quinta-feira, 30 de junho de 2022

CAUSA DA CRISE ALIMENTAR GLOBAL: GUERRA DA RÚSSIA NA UCRÂNIA E BLOQUEIO CONTRA A RÚSSIA

A guerra da Rússia contra a Ucrânia e o boicote económico do Ocidente contra a Rússia e a especulação provocaram uma escalada dos preços dos alimentos e dos combustíveis a nível global e um grande aumento da fome no mundo.

O preço do óleo de cozinha na Síria aumentou 39%; a farinha de trigo no Líbano aumentou 478%. Aqueles que sofrem de fome aguda em todo o mundo, este ano, irão aumentar para 323 milhões

A Rússia foi o principal exportador mundial de trigo e produtos à base de trigo em 2020/21. A Rússia tinha uma quota de 20% do mercado mundial de exportação de trigo, farinha e produtos de trigo. A Rússia e Ucrânia produzem juntos mais de um quarto do trigo comercializado no mundo, 29 por cento da cevada mundial, 15 por cento da cultura mundial de milho e três quartos do óleo de girassol do mundo (1). 75,8% do óleo de girassol mundial vem da Rússia e da Ucrânia. 80% do trigo do Quénia é importado, vindo metade da Ucrânia

O Egipto anunciou reduzir as importações de trigo em 500.000 toneladas por ano. Como reacção os preços mundiais desceram automaticamente: custo de 27 kg que na bolsa custava 12,85 dólares americanos caiu para 9,26 Dólares.

Os cinco maiores produtores de cereais do mundo (2):

MILHO: 1º Estados Unidos da América, 2º República Popular da China, 3º Brasil, 4º Argentina, 5º Índia

TRIGO: 1º República Popular da China, 2º Índia, 3º Rússia, 4º Estados Unidos da América, 5º França

ARROZ: 1º República Popular da China, 2º Índia, 3º Indonésia, 4º Bangladeche, 5º Vietname

CEVADA: 1º Rússia, 2º Austrália, 3º Alemanha, 4º França, 5º Ucrânia

SORGO (PAINÇO): Estados Unidos, 2º Nigéria, 3º Sudão, 4º México, 5º Etiópia

MILHETO 1º Índia, 2º Níger, 3º República Popular da China, 4º Mali, 5º Nigéria

AVEIA: 1º Rússia, 2º Canadá, 3º Austrália, 4º Polónia, 5º República Popular da China

TRITICALE: (Híbrido de trigo e centeio): 1º Polónia, 2º Alemanha, 3º Bielorrússia, 4º França, 5º República Popular da China

CENTEIO: 1º Alemanha, 2º Polónia, 3º Rússia, 4º República Popular da China, 5º Dinamarca

MILHO VERDE: 1º Estados Unidos da América, 2º México, 3º Croácia, 4º Nigéria, 5º Indonésia

Os maiores exportadores agrícolas do mundo são:  Estados Unidos – U$ 118.3 bilhões, Holanda – U$ 79 bilhões, Alemanha – U$ 70.8 bilhões, França – U$ 68 bilhões, Brasil – U$ 55.4 bilhões...

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7656

(1) https://www.deutschlandfunk.de/ukraine-weizen-getreide-export-blockade-welternaehrung-100.html.

(2) Todos os números são baseados em dados da FAOSTAT (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) (a partir de 2017):[2]

 

domingo, 26 de junho de 2022

A DOCUMENTA (D15) PREANUNCIA A CHEGADA DO SUL GLOBAL

 A Expressão antissemítica foi um Golo na própria Baliza – Nada é como parece

Já não bastava a disputa entre os mundos ocidental e oriental na guerra da Ucrânia e a acompanhante batalha da informação nos meios de comunicação social para agora se vir juntar a elas a disputa de um novo elemento simbolizado no Olimpo da Arte Documenta em Kassel. Na D15 preanuncia-se também a chegada do Sul Global a debater-se no centro do Norte já globalizado!...

 Afinal, a abertura (Europa a sociedade aberta) que se julgava a âncora do nosso sistema e com a qual se pretendia resolver todos os problemas da democracia liberal vê-se obrigada a tomar posição e a ter de reconhecer limites ou demarcações na engrenagem do próprio sistema!...

