitir-se ainda por algum tempo manter a sua intensa solidariedade com
Bruxelas porque nas elites governantes portuguesas há uma forte convicção europeia
e em Portugal o povo não ter tanto a dizer em política como noutros países. Um outro
factor de desestabilização de Bruxelas será também as relações especiais dos
USA com o Reino Unido, Polónia, Roménia, Grécia e em parte com Portugal.
A crise dos refugiados na EU levou ao Reino Unido a enveredar caminhos
mais nacionalistas. A União Europeia cada vez se torna mais fraca como se vê na
sua dependência em relação à Turquia. Sintoma da fraqueza da EU está no facto de se atrever a chamar a atenção
dos USA para o respeito dos direitos humanos e deixar o fascismo crescer na
Turquia. Tal como aconteceu com o Brexit torna-se difícil para muitos aceitar a
realidade dos factos. A pseudo-religião do
politicamente correto da nossa era tem dificuldade em aceitar o contratempo que
a faz sofrer e, por isso, não deixa ser objectiva.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=3947
UMA BOA ACÇÃO PARA
DESENFASTIAR ALGUMAS NOTÍCIAS: TRUMP RENUNCIA AO ORDENADO DE PRESIDENTE
Donald Trump declarou querer renunciar ao ordenado a que teria direito
na qualidade de Presidente dos USA. Trum noticiou na CBS só querer aceitar um
dólar por ano. A remuneração do presidente americano é de 370.000 € por ano.
Este propósito só terá consistência se a sua relação como grande
empresário e como presidente dos USA não se misturarem.
António da Cunha Duarte Justo
2 comentários:
Caro António Justo,o sr.corretamente aponta ou descreve os males que assolam a Europa e não só mas,agradecia ideias com alternativas possiveis para que se consiga uma Europa estável e de seguida continente seguido de continente ?
Francisco Barbosa velho
Caro Francisco Barbosa,
muito obrigado pela questão. Neste momento da história em que nos encontramos é de grande importância contribuir para uma reflexão profunda para a partir dela surgirem soluções se ir criando uma nova consciência e uma nova forma de estar na vida. Como na Idade Média o povo estava submisso ao clero e à nobreza hoje encontra-se submisso à doutrina do politicamente correcto ditado pela elites que mantêm o poder económico e ideológico. Só que a malta não nota e ainda tem a arrogância de se sentir melhor do que os da idade média. Esta é uma razão porque coloco o dedo na nossa ferida. Quanto à prática tenho também muitos artigos de fundo que abordam o assunto. A alternativa só pode ser criada pelo fomento de uma nova consciência. Só um povo crítico e consciênte será capaz de revolucionar o sistema; não os revolucionários do costume que a história nos apresententa. Estes governam-se a si e às suas clientelas. De resto defendo uma política social descrita nas encíclicas sociais da igreja católica que vão muito mais além de qualquer programa partidário ou sindical. Se os meus artigos levassem mais gente a inscrever-se em todos os partidos e organizações, a reflectir mais, a ser mais crítico e autónomos e a participar mais na filosofia cristã já era um pequeno passo no sentido de se criar uma sociedade em que não fosse o dinheiro e a vaidade os factores impulsionadores do pensar e agir mas sim a humanidade, a compaixão e o amor nos levasse a descobrir a todos como irmãos, no respeito pela diferença. A Europa teria de repensar o seu legado cristão e menos o capitalista e materialista.
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