domingo, 30 de novembro de 2008

OPORTUNISMO DE ESQUERDA FALA DE “GOVERNO DE DIREITA”

Um Estado para Cidadãos de Luxo
António Justo
Há por aí gente distraída que não sendo embora comunista assume a sua terminologia dizendo que a maioria socialista é “um governo de direita.

Uma armadilha para incautos! Com a confusão de conceitos e expressões como “governo de direita”, os estrategas da retórica social conseguem, incutir a ideia, pela porta traseira, que o socialismo é bom e o mal que faz é da direita. Esta é uma táctica fomentada por abrilistas habituados a actuar sem pensar e a responsabilizar a direita pelas próprias tontarias. Como se o mal de cada facção não fosse suficiente.

A justiça e a injustiça não são apanágio de direita ou de esquerda. São a sua prática e oportunidade. Quem conseguiu chegar às rédeas do poder já tem muitos mortos na cave não se preocupando com distinções entre esquerda ou direita. Eles são os eleitos. Essas distinções ficam bem para o Zé-povinho que ainda acredita na integridade pessoal e nas mensagens de salvação das ideologias.

Parasitas do sistema em vez de se aproveitarem da crise para remodelar os males do sistema turbocapitalista, remendam-no limitando-se a tapa-lhe os buracos onde mete água, até à próxima rotura no dique. O turbocapitalismo tem já tanta força que chega a colocar ao seu serviço o Estado e as práticas marxistas de nacionalizações, enquanto lhe interessar.

A “crise financeira” foi tomada a sério como crise a solucionar. Ninguém se lembrou, até hoje, de acautelar a crise da Saúde e do Ensino. Para estes não há dinheiro. A crise da saúde e do ensino não é tomada a sério porque os “eleitos” não estão dependentes delas. Os detentores de poder sabem que a maior parte do sabor do bom estar vem do mel que se tira às abelhas. O povo não é o objecto directo de interesse do socialismo nem doutros governos, doutro modo teria havido para esses fins talvez o dinheiro que de repente o Estado tem para fazer de bombeiro e fiador dos bancos. O Estado sabe que salvando os bancos e mantendo ilesos os seus responsáveis irá indirectamente meter a mão no bolso do cidadão. Os bancos recebem dinheiro barato que depois emprestam caro; as seguradoras aumentam as taxas de segurança; o estado vai lá buscar o seu através dos impostos pagos pelo cliente.

O governo tem, por natureza, dois pesos e duas medidas. Trata mal o contribuinte pobre devedor do fisco e nacionaliza as dívidas dos banqueiros e bolseiros. Assim se hipoteca o futuro e fomenta o desemprego. O governador do Banco de Portugal implicado nos desfalques bancários (BPN e BCP) ainda tem o desplante de se queixar do apoio estatal aos dependentes do fundo de desempregado. A arrogância do poder já perdeu a visão do mundo em que vive.


António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A ESCOLA DE QUE SE PRECISA

Chega a hora das escolas de elite, a hora das Escolas Privadas

António Justo
A formação é cara mas a falta de formação ainda se torna mais cara, como confirmam os orçamentos dos estados sociais! Muitos estados, em vez de aumentarem o orçamento destinado à formação e ensino, procuram circundar a precariedade escolar com medidas acidentais. A degradação do ensino conduz à necessidade de criação de escolas de elite, à liberdade de escolha do estabelecimento a frequentar e logicamente à exigência dos estudantes terem a possibilidade de escolherem os seus próprios professores.

Na Sombra dos Tratados de Lisboa e de Bolonha
As orientações da EU consignadas nos tratados de Lisboa e de Bolonha pretendem que, num futuro próximo, metade dos alunos na Europa tenham o direito e a habilitação para o ingresso na universidade. Só assim se poderá manter o nível europeu no futuro dado o envelhecimento da sociedade prever a falta de muitos lugares de alta competência ao entrar na reforma.
Nas nações mais desenvolvidas europeias os educadores de infância devem, já no Jardim Infantil, ensinar línguas estrangeiras e entusiasmar as crianças para a experimentação com fenómenos da natureza. Neste sentido, a frequência do jardim infantil deve tornar-se gratuita a partir dos 4 anos.

A formação profissional terá de ser ancorada nas regiões e nas empresas, tal como acontece aqui na Alemanha com o sistema dual de ensino baseado no “saber de experiência feito”. O formando tem uma componente lectiva e uma componente de aprendizagem em firmas reais.

A Matéria-prima que temos é a Inteligência e a Formação
Os recursos naturais, as florestas e as matérias-primas cada vez se tornam menos para uma população mundial sempre crescente. Daí a necessidade premente de se investir nos recursos da inteligência. O futuro estará para aqueles que mais inovações criarem e para aqueles que souberem criar novas necessidades nas pessoas. A sociedade de mercado do futuro estará cada vez mais dependente do saber e da criatividade dos seus empregados. As nações que derem resposta a este dado continuarão a ser a ponta de lança do futuro.

Assim, no século XXI, incrementar a política social significará investir na política de formação, investir nas escolas e nos laboratórios de investigação. Não chega passar da época da Burguesia e dos Trabalhadores para a época dos Novos-ricos e do Proletariado.

Em quase todos os países, a origem social continua a determinar o sucesso escolar, profissional e social das crianças. Assiste-se a uma política que, para responder aos maus resultados dos alunos, provenientes de camadas sociais mais carenciadas, simplifica as exigências para a passagem de ano em vez de investir verbas em medidas de apoio aos alunos mais carenciados. Assim a mediocridade escolar chega a atingir galardões de nível médio mas sem pressupostos para responder às exigências dum ensino superior digno do nome. O governo apadrinha esta filosofia facilitista, possibilitando mesmo a entrada na universidade a pessoas sem currículo capaz. Ao socializar-se a mediocridade engana-se a sociedade e a nação. Os mais enganados serão os mais desprotegidos porque não têm a visão de conjunto e pensam que escola é igual a escola e outros não têm dinheiro para a poder escolher.