A Documenta, uma plataforma de arte de coloração esquerda, desta vez, está a ser posta em causa devido a cenas antissemitas. Já seria de esperar devido à ramificação da Campanha Antissemita BDS contra a existência de Israel proibida de ser culturalmente subsidiada na Alemanha...

BDS (Boycott, Divestment, Sanctions) é uma campanha e movimento transnacional de boicote dirigido contra a existência de Israel como Estado judaico (1). A direcção da D15 ignorou que em questões de interesses e de poder quem não alinha bate mal e as estratégias das forças BDS não tiveram isso em conta na sua hipócrita estratégia...

No meio de tudo isto, é natural que a Alemanha seja mais sensível e tenha um compromisso especial com os judeus (e Estado de Israel) porque seis milhões de judeus foram assassinados pelos nacional-socialistas (2).

A Alemanha tem ainda muitas questões de consciência também em relação aos russos pelo facto dos 27 milhões de cidadãos soviéticos que morreram como vítimas da guerra alemã entre 1941 e 1945; muitos negam-se ainda hoje a tomar nota disto (3).

A moral, a arte e a religião são bem vistas enquanto enquadramento e música de acompanhamento dos respectivos interesses dos sistemas político-económicos!

Quer queiramos quer não, tudo isto vem a propósito da mudança axial em via. Na nossa ilha dos bem-aventurados do Norte, a visão do Sul global, está também presente na mundivisão indonésia da D15, visão esta que também se encontra disseminada no meio da nossa sociedade e instituições...

A liberdade artística que caricaturou o mundo islâmico com mísseis no turbante de Maomé é agora retocada contra o judeu. Isto provocou agressão e incompreensão de ambos os lados; no meio de tanta sensibilidade e sensibilização o que dá motivo para se pensar é que a mesma arte que tem metido a ridículo símbolos cristãos responda que o tem de fazer (e tem de ser aceite por todos) porque doutro modo a arte não seria livre!...

Após o escândalo do antissemitismo, os organizadores da documenta sentiram-se obrigados a mandar examinar a exposição D15 quanto a obras críticas com conteúdo antissemita, fechando para isso partes da exposição durante um curto período de tempo. O principal grupo colectivo Ruangrupa deverá assumir essa tarefa de curadoria, relata o HNA 25.06. Esta é certamente uma missão ingrata para o colectivo artístico devido aos diferentes factores envolvidos na acção anti Israel...

Em Israel, houve relatos objectivos factuais, sobre o assunto, mas não há debate sobre isso porque em Israel a cena artística é predominantemente de esquerda e, como tal, mais relaxada em relação à posição do BDS do que na Alemanha.  

Uma palavra nova e presente na actividade da D15 é “lumbung”; a palavra indonésia designa um celeiro de arroz comunitário onde os excedentes de colheita são armazenados para benefício da comunidade...

António da Cunha Duarte Justo

Artigo completo e notas em Pegadas do Tempo https://antonio-justo.eu/?p=7648

A CIMEIRA 2022 DO G 7 EM TEMPO DE VIRAGENS

A 48ª Cimeira do G7 realiza-se de 26 a 28 de junho de 2022 no Castelo de Elmau, Alemanha. O grupo é constituído pelas 7 potências ocidentais: Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos da América.

Da agenda de trabalhos consta a reordenação do mundo após a invasão russa da Ucrânia; Apoio da Ucrânia militarmente, humanitária e financeiramente; a protecção climática: implementação do acordo de Paris de protecção climática; o reforço da democracia contra os Estados autoritários da China e da Rússia.

O chanceler alemão Scholz convidou também os países não alinhados Indonésia, Senegal, Argentina, África do Sul e Índia para a cimeira do G7, a fim de precaver que estes países não sejam abraçados pela China e Rússia.

De lembrar que a Índia, África do Sul e Senegal abstiveram-se de condenar a guerra na votação do Conselho de Segurança da ONU. A crise alimentar também é abordada.

A população do G7 representa cerca de 10 por cento da população mundial e gera cerca de 45 por cento do rendimento nacional bruto mundial.

Encontramo-nos numa época de reviravoltas que levam a novas constelações e reorganizações de blocos rivais, enquanto a razão dos poderosos não abandonar a lógica do poder, da rivalidade e da violência.

