sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal – A Realidade grávida a dar à Luz

António Justo

No estresse do tempo tudo é movimento, um vai e vem, de vida também. O tempo mais escuro, os desejos mais libertos, as compras menos necessitadas, as recordações mais envolventes, um mundo mais inteiro e próximo, tudo junto, cria um panorama nostálgico, um sentimento de saudade envaginante. Natal, o mundo inteiro paira no ar, num céu feito de nuvens e sol: é pôr de sol no amanhecer.

Natal é o tempo dos tempos a gerar outro tempo. Não é tempo linear, é tempo completo, de pensamento, emoção e acção em sintonia. Tempo de viver em primeira-mão. Natal é dar á luz na gruta que somos nós, onde a fonte do amor jorra, a faúlha divinal brilha. Nela se reúne a concepção ao dar à luz. Tudo é receber, tudo é oferta, é absorver algo em si e voltar a dá-lo, num processo de engravidecer e dar à luz. Ao realizá-lo, somos Maria com a criança no regaço, no nosso seio acolhemos a vida, o outro para com ele nos darmos à luz, nos tornarmos presépio, o lugar o a acontecer.

Natal é o tempo alto, tempo de elan vital, de alento intelectual e emocional a deslizar no acontecer. É o outro lado do tempo cronológico para se tornar no kairós (“o momento certo” ou “oportuno” – para lá do passado-presente -futuro).
 
Natal é tempo de Desejos. Desejos de recolhimento, dedicação e reconhecimento juntam-se à lareira do lar, a celebrar o presépio, a família universal. Reúnem-se desejos altos e nobres; anseios satisfeitos e insatisfeitos num augúrio de harmonia geral.
 
Natal é tempo da criança em nós. A criança em nós, filha dum desejo, a desejar crescer! Nela o natal é criativo, mágico e santo. Um presépio, um pinheiro, uma fogueira a arder numa lareira, num coração. Ao olharmos a vida com o olhar duma criança sentimos, em todo o lugar, natal a acontecer. Deus é criança, um laço que tudo une.  

Natal é tempo de rituais. Tudo são rituais, de laços a unir o baixo e o alto, o céu e a terra, a luz e a sombra, os animais e as pessoas no mesmo plano. Vive-se nele uma aura de emoção, de pequenos e grandes num dar e receber, a união universal no mesmo ritual. Deus é fogo que inebria toda a humanidade numa espiritualidade que desempederne e vivifica; tal como o sol na paisagem da natureza, ele é sol menino, para todos a diluir as nuvens do medo e das cercas que nos encarceram.  

Natal é tempo dos presentes. Nele somos presentes (dons) num mundo à espera de nós. Nos presentes embalados com laços de amor, se ata a dedicação e a importância do outro. Neles nos tornamos completos, revitalizamos em nós aquela criança que somos, aquela vitalidade inocente, por vezes, amarrada e reprimida, numa existência programada sem sonho nem guarida. Na embalagem do Natal, ao desatarmos as fitas, descobrimos a graça da oferta tornando-se a embalagem já não fronteira mas mensageiro de união na compaixão.  

Natal é tempo da família. Num ritual protótipo, uma vez no ano, todo o mundo se junta na família em torno do menino que dá à luz o mundo. Nele o par reconhece a individualidade para passar à comunidade. Um é um, dois é par, só três é comunidade (no três está todo o outro). Natal é tempo de família numa época da História ocidental nada familiar mais pronta a receber, a petrificar do que a dar à luz.  

Natal é tempo de conflitos. O facto de a família passar mais tempo junta possibilita conflitos. Estes, geralmente provêem de expectativas acrescidas, conscientes e inconscientes. Geralmente são fruto natural da meteorologia actuante em cada um de nós, tal como na natureza: fases de acalmia, baixas e altas pressões. Porque responsabilizar, então, o outro pelo estado do tempo que grassa na paisagem do nosso ser ou do grupo? Esta época de natal também se revela mais difícil para pessoas à margem ou para pessoas cerebrais que preferem viver no sótão das ideias do que descer ao andar da emoção. Na casa de cada ser, tal como nas cercas sociais, encontram-se pessoas que gostam mais de viver expostas ao sol da razão e outras mais recolhidas na sombra da emoção. Jogar uns contra os outros seria desconhecer os soalheiros e os sombrios em nós, seria desprezar a natureza. Esta época torna-se especialmente difícil para quem vive só. Todos precisamos de rituais e estes só se realizam e satisfazem no encontro. Importante será a organização dum ritual, seja ele em família, na igreja, na cadeia, num hospital, em forma de viagem, ou de retiro espiritual. De ter em conta também quem tem problemas digestivos em questões de religião. O problema situa-se frequentemente na espectativa; dela surge, muitas vezes, o desengano, porque ou se esperava mais ou se espera outra coisa. Os banqueiros e tabeliões da festa cá estarão para a utilizar, desvalorizar ou rebaixar.  

Natal é tempo de dor, também. Na praça passa a sede dum tempo novo. No chão, leis enlameadas, tornam a praça escorregadia. No ar sombrio dum país árido, se ergue, nas nuvens da amargura, o gralhar da dor de doentes, desempregados, desiludidos e não amados. Nas ruas passam sombras invertidas. Muitas ruinas de vida, no chão, estendidas! Esboços no chão, à espera do presente. A salvação é uma criança pequena numa gruta desamparada a palrar: “estou, aqui, fraco para que possas ser forte”.  

Natal é tempo de festa. Festas são momentos de interrupção do dia-a-dia. São momentos altos de religação à vida. Nelas se presencia o sentimento festivo de intimidade, a voz do mundo a ressoar em mim em ti, no nós. No natal a vida reúne-se em festa. A natureza unida à divindade toca-nos porque no íntimo do presépio, no interior de cada um, flagra uma chama, sorri uma criança. É a ressonância que nos irmana em nós a criança desamparada à espera de doação. O fruto da doação, da entrega, é amor. No Natal, independente do credo, celebra-se a humanidade, por isso Natal é a festa mais humana de todas as festas. O mundo e nós mudamos; o natal em nós permanece: Deus a tornar-se homem para que o amor viva em e entre nós.  

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Prédio do Vice-Consulado de Frankfurt vazio dentro duma Semana?!

O Conselho Consultivo do Vice-Consulado de Portugal em Frankfurt, convocado por conselheiros para uma reunião extraordinária, reuniu nas instalações do posto consular. Tendo tomado conhecimento das instruções transmitidas superiormente em 9 do corrente e recebidas após o horário de expediente, nomeadamente “que o atendimento se mantenha até 20 de Dezembro de 2011”, os elementos do Conselho Consultivo, representativos da Comunidade Portuguesa (vide al. c, do nº 2, do art. 16º do Decreto-Lei n.º 71/2009, de 31 de Março) vêm por este meio apresentar o seu veemente protesto contra o conteúdo, visto não ser possível garantir um atendimento e uma informação atempada aos utentes acerca da sua futura área de jurisdição consular. No exercício das suas funções os membros do conselho consultivo, vêm por este meio e em defesa da comunidade afectada, alertar em primeiro lugar para o facto de que é absolutamente impossível proceder a um encerramento regular do Consulado dentro do prazo referido, nomeadamente: 1º Desconhece-se até à presente data qual a área consular a que passarão a pertencer os utentes deste Vice-Consulado. Só na base dessa informação precisa, que ainda é desconhecida, será possível uma comunicação oficial à comunidade; 2º É inaceitável encerrar o atendimento ao público no dia 20, sem que este tenha tido a hipótese de regularizar assuntos pendentes, que exigem um prazo mais alargado. Não sendo o prazo exequível, permitimo-nos requerer o seu alargamento; 3º Também nos parece impossível cumprir o prazo de encerramento das instalações a 31 de Dezembro, visto não estarem ainda definidas as futuras áreas de jurisdição; 4º Neste contexto, solicitam informações concretas acerca do modo como será garantida a protecção dos dados dos utentes na mudança, conforme estipulado na lei vigente aplicável. Os conselheiros não podem deixar de expressar a sua indignação pelo facto de não terem recebido qualquer resposta das entidades competentes, às quais se dirigiram expressamente em diversas ocasiões, desde que tomaram conhecimento das intenções de encerramento deste posto, em Outubro passado. Manifestam o seu descontentamento por não terem sido informados e consultados conforme o Decreto-Lei 71/2009. Estando conscientes das dificuldades que o país atravessa, reiteram ainda que, conforme sua tomada de posição de 03/10/2011, não poderão aceitar de modo nenhum medidas radicais que conduzam ao encerramento deste posto consular, sem que sejam previamente estudadas, em conjunto, outras alternativas de poupança, como por exemplo, a redução dos custos de arrendamento, de funcionamento do posto, ou a redistribuição da rede consular, entre outras. O texto aqui apresentado foi enviado às autoridades competentes a 11 de Dezembro de 2011 António da Cunha Duarte Justo Porta-voz do Conselho Consultivo

