Um Modelo para um Festival
VisãoLusofonia
António Justo
Sob o mote «Todos a bordo!» realizou-se o festival
(eurovision Song Contest 12.05.2018) perante um público presencial de 11.000
pessoas e muitos milhões de telespectadores dos 43 países
participantes.
Venceu Israel (esta é a quarta vez que vence), com a canção
«Toy» interpretada por Netta. A artista
soube, de maneira diferente, fazer valer a diferença transmitindo, ao mesmo
tempo, a mensagem de que as mulheres não são nenhum brinquedo nas mãos dos
homens. O que sobressai pela diferença, foi uma das características que se
afirmou na memória dos países ao distribuírem os pontos pelas 26 apresentações
de artistas. A canção de Cláudia Pascoal, com a sua digressão ao jardim da avó,
não favorecia o espalhafato das emoções, o que levou ao incómodo último lugar,
o lugar 26 na qualificação.
Apesar dos favoritos Suécia, França, República Checa,
Noruega e Estónia, os três primeiros lugares vencedores foram para Israel,
Chipre e Áustria. O 4° lugar, conseguido poe Schulte, para a Alemanha, com a
balada “Deixas-me andar sozinho”, dedicada ao falecido pai, mostra que o
festival também tem espaço para cenários menos pirotécnicos.
A organização do espectáculo e sua a execução
revela alto profissionalismo e competência.
Sem fogo de artifício, foi espectacular a encenação inicial do
espetáculo e as intervenções musicais que se seguiram à competição.
Numa ética do
pensar a partir do nós, da canção “Amar pelos dois”, diria, numa mística
lusitana, foi expresso o espírito universal e profundo do que significa
lusofonia, numa simbiose lusófona de Salvador
Sobral e Caetano Veloso, com o pianista Júlio Resende.
Em contraposição
a uma música tecnocrata, a alma lusa lá estava a dar corpo à Europa, tal como o
fez com D. Henrique e os Descobrimentos.
Um Projecto para um Festival da
Lusovisão?
Lusovisão poderia tornar-se num projecto dos países
lusófonos com potencialidades para fomentar os ‘biótopos’ culturais dos
diferentes países/regiões no sentido de se institucionalizar a diversidade das
culturas num todo feito de complementaridades.
A criação de um
canal de Lusovisão comum, comparticipada pelos diferentes países lusófonos,
poderia tornar-se num segundo ou terceiro canal de cada país, dedicado
inteiramente à cultura e à arte na CPLP
(todos os falantes de português e
suas variantes: Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Macau,
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Goa, Damão e Diu e
outras comunidades falantes).
Na sequência da criação de um canal de
Lusovisão, seria natural ter-se o Festival da Eurovisão como modelo para um
projecto de Festival LusoVisão a criar-se na comunidade de língua portuguesa.
A canção das lusitanidades seria um festival de arte e
cultura onde a diversidade unida tornaria uma alma forte a afirmar-se na
concorrência das civilizações; juntaria sinergias diversas e poderia tornar-se
também numa reacção correctora de uma globalização sem coração e num antídoto
contra a uniformização cultural em via.
Seria um ensejo para proteger o cariz humano e feminino, proteger a província,
à nossa maneira, contra a metropolização ou monopolização cultural.
De facto, ao
contrário da francofonia, que tem como base um conceito político, a lusofonia
tem como base um conceito linguístico e cultural e como tal deveria criar o seu
lugar de expressão e de encontro a esse nível.
Particularmente, cada nação carece de capacidade para se
defender na concorrência com uma cultura latifundiária… A defesa de uma certa
sustentabilidade local só poderá ser eficiente se se servir de supraestruturas
em que o regional seja guardado sem, contudo, esquecer as leis da evolução que
se resumem na selecção e domínio pelo mais forte ou na colaboração dos mais
fracos para se defenderem e afirmarem juntos. Um tal projecto seria um
contributo na defesa da sobrevivência das regiões e dos “biótopos”
ecológico-culturais, sem ter de perder o comboio da História; o futuro será de quem se antecipa; o que
fez Portugal com a iniciação dos descobrimentos (dando novos mundos ao mundo)
seria hoje a missão dos países lusófonos. Um país, um espaço intercultural
só terá sucesso se tiver uma missão à frente e tiver consciência de a querer
cumprir.
Para isso há que meter mãos à obra e conservar a
tensão da unidade na diversidade num universo de culturas e paisagens, todas
elas complectivas.
A Lusofonia de espírito global católico e de alma honesta
e genuína encontra-se já a deslizar no coração de todos nós, mas, para
aparecer, terá de ser construída numa multiplicidade de eus a partir do nós.
Vamos todos antecipar
o futuro, começando não só a nível de associações, mas também a nível
universitário, administrativo e de organizações económico-comerciais, como
propunha em 2012!
Chegou a hora de construirmos uma cultura arco-íris contra
a monocromia em via.
© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do
Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4788
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