Para responder aos buracos criados pela política simplicista e às altas qualificações exigidas pela nova economia, surge cada vez mais a procura e a exigência de escolas de elite. A necessidade de instituições de formação exigentes e de alto nível torna-se assim a consequência duma política socialista que irresponsavelmente conduz o ensino para o nível de exigências mínimas. As instituições universitárias estatais terão de dar acesso às formações facilitadas aparecendo, colateralmente, institutos de ensino superior também facilitistas orientados apenas para o diploma. Com o tempo, mais que o título universitário valerá apenas o nome da universidade em que se estudou. Esta é a factura da política de ensino, iniciada com a revolução do 25 de Abril. Assistiremos a uma fuga crescente dos alunos mais capazes para o ensino privado tradicional. Consequentemente, as camadas sociais mais carenciadas manter-se-ão democraticamente afastadas da igualdade de chances. O socialismo, em nome da liberdade e da democracia, estabiliza uma carência que manca atrás dos beneficiados do sistema.

Fundos europeus mal aproveitados
O mundo é conquistado pela competência e não por títulos académicos sociais. Os governos sabem que podem permitir-se o prolongamento sucessivo do estado deficitário da nação porque contam com a resignação do povo, com o tubo de escape da emigração e das suas receitas e com os apoios da União Europeia para tapar os buracos resultantes da impotência política. Também os apoios específicos da EU para a formação profissional continuam a ser, em grande parte, mal empregados. O povo trabalhador e o portador de títulos universitários facilitados irão então para o estrangeiro ocupar lugares carentes. O orgulho português compensará a depressão nacional com a honra de nomes portugueses que conseguiram medrar na terra estranha. Muitos dos Novos-ricos da política e da cultura ocupam postos facilitados pela origem e pelo partido, desconhecendo, por isso, o esforço e o mérito que provém da produtividade.

Os subsídios económicos da União Europeia para promoção da formação profissional são mal aproveitados servindo até de álibi para o Estado português não ter de fomentar um ensino profissional regular sério e duradouro. Espera-lhes o mesmo destino que tiveram certas formações de professores subsidiadas pela EU. Acabado o subsídio acabam-se as formações, passando a ministério a ir à caça de outros dinheiros destinados a outros fins. Assim se vai mantendo a plêiade de formadores dependentes dessas fontes e do beneplácito partidário que está por trás. (Pude observar isto em relação a muitos cursos de formação contínua para professores e em que participei na qualidade de formando). As medidas de formação promovidas pela União Europeia não são suficientemente aplicadas e desviam as atenções da necessidade de fomentação de escolas profissionais. Os responsáveis políticos adoptam os rituais mas sem conteúdos nem aplicação de dinheiro útil. De projecto em projecto subsidiado lá vão adiando Portugal.

A política portuguesa em vez de apostar em Portugal encosta-se demasiado à União Europeia. Eles lá sabem e para o bom comportamento português sempre cairão algumas migalhas choradas para a classe política. A EU, nesta primeira fase de implementação, precisa também de chulos.

Desregulamentar a Escola e a Universidade
As escolas a tempo inteiro, de manhã e de tarde, terão de ocupar o tempo todo em actividades com sentido (sem tempos mortos que fomentem o vício) abrindo possibilidades à capacidade criativas e dando resposta às carências individuais e locais. A escola deverá tornar-se numa casa da porta aberta. Não poderá continuar um reservado de professores e alunos; terá que abrir as portas a mestres, assistentes sociais, outros técnicos e iniciativas privadas.

Enquanto que em países como a Alemanha as escolas e as universidades são cada vez mais libertadas da estreiteza regulamentar, tendo grande competência também na escolha dos professores, em Portugal só existe Lisboa, expandindo-se cada vez mais um centralismo possibilitador de influências partidárias nas direcções das escolas. A elite portuguesa continua a copiar os erros e as virtudes francesas, esquecendo a componente anglo-saxónica a nível de ensino e de política.

Os professores são ainda a pedra angular das escolas. Em vez de se apostar neles formando-os e motivando-os, o governo humilha-os e cria empecilhos burocráticos sem um conceito político e pedagógico de base. Aplicam-se apenas normas no sentido de dar resposta às orientações dos tratados de Bolonha e de Lisboa. Tenta-se aplicar cegamente medidas burocráticas julgando assim dar resposta às necessidades duma sociedade cada vez mais tecnocrata. A consequência será: o abandono das escolas estatais pelos mais competentes, a fomentação dos medianos oportunos e uma carência de professores a longo prazo que depois só poderá ser preenchida por medidas de exigências simplicistas. O Estado sabe que o contingente de professores na bicha de espera nunca faltará!

Se o governo está tão interessado em defender os alunos à custa dos professores porque não permite que os alunos, a partir do décimo ano, ou melhor, que os estudantes escolham os seus professores? Porque é que ainda há escolas, em que os alunos dos professores se encontram prevalentemente em determinadas turmas?

Porque é que o Estado em democracia ainda continua a apostar num professorado subserviente de funcionários públicos? Antigamente era o estado autoritário que estava interessado em controlar a nação e as ideias através do controlo dos seus funcionários; em democracia continua-se o mesmo espírito, o espírito burocrático e de projectos, ao serviço dum Estado partidário.

Porque não se premeiam os professores que tragam actividades especiais para a escola em vez de os humilhar a todos com um sistema de prémio aberto a influências? Porque não organizar a competência do ensino em três zonas possibilitando-lhes o aferimento regional e a concorrência entre elas? Porque há-de continuar Lisboa a sorver e a abafar as outras regiões? Portugal teria muito a aprender da Alemanha. Aqui PISA contesta os resultados nos estados de concentração estrangeira, especialmente turca, resultados também explicáveis por uma sociedade fechada nela mesma!

Num esforço central em conjunto com os Conselhos Municipais, a Alemanha investe 7% do produto bruto nacional na formação. Toda a nação está empenhada numa discussão produtiva, também com o contributo de posições partidárias mais selectivas ou mais permissivas.

Risco de brincar à Escola como se brinca à Democracia
O ME não se sente bem numa sociedade em que tudo é permitido e só a escola é obrigatória. A reforma em curso não é séria porque de tipo mercenário e porque apenas orientada para resultados ao serviço dum sistema económico-financeiro em ruína. Não podemos fazer com o ensino o que fizemos com a democracia. A sociedade só perderia continuando a jogar ao faz de conta como fizeram os políticos surgidos do 25 de Abril com a democracia.