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

As Multinacionais do Capital – O novo Cavalo de Tróia

Nações Reféns do Sistema Polvo dos Dinossauros das Finanças António Justo O cavalo troiano, enquanto os cidadãos dormem, vai-se inserido dentro das muralhas das nações. Os mercenários ganham terreno de dia para dia. Protege-os a lei da guerra: a lei do mais forte. Em consequência da crise, os estados estão a efectuar a privatização da sua prata da casa que é comprada por multinacionais a caminho do monopólio. Em vez de se tentar democratizar a economia assistimos ao processo inverso de alienação do poder nos dinossauros (Dinos) da economia. Por outro lado deparamos diariamente nos Media com uma realidade encenada, em que a opinião publicada aponta para um alvo mas a Realidade acontece em outros lugares. Os “dinos” globais querem um mundo unipolar (americano) pelo que apostam todas as suas cartadas no impedimento do surgir de contrapolos. De momento todo o mundo se preocupa com o Euro quando deveria preocupar-se com o Dólar. Uma tempestade num copo de água, pelo facto de a EU ser forte embora enfraquecida pela praga dos especuladores mundiais e de egoísmos nacionais. Uma das razões da intervenção dos USA no Iraque terá sido o facto de Sadam Hussain ter tornado pública a ideia de assumir o Euro como moeda mundial de referência em substituição do petrodólar. Actualmente, a União Europeia (EU) tem um défice orçamentário de 4% e os USA de 10%. A quota de desemprego em 2011 na EU é de 7,5%, a dos USA é de 9%. A dívida pública da EU é de 88% do PIB e a dos USA é de 100% do PIB. Os USA encontram-se mais endividados que Portugal. Americanização da Europa e do Mundo Não é de admirar que os USA façam tudo por tudo por impedir que o Euro se torne forte e concorra como Dólar na qualidade de moeda mundial de reserva. Isso revelar-se-ia catastrófico para os USA. Também por isso o horrendo capital mundial, nas mãos de poucos, usa as agências de rating como lança avançada para defesa dos seus interesses económicos, equacionados nos dos USA. As agências de rating tornaram-se num órgão de controlo económico-político-social para defesa das multinacionais do capital e num instrumento contra a emancipação que surge da base. Têm a vantagem de possuírem conhecimento interno de que podem abusar. (Curioso é o facto dos países da EU terem uma cláusula legal pela qual aceitam as análises das agências rating como critério de avaliação do estado das economias). Também o modelo duma Europa forte, apesar da sua componente social, não convinha; daí tornar-se óbvia a guerra internacional contra o Euro. Uma Europa forte e social poderia tornar-se num “mau exemplo” de justiça social, para outros continentes, o que perturbaria a oligarquia do dinheiro, para quem ideias sociais e humanistas constituem um estorvo num processo de americanização do mundo. Na Europa é cada vez mais evidente a guerra das multinacionais financeiras contra o trabalhador, contra a democracia e contra os Estados. Quer-se a socialização da pobreza a todo o custo e a globalização da miséria. Os vencimentos dos cargos de cimeira (sector Bancos, Energia e multinacionais) dos países pobres foram propriamente igualados aos dos países ricos (medida fomentadora do espírito mercenário e de traidores dos interesses regionais) e ao mesmo tempo assiste-se, na base da pirâmide social, a um processo de igualização dos ordenados pelos dos países mais pobres. Já se chega ao extremo de se encontrarem pessoas a trabalhar na gastronomia ganhando 5 Euros à hora na Alemanha e 3 euros em Portugal. Querem o lucro à custa da honra e da miséria. O colonialismo e a exploração passaram a não ter rosto, tornaram-se anónimos e por isso irresponsabilizáveis. A globalização está-se a revelar como destruidora de Estados e contra os progressos adquiridos na Europa. Assistimos, laboral, cultural, democrática e socialmente, a um retrocesso. O ensino também é proletarizado nas escolas e nas universidades especializa-se de modo a um técnico ser dependente da máquina que serve. (Pensar faz doer e quem pensa tem poder, daí limitar o saber…). Os estados controlam cada vez mais descaradamente o cidadão, com uma administração centralista, em nome dum terrorismo latente. O próprio parlamento europeu encontra-se marginalizado pelo activismo dos chefes de governo puxados pela trela das dívidas e dos juros usurários do imperialismo do capital e pelos seus boys nas instituições de poder mundial. Os Bancos e as Bolsas com as suas agências de rating passaram a fiscalizar os Estados, invertendo-se assim os termos. Os mercados financeiros, não são regulados, os seus donos consideram o mundo como um casino, onde o seu lucro se adquire à custa do azar dos outros. Estamos numa situação em que o capital anónimo se tornou num polvo monstro que suga o espírito e o corpo das nações. Só se criam instrumentos de controlo em favor do capital como a troika, faltam projectos de fomento de crescimento. As medidas, a nível económico, em curso apenas dão continuidade, por outras vias, às antigas guerras europeias entre o centro e a periferia. Onde a inteligência não chega domina a esperteza. Com a queda do muro de Berlim e das ditaduras de Leste a política ajoelhou. Não foi capaz de se organizar e antecipar aos “dinos” das finanças que se tornaram numa supra-estrutura global com mais poder que as políticas nacionais. Eles escondem-se à sombra de organizações como o Banco Mundial, FMI, OMC, etc. Os juros usurários são uma forma de violência estrutural sustentada. A OMC (com 147 Estados) pretende a liberalização total e assim legitimar o poder dos mais fortes. Estes são formados pelo escol encoberto das nações. Criam a liberdade para o capital e cercas para os emigrantes. Cavalo de Tróia já dentro das Muralhas da EU Tróia era uma cidade mitológica bem organizada e rica da antiguidade. Os gregos, seus vizinhos, que eram muito fortes e ambiciosos, ansiavam pelos seus bens. Mas as muralhas de Tróia eram muito altas. Um dia aproximaram-se para a assaltarem. Perante a longa resistência troiana pensaram numa artimanha: construir um grande cavalo de madeira, deixá-lo junto às muralhas com alguns mercenários lá dentro e fingir deixar o cerco da cidade. Os troianos, admirados, pela retirada do exército grego mais se admiraram ainda com o grande cavalo de madeira deixado pelo inimigo junto às muralhas; os troianos pensando que este era um sinal de rendição dos gregos, fizeram rodar o cavalo para o interior das muralhas, muito embora sob os protestos dum velho sacerdote. Pela calada da noite, quando os troianos dormiam, os mercenários gregos saíram do ventre do cavalo, abriram as portas da cidade; então os soldados gregos entraram vencendo e escravizando os troianos. Na Europa dos anos 60-80 viviam também vários povos em paz empenhados na construção duma democracia cada vez mais humana; viviam sem muralhas e tinham uma rede social que amparava os mais fracos num espírito de subsidiariedade. Aqui, praticamente todos tinham trabalho com férias satisfatórias, assistência social e possibilidade para viajarem pelo mundo. Tornaram-se tão fortes que até conseguiram despertar a inveja dos países socialistas vizinhos e do capitalismo de cunho americano. Entretanto a União Soviética caiu e a Europa fomentou a construção do seu burgo. O Mamom Dólar gerou um filho ilegítimo, o Mamom Euro. Desde aí não há paz no Olimpo As aves de rapina internacionais começaram a sitiar cada vez mais o burgo europeu. Entraram no seu espaço através dos Bancos e de multinacionais onde abrigam os mercenários nacionais. Os moradores do burgo entraram em pânico e os países encontram-se agora em situação de medo; vendem, ao desbarato, a prata da casa, que tinham amealhado durante dois mil anos. O medo tolhe as pessoas não deixando que aqueçam o ânimo na fogueira da esperança. Por todo o lado se fazem sentir os ventos gélidos da injustiça e o alto gralhar dos dinos num horizonte encoberto. O medo não deixa filhos, mata a esperança. Ele é o chicote enrabado de liberdade na mão dos poderosos. Por isso os donos invisíveis da sociedade espalham o medo (estratégia do amedrontamento) que tolhe e leva a pessoa a fugir (a regredir) e a abandonar os direitos sociais e cívicos adquiridos. A Estratégia do Cavalo de Tróia serve-se de mercenários O dinheiro não tem alma, nem família, estado nem nação; tem apenas escravos. Chama-se Mamom e alimenta-se da despersonalização, servindo-se dos seus sacerdotes que o cultuam nos santuários das bolsas-bancos e em suas capelanias multinacionais. Os oportunistas, na sua estratégia de marginalização sistemática da sociedade, atacam a classe média e não só destroem os contractos de trabalho dos trabalhadores, como até querem apagar neles a ânsia de justiça. Numa sociedade em que os modelos são corruptos já pouco faltará para corromper… Os “dinos” roubam, as estrelas despem-se da moral. Culpabiliza-se o mais fraco pela sua situação apelidando-o de menos inteligente. O neoliberalismo é anti solidário e anti-humano. Não conhece pessoas só lucro usando como laçada o eufemismo da globalização. Os donos do mundo mercantilizam a pessoa, tudo em termos de lucro e de mercadoria no mercado livre. Ao substituírem Deus pelo Mamom, mataram a pessoa em nome do indivíduo. O próximo passo é destruir as nações em nome da globalização. Os políticos deixaram-se comprar atraiçoando a ideia europeia e o humanismo universal, procurando postos nas multinacionais (mercenários comprados a troco de ordenados horrendos, tornam-se traidores dos seus biótopos sociais); os trabalhadores, por sua vez, sentem-se açamados pelo medo de perderem o que têm; para não perderem o emprego cedem os direitos adquiridos. A pobreza e as bancarrotas são socializadas em favor dos ricos. Os novos demónios não conhecem a dignidade. A dignidade já não é símbolo de autoridade. Os imperativos morais são sistematicamente destruídos. Trabalha-se, a longo prazo, para a sustentabilidade da miséria espiritual e física. Nalguns sectores desprotegidos, onde a moral ainda vai à igreja, já começa a valer mais pedir ou roubar do que trabalhar. A juventude manifesta-se medrosa e conformada com uma sociedade uniforme, tipo quartel em que a diferença se nota apenas na farda da música que se consome e no mercado colorido de opiniões em saldo. Tem sido educada para um realismo factual inculcado pelas forças anónimas vigentes contra a inovação e contra a mudança. Inovação quer-se apenas tecnológica, não humana, nem social. Também o imperativo moral e as constituições das nações perdem a sua validade. Em questões de direitos humanos reserva-se, para os grandes, o direito de veto. O pensamento individual é substituído pelas fábricas de pensamento. Tudo, cada vez mais, na mão dos formadores da opinião anónima ao serviço dos “dinos”; tudo na mão de sociedades de irresponsabilidade ilimitada. No momento de mudança em que nos encontramos, as camadas lúcidas das sociedades deveriam exigir que a democracia directa e o princípio da regionalização fossem introduzidas nas Constituições dos países como objectivo importante a atingir. Só assim se poderia impedir o fenómeno de destruição dos biótopos e ecossistemas naturais, individuais, sociais e culturais, em via. António da Cunha Duarte Justo antoniocunhajusto@googlemail.com www.antonio-justo.eu

sábado, 10 de dezembro de 2011

Contra o Encerramento do Posto Consular de Frankfurt - A Decisão em cima dos Joelhos

Carta aberta ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas A notícia do encerramento do Vice-Consulado de Frankfurt tem provocado ondas altas na comunidade. Parece estar a dar-se um atentado à razão e a demonstrar a falta duma estratégia financeira de Portugal, ao abandonar Frankfurt, o centro financeiro europeu. No passado os Postos consulares não tinham em grande conta a vertente económica. Querer acabar com Frankfurt em nome da nova política é contraditório. Apresento a carta aberta da Dra. Dina André aos Media como uma voz que desejaríamos não fosse mais uma voz no deserto. “Carta aberta ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas Com conhecimento a suas excelências: Presidente da República, Primeiro-ministro, Ministro das Finanças, Ministro da Economia e do Emprego, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas , Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Europeus Dina Maria Batista Correia André Friedensstr. 71 F 63071 Offenbach am Main Tel.: 0049 69 888992, E-mail: dina.andre@gmx.net 9 de Dezembro de 2011 Excelência, é com “temperança, perseverança, confiança e vontade de conseguir” que uma cidadã portuguesa, residente em Offenbach am Main (estado de Hesse), está empenhada em demover o Sr. Ministro, da sua decisão de encerrar o vice-consulado de Frankfurt. Considero que é um erro colossal encerrar a representação de Portugal, numa cidade que é considerada o pólo económico da Alemanha, sendo esta a dinamizadora da economia europeia. É com “temperança” que me atrevo a fazer-lhe as seguintes perguntas: - Sr. Ministro, Dr. Paulo Portas, considera que Frankfurt não é uma cidade estratégica para a promoção da internacionalização das empresas portuguesas e para a captação de capitais estrangeiros para Portugal? - Quais foram os critérios utilizados para tomar a decisão de encerramento? É com “perseverança” que gostaria de elucidar o Sr. Ministro que Frankfurt é a cidade da Alemanha com o maior número de representações consulares (cinquenta Consulados Gerais, quarenta e cinco Consulados Honorários, seis Consulados e um Vice-Consulado). É com “confiança” que lhe posso assegurar que este número de representações consulares na cidade de Frankfurt não é por acaso. Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas, como estratega político, arguto e inteligente, ao decidir encerrar o Vice-Consulado de Frankfurt, só pode ter como objetivo estratégico futuro, a reabertura de uma representação diplomática portuguesa nesta cidade, ou seja, um Consulado Geral. Só nesta perspetiva se compreende o seu novo modelo de diplomacia económica, que segundo as suas próprias palavras irá “responder com a maior eficácia a este desafio absolutamente essencial” para Portugal. É com “confiança” que me atrevo a insistir na defesa de uma representação consular em Frankfurt para que esse desafio seja bem sucedido, em prol de Portugal e da diáspora portuguesa. Excelência, é com “vontade de conseguir” que a decisão do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas, seja reconsiderada, reavaliada e bem reflectida. Estamos cansados de reformas irrefletidas, “em cima do joelho”, com muito “show” e que não servem para nada. Estamos saturados de reformas sem “visão estratégica”, feitas em nome da poupança mas que em nada a honram. Sr. Ministro, Dr. Paulo Portas, seja o modelo, o exemplo e cumpra realmente o que prometeu aos Portugueses, quando estava na oposição: sirva Portugal, dignificando a diplomacia portuguesa na Europa e no Mundo, respeitando a diáspora, a cultura e a língua portuguesas. Estou certa de que, assim, os Portugueses responderão, com “temperança, perseverança, confiança e vontade de conseguir” ao apelo de S. Exa. o Sr. Presidente da República, recentemente feito nos EUA. Com os meus melhores e respeitosos cumprimentos, Dina Maria Batista Correia André “ Pelos ventos que correm do MNE tem-se a impressão que Frankfurt fechará mesmo. Frankfurt morre com dignidade para, em breve, poder ressuscitar. António da Cunha Duarte Justo Porta-voz do Conselho Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt antoniocunhajusto@googlemail.com

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Repensar Portugal / o Ocidente - Activar a Lusofonia

