Contradições na Democracia representativa - Tráfico de influências?
António Justo
Os salários dos administradores
do serviço público de rádio e televisão causam escândalo na sociedade alemã. Dos
12 administradores, sete deles (da DW, DLR, SR, RB, RBB, HR e MDR) recebem um vencimento anual
entre 207.000€ e 275.000€ e cinco (da ZDF, SWR, NDR, BR e WDR) recebem entre
321.860€ e 399.000€. A chanceler Ângela Merkel ganha por ano 310.000€.
Na Alemanha, cada lar ou apartamento paga por mês 17,50€ de contribuição
para a Rádio e TV. De facto, isto torna-se num imposto indireto. É um serviço
prestado e muitos negam-se a tal serviço ou são sobrecarregados pelo facto de terem
duas habitações têm de pagar em duplo. Por tudo isto, o Tribunal Constitucional
tem em mãos a análise da constitucionalidade de tal prática; a decisão sairá no
outono!
Seria de perguntar porque é
que administradores do serviço público têm maior ordenado que a representante
do Estado. Será que os que, com a sua redacção, decidem sobre o que o povo deve
ou não ouvir, prestam um maior serviço público ao povo do que a chefe do
governo? Ou será que, tal como acontece com ex-presidentes da república, devem
ser agraciados com luxuriantes ordenados? As regalias têm a função de lhes
fecharem a boca para não estragarem o negócio dos ainda activos. Se não há,
pelo menos, fica-se com a impressão de haver tráfico de influências.
Seria oportuno que o povo e alguns jornalistas se questionassem sobre isto.
Doutra maneira tornamo-nos todos cúmplices. O mesmo se dá com ordenados exímios
de futebolistas e que, embora da actividade privada, deveriam ser moderados
para não se tornarem em afronta ao povo e à democracia representativa. Por onde
anda a credibilidade, pelo menos, daqueles que se dizem do lado do trabalhador,
ou que fazem o negócio à sua conta?
Numa Europa com uma moral de pernas cada vez mais abertas, muitos até
procuram fugir aos impostos e o que é mais cínico, fazem-no para se não
tornarem cúmplices do exagero dos privilégios de certos servidores públicos.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do
Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4797
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