O governo quer voltar ao dito de Salazar:”o que honra o trabalho do professor é o sucesso dos alunos” só que o faz com meios errados, roubando a honra aos professores e não tomando os alunos a sério. O “Estatuto do Aluno” está mais para inglês ver num país de maravilhas formais do que para os alunos reais. Desautoriza-se o professorado em vez de o apanhar por dentro, para ser renovado sim mas não à chicotada. A escola tem de ser repensada novamente. Não é com controlo dos professores e desobriga dos alunos que se dá resposta às exigências do século XXI. O professorado também tem muitíssima culpa no cartório. A força agora manifestada deve ser empregue para remodelar o sistema escolar radicalmente. Amanhã, não poderemos ter os mesmos professores nem os mesmos alunos!... A nação não pode permitir-se continuar a assistir ao jogo de forças dum lado e do outro.

Escola – Uma Comunidade Educativa alargada
A Escola é o lugar de encontro dos problemas do nosso tempo proporcionando um retrato bastante adequado da sociedade. Se queremos ganhar o futuro teremos naturalmente de mudar o sistema e especialmente as mentalidades.

Também os bispos portugueses, na sua carta pastoral (CEP), se manifestam preocupados com a situação das escolas. Em nome da diversidade uniformizam-se as escolas sem respeito pelos contextos, “ desprezando a liberdade de actuação dos professores, pais, autarquias e outros agentes locais com projectos educativos próprios”, como advertem os bispos portugueses. Estes vêem a escola como “comunidade educativa alargada, que integra alunos, a entidade responsável pela escola pública, estatal ou privada, os educadores e pessoal não docente, os pais e outros encarregados de educação e a comunidade circundante”.

Pretende-se no centro da discussão a “comunidade educativa” e não apenas o mero funcionalismo. Por isso os bispos esperam uma educação “antropologicamente fundada” orientada para a “inserção social participativa, crítica e criativa”.

Tanto o utilitarismo como o funcionalismo imediatos não deixam espaço para o Homem nem para disciplinas como música, arte e actividades criativas fomentadoras da dignidade humana.

Só uma escola aberta fomenta a autoconfiança e a capacidade de opiniões ousadas capazes de se auto-questionarem também.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

BOCA DO CIDADAO EUROPEU VAI SER MAIS DISCIPLINADA

“Polícia europeia do Gosto”
António Justo
A Comissão da União Europeia vai decidir, o mais tardar no princípio de 2009, uma Directiva europeia sobre o perfil do valor nutritivo dos produtos alimentícios que além de terem de apresentar uma relação detalhada das substâncias alimentícias verão limitada a possibilidade de fazer reclames, no caso de excederem a norma.

Assim, pão que tenha mais sal do que o previsto verá limitada a sua publicidade. 100 Gramas de massa não devem ter mais que um grama de sal. A arbitrariedade burocrática leva a considerar recomendável o pão branco que efectivamente não é saudável mas tem menos sal que o saudável pão integral com 1,5 gramas de sal em 100 gramas.

Na realidade um nonsens. Uma baguette de pão branco francês, não recomendável para a saúde, ganha contra a saudável fatia de pão escuro alemão. Se os padeiros alemães deixarem!...

Padeiros alemães ridicularizam as pretensões da Comissão designando a iniciativa como “polícia europeia do gosto” que quer uma “uniformização europeia do gosto”.

A posição indiferenciada que se tem observado em directrizes do género possibilita uma campanha contra a produção de víveres tradicionais. O mesmo que se assiste nas campanhas contra as culturas nacionais em benefício dum internacionalismo colectivista observa-se também contra a agricultura: maçãs de cara lavada sem borbulhas e a correspondente descriminação das pequenas ou deficientes, etc! O progressismo parece estar de relações cortadas com a cultura; por enquanto ainda vai poupando as culturas migrantes exóticas de fora!

Nesta luta encontram-se da parte da Directiva as organizações de defesa do consumidor contra a obesidade tensão arterial e doenças de circulação. De facto há produtores que abusam na sua propaganda louvando certas substâncias saudáveis mas calando quantidades excessivas de açúcar, gordura ou outras substâncias indesejáveis.

Para se impedir um erro comete-se outro. Colocam sob tutela todo o cidadão que cada vez se vê mais privado da sua responsabilidade. O estado começou por nos proibir o porte de armas prometendo-nos justiça, depois meteu-nos a mão no bolso prometendo mais solidariedade, depois até na cama e na vida de relação sexual entrou. Só parece terminar quando nos possuir todo.

A União Europeia determina e depois o ministério da saúde em Portugal que se arme em polícia. Haverá então muitas surpresas quando muitas especialidades da região, forem postas na lista negra.

O problema da pobreza não é regulamentado! De facto, muita da gordura que se vê especialmente nos bairros sociais das cidades é fruto dos produtos baratos que consomem. Uma das boas medidas preventivas seria: proibida a entrada a pessoas em bairros sociais; proibida a exploração do Homem pelo homem!...

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

LAVRADORES DEMASIADO CAROS À UNIAO EUROPEIA

Portugal por cultivar por falta de fundos
António Justo
A União Europeia continua a despender, para a agricultura, 43% do seu orçamento (53 biliões) até 2013. 37 biliões destinam-se a subvenções directas e o resto vai para um pote destinado ao desenvolvimento rural.

A comissão europeia queria alcançar maior justiça na distribuição das subvenções directas da UE aos agricultores. Pretendia uma redução de 22% nos subsídios directos aos grandes produtores de leite. Os ministros europeus da agricultura reunidos em Bruxelas a 20.11 conseguiram um compromisso menos duro para os grandes produtores. É também recusada a utilização dos fundos da política agrária comum (PAC) para acções fora da União Europeia.

A Alemanha, que recebe 5,4 biliões de euros da União Europeia conseguiu, com outras nações de grande produção de leite na Europa, que lavradores que recebam mais de 300.000 euros de subvenções anuais renunciem apenas a 14 % o que corresponde a menos 240 milhões de euros para a Alemanha contra os 425 milhões (22%) que a Comissão europeia pretendia. Os lavradores que recebiam 5.000 euros de subvenção anual não vêem reduzidos os subsídios.
Apesar destas medidas o futuro dos consumidores e dos agricultores europeus não é seguro.

O que se poupa com a redução será aplicado em programas de protecção ambiental e num fundo do leite. No passado, quase todos os membros da UE produziram mais leite do que as quotas nacionais permitiam, concorrendo isto para o embaratecimento do leite. A quota de produção de leite passa a ser aumentada anualmente de um por cento nos próximos cinco anos. Prevê-se para 2015 a desistência das quotas de produção. Os produtores de leite protestam porque temem uma concorrência muito forte. Segundo eles há leitarias a pagar 25 cêntimos por litro quando os custos de produção andam pelos 40 cêntimos.