A Hora da Lusofonia está a chegar (2) (Continuação) António Justo Preparar uma “ínclita geração” como impulsionadora da lusofonia. Portugal foi a primeira nação europeia a estar completa; numa união íntima de terra-povo -cultura, exercitou, logo de início, a sua vontade na resistência à força leonina, à lança muçulmana e nas labutas com o mar. Deste esforço viu brotar no seu seio a flor da alma europeia: o saber de experiência feito; espírito este gerado durante séculos no seio das ordens e expresso no lema “ora et labora”. A doxia aliada à praxia, especialmente na ordem beneditina e dos templários (depois Ordem de Cristo),gerou Portugal e frutificou nos Descobrimentos. Hoje, quando se fala em Portugal, Brasil, Angola, etc., estão-nos subjacentes os ecossistemas sociais do grande biossistema cultural que é a Lusofonia. O Brasil poderia assumir hoje, a nível de Lusofonia, a missão que Portugal assumira em relação à Europa nos tempos da sua juventude. Outrora as cidades organizaram-se em torno das catedrais; hoje em torno das grandes culturas. Sem esquecermos a lei orgânica e o valor dos diferentes ecossistemas sociais, é de assinalar que já não nos encontramos na fase das consolidações nacionais mas na fase dos agrupamentos regionais/culturais. À superfície a crise mostra que nos encontramos não só na fase de especulação e de desregulação dos mercados financeiros, mas sobretudo num processo de desregulação das cabeças e das nações, numa intenção de tornar civilizações e povos subservientes a interesses anónimos. Estamos em plena mudança. Este fenómeno será difícil de ser sentido por países que, através da colonização externa, foram impedidos de realizar a colonização interna e se encontram hoje, debruçados sobre si, num estado de independências e sociedades frágeis. Este processo prolongou-se na na Europa durante 1.500 anos. Naturalmente que hoje como ontem os países fortes impedem uma formação natural de ecossistemas sociais/nacionais, opondo-se à colonização interna em nome de interesses económicos e a pretexto hipócrita do humanismo (intervenções) como se fez directamente na Líbia e se faz de maneira discreta em todo o norte de África. O que acontece nestes países a nível político/militar realiza-se nos países surgentes a nível económico contra a ecologia e ecossistemas cada vez mais violados. Começa-se por violar a natureza, depois o pensamento e finalmente as consciências. Também as sociedades não europeias seguirão a evolução natural de formações nacionais para “constelações postnacionais”, reunindo-se em grupos de interesses à semelhança da EU, NATO, Liga Árabe, etc. Na fase de desenvolvimento em que nos encontramos, o lugar do futuro já não se deixará circunscrever a territórios nacionais; passará das cercas nacionais para as cercas culturais de diferentes territórios. Para isso, à semelhança do que acontece no direito internacional em que direito internacional quebra direito nacional, também no caso do espaço lusófono serão necessários acordos que possibilitem a imposição dos interesses dum valor maior (o espaço lusófono) sobre o interesse privado nacional. Esta visão não parece ainda ser aceite socialmente mas corresponderá a um organigrama ideal que se imporá com o desenvolvimento do tempo e da consciência social. A sua realização pressuporá uma ideia aberta de Estado de Direito, subjugada por uma política pragmatista de factos consumados que se imporá, tal como tem acontecido com a União Europeia, através do esvaziamento imperceptível das soberanias nacionais em favor dum bem maior que é a formação, a longo prazo, duma confederação europeia. Esta missão tem sido assumida pelos tecnocratas e regentes das diferentes nações. No caso da organização da supra-estrutura “Espaço lusófono” pressupõe-se convenções intergovernamentais altruístas e iniciativas de base com organizações e programas supranacionais. Precisa-se duma ideia a longo prazo e duma estratégia comum. Não seria inteligente, que os políticos portugueses, demasiadamente fixados em Bruxelas, perdessem de vista, aquilo que lhe deveria ser mais sagrado: o espaço lusófono e a defesa dos seus interesses mesmo à custa de interesses regionais europeus. (Seguir o exemplo duma Alemanha mais interessada em integrar no espaco da EU os seus vizinhos próximos enquanto que os mediterrânicos se preocupam pouco com os vizinhos do norte de África). Desperdiçar a força populacional e estratégica dos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) com 8 países e com cerca de 250 milhões de cidadãos e constitui um espaço linguístico-cultural extremamente rico e que ocupa o 5° lugar no mundo, seria miopia e um grande erro histórico, mesmo em termos comerciais. (Em vez de se defender, o espaço lusófono encontra-se à pilhagem do turbo-capitalismo internacional e de nacionalismos estrangeiros fortes. ) Depois das tribos vieram as nações e agora estamos na hora das culturas/civilizações. O meu amigo, Dr. Jorge Rodrigues, escreve no seu blog http://comunidade.sol.pt/blogs/jorgepaz/archive/2011/09/28/CPLP_3A00_-o-futuro-contr_F300_i_2D00_se-hoje_2100_.aspx :“ Se a CPLP fosse um Estado (federal ou confederal?) seria em área o 2º maior do mundo, a seguir à Rússia e com a China logo a seguir”. A lei da evolução aponta nesta direcção. O espaço lusófono, para assumir uma missão civilizacional importante na História, à imagem do Portugal de outrora, terá de tomar consciência de si e formular um ideal comum. Só assim poderá assumir a bandeirância espiritual da civilização do século XXI, tal como Portugal fez do século XIV ao XVI. Outrora os países europeus encontravam-se numa crise cultural achando-se divididos por guerras militares e religiosas; hoje, a União Europeia, numa crise cultural também, encontra-se de cabeça amarrada pela crise económico-financeira e demasiadamente preocupada consigo mesma, esgotando-se, desorientada, em guerras financeiras. Por outro lado paira no ar um desejo de mudança, sente-se a ânsia duma nova maneira de ser e de estar no mundo: no sentido duma vivência mais intuitiva e integral, no sentido duma ortopraxia mística. O espaço lusófono muito rico em ecossistemas biológicos e culturais reúne os melhores pressupostos para dar expressão ao novo sentir e “dar novos mundos ao mundo”. Para isso urge o cultivo duma visão, duma vontade e dum ideário comum, embalados no berço da lusofonia que é o conjunto de identidades culturais, ligadas pela língua que vai de Portugal ao Brasil, do Brasil a Angola, a Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, São Tomé e Príncipe, Timor e às diversas comunidades de língua portuguesa espalhadas pelo mundo. Portugal, se quer ganhar rosto na Europa, terá de se redescobrir luso com o seu típico espírito humanista e universalista aprendido nos bancos godos e católicos da nação nascente e depois alargado no contacto com os diversos povos do mundo. Não se trata de sermos portugueses, religiosos ou ateus, trata-se de nos encontrarmos com a nossa alma universal em todo o lugar presente num processo metamórfico sob as cores do biótopo natural. A nação, e depois o espaço postnacional lusófono, além dum ideal, precisa duma missão histórica a cumprir, uma metafísica que lhe dê projecção e sentido. No espaço lusófono tornar-se-á óbvio conhecer e espalhar nas escolas e nos meios de comunicação o saber sobre escritores e pessoas que reúnem em si a consciência e a memória do seu povo, numa dinâmica de intercâmbio e de fomento da consciência do nós, do saber-nos “irmãos” brasileiros, irmãos moçambicanos, etc. (continua) António da Cunha Duarte Justo Teólogo, Pedagogo e Jornalista antoniocunhajusto@googlemail.com copyright in www.antonio-justo.eu

Cimeira de Bruxelas começa hoje em Pulgas

Cimeira de Bruxelas - A EU e o Euro sairão fortificados António Justo Merkel não se encontra muito preocupada com o estilo político e por isso já deixou perceber que esta cimeira não se poderá limitar a troca de meras simpatias descomprometidas. Prevêem-se rajadas fortes para a cimeira esperando-se conceitos muito concretos, porque se não os houver o tempo depois dela revelar-se-á muito tempestuoso para todos. O epicentro será a Alemanha e Franca. São os dois que determinam o estado do tempo na EU. A experiência, de terem sido arrastados por Atenas e afins, mais os empertiga agora a eles. Merkel no seu egoísmo suave quer acabar com os puros egoísmos nacionais. Não será fácil atendendo ao facto dos ingleses só verem a sua perspectiva e a dos americanos e muitos outros já sentirem a água nas orelhas. Trata-se nesta cimeira de salvar a zona euro e impedir a bancarrota de alguns Estados. Um empreendimento difícil. Para isso os chefes de governo teriam de se transformar num governo económico que impõem nos seus países o que determinam juntos. Os Estados, que, de facto, já se tornaram sombras de si mesmos, terão de delegar ainda mais poderes na EU, desmiolando ainda mais as soberanias. De facto, as nações também já não têm competência para resolverem, sozinhas, os seus problemas. Há problemas que são universais e que as ultrapassam e que lhes fogem. Não chegará uma política de poupança se não forem dominados os mercados financeiros. Uma Agência Rating europeia já há muito deveria ter surgido. Para já bastaria, a nível de lei retirar os direitos que se concederam às Rating alheias, que defendem o seu monopólio e dos seus em favor do dólar contra um Euro forte que lhe mete medo pela concorrência fática que se tornará. A crise foi provocada por grandes e pequenos. Muitos aproveitam-se dela hoje tal como antes dela se aproveitaram todos da abundância de dinheiro. É preciso fazer investimentos nos países fracos, doutro modo asfixiarão nas próprias dívidas. A providência social é a que mais sofre. Os direitos dos trabalhadores são reduzidos enquanto a especulação dos accionistas põe em perigo Estados e a economia de mercado social, que era um exemplo para os outros continentes. Na Alemanha, governo e oposição engalinham-se cada vez mais. Na Alemanha fala-se do documento desenvolvido pelo presidente do conselho da EU (Herman Van Rompuy), pelo chefe da Comissão (José Manuel Barroso) e pelo presidente do Grupo Euro (Jean-Claude Juncker) como típico “saco de truques de Bruxelas”. Estes procuram adiar os mecanismos da crise contra a intenção forte de alemães e franceses de estruturar melhor a zona euro. Se as coisas corressem como o governo alemão quer a cimeira transformar-se-ia num conclave à semelhança da eleição papal, em que, depois de longas reuniões com vaporadas do fumo negro da crise, surgirá por fim o fumo branco e a frase do habemus euro. A Alemanha tem medo de ser desqualificada pelas agências Rating, caso a Europa não dê passos decisivos na solução da crise; quer salvar o Euro a todo o custo. No meio destas turbulências os chefes de governo têm marginalizado os actores e o papel de Bruxelas. A intenção de rever os Tratados Europeus é muito controversa e penso que irrealista. A EU ir-se-á construindo, pragmaticamente, à margem do povo e da democracia; finalmente o povo aceitá-la-á. A crise ajudará a dar à luz os Estados Unidos da Europa. António da Cunha Duarte Justo antoniocunhajusto@googlemail.com www.antonio-justo.eu