Na recepção, da conversa entre Scholz e Biden, este afirma a sua coesão com a Alemanha, principalmente nas questões relativas à Ucrânia! Os países do G7 anunciarão a proibição de importação de ouro russo.

Encontramo-nos em tempos de crise. Na Europa a viragem é cada vez mais sentida negativamente.

A viragem energética com Ângela Merkel

A viragem nas relações políticas e económicas (Oriente e Ocidente) com Putin

O ponto da viragem na política económico-militar com Olaf Scholz

A viragem das taxas de juro por parte do BCE

A inflação será o mal que nos acompanhará durante muito tempo! A gestão das dívidas e a distribuição equitativa de bens será um problema acrescentado para a União Europeia. A boa vontade do povo já está a ser forçada a pretexto da Guerra na Europa e do Corona vírus.

A consequência das viragens levará a mais pobreza e a mais conflitos. Os países das periferias confrontar-se-ão com mais potenciais de conflitos sociais.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7645

sexta-feira, 24 de junho de 2022

PARTILHA É O NOVO TER

 

Hoje fui convidado para participar na celebração da conclusão do edifício de habitação para uma comunidade intergeracional em Kassel.

É um edifício cujo interior das paredes e forro do tecto são fardos de palha! A palha não deve ter grãos para que não se formem vermes! Cada fardo de palha custa um euro! É um bom isolante contra o calor e contra o frio!

Interessante: o reboco pode ser aplicado directamente sobre a palha!

Tem compartimentos individuais e outros destinados a uso comum de maneira a possibilitar a vivência de individualidade e comunidade sob o mesmo tecto.

Um grupo de pessoas em diferentes situações de vida juntaram-se para realizarem a ideia e o objectivo comum de viverem juntos e para isso organizaram um projecto de habitação comum. Juntos criaram espaço de vida para famílias, solteiros, casais e comunidades de partilha de casa/apartamento com rendas a custo, sem fins lucrativos. A comunidade intergeracional complementa-se e apoia-se mutuamente.

Para tornarem mais eficiente e melhor implementarem o princípio da solidariedade e da auto-organização colectiva e para também serem apoiados pelo Estado organizaram-se em cooperativa (1).

A casa tem rés-do-chão e primeiro andar! As fotos que tirei são do 1° andar!

(1) Associação para a promoção da vida e do trabalho intergeracional e.V.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,https://antonio-justo.eu/?p=7639

 
 
 

quinta-feira, 23 de junho de 2022

LÍCIO É O PETRÓLEO DE PORTUGAL

Portugal tem a maior reserva de lício da Europa, o que beneficiará a produção de baterias em Portugal!
O aumento de preços de 144% nas matérias-primas cobalto, níquel e lítio entre 2020 e 2022 é dramático, mas aumentará, cada vez mais, como se pode observar na matéria-prima petróleo!
Por este andar quem poderá comprar baterias para reserva da energia fotovoltaica e carros? A política agora seguida conduzir-nos-á ao tempo em que o preço dos produtos determinavam a distinção entre pobres e ricos!
É angustiante verificar-se que por um lado se proletariza a qualidade da cultura e por outro se enobrece o consumo de certos bens! Tudo isto é natural numa sociedade determinada sobretudo pelo mercado.
Risonha é a perspectiva para a economia portuguesa.
António Justo
Pegadas do Tempo

ESCÂNDALO DE ANTISSEMITISMO NA DOCUMENTA (D15)

Também a Arte tem Limites e não chega apagar as Indignações

A exposição mundial (D15) encontra-se sob o fogo da crítica geral na Alemanha. É acusada de antissemita e com razão. O facto de a organização da D15 só ter apresentado o painel do escândalo ao público (com uma cena antissemítica) no sábado depois dos jornalistas já terem partido (cerca de 3.000 jornalistas tinham visitado a Documenta nos dias anteriores para eles reservados) dá razão para suspeitar da intenção propositada.

O painel monumental, em frente do Pavilhão-Documenta no Friedrichsplatz, foi desmontado devido a estereótipos pejorativos antissemitas que se encontram num pormenor da tela. A obra do grupo artístico indonésio Taring Padi apresentava uma figura onde um judeu (reconhecível pelos seus caracóis) com runas SS no chapéu e mostra também tropas da Mossad com Estrelas de David e focinhos de porco...