Subvenciona-se a grande produção agrária ficando as zonas de minifúndios desprotegidas. O Interior e o Norte de Portugal continuam a sofrer a sangria dos seus trabalhadores que têm de emigrar. É a luta da metrópole contra o campo.

A regulamentação da qualidade estética dos produtos a comercializar ainda continua adversária à produção de géneros agrícolas sem emprego de produtos químicos. Tudo medidas que beneficiam os grandes produtores contra os pequenos. Uma maçã tem que ser lisinha para se poder pôr no mercado. Por um quilo de maçãs pagam-se dois euros no mercado e por um quilo de bananas paga-se um euro.

António da Cunha Duarte Justo

A CRISE INSTITUCIONAL DO ENSINO TEM UM NOME: SÓCRATES

A Ministra faz Parte do Problema – Governo, Sindicatos e Professores também

António Justo
Portugal encontra-se mal aproveitado. Quem vive fora do país, quem lhe quer bem e lhe reconhece grandes potencialidades, sofre, ao ver os descalabros que nele acontecem. Sofre mais do que os que vivem nele, pelo facto de poder confrontar e comparar maneiras de resolver os mesmos problemas em países diferentes, com mais ou com menos eficiência com mais ou menos diálogo, com mais ou menos respeito. Isto é possível na União Europeia porque os diferentes governos ocupam a maior parte do seu tempo a aplicar as mesmas directivas da UE. O que mais faz doer na comparação das atitudes dos governantes alemães com os portugueses é a diferente relação e atitude entre Estado e povo, entre governo e cidadão.

Tal como em Portugal, também a generalidade dos países da União Europeia se encontram empenhados na reforma do Ensino e com o problema da avaliação dos professores. O que contrasta e choca profundamente em Portugal é o autoritarismo e arrogância com que os criadores dos factos actuam. O comportamento ministerial e dos parceiros seria incompreensível num país como a Alemanha. Aqui a discussão não acontece apenas entre instituições couto, numa rivalidade de interesses de pelouros mas dá-se dentro da sociedade e dentro dos grupos de interesse institucional, para o melhor da nação que consta de todos.

Em Portugal todos falam muito bem, mas cada qual no seu poleiro!... Parece só haver galos em galinheiros sem galinhas! Apenas um exemplo: Há anos, na Alemanha, o Chanceler Schröder disse que os professores eram “Sacos preguiçosos” (noutra tradução possível “Sacos podres”). Logo o povo e o próprio partido lhe tapou a boca não aceitando inventivas ideológicas contra um grupo profissional, que, pelo que conheço, é muito empenhado e mais perto do aluno do que o docente português. A distância que se encontra em Portugal entre professor e aluno ainda é maior entre elite política e povo. Tal como os governantes portugueses, naturalmente que o professorado do quadro, ganha muito bem em termos de comparação com o operariado, não dando rendimento satisfatório em termos concretos e estatísticos.

A irresponsabilidade duma discussão pública de afronta directa, que procura, mono-causalmente, responsabilizar o professorado pela miséria do ensino nas escolas estatais portuguesas, só pode levar à confrontação. Afirmações incautas da ministra reduziam os docentes a bode expiatório, degradado ideologicamente, ainda mais a sociedade portuguesa. O grande responsável directo de tudo isto tem um nome: Sócrates. Se pensasse em termos de bem-comum nacional já há muito que deveria ter interferido qualitativamente na discussão. Assim, depois de batalhas desonrosas para todos, só o PM pretende sair ilibado, sacrificando possivelmente, também a ministra, quando bem lhe convier. (Naturalmente que o PS saberá arranjar uma boa esponja política para ela cair bem.)

Sócrates sabe que voltará a ser eleito novamente e tornará a ocupar o lugar por uma nova legislatura. É de desejar que então aproveite a oportunidade para se tornar mais um homem de Estado e menos um homem da ideologia e do burocratismo de tipo mercenário. Portugal mereceria mais e melhor. Portugal precisa de politicos menos vaidosos, menos absorventes dos ecrãs das TVs para dar oportunidade ao povo para pensar. Precisa de mais trabalhadores, no governo e nas instituições portuguesas. Precisa de pessoas à medida dos trabalhadores simples que têm de emigrar de Portugal para enriquecerem outros povos com o seu trabalho abnegado e sério e que ainda enviam o resto amealhado para ir ajudando a manter um Portugal já há muito distraído de si mesmo.

Não chega que a Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues consiga desviar a chuva do capote do senhor Primeiro-ministro e que venha agora dizer o dito pelo não dito, tentando precipitadamente e mesmo fora de horas, sob pressão, corrigir o decreto-lei com um despacho. O que o orgulho e a arrogância de estilo não deixaram fazer, faz agora a necessidade.

A reforma não se faz contra os docentes mas com eles. Talvez também os sindicatos, que agora tiveram de correr atrás da multidão dos docentes, apanhando o comboio já em andamento, consigam manter mão nos professores para depois os obrigarem a aceitarem decisões incómodas. Para se imporem terão de aprender a ser menos coutada, menos ideologia, menos oportunidade para carreirismo político e libertação de aulas nem meros defensores de aumentos salariais duma classe. Terão de, a partir da escola e da sociedade, passar a dar resposta às necessidades da escola e do povo português.

A reforma não pode partir apenas de ideias abstractas e dum proceder tecnocrata orientado para postos. A sociedade portuguesa tem sido devastada com os ventos da ideologia e do moralismo. Não chega aferir a escola a um sistema económico em crise sem ter em consideração as condições de ensino. Não se trata de negar o velho em nome do novo, nem de destruir um sistema para construir outro – somos comunidade. Se os professores tivessem mais ligação com os pais certamente que não se sentiriam tão inseguros. Os professores têm de sofrer, tal como os pais, com o insucesso dos alunos. O facilitismo e a lei do “desenrasque-se quem puder” não leva longe. A ideologia continua a ser o cancro de Portugal. Com ela é fácil enriquecer, como provam muitos políticos. No século quinze eramos orientados pela ideia do comércio. Especialmente a partir do século dezanove Portugal a casta política portuguesa tem feito a experiência de que apostar na ideologia cria riqueza sem se sujar as mãos e o povo vai nela. Basta para isso apoderar-se dos meios de comunicação e apreguar o facilitismo.

