LUTA DOS
CROMOSSOMAS NA MATRIZ SOCIAL MASCULINA EXPRESSA NOS JOGOS OLÍMPICOS
Nesta análise ou reflexão surgida depois de observar a
questão da desigualdade genética verificada na luta entre a boxeadora italiana
e a boxeadora argelina bem como a
resultante discussão conduzida num contexto social de afirmação dos opostos e
não do que une, ouso partir da seguinte premissa:
A vida e
a sociedade podem ser compreendidas como sistemas interconectados e unificados,
nos quais a informação, seja biológica, cultural ou espiritual, desempenha um
papel central na criação, evolução e organização do universo. Na perspectiva
biológico-física, a transmissão genética através do DNA e a propagação de memes
culturais moldam a natureza física e comportamental dos indivíduos e
sociedades. Na perspectiva teológica, a noção de que "no princípio era a
Palavra" sugere que o logos, ou a informação, é a essência criativa e
organizadora da criação (cosmos), refletindo uma interdependência entre o
material e o imaterial, o físico e o cultural. A física quântica, ao fazer eco
dos mitos e verdades religiosas de maneira científica, reforça a conexão entre
essas perspectivas, indicando que tanto a matéria quanto o espírito (e a mente)
estão entrelaçadas em um sistema universal de troca e complementaridade. Assim,
o desafio contemporâneo reside em realizar ou desenvolver uma visão de mundo
que priorize a colaboração e a partilha, em oposição à exploração, garantindo
que a evolução seja uma conquista coletiva e não um privilégio de poucos (1) Na
relação sexo-género urge a formação de uma matriz social que afirme não só o princípio natural da
evolução mediante a afirmação do mais forte mas integre também a nível
estrutural básico o outro princípio da evolução
natural da colaboração.
A boxeadora italiana, Angela Carini, ao
ser derrubada nos jogos olímpicos de Paris pela boxeadora argelina, Imane
Khelif, desistiu da competição alegando "não ser justa" a luta com a
atleta argelina diagnosticada de hiperandroginismo (demasiada produção de
testosterona e estrogénio)! Verifica-se que o desporto define claramente o que
é masculino e o que é feminino enquanto a biologia por vezes mistura a regra
com a excepção complicando a definição e a discussão social...
No desporto refletem-se as questões de
ordem física e mental da nossa sociedade. De lembrar será que a natureza nos
condicionou a sermos atraídos naturalmente pelo sexo premiando-nos com o gozo e
o sentimento de amor, para em contrapartida a recompensarmos com a fertilidade
que lhe dá continuidade e podermos continuar a festejar a vida e não pelo
género que é uma construção social de caracter mais funcional e organizativo
que nos ajuda a viver em sociedade. Daí a importância de se construir uma
tolerância não baseada na ignorância nem na desumanidade de não querer ver
porque então ela não passaria de intolerância camuflada ao serviço de uma
autoafirmação unilateral...
Por vezes há anomalias dos cromossomas
tanto na mulher como no homem que provocam desorientação em quem define o homem
e a mulher pelo seu aspeto exterior, (homem: pénis e testículos e mulher: vulva
e vagina) e dão oportunidade aos que fazem uso da excepção para criarem
confusão....
enquanto a observação das pessoas em
competição e a verificação do género forem apenas qualificadas pela observação
de características externas, as mulheres continuarão a ser discriminadas...
É um caso bicudo, ver-se que também no
desporto não é possível praticar-se a justiça desportiva, a não ser que a
Organização Olímpica organize as competições a nível de cromossomas ou crie
também um modelo de desporto próprio para competidores intersexuais (4) de
maneira a possibilitar uma comparação justa do desempenho!...
Para se
chegar ao conhecimento mais profundo da realidade é necessário partir-se da
interação bidirecional entre genética e cultura: interação do DNA (Gene) com o
DNA Logos (cultura). João diz “No
princípio era a Palavra, a informação que ganhou forma na “carne” (Jo 1:1-28)...
Da
biologia, conhecemos a transmissão genética que ocorre através do DNA que
transmite a informação determinante do desenvolvimento, funcionamento e
reprodução dos organismos vivos. Paralelamente ocorre o DNA Logos/informação
primordial também cultural transmitida pela linguagem que através da formação
de valores, tradições e interação social se transfere de geração em geração e
em diferentes biótopos culturais...
Por sua vez a cultura (o Logos) molda a
consciência humana e social, influenciando a forma de pensar, sentir e agir dos
indivíduos (resultado do DNA (Gene) e do DNA Logos). Como na fórmula trinitária
a interação bidirecional resolve o problema da linearidade e da causalidade
numa realidade já não binária, mas trinaria (processo espiral) ...