O extremismo apresentado num ponto do painel vira o feitiço contra o feiticeiro:  a crítica que pretendiam fazer à sociedade em geral recebem-na como ricochete sem que haja uma reflexão sobre os outros temas importantes do painel! Neste proceder não se passa além do círculo vicioso de crítica à crítica! Perante tanta pressão o painel foi retirado e o grupo Taring Padi pediu desculpa por qualquer ofensa causada pela obra...

O extremismo, a violência de poderosos e uma certa antropofobia lematizadas na tela parecem ganhar cada vez mais espaço no meio da nossa sociedade; a violência estrutural e a violência individual e da arte encontram-se concretizadas, de maneira exemplar, no retratado na tela e no que acontece em torno dela. Enfim, política e socialmente, encontramo-nos todos envolvidos num mesmo jogo que se repete e assim vai dando sustentabilidade às forças sociais (críticos e criticados) que se sucedem e repetem. Na D15 colidem dois mundos diferentes e com expressões diferentes: o mundo do sul representado no colectivo Ruangrupa (grupo indonésio que tem a cargo a direcção artística da D15) e o mundo do Norte onde a exposição mundial se realiza com uma mundivisão própria e costumes culturais próprios. A liderança da D15 tem uma tarefa difícil, que seria reconciliar o mundo muçulmano com o Ocidente no que toca à relação com Israel! A solução para a liderança artística seria que esta tomasse a iniciativa de, como colectivo artístico, fazer uma declaração explícita defendendo a existência de Israel.

Talvez a tela pintada seja não só expressão do “racismo” inerente ao homem e às culturas, mas também um símbolo da documenta 15 e, quem sabe, uma imagem de um mundo que nega reconhecer-se a si mesmo!

Todas as Documentas a que assisti desde os anos oitenta revelam o estado da sociedade ocidental que nos seus actores se poderá reconhecer uma missão de desconstrução de um passado histórico que em vez de corrigido e melhorado se pretende irradiado. A Europa encontra-se numa fase de mera autoadministração, sem perspectiva espiritual e sem mensagem para si nem para o mundo.

O grupo artístico indonésio perde toda a razão ao servir-se de antissemitismo ou racismo para denunciar Administrações e elites partidárias, corporações internacionais e movimentadores financeiros globais que longe do cidadão, determinam as condições de enquadramento em que podemos querer, agir e pensar!

Na realidade, não basta desenvolver simpatia pelos oprimidos e desfavorecidos para se ter razão nos meios que se usam e nas críticas que se fazem...

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Texto completo em Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7631

 Pode ser arte

 Pode ser uma imagem de 5 pessoas e ao ar livre

sábado, 18 de junho de 2022

LEI PROTECTORA DE DENUNCIANTES DE INFRACÇÕES

 Combate à Corrupção e ao Crime económico

A lei só cobre denunciantes empregados ou que trabalhem na empresa bem como estagiários e voluntários, pelo que o importante denunciante português Rui Pinto do “pro Football Leaks e Luanda Leaks” não será protegido por lei (1).

A Lei n.º 93/2021 (2), de 20 de Dezembro que transpõe a Diretiva Whistleblower da UE n.º 2019/1937 entra em vigor hoje 18.06.2022 e vem dar protecção aos denunciantes de infracções em empresas e municípios.

A directiva exige que empresas com mais de 50 empregados e municípios com mais de 10.000 habitantes criem canais de denúncia fiáveis. O denunciador pode usar canais de informação internos e externos nas empresas.

A denúncia pode ser feita se o denunciador (revelador ou descobridor!) tiver obtido a informação no âmbito da sua actividade profissional. Denunciador é a pessoa que publica informações importantes (irregularidades) para o público a partir de um contexto secreto ou protegido.

Um denunciante é passível de acção judicial se revelar segredos comerciais sem autorização para fins competitivos, por interesse próprio ou com a intenção de causar danos. Problemática torna-se a divulgação de estruturas e informações internas da empresa, que a prejudicaria na posição competitiva.