Naturalmente que é necessário acordar a pasmaceira em que Portugal vem vivendo, há já séculos. Em especial a escolas públicas portuguesas têm vindo progressivamente a ser mais desautorizadas. PISA cria muito stress a uma sociedade, até agora, abandonada a si mesma. Não chega a contínua importação de modelos implementados de cima para baixo. Trabalho, disciplina e riqueza eram, para os nossos revolucionários, símbolos de fascismo. No tempo da revolução todo o que mostrasse um pouco de bom senso era chamado “facho”. Causa dor constatar que a revolução engole os seus próprios filhos! Naturalmente que hoje é difícil agarrar as “rédeas” dum povo à solta! O problema é que não temos elites com capacidade para isso, encontram-se acomodadas, demasiadamente habituadas a viver na administração da miséria, porque sabem estar à frente dum povo que nada exige deles. O “patrão” tem sempre razão.

Já temos um povo em grande parte vítima! Será que as nossas elites terão uma necessidade intrínseca de vítimas para poderem subsistir? Temos Sócrates, temos que viver com ele, porque também faz trabalho sério. Sócrates tem que contar também com o povo que tem. Se este fosse diferente também Sócrates seria diferente. Os erros dum são os erros do outro!

O problema de Portugal não é geográfico, é de sistema e de mentalidades.


António da Cunha Duarte Justo

domingo, 23 de novembro de 2008

PCs Magalhães não chegam às Escolas de Português no Estrangeiro!!!!

O Governo faz render o peixe da “sua dele” oferta de computadores
António Justo

Em Portugal, o Carnaval e o Natal anteciparam-se, pelo que o Pai Natal tem andado, pelas escolas, a distribuir PCs Magalhães às crianças.

Se antigamente os presentes eram trazidos por um menino Jesus, apoiado pelo esforço escondido da família, que descia enfarruscado pelas chaminés, hoje são-nos trazidos por um Pai Natal polido a expensas do Contribuinte e com o trenó da TV.

Uma das razões, porque não haverá oferta de portáteis para alunos portugueses no Estrangeiro, estará no facto de aqui o Carnaval e o Natal terem datas fixas.

Além disso, as más-línguas explicam que os filhos dos emigrantes, obrigados a sair de Portugal à procura de trabalho, já pertencem à categoria dos felizardos e, para mais, vivem em Países em que já não se acredita no Pai Natal. Pessoas mais ligadas à administração explicam a posição governamental com a impossibilidade técnica da RTP poder fazer a cobertura de tantas acções de distribuição em tão pouco tempo. Gente mais ligada à política explica a discriminação governamental dos emigrantes com o medo do Governo devido aos perigos provenientes do descontentamento migrante com a última medida do governo que os impede de votarem para as eleições por carta. Pessoas mais simples e mais idosas limitam-se a dizer que o Estado português em relação aos emigrantes só conhece a mama.

Margarida Davim, em SOL 17.11.2008, refere que o palco, desta vez, escolhido por
José Sócrates, para entrega de computadores a alunos do 1.º ciclo, foi a Escola do Freixo, em Ponte de Lima. Esta encenação promotora do brilho do PM vai sendo feita a conta-gotas e sempre sob os projectores da televisão para que o povo distraído não esqueça quem é pai. A RTP não mostrará o desengano dos alunos que receberam os PCs para a fotografia, porque Sócrates já não se encontra lá. De facto, depois da encenação televisiva, as crianças tiveram de devolver os portáteis. No dizer do conselho executivo da Escola do Freixo, a distribuição «depende da logística administrativa» e a escola terá de «preencher toda a papelada e os pais que não estiverem abrangidos pelo 1.º escalão da acção social escolar vão ter de fazer o pagamento do computador».

Tudo isto até pareceria uma paródia feita por gente adversa à governação de Sócrates se esta gente não tivesse a experiência do comportamento doutros governos europeus e se a realidade da cena política portuguesa não lhes desse razão. As pessoas de meia-idade ainda se lembram do corta-fitas e de políticos que pareciam não ter mais que fazer senão passear a sua personalidade de inauguração em inauguração, sempre presentes nos ecrãs da RTP. Em Portugal parece confundir-se modernidade e realidade com virtualidade.

Parece termos um Primeiro-ministro para inglês ver! Só que quem vê o teatro português de fora fica enjoado. O pior de tudo é que a malta nem nota. Parece vivermos num país do faz de conta e numa democracia para inglês ver. Temos uma elite política mediana com tiques de rico homem e um povo alheio e sistematicamente alheado. O que os nossos políticos se permitem em Portugal seria ridículo numa Alemanha: Um primeiro-ministro em continua campanha eleitoral, uma ministra da educação autoritária e tão segura da sua fé que, ao ser entrevistada, até faz engasgar a entrevistadora, um governador do Banco de Portugal que se arma em representante da Organização dos Patrões e tem o desplante de culpar os desempregados pelo desemprego por receberem subsídio a mais.

Os nossos políticos conseguem viver bem com meias verdades. Constituem a classe que em nome e à custa do proletário consegue viver melhor em Portugal.

A entrega virtual dos PCs e outras vaidades governamentais ficam mal num PM que poderia ser um bom primeiro-ministro se não fosse o vírus inerente a certas elites portuguesas. Senhor PM, para quem pretende ser sério e quer ser levado a sério, fica-lhe mal tais bizantinices. Fica-lhe mal reservar para si o anúncio das boas notícias e deixar as más para os outros. É verdade que assim o povo é levado mas já não estamos no tempo em que o anunciador da má notícia era morto. Para mais, a oposição é tão fraca que o senhor não precisaria de usar de estratagemas cínicos para a vencer!

Se queremos um país moderno temos todos que mudar de mentalidade e tomá-lo a sério.

António da Cunha Duarte Justo
antóniocunhajusto@googlemail.com

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

QUEM PRECISA DE SER AVALIADO É O GOVERNO

120.000 Docentes protestam contra o Cinismo do Ministério da Educação

Antonio Justo
Na primeira manifestação, saem 100.000 professores a protestar para a rua. São enxovalhados pelo Ministério da Educação (ME) e a Nação assiste a discussões degradantes para um Estado que se preze. No passado dia 15, protestam 120.000 docentes em Lisboa. Esta manifestação foi convocada por movimentos independentes de professores preocupados com a degradação do ensino em Portugal.

A apoiar os professores, manifestam-se os sindicatos e todas as facções políticas, menos a maioritária PS que governa. As direcções escolares, para não serem desobedientes perante o governo queixam-se do clima de tensão e mal-estar nas escolas, clima esse que impede a sua boa gestão.