Torna-se
necessária, uma abordagem descontraída da realidade humana de forma analógica
interdisciplinar, que possibilite a inclusão de biologia, filosofia, teologia e
ciências sociais. Assim, à informação genética da espécie
nos genes transmitidos num organismo através das gametas (espermatozoides e
óvulos) passada através da reprodução, seria de acrescentar a informação da
“Palavra” transmitida também através da mente e da consciência social acumulada
nas culturas (DNA cultural) e transmitida também a nível do inconsciente...
Na sociedade europeia embora de
características muito masculinas observa-se a diminuição da potência sexual
(testosterona), acompanhada de uma crescente feminização dos homens nas suas
relações sociais e, por outro lado, a pressão social para que as mulheres
assumam cada vez mais qualidades próprias do cromossoma Y; a crescente
diminuição do impulso sexual masculino é acompanhada pelo
enfraquecimento do cromossoma Y em homens...
As hormonas naturais aliadas às
“hormonas” culturais do mainstream podem levar a enfraquecer os cromossomas
devido a uma influência mútua entre genética e cultura...
O
cromossoma Y masculino da nossa matriz cultural ocidental conseguiu trofeus em
relação a outras culturas, mas querer continuar a afirmar-se dentro da própria
cultura contra a indefesa feminilidade da mulher sob o pretexto de querer dar
igualdade “muscular” ao ser feminino tornar-se-ia cínico para quem sabe ler nas
entrelinhas da sociedade e está consciente da matriz que nos orienta e seguimos
deterministicamente... Deste modo transforma-se o que seria jogo em pancadaria
física e social, o que leva a desviar do essencial as atenções das populações
para assuntos que distraem da política ou de interesses de corporações que se
transmitem de geração em geração sem que se possibilite uma evolução
qualitativa na sociedade...
Uma
cultura verdadeiramente humana e de paz pressuporia mais “cromossomas X
“(feminilidade) na matriz social masculina em vez de submeter a mulher à luta
masculina de maneira a ela ser condicionada a perturbar a própria feminidade ao
ter de integrar de maneira perturbadora o “cromossoma Y” na sua essência
feminina; assim o princípio da feminilidade encontra-se em processo de
assimilação e não de integração. De facto, assiste-se a uma assimilação da feminilidade
pelo modelo estrutural social masculino que se realiza mediante a apropriação
da mulher através das funções sociais de características masculinas.
Tendo em
conta a interacção do ADN biológico e do ADN espiritual-cultural-mental na
determinação da pessoa e da sociedade e
a utilização desses conhecimentos por fábricas do pensamento que procuram fazer uso disso na
neurolinguística para através da manipulação da linguagem criarem uma
consciência humana e uma civilização de caracter meramente funcional, não é de
admirar a confusão que se transmite na
sociedade para que ela perca o sentido da vida (também espiritual) e abdique do
humanismo para que uma pequena elite de forças anónimas servidas por fábricas
do pensamento em parceria com a IA possa, a partir do seu Olimpo, dominar toda
a humanidade (desvestida já do humanismo e da sua consciência soberana)...
O feminismo ideológico é dominado por
cromossomas do tipo Y e por isso atraiçoa a própria feminilidade...
O desenvolvimento económico cria a necessidade
de funcionalizar e converter os sexos no sentido de género, isto é, a nível de
género o sexo feminino tem de assumir os papéis e comportamentos que a matriz
masculina atribuía antes ao sexo masculino...
Esta situação e novos anseios sociais
criam a atmosfera propícia a fazer surgir novas interferências (interações) de
caracter genético (ADN) natural e de caracter “genético” (ADN) mental/cultural
que criam, pouco a pouco, grandes mudanças e uma nova situação física e
psíquica (consciência social) ...
Aos
fatores que determinam o nosso sexo (fatores fisiológicos como a
genitália, as hormonas e os cromossomos) veio juntar-se o caracter funcional
(os papéis) do género...
O mais eficiente seria ir-se
transformando, de forma consciente, a matriz social masculina... por um modelo
social equilibrado que sem perder a especificidade dos sexos possibilitasse uma
matriz masculino-feminina em que as funcionalidades do género não chocassem com
as características do sexo...
O
conceito do género, como construção social, erra ao querer discriminar mães e
„pessoas menstruadas" fazendo tábula rasa das características sexuais
biológicas para acentuar as funções sociais e culturais do género tornando-se
assim num instrumento de fábricas do pensamento; quer os fixados no sexo quer
os fixados no género deveriam dar-se responsavelmente as mãos, porque por trás
da disputa outros levam a sua avante; para nos adiantarmos às fábricas de
pensamento não podemos continuar a deixar-nos levar pela análise da realidade
complexa reduzida a um pensamento binário de caracter polar baseado em
afirmação e negação, quando a realidade complexa e a inter-relação sexo-género
exigiria uma visão integral (trinitária) e não a instrumentalização de uma ou
outra.