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Bênção de Homossexuais

A Excepção faz parte da Regra António Justo No sentido de proteger relações duradoiras, a Igreja Evangélica de Kurhessen-Waldeck, abençoa pares de sexo igual (homossexuais). Nesta Igreja passa-se, oficialmente, a dar a bênção a pessoas homossexuais. Com a bênção, a união de parceiros recebe caracter confiável e permanente, tornando-se, ao mesmo tempo, em sinal contra a troca frequente de relações ad hoc. O sínodo evangélico deste Estado reformou também a lei do serviço paroquial para párocos e párocas, abrindo assim as portas a párocos homossexuais. 80% dos sinodais aprovaram o texto e os restantes 20% votaram contra ou abstiveram-se. Apenas um problema de luta entre maiorias e minorias? Um advogam a leitura acrítica de textos bíblicos, outros, o humanismo e o progresso. Para uns estas medidas significam um afastamento da instituição da tradição bíblica sacrificada ao espírito do tempo. Para eles a Igreja nunca poderá aprovar uma prática "contra-natura" e fechada à vida. Por outro lado a Igreja faz casamentos de pessoas em idade fora do ciclo da reprodução. Alguns argumentam que a Igreja só condena a homossexualidade mas que tem compreensão e caridade pelos homossexuais. Assim, colocam os homossexuais numa situação de coitadinhos. Se se aceita os homossexuais mas não se aceita que eles pratiquem a sua homossexualidade, significaria que s teriam de ser celibatários e de renunciar ao amor íntimo (parceria amorosa). Para um homossexual, porém, a sua maneira de amar é sentida como natural e para cumprir o preceito teria de viver contra a natureza. A questão torna-se mais difícil num tempo em que há frentes muito duras escondendo-se, por trás de movimentos homossexuais organizados globalmente, grandes forças e agressão contra a Igreja Católica. Há homossexuais que vivem em contínuo conflito escondendo a própria homossexualidade perante a sociedade e perante a Igreja. Isto leva homossexuais crentes a viver com o problema ou a afastarem-se da Igreja. Muitos homossexuais têm uma tendência especial para a religiosidade, dado viverem em si, de maneira especial, uma parte da feminidade. Os homossexuais católicos são obrigados a ter uma perturbação na sua relação com a Igreja instituição. Segundo C.G.Jung, cada pessoa tem em si potencialidades masculinas e potencialidades femininas com correspondentes tendências homossexuais escondidas e não vividas, o que torna o combate de uns e de outros mais aferrado. A bênção é também uma consequência da misericórdia divina a ter em conta na pastoral. Irmana-nos a todos a luz e a treva. O que de um lado parece luz revela-se do outro lado treva e vice-versa. Sob o ponto de vista pastoral deveria, cada comunidade, cada pároco poder decidir, a partir da situação concreta, a possibilidade da bênção. Todos precisamos do amor de Deus e duma comunidade. O cristão e o não cristão não devem julgar uma outra pessoa pelo facto de ela ser homo ou heterossexual. “Por que olhas o cisco no olho de teu irmão e não enxergas a trave que há no teu? …Não julgueis e não sereis julgados” – dizia o Mestre. Seria óbvio aceitar a realidade de que, muitas vezes, o homossexual, com a sua inclinação natural, tal como o heterossexual, se encontra e vive em harmonia consigo e com o mundo. Porque criar desarmonia onde ela não está? Na natura tal como na cultura há regras e excepções a elas. Porque não aceitar concretamente a regra de que não há regra sem excepção? A tarefa da Igreja não se pode esgotar no seu aspecto didáctico-pedagógico. A pastoral, no encontro das pessoas, no terreno, não se pode esvaziar na defesa da ortodoxia mas sim integrá-la numa orto-praxia. Moral não é nenhuma mordaça, é apenas um capítulo do grande livro do cristianismo. Deus criou o mundo, Deus criou homossexuais e heterossexuais e verificou que tudo era bom. Só assim poderemos viver e celebrar a paz. Só assim nos encontraremos todos em casa. A característica comum a todo o humano é a fragilidade, são as faltas a todos comuns. No momento em que as não tivéssemos deixaríamos de ser humanos, de sermos reais. Somos peregrinos num mundo peregrino, não vale a pena sobrecarregar a mochila que cada um traz ou a dos outros com pesos que impedem o caminhar em conjunto. Quem me legitima a limitar Deus e a moral à sebe do meu pensamento se ainda não descobri sequer quem sou eu? Porque não meditar e verificar que aquilo que combatemos fora de nós (no outro) é o que temos dentro de nós? O combate distrai-nos de nós mesmos (da nossa ipseidade), impede-nos de nos descobrir no outro e de acariciar o outro em nós. Isto não é cristão António da Cunha Duarte Justo Teólogo católico antoniocunhajusto@googlemail.com www.antonio-justo.eu

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Assumir de novo a Bandeirância da Civilização Ocidental

A Hora Lusófona está a chegar (1) António Justo Como reacção ao meu artigo “Falta de Cultura da Europa face a outras Culturas mundiais - Europa Berço da Cultura jurídica da Humanidade” recebi, dum digníssimo professor duma universidade de Lisboa, o seguinte reparo: “Penso que, na apreciação dos três pilares europeus, lhe faltou a identificação de um quarto: o braço armado da projecção lusitana da Europa”. O Professor tem razão e motivou-me a reflectir sobre o assunto e a dedicar alguns textos ao tema, sob o meu ponto de vista. Status quo da Situação ocidental Se do encontro da fé de Israel, com a razão filosófica dos Gregos e o pensamento jurídico de Roma nasceu o grande projecto cultural europeu, o seu agir ganhou expressão, a nível global, no “peito ilustre Lusitano”. Os descobrimentos são, certamente, o quarto pilar da cultura europeia, o pilar do saber de experiência feito que Portugal soube concretizar. Sagres resumiu o saber (doxia) europeu e tornou-se no lugar da ortopraxia. Portugal ao saber-se Europa descobriu-se mundo. Por isso onde se encontra hoje um lusófono lá pulsa a alma toda do mundo. Conseguiu-o porque resistiu ao espírito oportuno do tempo indo-se assim “da lei da Morte libertando”, como bem descrevia Camões n’OS LUSÍADAS dos descobrimentos. O alemão R. Schneider, grande conhecedor da alma portuguesa, diz no seu livro “Camões / Philipe II”p.120 “nos Lusíadas não se trata apenas dum povo, mas sim da Humanidade”. Sim, da humanidade que actuava no Portugal de então. Camões canta a alma portuguesa (ainda inteira) que, não se deixando levar pelas lutas/modas de reforma particularistas de então, manteve a visão filosófica cristã global da humanidade, cultivada à sombra das ordens na tradição de Carlos Magno, longe dos interesses meramente individualistas. Portugal foi outrora o primeiro a expressar e a realizar o sentir e a pujança do ser europeu tal como hoje é o primeiro a expressar a sua fraqueza. Hoje como então Portugal é o palco de pontos altos da mudança. Outrora virada para o exterior e hoje de volta, para depois da crise moral e cultural se encontrar. A Europa medieval, aquela velha árvore que depois de ter estendido as suas raízes às diferentes civilizações até então vividas, floresceu no Renascimento. Desta florescência surgiu o ramo protestante, que começa a afirmar mais o valor do indivíduo, do eu (factor emancipador, a individuação) enquanto o catolicismo continuou a acentuar mais o valor da comunidade. Dois polos necessários, na vida social, que se encontram hoje em radical conflito. De facto, a Idade Média, que é mãe, comunidade, é nós, deu à luz o eu (individuação). Este ao tomar forma no movimento emancipatório protestante sente a necessidade de se afirmar contra a mãe. Mãe e filho afastam-se. Hoje temos uma europa de filhotes sem mãe, que se extenuam no seu cacarejar e na contemplação das próprias penas. A Europa ao combater a maternidade torna-se infecunda e assim sofre o mundo todo. Não suportamos a diferença nem a coexistência de extremos, num condicionalismo de reduzir e simplificar tudo a dimensões uniformes e rectilíneas. O ressentimento dos deuses germânicos contra Roma, no Renascimento, deu lugar ao desejo de liberdade que se fora articulando através da Idade Média e culminou na ruptura protestante com Roma. Assim se iniciam grandes convulsões religioso-político-sociais, e surge um novo sentir da vida, uma nova ordem económica, o capitalismo. A Europa rejuvenesce e transforma-se na procura de diferenciação e emancipação. A vertente protestante culminou no iluminismo, na proclamação da constituição dos USA e depois na revolução francesa e no enfraquecimento das monarquias. Esta importante vertente do desenvolvimento da Europa afirma o eu (a individuação) recalcando o espírito comunitário, o nós. Se na Idade Média a consciência individual ainda vivia em parte sob o manto da letargia institucional (nós à custa do eu) com o movimento emancipatório que ganhou forma no protestantismo começa-se a afirmar o eu (indivíduo) à custa do nós (comunidade). (Este movimento, encontra, actualmente, o seu extremo macabro no capitalismo liberal que reduz a pessoa a ego mercantil e transforma a essência do ego numa metafísica de consumo deixando o ser humano cada vez mais só no deserto do seu egoísmo.) Com os descobrimentos, enquanto na Europa os países se ocupavam consigo mesmos, Portugal já adulto (numa Europa ainda adolescente) assume em plenitude a mundivisão católica e burguesa, aliando-a ao desejo do novo e do “saber de experiência feito”. Portugal precoce realiza o ideário europeu que florescia então nos jardins da Lusitânia. A Europa alcança, através das viagens portuguesas (descobrimentos), um novo panorama do mundo. Este em vez de afinar os espíritos do sentir universal deu lugar à afirmação dos egoísmos nacionais e ao instinto colonizador. Em vez do sentimento do nós católico e universal temperado pelo outro polo, o protestantismo, apenas este encontra expressão na afirmação particular seja a nível estrutural seja a nível individual. A Europa afirma-se na divisão, o norte contra o sul, o politeísmo contra o monoteísmo mitigado. O mundo, à imagem da Europa, afirma-se então na divisão e no contraste em vez de integrar os polos contrários como pretendia o eclectismo complementar da alma portuguesa expresso pela ínclita geração. O despertar dos individualismos nacionais leva à afirmação do particular sobre o comum. Impõe-se a ganância à curiosidade, projecta-se a puberdade contra a maturidade. Os deuses do norte vingam-se contra os do sul. O politeísmo intelectual e político, então iniciado, tudo justifica, restabelece a mentalidade bárbara, não reconhece pai nem mãe, chega-lhe o bordel. Chegamos a um ponto de puberdade negadora duma tradição que lhe deu o ser e que é levianamente negada por uma sua parte. Esta não está consciente de que a negação provém da acentuação exagerada do outro polo que constitui a sua afirmação, o seu ideário. Entretanto o espírito emancipatório acentuou-se de tal modo que reprimiu o aspecto comunitário, só quer machos, a feminidade/maternidade constitui obstáculo ou é sufocada pelas estruturas vigentes, demasiado masculinas. Quer-se uma sociedade sem comunidade, querem-se filhos sem mãe. O ressentimento que hoje se expressa contra instituições, especialmente contra a EU, contra a Igreja católica, é o mais visível sintoma dum individualismo exacerbado que não conhece pai. O politeísmo da opinião não suporta a procura da verdade no sentido da unidade, circula em torno de si mesmo sem conhecer o sentido linear ascendente da evolução natural, individual e cultural. A crise actual é uma crise cultural e moral duma civilização que perdeu o seu ideário; é o resultado da acentuação do eu contra o nós, do objecto contra o sujeito. Socialismo e capitalismo sofrem do mesmo vírus epocal. Todo o mundo sofre em consequência da crise espiritual europeia que vendeu a alma ao Mamon para continuar a afirmar o seu polo individualista. O capitalismo exagerado machista foi-se afirmando à custa da comunidade até ao extremo de hoje se afirmar contra ela, não tendo escrúpulos em destruir os próprios Estados. Os países lusófonos, em vez de assumirem a nova mudança de consciência individual e histórica deixam-se destruir, sem tecto metafísico, seguindo sem reflexão própria os novos deuses e cultos que, de maneira anónima, em nome da emancipação se afirmam contra uma comunidade que albergue todos na complementaridade. A lusofonia, para assumir a bandeirância do progresso, tal como o Portugal de outrora, terá de descobrir-se a si mesma e de consciencializar-se e assumir o tecto metafísico que dê consistência à sua acção. Outrora, enquanto os povos da Europa combatiam pela definição de suas identidades políticas, Portugal, que já tinha encontrado a sua identidade nacional, pôde dedicar-se à tarefa original de levar ao mundo o espírito europeu. A bandeirância que fez nascer Portugal é a mesma que o torna adulto e o leva à expansão. A revolução axilar do renascimento que explode por um lado no protestantismo na procura duma individualidade que se expressa no capitalismo e no espírito cívico, afirma, por outro lado, o seu carácter global (católico – aspecto comunitário) na continuidade espiritual da escola de Sagres. Hoje encontramo-nos numa época axiomática da História na qual a crise não é só de ordem estrutural/mental mas espiritual. Os fundamentos que deram origem à grande árvore da civilização ocidental são descurados e as suas raízes sistematicamente amputadas. Em vez de nos preocuparmos com o que deu vida a esta árvore, serramos nela o próprio ramo em que nos encontramos. Depois da insónia desta crise surgirá porém o sonho que renovará o mundo; até lá os ventos da contradição continuarão a destruir pontos altos da nossa civilização. Ao ressentimento dos deuses germânicos, com o seu espírito capitalista, sucede-se agora o ressentimento socialista aliado à derrocada dum capitalismo liberal injusto que, como um polvo, procura abrir os seus tentáculos num globalismo aniquilador de nações. Junta-se a feiura do turbo-capitalismo à fealdade do comunismo materialista na tarefa de reduzirem as estruturas de Estado a seus veículos de ideologia trituradora da pessoa. O mito da Europa como vaca degenera-a agora em touro de cobrição. Como um touro de olhos fechados sai do curro ocidental para dominar o mundo, destruindo a cultura que lhe deu o ser, não respeitando os ecossistemas culturais. É verdade que as “constelações postnacionais” de que fala o filósofo alemão Habermas já não podem resolver os seus problemas sozinhas pressupondo isto o abandono de individualismos nacionais e culturais mas sob o tecto metafísico civilizacional que lhes deu o ser. Se o desejo de individuação, no renascimento, deu lugar à “monolatria” protestante, o modernismo volta ao politeísmo anterior à civilização. Deixou-se de considerar o mundo como um conjunto de ecossistemas sociais com as suas leis e ordem inerente para os transformar em biótopos individualistas em que as divindades se sobrepõem umas às outras tornando notórias as fracturas a nível ideário, estrutural e pessoal. A nível ideário e cultural assiste-se à batalha do politeísmo contra o monoteísmo. Se o conflito surgido do renascimento (dois modelos de vida sob o mesmo teto metafísico) era expressão da força dum sistema e duma vivência, a crise a que assistimos hoje revela-se decadente (sem sentido, destroem-se modelos à margem dum ideário colectivo que justifique tal actuação). O saber deu lugar à opinião fundada em castelos no ar. A nação deu lugar a estados à mercê de mercenários que em nome duma europa mal-entendida se afirmam. Estes, para se sentirem mais à vontade mandaram a cultura ocidental para rua sem qualquer guarda-chuva espiritual. Resultado: chuva ácida nos biótopos naturais e nos ecossistemas culturais. O capitalismo e o socialismo, dois filhos pródigos do cristianismo, depois de terem provocado grandes buracos no ecossistema espiritual ocidental, parecem, não querer voltar à velha casa paterna onde, juntos, a poderiam renovar, engrandecer e projectar. Preferem seguir o poder da monocultura masculina islâmica e a desorientação do politeísmo oriental. Nestas, o indivíduo encontra-se indefeso, à chuva, e sem privacidade com a própria divindade. Desprotegido e desalojado dos ecossistemas sociais, fica mais disponível para o mercado e aberto a ideologias baratas e a uma oligarquia anónima mundial. Enquanto o espírito europeu envelhece, no Brasil e nos países da lusofonia, a antiga vontade poderia erguer-se. A lusofonia surge como lugar duma nova missão no mundo. Nela se podem congregar os anseios do velho Portugal com as ânsias das novas gerações. Como parte do legado, visto da perspectiva portuguesa temos o espírito universal católico, e os escritos de Camões, de António Lopes Vieira, de Fernando Pessoa, etc. Não chega apostar apenas em ideologias, estas passam como os ventos entre a alta e a baixa pressão, é preciso ter-se presente o eixo que tudo suporta e dá continuidade a quem conta com o futuro; para os lusófonos, este eixo é o cristianismo com a sua perspectiva mística do triálogo. A filosofia e a espiritualidade cristãs terão de, num processo de aculturação e inculturação, se tornar num verdadeiro tecto metafísico do mundo da lusofonia. Neste sentido será necessário manter o modelo católico calibrado com o espírito protestante. A bandeirância outrora assumida por Portugal na Europa espera por ser assumida e renovada por todos os países da lusofonia. A nova bandeirância já não será de carácter expansionista para o exterior mas para o interior, da quantidade para a qualidade num espírito integrativo e de complementação num processo de integração de espírito e matéria, de ecologia e tecnologia. A força em toda a natureza vem de dentro para fora muito embora seguindo o chamamento da luz; o mesmo se diga dos ecossistemas culturais e dos seus biótopos humanos. Não podemos continuar a cultivar árvores repelindo a floresta. No passado dominou o princípio dialéctico (um sistema de pensamento redutor elaborado na contradição/dissecação) como princípio de pensamento e da realidade que se reflecte na nossa maneira de organizar a sociedade e a vida individual numa espécie de dicotomia entre indivíduo e sociedade, superior/inferior, sujeito/objecto. O novo pensar será trinitário equacionando o problema dos contrastes num triângulo circular ascendente. Numa cadeia de relações infinitas dum contínuo tornar-se, num processo espiral ascendente que transcende o espaço e o tempo na dinâmica da união que se não limita a um estado momentâneo mas se expressa na sua dinâmica relacional, numa nova Realidade que engloba o real aparente despetreficando-o para um estado fluido, para lá do momento e das amarras da definição que são o espaço e o tempo. A relação torna-se então processo pessoal e não estado, deixando de ser objectivável no todo e no particular. A Realidade desinforma-se para se consciencializar do ser in do processo in-formar. Então a relação torna-se pessoal, é tornar-se, essência relacional; o in (do in-formar antes e depois da forma numa dinâmica de pai-filho-paráclito) da a-perspectividade resolve a aparente contradição matéria-espírito, indivíduo-sociedade, eu-tu, na dimensão da vivência superadora da alternativa através do paráclito. O indivíduo passa a ser pessoa e a sociedade a ser comunidade. Nós só exercitamos a perspectiva funcional da relação e por isso petralizamo-la numa ou noutra identidade. Em Jesus cristo exclui-se a exclusão mútua de matéria e de espírito. Nele (JC) torna-se visível uma unidade dinâmica do tornar-se da petrificação (J) e do fluido (C); a relação duma com a outra possibilita-se num processo de mudança concretizado na relação pura (o paráclito). Aqui dá-se já não um progresso quantitativo (estados), negador do anterior ou afirmador do posterior, mas uma dinâmica da relação pessoal (de ipseidade) em que o outro participa do espírito comum a toda a realidade em relação. A base constante é a divindade subjacente a tudo, a todos comum, num processo universal sem funções dado a relação ser pessoal num eterno tornar-se (“eu sou o tornar-se”, dizia Deus a Moisés) para lá do acontecer. A oposição dialéctica do eu/tu, eu/objecto resolve-se na realidade trinitária dum eu-tu-nós. Passamos a não ter apenas o diálogo como o contrário do monólogo, como relaç1bo entre objectos, mas o triálogo como integrador do diálogo, do monólogo e do “objecto” num processo de sujeito-sujeito. A dialéctica passa a ser integrada como momento do processo e a não ser vista como realidade ou espelho da mesma. Isto tem como consequência uma outra forma de vida e de estar superadora duma pedagogia, duma política e duma economia meramente objectivante. Uma nova filosofia de Estado pressuporá a união da filosofia com a mística, uma aplicação prática da filosofia trinitária. A Hora da lusofonia está a chegar, precisam-se faróis por todo o espaço lusófono. Para isso terá de coadjuvar-se modernidade e tradição, maternidade e filiação, o indivíduo passar a ser pessoa e a sociedade a ser comunidade. “O espírito do mundo desce ao Brasil e abandona a América iankye. A China cairá brevemente com a sua crise demográfica e é preciso preparar a Lusa- áfrica pela mobilização do Brasil”, confessava-me o amigo. (continua) António da Cunha Duarte Justo Teólogo, Pedagogo e Jornalista antoniocunhajusto@googlemail.com copyright in www.antonio-justo.eu