O Governo de Sócrates quer avaliar, mas foge a qualquer critério de avaliação e não conhece a pedagogia nem a dinâmica de grupo. Em nome da remodelação de Portugal, refugia-se em estratégias autoritárias e demagógicas, próprias dos tempos dum Portugal antiquado e analfabeto.

Assiste-se a um excesso de exigências mas para as quais falta o sentido. O problema da avaliação dos professores que obriga, uma classe acomodada a protestar em peso, talvez seja um sinal duma certa consciência cívica nascente. Talvez Portugal comece a acordar.
Sem discussão nem preparação, o Ministério da Educação impõe medidas nascidas de reuniões burocráticas ao serviço duma realidade virtual. O Governo Português, no seguimento duma política da aparência, já que não tem muito para apresentar aos parceiros europeus, quer melhorar as estatísticas e mostrar zelo na aplicação de intenções da Uniao Europeia.

O ME, habituado a ter os sindicatos como acólitos encontra-se agora em maus lençóis. Os sindicatos são obrigados a deixar de andar debaixo das saias do poder, tendo agora de correr para acompanhar a pedalada dos professores.

Dum lado os professores de pele fina sensível, do outro a ministra com pele de lobo, e de premeio pais e alunos com pele de elefante.

A situação está tão má para o Governo que Vitorino, o jogador avançado do governo na TV, até já propôs na entrevista televisiva, que a avaliação fosse examinada por uma “Comissão de Sábios”. Camufladamente, o Governo apresenta, ao público distraído português, uma solução que vem salvaguardar os interesses do ME e dos seus cúmplices. Assim poderão salvar a imagem da Ministra da Educação e a superficialidade dum chefe do Governo, que se permite continuar, por tanto tempo, um espectáculo triste, só possível em Portugal.

Para melhor iludir o povo, e dar a impressão de espírito de diálogo, a ministra reúne-se com organizações e instituições para ganhar tempo e não ter de dar a mão à palmatória. Um abuso e um cinismo que só um povo português, com pele de elefante, poderá aguentar. No fim o ME em sintonia com os Sindicatos optarão pelo tal “Comissão dos Sábios” e assim o senhor primeiro-ministro poderá seguir a sua estratégia de reservar para si as melhores sardinhas, podendo então anunciar a expulsão do problema para a tal comissão. A política de ataque seguida pelo Governo em tempo u´til e pelo ME só seria compreensível em contexto de campanhas eleitorais. Confundem a mudança que o mundo moderno exige com dirigismo e facilitismo escolar.

Enquanto outros países tomam a sério o resultado do estudo comparativo do aproveitamento escolar (PISA), o nosso Governo anda na caça das bruxas!

Há mais marés que marinheiros!...

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A COR DO PRESIDENTE

Uma Era Incolor
António Justo
Afinal o mundo não parece tão mau como é. Desenvolve-se, pouco a pouco, devido à coragem e ao espírito de resistência de alguns. A eleição de Obama para Presidente só pode ser compreendida no processo de desenvolvimento humano manifestado na luta de Martin Luther King.

Não sei se o problema da designação da cor da pele constituirá só um problema dos “brancos” e da sua má consciência ou também estará carregada de sentidos para os “pretos”. Pelo sim e pelo não, o facto de se colocar a questão revela que não nos somos indiferentes e mostra a vontade de queremos ser mais justos uns com os outros e o desejo de nos entendermos. De facto, a ideia leva à acção, como demonstra o hipnotismo.

Objectivamente falando Obama não seria preto atendendo a que o pai era preto e a mãe era branca. Apesar de filho de mãe branca Obama Barack é tido como preto ou negro. Para alguns a palavra preto está sobrecarregada de ideologia discriminatória. Recorda uma história que deveria colorir o rosto dos brancos.

Há sessenta anos era moda dizer-se “de cor” em substituição da palavra “negro”. Há 15 – 20 anos, procurou-se evitar a palavra preto substituindo-a por “afro-americano”. Também esta designação conota a origem geográfico-cultural com que muitos se não identificam.

Embora Obama lute pela superação das barreiras das cores, ele declara-se pertencente à comunidade preta, designando-se a si mesmo como “a black man” e sente-se como fazendo parte da comunidade preta (black community”). A sua esposa é preta e os seus filhos são pretos também. Ele mesmo diz: “Que eu sou designadamente um preto, noto-o, o mais tardar, então quando em New York procuro fazer um sinal a um táxi”.

Na discussão das cores cada um dá às palavras que as designam a sua coloração afectiva que tem a ver com a própria experiência e cultura. As conotações projectadas no adjectivo vão da escravidão, à separação racial, à exploração económica, etc. Cada povo, cada pessoa tem uma relação especial com determinadas palavras. Assim, um chinês associa ao branco qualidades que o Ocidente atribui ao preto. Enquanto que o brando é uma cor do luto para o chinês, para os ocidentais o luto é associado com a cor preta.

A mesma subjectividade se dá também na palavra América (USA) que para uns é conotada como “país da liberdade”, para outros como o “reino do diabo”, para outros como um país num continente, etc., etc. Cada um se agasalha debaixo dos seus preconceitos. Em certo contexto, chamar Homem ao ser humano poderia também tornar-se uma ofensa ao hominídeo. A linguagem que usamos revela muito sobre nós mesmos. Não somos eunucos quando falamos.

A questão não está na cor da pele mas no que ela tem significado para muitos. O apostar na cor preta pode implicar, em certos casos, uma posição contra o racismo, uma opção pela mudança.

Tal como em muitas outras coisas usam-se designações sem rigor sujeitas às mais diversas conotações e generalizações. Problema seria sem em nome duma definição objectiva se entrasse na guerra por uma definição, sem contemplar o Homem. O colocar-se o problema tanto pode revelar o preconceito, como uma tomada de consciência para o significado das palavras e para o que elas podem provocar. O reconhecimento de preconceitos individuais e culturais é o primeiro passo no longo caminho do encontro duns com os outros. O problema está já no nosso sistema de pensamento: o preconceito é inerente ao conceito. Importante é reconhecer-se este condicionalismo humano. A questão está também no objecto do nosso motivo e interesse. O que importa é defender a humanidade que se encontra por baixo das cores das peles.