A
exigência mais do que óbvia de transformar a matriz social masculina numa
matriz masculino-feminina não pode ser reduzida a uma luta de caráter masculino
sob o pretexto de se eliminar as desigualdades entre os sexos, especialmente
quando isso ocorre às custas de uma repressão ainda maior do princípio da
feminilidade. A destruição do princípio ou da realidade da espiritualidade
equivale à destruição da feminilidade, redirecionando-a para a masculinidade.
Se continuarmos nesse caminho, acabaremos por chegar a um mundo que se
assemelha a um quartel e uma sociedade composta apenas de soldados.
Uma
observação mais atenta e abrangente da fórmula trinitária da vida, expressa no
Mistério da Trindade, poderia nos ajudar a superar o pensamento binário ou de
opostos, como cultura-natureza, gênero-sexo, certo-errado, afirmação-negação,
matéria-espírito (baseado em uma lógica de causa e efeito, pensamento linear
meramente cronológico e histórico). Essa superação nos levar-nos-ia a adotar um
pensamento de tipo trinário (também intuitivo e místico), ou de unidade
trinitária eu-tu-nós (Pai-Filho-Espírito Santo)...
Na
fórmula trinitária, a vida não é concebida em termos de opostos, mas numa
perspectiva mais ampla, que pode ser alegoricamente expressa na realidade da
feminilidade unida à masculinidade, que, de maneira orgânica e produtiva, se
prolonga no filho através do amor. Na Trindade, o amor entre o Pai e o Filho
(resumo e mediador da matéria e do espírito) expressa-se no Espírito, que
testemunha e permite entrar no mistério da realidade. A estrutura trinitária
(triunidade) contém em si as bases para a solução das desigualdades inerentes à
visão binária da realidade.
A visão
binária ou bipartida carrega a imperfeição de querer "de-finir" (do
latim, delinear, traçar a linha que determina o fim) ... A ordenação da
realidade em termos binários corresponde à criação de limites em uma realidade
que de si é fluida, que não tem limites porque está em contínuo processo de
relação e interação (a ordenação binária serve principalmente aos poderosos).
O
caráter binário filtra a realidade através do condicionamento de uma mente
acostumada a organizar e definir a realidade em termos de opostos,
falso-errado, de coisas bem-definidas (limitadas), para dar a impressão de
clareza numa realidade que inclui não só a luz, mas também a treva. Dessa
forma, contentamo-nos em viver na penumbra, sem perceber que essa é apenas a
fronteira formada pelas sombras da luz e da “treva” ....
... aqui faz-se valer o princípio da
seleção natural de afirmação do mais forte (masculinidade) e oprime-se o outro
princípio também ele natural que é o da colaboração (feminilidade).
Masculinidade
e feminilidade passariam a competir apenas em jogo de modo a criar-se um tubo
de escape das agressividades mútuas a exemplo do
substituto da guerra em jogos olímpicos, etc. ...
No âmbito
natural e social pode dar-se uma mudança ou equalização dos sexos (androginia,
etc.) devido à influência do espírito (ressonância - consciência social) a
nível orgânico, segundo o princípio “a necessidade cria o órgão”. A mutação
dá-se devido à mudança de padrões de acção, comportamentos e hábitos dos homens
e das mulheres (na redesignação de género também é normal observar-se mulheres
mais masculinas e homens mais femininos no comportamento social o que pode
contribuir para um processo de transsexualidade natural mas não corresponda a
um desenvolvimento natural e saudável em termos de humanidade; daí a
necessidade de se ter em conta todos os factores que determinam o
desenvolvimento do ser humano e da sociedade evitando para isso obsessões
e fanatismos políticos, religiosos e científicos (Toda a obsessão é cega e
falsifica a realidade porque apenas toma em consideração uma parte dela)...
“Tudo flui. Tudo está em movimento, nada está
parado.” como constatava o filósofo Heraclito, 540-480 a.C.: “Ninguém pode
entrar duas vezes no mesmo rio, porque tudo corre e nada fica”. No meu entender
o espírito é o leito que tudo sustem e que dá garantia ao desenvolvimento e à
continuidade...
Uma sociedade que se entretém demasiado
com os problemas estabelecidos por LGBTQI+ (sigla internacional para lésbicas,
gays, bissexuais, transexuais, intersexuais, queers e mais), deixa-se levar
pelos seus temas e ao mesmo tempo é distraída dos maiores problemas em via que
se encontram nas mãos das fábricas de pensamento e de políticos condicionados a
serem parte de oligarquias que vivem bem de temas e agendas por eles
confecionados mas que para a generalidade caem do céu...
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e
Pedagogo
Texto completo e
Notas em “Pegadas do Tempo”: https://antonio-justo.eu/?p=9546