Porque nos guerreamos mesmo no amor?

Sempre que vou à praça encontro pessoas e amigos/as com problemas que me tocam de perto porque elas e eles fazem parte da minha vivência. Encontro amigos e amigas que sofrem porque a relação com os seus parceiros não corre como, no seu sentir, seria de desejar. É um problema por que toda a gente que vive passa, quando entra numa relação mais íntima com alguém. Naturalmente que na relação de parceiros um naco pode ser mais difícil que o outro correndo cada um o perigo de se fixar mais na parte escura do outro e assim esconder, inconscientemente, a própria escuridão. Cada um envove-se então uma tarefa inglória, a tarefa de mudar o outro; o combate torna-se constante e com fim trágico se não se mudarem os dois. Cada parceiro traz consigo muitos problemas psíquicos inatos ou adquiridos, encontrando-se, muitas vezes, vergado sob a própria cruz, sem espaço para ver novos horizontes. Além disso, numa relação matrimonial ou numa relação íntima, há sempre três fases: A primeira fase é a do apaixonamento A segunda fase é a da luta, da luta por dominar o outro. A terceira fase é a fase da aceitação e do amor. Em todas as relações há sempre momentos de mistura das três fases, fases estas, que acontecem paralelamente. O problema é que os pares continuam por muito tempo em luta e esta tem de ser superada pela aceitação do outro como ele é. A segunda fase tem de ser superada pela terceira fase que é a aceitação do outro como ele é. Cada um traz problemas consigo mas só cada um terá de regular a própria situação, independentemente do outro. Uma pessoa não pode interferir com o desejo de mudar o outro, pode manifestar desejos mas sem serem desejos gancho. Quem o fizer já perdeu a razão e não respeitou o outro. O que geralmente acontece é que as pessoas lutam sempre durante o tempo de vida que estão juntos, e, assim, a vida passa-lhes ao lado. Deixam de ser sujeitos da vida para passarem a ser seus objectos. Criam-se expectativas irrealistas sobre o parceiro. Objectivamente podem estar certas as observações que se fazem sobre o parceiro mas isso não justifica o poder que se quer ter sobre ele. Não temos o direito de impedir a vida do outro nem o outro tem direito de impedir a nossa. Há objectivos comuns que se vão adquirindo no compromisso e respeito mútuo. O respeito de um pelo outro pode ser um ponto de orientação; se o há quer dizer que a relação ainda não morreu. O meu sofrimento não acabará enquanto não conseguir deixar o parceiro ser como ele é e enquanto ele não me aceitar como sou. Isto é muito difícil. Mas uma pessoa pensa que tem mais razão que o parceiro. Então bombardeamo-lo com ideias, conselhos e moralismos. Verdade é que ele ou eu aprendemos sobretudo através dos erros. Geralmente aprende-se através dos erros, não através das correcções. Quanto mais tempo dura a luta mais rígidas se tornam as atitudes e os papéis, dum lado e do outro. Problemático torna-se que cada qual, no meio de tanta luta, se esqueça de viver e perca o comboio da vida. Importante é desenvolver-nos e descobrir-nos, descobrir-nos como mundo e como parte dele. Então, em vez da raiva surge a compaixão. Também não podemos esquecer: Quando alguém nos fecha uma janela Deus abre-nos uma porta. A nova situação pode tornar-se oportunidade para um renascer. Importante é que sejas cada vez mais tu (sujeito não objecto) deixando de ter o outro como muleta. Então a vida sorrirá e na vegetação do teu jardim brilharão todas as cores do arco-íris. Em qualquer relação o importante é que tu te tornes tu e não definas a tua personalidade pela dos outros nem a dos outros pela tua. Ao tomares consciência de ti descobres os outros também. Faz tu o que pensas que é bem para ti independentemente do que os outros pensam e a vida te trará muito perfume e brilho também. Importante é que se trate os outros sempre bem também. Doutro modo corres o perigo de querer atingir o impossível e de te esgotares nisso. A demasiada identificação com o outro ou consigo mesmo pode tornar mais difícil a própria aceitação e a aceitação dos outros. A demasiada fixação em si mesmo ou no outro deve ser contrabalançada com uma actividade ou ocupação que dê sentido à vida doutro modo torna-se o parceiro ou a própria pessoa o único conteúdo da vida e isto é mortal! Geralmente, na nossa vida, fazemos do nosso ser um palco em que deixamos alternar cenas em que somos dirigidos pelo eu infantil ou pelo eu paterno em vez de nos descobrirmos como eu, como ipseidade, como eu adulto. Jogamos às escondidas connosco mesmos entre o nosso eu infantil e o nosso eu paterno distraindo-nos do nosso eu adulto e responsável. Assim abdicamos de ser adultos e responsáveis, sendo amarrados à trela dos outros. Há que descobrir em nós o mesmo Sol que a todos puxa e quer de nós luz. António da Cunha Duarte Justo antoniocunhajusto@googlemail.com www.antonio-justo.eu

sábado, 3 de dezembro de 2011

Índice de Corrupção nos Países lusófonos e no Mundo

Angola ocupa o pior lugar dos lusófonos, no 168.º lugar A Organização não-governamental Transparência Internacional (TI), com sede em Berlim publicou agora os resultados das suas investigações. No Índice da Percepção da Corrupção 2011 que avalia 183 países e territórios, numa escala ascendente de corrupção, Portugal ocupa o lugar 32. Dos países lusófonos segue-se-lhe Cabo Verde no 41.° lugar; Cabo Verde ficou no 45.° lugar; Brasil no 73.º lugar; Moçambique ficou na 120.° lugar; a Guiné-Bissau encontra-se entre os mais corruptos no 154.º lugar; São Tomé e Príncipe está na 100.° lugar. Angola ocupa o pior lugar dos lusófonos, no 168.º lugar. Os mais corruptos são a Somália, Coreia do Norte, Myanmar e Afeganistão. Os mais exemplares são a Nova Zelândia, a Dinamarca e a Finlândia. Escala ascendente dos países menos corruptos para os mais corruptos: 1.Nova Zelândia; 2. Dinamarca; 3. Finlândia; 4. Suécia; 5. Singapura; 6. Noruega; 7. Holanda; 8. Austrália; 9.Suíça; 10. Canadá; 11. Luxemburgo; 12. Hong-Kong; 13. Alemanha; 14. Japão; 15. Áustria; 16. Barbados; 17. Reino Unido; 18.Bélgica; 19. Irlanda; 20. Bahamas; 21.Chile; 22. Quatar; 23. EUA; 24.França; 25. Santa Lúcia; 26 Uruguai; 27. EAU; 28. Estónia; 29. Chipre; 30. Espanha; 31. Botswana; 32. Portugal; 33. Taiwan… 41. Cabo Verde… 73. Brasil… 80. Grécia… 100. S. Tomé e Príncipe… 120. Moçambique… 154. Guiné-Bissau… 168. Angola… 182. Coreia do Norte e Somália (últimos lugares). O índice de corrupção de Portugal é de 6,1, numa escala de 1 a 10. Estes dados são recolhidos por 13 organizações com base em 17 fontes de informação.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Frankfurt é Símbolo e Programa e o seu Vice-consulado de Portugal também