Gandhi conta na sua autobiografia que estava convencido que o Cristianismo era a resposta para o flagelo do sistema das castas na Índia. Ele pensava seriamente em tornar-se cristão. Um dia, na África do Sul, dirigiu-se a uma Igreja para participar numa missa. À entrada foi-lhe dito parta ter a bondade de participar numa missa reservada a pretos. Gandhi foi-se embora e nunca mais voltou. As ideias e os ideais podem ser o melhor; quem estorva são muitas vezes as pessoas.

Na discussão do espectro das cores a palavra preto ou branco parece-me a mais neutra embora cada biótopo geográfico e cultural tem a sua dinâmica a respeitar. O problema está latente em todo o ser humano que reage com medo ao desconhecido. Assim a experiência com bebés brancos e pretos mostra que o bebé preto reage com medo perante o branco e o bebé branco reage com medo perante o preto. Se virmos bem o homem branco não é mesmo branco nem o homem preto é mesmo preto.

Obama tem a cor da esperança, da justiça e da mudança. Ela é um protesto contra uma humanidade que tem abdicado de ser humana no sentido digno do termo. Ela é protesto, resistência e constitui programa para um mundo mais colorido, onde cada qual receba a possibilidade de se tornar ele mesmo. Como nele se combinam as cores, a nova era terá que deixar de continuar o diálogo perspectivo (dualista) para se iniciar a Era do triálogo relacional aperspectivo (integral trinitário).

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A AMÉRICA ELEGEU UM PRESIDENTE PRETO

América mais universal e menos americana

António Justo
Os Estados Unidos da América elegeram o seu primeiro presidente preto, 150 anos depois da libertação dos escravos. A América apresenta-se com um rosto novo ao mundo! Ao eleger um presidente preto, reconcilia-se consigo mesma e com o mundo.


Barack Obama conseguiu entusiasmar a América pela política. A participação eleitoral alcança um novo recorde. 153 milhões de cidadãos participaram nas eleições conseguindo Obama 52 % dos votos para si. A 20.o1.2009 tomará posse como presidente. O 44.° Presidente da USA apresenta muitas semelhanças com o presidente Kennedy que então foi o símbolo duma nova América.

Com a derrota de McCain a USA despede-se duma era histórica nostálgica de vitória e de força no mundo.

Num momento em que o sonho americano sofre as primeiras arranhaduras com a crise financeira, a USA procura um novo papel na história. Barack Obama personifica o sonho americano de vida, liberdade e felicidade. Ele consegue subir, com o próprio esforço, duma situação modesta ao mais majestoso cargo da América. Os votos em Obama são mais que os votos num partido. São os votos dum movimento, o grito da esperança que surge da profundeza da sociedade americana. Na vitória do partido democrático está presente a desilusão de políticas falhadas e a esperança daqueles que levantam a mão, no desejo de verem os seus interesses chegarem à ribalta da nação. Por todo o lado se torna latente o desejo dum novo começo.

Obama, na sua campanha eleitoral, procurou um novo estilo de discurso. Tentou superar os clichés ideológicos de direita e de esquerda, de Etablishment e de carenciados. Com estilo deixou alguns alertas dignos de escrita no álbum dos partidos: “Não há uma América liberal e uma América conservativa – há os Estados Unidos da América”. Aqui, Obama não se revela como um político normal. Ele quer construir pontes para melhor servir o povo americano.

Às águias do poder, que questionavam a sua experiência, ele responde:”Trata-se da capacidade de discernimento e não da experiência”. A América, tal como ele, é jovem e na sua juventude antecipa o futuro. Obama fala, no plural, dum futuro melhor onde “nós todos encheremos o sonho americano com nova vida, onde todos terão, verdadeiramente, as mesmas chances”. A América é sempre jovem porque a sua elite sonha e com ela o povo também. Nela a elite, com todos os seus paradoxos, não deixou de ser povo.

O povo americano elegeu uma biografia e não um programa. Na sua pessoa os americanos vêem a história da América, reconhecendo-se na sua mensagem de esperança e entusiasmo.

Todo o Mundo olha para a América porque sabe que grande parte do seu destino depende dela.

A concorrência da Rússia e da China, o ressentimento árabe, o terrorismo e a inveja europeia terão um novo peso na nova era que agora se anuncia.

Embora o tema da guerra do Iraque tenha estado ausente durante a propaganda eleitoral, o seu fim não pode ser adiado indefinidamente. A sua vontade de reformar o sistema de saúde é mais que pertinente. Embora se incline para o proteccionismo económico (o que assusta os chineses) mostra-se mais liberal na política de segurança. Com ele talvez a presença militar da USA no mundo, com as suas 761 bases militares em 151 países, se faça sentir menos e a ideia imperialista presente em todas as civilizações se comece a embaçar. Com ele, os europeus querem ser tomados mais a sério. Esperam uma política que não se aproveite da rivalidade entre os Estados europeus e que assuma compromissos internacionais em questões de protecção do clima e do controlo de armamento. (O problema para Obama em relação à União Europeia será saber o que esta quer!) Os poderes que Obama tem de enfrentar são hercúleos: um mundo contraditório em si, os serviços secretos, as forças militares e económicas e uma pratica mundial em que o ser humano ainda não é tema prioritário.

Obama, filho de pai queniano e de mãe americana, desperta muitas esperanças também na África. Espera-se que ele não escreva apenas história americana. Os russos esperam, com ele, ser mais fácil recuperar o velho brilho de potência que tinham no tempo da União Soviética.

Obama não será nenhum santo. Neste sentido fala a sua carreira de político. Consta que nas escadas do poder partidário ninguém sobe sem cadáveres na cave. Além disso, as esperanças, nele colocadas, tornarão mais difícil o seu papel de presidente. As projecções colocadas no presidente eleito são de tal ordem que exigiriam dele uma pessoa sobre-humana para as satisfazer. Só resta lugar para o desencanto.

A crise financeira mostrou a necessidade duma nova ordem mundial. Uma mudança radical seria mais que óbvia.

Obama encontra, como hipoteca, a guerra do Iraque que terá de pôr fim em tempo determinado. O conflito israelo-árabe espera também por solução. A necessidade da USA se libertar da dependência dos regimes do petróleo possibilitará o renascimento da ecologia. Ele quer “um governo do povo para o povo”. A crise histórica em que o mundo se encontra não facilita o papel do presidente. Não será fácil tirar o carro da lama. A mudança em curso na América terá de se dar nas outras potências também, doutro modo o mundo não avança.