Carta aberta ao Senhor Ministro Dr. Paulo Portas e aos Senhores Deputados - Frankfurt é Símbolo e Programa e o seu Vice-consulado de Portugal também Com conhecimento a suas excelências O Presidente da República O Primeiro-ministro O Ministro das Finanças Conselho Consultivo junto do Vice-Consulado de Portugal em Frankfurt Zeppelinallee 15, 60325 Frankfurt am Main C/o António da Cunha Duarte Justo Porta-voz do Conselho Consultivo Tel.: 00049 561 407783, E-mail: a.c.justo@unitybox.de 2 de Dezembro de 2011 Excelência, A reestruturação da Rede Consular Portuguesa levada a cabo pelo PS em 2009 foi “cega” e a reestruturação, em via, revela-se também incoerente e injusta. Frankfurt está a ser vítima de algo irracional: o governo PS despromoveu Frankfurt para Vice-consulado para promover o escritório consular de Osnabrueck a Vice-consulado e agora o governo PSD/CDS-PP quer encerrar os dois. Foi esquecido que Frankfurt – a Capital financeira e económica da Europa – é Símbolo e Programa. Uma reestruturação de envergadura implicaria um novo perfil de diplomata, uma redefinição de hierarquia e de estratégia de intervenção operacional e uma delegação de poderes não tão condicionada a modelos tradicionais jurídicos anteriores à União Europeia. Um novo organigrama das instituições e uma redefinição de serviços bem como órgãos de controlo isentos exigem mais tempo para concretização. O tempo de postos feudais necessita de ser questionado para começar a fazer parte do passado. O mesmo se diga quanto às organizações de reivindicação sindical. A escala de poderes e de competências, nem sempre coincidentes, pressupõe um fio condutor que concilie o ideário de Estado e a sua acção numa interligação hierárquica de serviço e eficiência com órgãos de controlo exteriores ao poder executivo. A indigência em que Portugal se encontra poderá levar a uma remodelação na hora, em cima dos joelhos. A desconsideração por Frankfurt será tomada como símbolo de negligência da economia portuguesa e base de desmotivação para jovens portugueses de espírito inovador que lutam também por um Portugal respeitado e eficiente. Portugal não pode continuar a viver só da sua imagem. A dignidade do próprio Estado a ser representada e a eficiência de serviços ao serem aferidas às novas exigências de modernização não podem emperrar nas barreiras duma burocratização técnica de subalternização e de mero economicismo. Urge substituir títulos pomposos e maneirismos por conteúdos e competências humanas e técnicas com base na funcionalidade, operacionalidade e transparência. Quando os políticos falam em manter presenças consulares, isso não ajudará nem o país nem os utentes, pois poderá tratar-se de um serviço meramente documental limitando-se a pouco mais do que a emissões de cartões de cidadão ou passaportes, que qualquer cidadão que se desloque a Portugal poderá ali tratar. O serviço consular é muito mais que isso. Onde fica a parte humana e onde ficam as intenções de diplomacia económica tão apregoadas pelo senhor ministro? Se algo houvesse a alterar relativamente à Alemanha, seria despromover consulados e consulados-gerais, racionalizar custos de instalações e pessoal. Frankfurt é a capital não só financeira como também económica da Europa e, a justificar isso está o facto de ser Frankfurt onde estão o maior número de consulados estrangeiros. O vice-consulado de Frankfurt serve também 30.000 portugueses em três Estados federados na Alemanha: Hessen, Renânia-Palatinado e Sarre. O número de actos consulares de Frankfurt aumentou ultimamente mais de 30%. Frankfurt preenche todos os objectivos conhecidos a que o senhor ministro se propõe nesta reestruturação, tal como prestar um bom serviço às comunidades emigrantes que consequentemente enviam as suas economias para o país. Pretende-se passar o VC Frankfurt para a jurisdição de Estugarda, uma cidade de província, comparada com Frankfurt. Naquela cidade há apenas 12 consulados-gerais (incluindo o de Portugal), bem como 45 consulados honorários e 12 consulados. Em Frankfurt há 50 consulados-gerais, 45 consulados honorários, 6 consulados e um vice-consulado (o português). A lógica da governação portuguesa parece andar ao contrário da lógica dos outros. Será que os decisores do nosso país são mais espertos que os dos restantes 44? Não contando com todos os outros consulados aqui radicados que são mais de 100. Quanto a Estugarda o senhor cônsul-geral está para atingir a idade de reforma, podendo também aqui poupar-se um posto de cônsul. Também relativamente à evolução do comércio externo de Portugal, Frankfurt será crucial para o investimento estrangeiro e para a sede das empresas portuguesas (a economia de Hessen cresceu no 1º semestre deste ano 4,3%). É em Frankfurt que está sediada a Federação dos Empresários Portugueses na Alemanha (um diálogo com o seu presidente poderia criar condições de instalações consulares vantajosas), as feiras, o Banco Central Europeu e tudo o mais que já se tem vindo a argumentar. Alguém acha que há cidade na Europa estrategicamente mais importante que Frankfurt, excluindo as capitais? Só a palavra “Frankfurt” é programa e dá resposta a todos os critérios. Uma forma adequada e justa de resolver o problema seria reparar o erro cometido em 2009. Naturalmente que cônsules, conselheiros e embaixadores deveriam ser medidos pelo que produzem e não apenas pelo cargo que tudo parece justificar. Há alternativas ao encerramento de Vice-consulados: Despromover consulados e consulados-gerais para Vice-consulados; controlar a produtividade dos postos consulares, comparar as estatísticas dos actos consulares entre eles, poupar nas instalações (é escandaloso o que Portugal paga de renda por mês pelas instalações em Berlim – segundo consta cerca de 60.000 euros mensais, só pelas instalações), poupar no pessoal superior e substituí-lo por pessoal médio. Em Frankfurt os custos de arrendamento podiam ser reduzidos para metade. Outras razões, que não as de poupança e de racionalização, levam ao fecho do Vice-Consulado de Frankfurt. O Senhor Ministro Paulo Portas e o Senhor Secretário de Estado José Cesário estão a ser mal-informados. O encerramento de Frankfurt e de Osnabrück não fecham por razões económicas, porque, com uma gestão mais racional, quase se suportariam a si mesmos. Para isso seria necessário também actualizar a tabela de emolumentos consulares de uma forma justa. Neste momento há actos que exigem dos funcionários várias horas de trabalho e não custam nada ao cliente. Por exemplo o reconhecimento das sentenças de divórcio e respectivos averbamentos aos registos de nacimento dos utentes! As certidões de nascimento e casamento em Portugal custam 20 euros. Na tabela consular continuam a custar 16,50 euros. O senhor ministro disse no parlamento que, com os encerramentos, consegue poupar na rede diplomática 12 milhões de euros em 2012. Em vista ao que se poderia poupar nas instalações e administrações portuguesas, a quota-parte de poupança na Alemanha ainda parece pouca, em relação ao que se poderia poupar se se apostasse numa poupança racional e no trabalho produtivo. Uma opção neste sentido manteria certamente Frankfurt. Na Alemanha poupa-se nos pobres para deixar os grandes viver à grande e à francesa! Nestes, nos diplomatas que custam ao erário público 12 a 20 mil euros por mês, é que se deveria poupar mais. Reduzam-se imediatamente os subsídios mensais de representação e de residência em 50%. 7.000 Euros de subsídio de representação mensal para um senhor cônsul é um escândalo, não falando já do subsídio de residência. Para uma remodelação de poupança inicial bastaria uma despromoção de cargos em favor de trabalhadores de actividades produtivas e controladas. Não dá para acreditar que o senhor ministro Dr. Paulo Portas encontre razões sérias para encerrar o Vice-consulado dum lugar estratégico e único como o de Frankfurt. O “lobby” dos diplomatas está a vencer mais uma vez e o senhor ministro a perder e Portugal a perder também. A reestruturação, no caso da Alemanha, longe de se revelar como uma reestruturação por motivos económicos, ao proceder à extinção dos dois vice-consulados (Frankfurt e Osnabrueck) manifesta-se arbitrária extinguindo vice-consulados quando estes fazem praticamente o mesmo que um Consulado-Geral e custando metade deste; nos consulados e embaixadas poder-se-ia poupar a parte do leão em dinheiro. O senhor ministro está a ser mal informado sobre a importância do Consulado em Frankfurt e a ser levado pela grande força que são os diplomatas de carreira (cônsules e embaixadores), e certamente pela burocracia da Direcção dos Serviços Consulares, numa tentativa de defenderem postos de trabalho superiores contra postos de trabalho dos trabalhadores consulares. Certamente deixou-se também, na fase inicial, impressionar pelo sindicato das embaixadas e consulados que só saltou para a arena no momento em que viu o vice-consulado de Osnabrueck ameaçado. Hamburgo, que tem apenas 8.000 portugueses, tem um cônsul, um vice-cônsul e ainda outro funcionário superior está a ser poupado. Porque não reduzir, entre outros, também Estugarda a Vice-consulado, porque não se racionaliza o pessoal da Embaixada e os gastos com o imóvel? Porque não se alarga a zona de atendimento do VC de Frankfurt ao norte da vizinha Baviera? Não se justifica mais que um único Consulado-Geral por país. No final da manifestação de 5 de Novembro contra o encerramento do VC de Frankfurt, alguns manifestantes sugeriram novas formas de protesto, formas mais espectaculares, tais como, ocupação simbólica do vice-consulado, manifestações em cadeia à frente do Vice-Consulado, assumidas rotativamente pelas associações. Recolhemos quatro mil e tal assinaturas contra o encerramento, que aguardam audiência para entrega à Presidência da República. Senhor Ministro, seria mal continuar a tradição de poupar no pessoal barato para continuar a gastar no pessoal de luxo que para lá de algumas espertezas quase só deixa despesas. A dignidade dum país prova-se na capacidade de trabalho e na justiça social; a dignidade mais que ser representada, precisa de ser vivida. A decisão de encerramento, a ser levada avante, deixaria uma grande amargura na população e uma dúvida da racionalidade da gestão portuguesa. Num futuro próximo o governo teria de rever a sua posição. António da Cunha Duarte Justo Porta-Voz do Conselho Consultivo do Vice-Consulado de Frankfurt www.antonio-justo.eu

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Manifestantes não aceitam o Encerramento do Vice-Consulado de Frankfurt

Uma Manifestação Diferente Previstas novas formas de Luta António Justo A manifestação começou às 13h00 na praça da Ópera de Frankfurt e terminou às 15h30 na Zeppelinalle junto ao Vice-Consulado (VC). A Manifestação começou com cerca de 1000 manifestantes (segundo informação de participantes) estando no comício final junto ao consulado, segundo informação da polícia, cerca de 400 a 500. Estiveram presentes a televisão alemã hr-Fernsehen und Hessische Rundfunk e o Frankfurter Rundschau. A Imprensa portuguesa na Alemanha marcou pela ausência. No local de ajuntamento inicial, Junto à Ópera, foi transmitida a música/poema “Longe Daqui „de Pedro Barroso. Durante o cortejo com muitos cartazes e acompanhado de tambores, de palavras de ordem como “Ministro Portas não nos feche as portas” e de cânticos revolucionários, não faltou mesmo a primeira estrofe do Hino Nacional com a adaptação: “contra os barões lutar” em vez de “contra os canhões lutar”. Ao chegarem ao VC os manifestantes lançaram ao ar 100 balões com as cores da bandeira portuguesa. De seguida tomou a palavra o coordenador da demonstração António Justo, porta-voz do conselho consultivo junto do posto consular (cf. texto em nota) seguindo-se a voz de Helena Barreto, acompanhada à viola por José Luís Coelho que intercalaram os discursos com a "Cantilena" (Cortaram as asas ao rouxinol) letra de Sebastião da Gama, música de Francisco Fanhais, com a " Trova do vento que passa" música de António Portugal e letra de Manuel Alegre; as duas violas e a bela voz de Helena reflectiram bem o estado de espírito dos manifestantes, também, com "Ei-los que partem". Foram ainda declamados em Português e alemão os poemas de Fernando Pessoa: “Mar Português” e “Quinto Nevoeiro”. O conselheiro Alfredo P. Cardoso, do CCP, manifestou a sua solidariedade com o Conselho Consultivo e com os manifestantes apelando também ele ao governo para que não encerre as portas do VC. Vítor Estradas, Presidente da FAPA, transmitiu telefonicamente a sua solidariedade com o Conselho Consultivo do VC e com os manifestantes. Toda a comunidade portuguesa, distribuída pelos três Estados alemães, contribuiu duma maneira ou doutra na campanha contra o fecho do VC, concorrendo também para o sucesso e bom decorrer da manifestação. Houve pessoas que trabalharam muito sem se encontrarem sob os holofotes do público, como foi o caso de Carlos e Dina André, Manuel Costa, Apolinário Madeira, Cristina Arad e muitos outros. De não esquecer também o contributo da TFM, na feitura dos autocolantes contra o fecho do consulado, distribuídos aos manifestantes e público. Apenas um aspecto negativo: a comparticipação de ranchos fardados foi bloqueada por alguns. De mencionar também o facto de, na manifestação, também algumas pessoas com os trajos dos grupos folclóricos terem sido objecto das câmaras da TV alemã. António Justo entregou algumas listas de abaixo-assinados à funcionária consular Irene Rodrigues, apenas como símbolo da iniciativa de assinaturas que serão entregues na presidência da república depois dos meados de Novembro. Por solicitação de António Justo a funcionária Consular Irene Rodrigues saudou os portugueses e encerrou a demonstração. Foi comovente o encontro dos manifestantes com o pessoal do consulado que durante a manifestação tinha permanecido nas instalações consulares. Vários manifestantes sugeriram que, em Dezembro, se iniciem acções espectaculares junto ao Vice-consulado de maneira a chamar a atenção dos Media e dos políticos para o grave erro que constituiria o encerramento do Consulado. Da observação dos manifestantes presentes na manifestação depreende-se uma forte solidariedade entre grupos e pessoas independentemente das opões políticas. Versão portuguesa do discurso de António Justo: Caros Manifestantes/ Minhas senhoras e meus senhores. Estamos todos de Parabéns. Esta é a hora portuguesa aqui em Frankfurt. Somos Portugal e ao sermos Portugal trazemos no nosso coração o mundo inteiro. Temos sido um povo usado e abusado por elites que muitas vezes se têm revelado mercenários de Portugal. Caros portugueses Portugal atravessa uma hora dramática da sua história. Portugal precisa da ajuda dos portugueses, dos luso-descendentes e dos seus amigos alemães. Portugal precisa de poupar. Precisa de poupar mas com perícia, imparcialidade e justiça. Se Portugal reduzisse aqui na Alemanha dois consulados para vice-consulados já pouparia dinheiro mais que suficiente para manter um vice-consulado. O vice-cônsul pode fazer o que um cônsul faz e muitíssimo mais barato. Levem-nos um cônsul e deixem-nos o vice-consulado. Um consulado honorário também não seria solução. Um consulado honorário para quem? Já nos chega o exemplo do consulado honorário de Munique! -Torna-se difícil contra-argumentar, aqui, convenientemente, dado não haver motivos para o encerramento e este ter sido perpetrado pela calda da noite, pelos senhores do Olimpo, pelos senhores diplomatas, sem que Frankfurt fosse sequer chamado a dizer uma palavra sobre o assunto. O único diálogo, a única comunicação que houve foi uma ordem: entreguem as chaves do posto consular ao senhorio até fins de Dezembro. O Senhor Ministro Dr. Paulo Portas está a ser enganado por quem o aconselhou. Se encerrar Frankfurt manifesta-se cativo dos senhores diplomatas de carreira e de interesses obscuros. Frankfurt está a ser sacrificado devido a um acto irracional em favor de diplomatas de carreira. Sacrificam-se os serviços ao povo encerrando o vice-consulado para poupar algum cargo a carreiristas. - Na área consular de Frankfurt (Hesse, Renânia Palatinado e Sarre), somos 30.000 portugueses. Em toda a Alemanha 117.000. - Frankfurt ocupa o terceiro lugar na Alemanha na efectivação de actos consulares, sendo o segundo a poupar mais. - Frankfurt é o local onde se regista o maior número de votos para as eleições portuguesas. - Frankfurt – é o grande centro financeiro centro da Europa, com o maior nó internacional de ligações estratégias, feiras internacionais do automóvel, dos têxteis, do livro, etc. A expansão da economia portuguesa teria de passar por aqui. As outras nações sabem disso; por isso Frankfurt é a cidade alemã com maior número de consulados: 104. É o lugar ideal para fomento de ligações económicas entre firmas portuguesas e alemãs. -Frankfurt poderá apoiar os altos representantes governamentais ao fazerem escala no aeroporto internacional de Frankfurt. - O encerramento obrigará pessoas a grandes deslocações e a correr o perigo de não serem atendidas no mesmo dia. Frankfurt é central e ao VC poderia ainda ser anexado parte do Estado Federado da Baviera, tal como acontecia noutros tempos. -Reduzam-se as despesas, das Instalações do VC de, para metade (de 5.800 Euros mensais para metade, ou menos ainda, passando a ocupar um só andar. Estava concebido para doze funcionários, no tempo das vacas gordas. Até ao princípio deste ano tinha 6 funcionários. - A longo prazo poderia tornar-se mais económica a compra dum edifício que reunisse VC, Turismo e TAP. -Nos termos de rescisão legal de contratos, com indemnização, também se poderia proceder a uma redução de pessoal. O Vice-cônsul poderia delegar tarefas no n° 2 dos serviços para ter disponibilidade para a vertente económica. -Não teria sentido extinguir-se um VC com uma área de 30 mil portugueses e manter- se um consulado com 11 mil e ainda o luxo dum cônsul. - Em todas as representações diplomáticas da Alemanha poderá poupar-se muito dinheiro ao erário público. DIVIDA-SE O HAVER E O DEVER. HÁ MUITAS VIABILIDADES DE POUPAR. Faça-se o levantamento das despesas das diversas estruturas. O Consulado de Hamburgo nada em luxo estando ao serviço dum terço dos portugueses em comparação com Frankfurt - Portugal daria um bom exemplo a nível internacional se todas as despesas/subsídios de representação e de subsídio de residência fossem reduzidas para metade. - Num momento em que a economia portuguesa necessita de impulsos à exportação, e a Europa está atenta à política portuguesa, o encerramento seria um falso sinal sob o ponto de vista de estratégia económica. Atendendo à realidade factual, o possível argumento de encerramento por medidas de austeridade é falacioso escondendo certamente algum negócio menos limpo. Precisa-se dum novo formato de postos consulares e de uma nova geração de diplomatas - menos medievais e mais democratas. Para isso podiam ser recrutados jovens da segunda e terceira geração, verdadeiros embaixadores interculturais e da economia. Com o encerramento deste vice-consulado, o Estado português abandonaria um ponto estratégico do mais alto prestígio internacional e de vital importância económica, política e cultural. Uma representação antiga que remonta já a 1960. Estamos aqui a marcar uma nova forma de protestar, uma inovação nas formas de manifestações. Com a nossa manifestação quisemos mostrar a vontade de defender o nosso VC e expressar a pluralidade e a capacidade de inovação dos valores da nossa cultura. Estamos a construir Portugal não só com as nossas remessas mas com interesse que os luso-descendentes fundem firmas e negócios e que as instituições portuguesas no estrangeiro se tornem em verdadeiras promotoras de Portugal. Viva os portugueses, viva os nossos amigos estrangeiros, viva os amigos alemães, viva Portugal. António da Cunha Duarte Justo Porta-voz do Conselho Consultivo Tel.: 00049 561 407783, E-mail: a.c.justo@unitybox.de Manifestação, Frankfurt am Main, 5.11.2011 www.antonio-justo.eu

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Uma forma diferente de manifestar: expressão genuína da maneira de ser português

Conselho Consultivo junto do Vice-Consulado de Portugal em Frankfurt Zeppelinallee 15, 60325 Frankfurt am Main C/o António da Cunha Duarte Justo Porta-voz do Conselho Consultivo Tel.: 00049 561 407783, E-mail: a.c.justo@unitybox.de Comunicado aos Órgãos de Informação Portugueses e Ranchos a manifestar e a dançar Portugal pelas ruas de Frankfurt Uma forma diferente de manifestar: expressão genuína da maneira de ser português Não ao encerramento do Posto Consular de Frankfurt No próximo Sábado, 5 de Novembro, dia da grande manifestação contra o encerramento do Consulado de Frankfurt, farão parte do cortejo grupos de folclore que actuarão também durante a marcha. No final da manifestação também serão declamadas poesias em Português e em Alemão. A Manifestação tem início às 13h00 na Praça da Ópera (Alter Oper) e termina às 15h00 em frente às instalações do Vice-Consulado, na Zeppelinallee N. 15. Contamos com a presença de 1.000 a 3.000 manifestantes. Esta é uma manifestação inovadora. Procuramos trazer à rua não só a voz política mas também a voz cultural. Não é contra alguém, é uma manifestação pela Razão! Queremos voltar ao espírito global dos nossos antepassados unindo o civismo e a exigência à festa! António da Cunha Duarte Justo Porta-voz do Conselho Consultivo

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DEMONSTRATION GEGEN DIE SCHLIESSUNG DES PORTUGIESISCHEN VIZE-KONSULATS IN FRANKFURT

Beirat des portugiesischen Vize-Konsulats in Frankfurt Zeppelinallee 15, 60325 Frankfurt am Main C/o António da Cunha Duarte Justo Sprecher des Beirats des portugiesischen Vize-Konsulats in Frankfurt E-mail: antoniocunhajusto@googlemail.com Mittelung an die Medien DEMONSTRATION GEGEN DIE SCHLIESSUNG DES PORTUGIESISCHEN VIZE-KONSULATS IN FRANKFURT Wirtschaften bedeutet nicht nur sparen – Nein zur Schließung des Konsulats Die Portugiesen wehren sich gegen die Absicht des Außenministeriums, das Vize-Konsulat von Frankfurt zu schließen. Die Fläche des Konsulats umfasst Hessen, Pfalz und das Saarland. Von den 117.000 Portugiesen, die in Deutschland leben, wohnen 30.000 in dieser Region. Es ist dasjenige portugiesische Konsulat, das in Deutschland an dritter Stelle steht, was konsularische Handlungen betrifft und an zweiter Stelle bezüglich Sparsamkeit. Ökonomische Modernisierung und Erneuerung der Diplomatie setzt das Bewusstsein für die wichtigeren Standorte für Europa und für die Nationen der EU voraus. Es wäre ein strategischer Fehler, diesen privilegierten Standort zu verlassen, zumal in einem Moment, in dem die portugiesische Regierung den festen Willen hat zu sparen und die Diplomatie umzugestalten. Es wird ein neues Profil von Diplomaten angestrebt, die fähig sind Dienste (Behörden, Tourismus und Ökonomie) zu vernetzen. Wirtschaften bedeutet nicht nur sparen. Frankfurt, eine starkwachsende Region (4% Wachstum), ist ein strategisch wichtiger Platz für Deutschland und Europa, als Wirtschaftszentrum, zentraler Verkehrsknoten Europas, eine Stadt der Messen (Auto, Bucher, Textilien, etc.) und ist deshalb von zentralem Interesse für Portugal. Es gilt nicht nur, den Tourismus, sondern auch die bilaterale Vernetzung von Firmen zu fördern. Die Portugiesen begrüßen den festen Willen der Regierung zu sparen und ihre Absicht, die Auslandsvertretungen sinnvoll und rational zu gestalten, so dass Auslandsvertretungen und Diplomaten mehr in der Einsetzung und Förderung der ökonomischen Beziehungen eingesetzt werden. Hierfür können auch die Portugiesen der 2. und 3. Generation sehr hilfreich sein für bilaterale Interessen. Wir können mehr sparen, indem man Gelder, die für Repräsentation ausgegeben werden, in Produktion und Dienstleistungen investiert. Wir können viel Geld sparen, wo es nicht weh tut wie z. B. bei einer Verkleinerung von Räumlichkeiten und besonders durch den solidarischen Beitrag durch einen größeren Einschnitt bei den Zuschüssen für Repräsentation und Wohnkosten von Diplomaten. Wir appellieren auch an die deutsche Öffentlichkeit, uns und Portugal zu unterstützen, auch durch bilaterale geschäftliche Beziehungen und Tourismus. Kommt alle zur Demonstration nach Frankfurt am 5. November. Start um 13.00 Uhr an der Alten Oper Frankfurt, Ziel: Vize-Konsulat in der Zeppelinallee. Wir rechnen mit 1.000 bis 3.000 Demonstranten. António da Cunha Duarte Justo Sprecher des Beirats des portugiesischen Vize-Konsulats in Frankfurt