O novo presidente pode tornar-se numa oportunidade de reconciliação de muitos países com os Estados Unidos. Ele é o símbolo da nova era. Nele pode torna-se possível a integração da potência e da impotência e assim se passar da era do diálogo para a era do triálogo. A chama da liberdade deixará então de ser tão deslumbrante.

A sua vitória, integrada na sua biografia, revela a possibilidade de integração das forças do Sul com as do norte. Na sua personalidade se encontra a mistura americana, a mistura racial e religiosa. Barack Obama representa na sua pessoa a post-américa, a vontade de integração do mundo do norte e do mundo do sul. A América permanecerá sempre uma nação universal, um luzeiro que integra em si todas as culturas.

A América continuará a ser a AMÉRICA: talvez mais universal e menos americana!

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

A AMÉRICA ELEGEU UM PRESIDENTE PRETO

América mais universal e menos americana

António Justo
Os Estados Unidos da América elegeram o seu primeiro presidente preto, 150 anos depois da libertação dos escravos. A América apresenta-se com um rosto novo ao mundo!

Barack Obama conseguiu entusiasmar a América pela política. A participação eleitoral alcança um novo recorde. 153 milhões de cidadãos participaram nas eleições conseguindo Obama já 57,7 % dos votos para si. O 44.° Presidente da USA apresenta muitas semelhanças com o presidente Kennedy que então foi o símbolo duma nova América.

A América ao eleger um presidente preto reconcilia-se consigo mesma e com o mundo.

Com a derrota de McCain a USA despede-se duma era histórica nostálgica de vitória e de força no mundo.

Num momento em que o sonho americano sofre as primeiras arranhaduras com a crise financeira, a USA procura um novo papel na história. Barack Obama personifica o sonho americano de vida, liberdade e felicidade. Ele consegue subir, com o próprio esforço, duma situação modesta ao mais majestoso cargo da América. Os votos em Obama são mais que os votos num partido. São os votos dum movimento, o grito da esperança que surge da profundeza da sociedade americana. Na vitória do partido democrático está presente a desilusão de políticas falhadas e a esperança daqueles que levantam a mão, no desejo de verem os seus interesses chegarem à ribalta da nação. Por todo o lado se torna latente o desejo dum novo começo.

Obama, na sua campanha eleitoral, procurou um novo estilo de discurso. Tentou superar os clichés ideológicos de direita e de esquerda, de Etablishment e de carenciados. Com estilo deixou alguns alertas dignos de escrita no álbum dos partidos: “Não há uma América liberal e uma América conservativa – há os Estados Unidos da América”. Aqui, Obama não se revela como um político normal. Ele quer construir pontes para melhor servir o povo americano.

Às águias do poder, que questionavam a sua experiência, ele responde:”Trata-se da capacidade de discernimento e não da experiência”. A América, tal como ele, é jovem e na sua juventude antecipa o futuro. Obama fala, no plural, dum futuro melhor onde “nós todos encheremos o sonho americano com nova vida, onde todos terão, verdadeiramente, as mesmas chances”. A América é sempre jovem porque a sua elite sonha e com ela o povo também. Nela a elite, com todos os seus paradoxos, não deixou de ser povo.

O povo americano elegeu uma biografia e não um programa. Na sua pessoa os americanos vêem a história da América, reconhecendo-se na sua mensagem de esperança e entusiasmo.

Todo o Mundo olha para a América porque sabe que grande parte do seu destino depende dela.

A concorrência da Rússia e da China, o ressentimento árabe, o terrorismo e a inveja europeia terão um novo peso na nova era que agora se anuncia.

Embora o tema da guerra do Iraque tenha estado ausente durante a propaganda eleitoral, o seu fim não pode ser adiado indefinidamente. A sua vontade de reformar o sistema de saúde é mais que pertinente. Embora se incline para o proteccionismo económico (o que assusta os chineses) mostra-se mais liberal na política de segurança. Com ele talvez a presença militar da USA no mundo, com as suas 761 bases militares em 151 países, se faça sentir menos e a ideia imperialista presente em todas as civilizações se comece a embaçar. Com ele, os europeus querem ser tomados mais a sério. Esperam uma política que não se aproveite da rivalidade entre os Estados europeus e que assuma compromissos internacionais em questões de protecção do clima e do controlo de armamento. (O problema para Obama em relação à União Europeia será saber o que esta quer!) Os poderes que Obama tem de enfrentar são hercúleos: um mundo contraditório em si, os serviços secretos, as forças militares e económicas e uma pratica mundial em que o ser humano ainda não é tema prioritário.

Obama, filho de pai queniano e de mãe americana, desperta muitas esperanças também na África. Espera-se que ele não escreva apenas história americana. Os russos esperam, com ele, ser mais fácil recuperar o velho brilho de potência que tinham no tempo da União Soviética.

Obama não será nenhum santo. Neste sentido fala a sua carreira de político. Consta que nas escadas do poder partidário ninguém sobe sem cadáveres na cave. Além disso, as esperanças, nele colocadas, tornarão mais difícil o seu papel de presidente. As projecções colocadas no presidente eleito são de tal ordem que exigiriam dele uma pessoa sobre-humana para as satisfazer. Só resta lugar para o desencanto.

A crise financeira mostrou a necessidade duma nova ordem mundial. Uma mudança radical seria mais que óbvia.

Obama encontra, como hipoteca, a guerra do Iraque que terá de pôr fim em tempo determinado. O conflito israelo-árabe espera também por solução. A necessidade da USA se libertar da dependência dos regimes do petróleo possibilitará o renascimento da ecologia. Ele quer “um governo do povo para o povo”. A crise histórica em que o mundo se encontra não facilita o papel do presidente. Não será fácil tirar o carro da lama.

O novo presidente pode tornar-se numa oportunidade de reconciliação de muitos países com os Estados Unidos. Ele é o símbolo da nova era. Nele pode torna-se possível a integração da potência e da impotência e assim se passar da era do diálogo para a era do triálogo. A chama da liberdade deixará então de ser tão deslumbrante.

A sua vitória, integrada na sua biografia, revela a possibilidade de integração das forças do Sul com as do norte. Na sua personalidade se encontra a mistura americana, a mistura racial e religiosa. Barack Obama representa na sua pessoa a post-américa, a vontade de integração do mundo do norte e do mundo do sul. A América permanecerá sempre uma nação universal, um luzeiro que integra em si todas as culturas.

A América continuará a ser a AMÉRICA: talvez mais universal e menos americana!

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com