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Manifestação de Portugueses em Frankfurt a 5.11.2011

Conselho Consultivo junto do Posto Consular de Portugal em Frankfurt Zeppelinallee 15, 60325 Frankfurt am Main C/o António da Cunha Duarte Justo Porta-voz do Conselho Consultivo Correio electrónico: antoniocunhajusto@googlemail.com Comunicado aos Órgãos de Informação A maior Manifestação de Portugueses em Frankfurt Senhor Ministro Portas não nos feche as Portas Manifestação dos Portugueses dos Estados do Hesse, do Sarre e da Renânia Palatinado contra o eventual encerramento do Vice-consulado de Frankfurt. Esperam-se entre mil e três mil manifestantes. Portugueses não só de Frankfurt mas de toda a área consular de Frankfurt (Estados do Hesse, Sarre e Renânia Palatinado) estão a organizar uma manifestação para o próximo sábado, dia 5 de Novembro em Frankfurt. A demonstração tem início na Alte Oper às 13 horas e termina junto ao posto consular na Zeppelinallee 15. Solidários com Portugal nos seus esforços de poupança para liderar a crise, os portugueses desta área querem que se poupe consequentemente em todas as representações do Estado e que apesar disso se sirva bem e melhor os portugueses e a economia portuguesa. Na Alemanha vivem 170.000 portugueses e na área consular de Frankfurt cerca de 30.000. Frankfurt é o segundo posto consular mais barato da Alemanha e o terceiro em volume de serviços. Solidarizando-se com Portugal, também ele pode ainda reduzir os gastos. Frankfurt não pode encerrar as portas. Estamos empenhados na defesa dos interesses e do futuro de Portugal. Seria um erro crasso virar as costas aos portugueses e, numa iniciativa de fomentar os negócios portugueses, encerrar um ponto tão estratégico como Frankfurt. Já, há 15 anos, aqui, se falava da necessidade da integração de serviços com a hipótese de reunir consulado, ICEP e TAP num edifício comprado para, a longo prazo, se pouparem recursos humanos e económicos. O mesmo se dizia da embaixada. Para além disto as decisões deveriam ter em conta que a desejada ofensiva económica não pode prescindir do potencial de luso-descendentes espalhados pelo mundo, que não só têm direito à sua língua e cultura, como podem ainda vir a ser peça muito útil ou mesmo indispensável na implementação dos novos rumos que se pretende dar à diplomacia. Temos propostas de contenção e de redução de despesas de maneira a aliviar Portugal sem deixar de servir a comunidade portuguesa e também ideias para implementação da economia. O Conselho, em colaboração com as associações portuguesas desta área consular, apela a portugueses e amigos de Portugal a participarem na Manifestação. Os Meios de Comunicação Social alemães também são convidados a fazer a cobertura da manifestação. Contamos também com a grande participação dos Media portugueses. António da Cunha Duarte Justo Porta-voz do Conselho Consultivo

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Religião não é Renúncia mas Participação

Cristianismo é Teísmo e Panenteismo António Justo Os dogmas da religião e as teorias científicas seriam mal-entendidos se fossem reduzidos a absolutos lógicos ou a realidades factuais. Para nos relacionarmos e desenvolvermos precisamos da linguagem, de modelos. Também a criança para poder dar as primeiras passadas precisa da perspectiva dumas mãos dispostas a ampará-la… Ver na criança a confiança como algo alienante seria reduzi-la à sua incapacidade de se transcender a si mesma. Muitos impacientes pretendem o Homem à sua imagem e semelhança, à medida da sua medida, à medida da sua consciência, como se esta fosse um dado estático adquirido e não um processo e como se cada pessoa, cada sociedade não estivessem sujeitas a um processo de crescimento precisando de parâmetros e duma pedagogia acompanhante. Uma religião autêntica não afirma só o ser, não divide o ser do fazer. Já no Sinai o Deus da Bíblia revela: “Eu sou o que sou”, “Eu sou o acontecer” (“ sou o tornar-se”). Isto é testemunhado mais tarde na espiritualidade da trindade onde Homem (natureza) e divindade transcendem a visão polar da realidade, revelando a Realidade como relação. A visibilidade e a invisibilidade irmanam-se. O Homem, a natureza (= Jesus) não terminam em si, mas fazem parte duma realidade mais abrangente o Cristo, numa relação já não binária (bipolar)mas trinaria. A descoberta do eu no tu realiza-se no nós da divindade. Só podemos ser reconhecidos no trajecto, sendo muito embora mais que ele! A vida é mais que um produto da natureza, ou que um dado acabado da razão, a seguir o caminho efémero do destino. Por trás de tudo há um chamamento, um Sol que atrai e aquece. E na raiz já se encontra o ser e a experiência do Sol. É verdade que a religião, por vezes, se circunscreve a uma ascética, a uma moral que exagera a renúncia ao mundo. Afirma em demasia a filosofia grega esquecendo a mística joanina. Desvirtua-se ao manter na sombra a realidade trinitária, da incarnação-ressuscitação, onde em vez da lei da contradição grega se realiza a lei da complementaridade. O Pai realiza-se no Filho e este assume a matéria, como parte dele mesmo, desencrostando-a para a divindade fluir nela. Aqui o monoteísmo mitiga-se. Reúne-se o teísmo (transcendência) com o panenteismo = tudo em Deus: Deus dá-se ao mundo na criação mas mantem-se ao mesmo tempo fora do mundo. O cristão vive no e com o mundo em Deus, vive a realidade Emanuel. Ele crê que não pode adiar para depois da morte o processo da morte e ressurreição em via em nós e já antecipada pelo Jesus no Cristo. Sabe que o processo vital não se deixa reduzir ao ser fenomenal nem a caminho, permanecendo através do tempo (diacronia). A Vida é relação não só no aqui e agora do espaço e do tempo, não só na crosta do ser, mas especialmente no ser a acontecer. “Eu sou o tornar-se”. As pessoas da divindade manifestam-se pela relação e nós participamos nela. Deus está acima das culturas e da opinião como o Sol acima da terra e das pessoas, encontra-se fora e dentro delas. A sua essência é amor fogo em tudo presente. Reduzir o corpo a veículo de luz seria desconhecer o seu ser que é luz. A luz não só está em nós como também faz parte de nós. Seria um retrocesso separar em nós o Jesus do Cristo... Trata-se de descobrir o nosso ser de luz. No sangue, no esperma, na seiva e na semente encontra-se o amor que expressa a existência do mesmo Sol. Essa luz precisa duma crusta, dum ser, dum indivíduo, duma instituição para poder brilhar. Individuação sem recorrer à negação do outro Definir é trair, por isso somos todos traidores inconscientes duma realidade que queremos nossa. No nosso desenvolvimento de criança para adulto atravessamos várias fases com as correspondentes crises. Assim, na adolescência temos a necessidade de negar os pais para nos sentirmos nós. Muitos de nós ficamos empancados na fase adolescente do combate contra o outro. A fixação na própria individualização leva-nos muitas vezes a negar os outros como se para nos branquearmos precisássemos da negrura dos outros. É fatal construir a própria individualização, a própria opinião na negação do outro. De facto aquele que já se encontrou dá uma chance ao outro, também, por estar consciente de fazer parte dele. Se emperramos nele é sinal que não ultrapassamos a fase da puberdade. Abdicamos de crescer. Lá fora no mercado das opiniões fala-se muitas vezes, de cor, como se fosse possível espírito sem corpo, inteligência sem cérebro, cidadão sem estado, crente sem igreja, democracia sem partido, bem sem mal. Aleatoriamente afirma-se, muitas vezes, a própria coloração do espírito contra a instituição. Não há liberdade pura, nem indivíduo nu; todo ele é pessoa com os vestidos da cultura e a coloração das circunstâncias do biótopo de que faz parte. Um sistema precisa de suportes (regras mesmo transitórias) senão rui, desfaz-se no caos. A beleza da rosa só é possível devido à mãe roseira. Muitas vezes afirmamos a beleza do nosso brilho de rosa negando ao mesmo tempo o verde e os espinhos da roseira: uma contradição. Em nome do colorido da liberdade não se pode evitar o escuro nas cores. Não há raciocínio isento, só procura. O pensamento procura a luz tal como o embrião procura o sol: um e outro a caminho da verdade. A realidade existe no pensamento. Para o animal a realidade não existe porque ele faz parte dela. Para o homem ela existe no distanciar-se dela. A religião quer religar a realidade criada à Realidade perene. A liberdade em si não existe, ela é vida em processo de libertação em execução, um estar a caminho no caminho que se não fica pelo caminho; é como o sol, o amor que se encontra a caminho no botão à procura do Sol. Esse mesmo sol que era embrião se tornou em botão. O mesmo calor que se manifesta nas cores da flor expressa-se na devoção do crente e no entusiasmo do investigador científico ou do filósofo. Tudo pétalas da mesma flor. Sonho e realidade são partes duma Realidade maior. O reino de Deus não é exclusivo nem exclui. Ele comporta também o espaço e o tempo, é ser aqui e agora numa perspectiva abrangente, do Alfa para o Omega, a caminho com o universo. O Sol chama/atrai toda a natureza e, mantendo-a embora inquieta, não se fixa na distinção entre os seres que desenvolve no seu chamamento. Também nós irradiamos o nosso sol e a nossa escuridão que se projecta no outro, e se manifesta em aceitá-lo ou em rejeitá-lo. Quanto maior é a escuridão dentro de nós mais escuro vemos à nossa volta, fora de nós; piores nos parecem os outros, deixando de ser próximos para os vermos como adversários. Esquecemos que a própria raiva escura não passa duma queixa ou duma vingança por um raio de luz não recebido. Muitos estão dispostos a reconhecer Jesus com o coração mas rejeitam com o intelecto uma mãe que o dê à luz. Negam assim a realidade de que sem mãe não seria possível o filho. Sem a recordação, sem a memória também não haveria futuro, por muito que a lembrança, à primeira vista, pareça perda de tempo numa época que quer tudo já. No reconhecimento da mãe chegamos a ser mãe duma realidade que não temos em mão. Não há que desesperar: por trás duma jovem prostituta esconde-se uma boa mãe. Somos todo povo a caminho em tensão entre o passado e o futuro na vivência do kairos. Memória, imaginação, corpo e espírito condicionam-se não se excluem. O ser também não se reduz à consciência dele. A religião quer abrir o caminho para novas dimensões, outras esferas. Também ela se encontra a caminho; teremos que a purificar purificando-nos. Sempre que atiramos pedras aos outros paramos no caminho da vida, petrificamos o nosso ser. Fala-se da fuga ao erro como se sem ele houvesse liberdade. Fala-se de realização pessoal como se ela fosse possível sem realização social. O erro é uma parte integrante de nós mesmos. A sociedade corre o risco de se tornar infantil e irresponsável refugiando-se do stresse em “verdades ad hoc” próprias, em autonomias distantes, dum querer ser só pai sem mãe nem filho, numa dinâmica meteórica sem pertença nem sistema. Vivemos numa sociedade muito acelerada multiplicando, por isso, os resíduos que alguns chamam de impurezas, os naturais vícios da aceleração. As verdades fixas são produtos da mente, a Verdade é a realidade toda dinâmica a acontecer em nós, é processo e não conceito. O preconceito dominante não deixa ver para além das embalagens das opiniões, fica-se pelo aspecto folclórico dos média, da ciência e da religião. O conteúdo seria incómodo para os donos da economia e dos pelouros públicos e para os formadores de opinião. Pensar é uma arte e reflectir faz doer. António da Cunha Duarte Justo Teólogo e Pedagogo antoniocunhajusto@googlemail.com