O facto de haver uma lei possibilitadora de denunciação de irregularidades, embora deficitária, vem exigir mais responsabilidade aos empregados.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7618

 

(1) Rui Pinto, J. Assange https://beiranews.pt/2021/12/16/ponto-de-vista-por-antonio-justo-205/  ou

http://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/o-jornalista-j-assange-pode-ser-extraditado-para-os-eua-por-ter-revelado-crimes-de-guerra-rendeiro-vacinacao-de-criancas

(2)A lei:  https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/pt/Documents/about-deloitte/webinar-whistleblowing/Webinar-Whistleblowing-Apresentacao-AEM.pdf

quinta-feira, 16 de junho de 2022

“POVO - ARRAIA MIÚDA”! PROVOCAÇÃO OU ELOGIO?

 Marcelo Rebelo de Soua provocou críticas ao dizer “Sem o povo, arraia miúda, não haverá Portugal”

Se considerarmos a frase, "sem povo, arraia miúda, não haverá Portugal", ao lado da frase "eles comem tudo e não deixam nada", a afirmação torna-se muito elucidativa e atemporal! A realidade permanece! Só a interpretação dos factos varia!

Esta frase de Fernão Lopes e tão bem retratada na personalidade de Fernão Mendes Pinto e tão bem descrita na sua obra "Peregrinação" continua a ser actual; em Peregrinação ele descreve-se (como expressão de um da arraia miúda) e descreve a realidade da vida asiática e europeia criticando também o colonialismo que se servia da religião para expandir, tal como faz hoje, já não em nome da religião, mas em nome da democracia e dos valores europeus!

  De admirar é que tais frases sejam repetidas por políticos do sistema como se fossem inocentes ou cínicos e não fossem eles os actores responsáveis de um país que económica e socialmente continua na cauda da Europa.

 Vivemos em tempos em que se procura embelezar a realidade factual com eufemismos linguísticos que nos ajudam a olhar para o lado da situação em que se encontra o mesmo grupo populacional que através dos tempos constitui a base da sociedade!

Pena e sintomático é que as expressões “povo”, “arraia miúda” sejam conotadas negativamente! Depreciativamente poderiam ser vistas as elites que constroem a sua aura social à base daquilo que se tira ao povo: a sua honra!  

Os dançarinos do poder sabem que o pobre honrado se não tem uma casa farta engana a sua carência olhando para alguns enfeites artificiais da pátria. O olhar para cima, já eleva e até parece que descansa (1)!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7616

(1)  Veja-se como tantos ministros e secretários de Estado passeiam pelo mundo gastando milhões fazendo do dia de Portugal um arraial público onde eles se festejam. Em que país se viu tal? Não chegam as embaixadas?

NOITE INCENDIADA

 

NO MEU CAMPO 
 
No meu campo cavei regos de esperança
Para a água da vida neles passar
Mas a água era tanta que os regos levava
E eu atrás dela na torrente
À enxada me agarrava
A ver os tubérculos do sonho a resvalar
 
NOITE INCENDIADA
 
Tu que o dia apagas e a noite queimas
Deixa-me a água nos olhos
Para ver o cintilar das estrelas
Não me roubes o escuro
Só quero amar a Lua
Aquele rosto de menina
Onde o fado descansa!
António CD Justo
in "Poetas lusófonos na diáspora", Oxalá Editora
 
 Pode ser uma imagem de texto que diz "AUTORES IV antologia poetas lusófonos na diáspora Ana Casanova Ana Fernandes Ana Luisa António Justo António Magalhães António Topa Bernardo Trigo Vasconcelos Magalhães Daniela D'Avila Dévora Cortinhal Dominique Stoenesco Edney Pereira Melo Fernando Matos Isaac José Correia Maria Rosário Loures Marilia Andreä Nancy Vieira Couto Paula Carvalho Paula emos Ra Martins Roseangelina Baptista Coordenação: São Gonçalves Sofia Laureano Schelten Sónia Micaelo VâniaP Vera Cidade Prefácio: Daniel Bastos Oxalá Editora sda Diáspora Oxalá OxaláEditora Editora"

quarta-feira, 15 de junho de 2022

ANTÓNIO COSTA QUESTIONA PRESSA NA INTEGRAÇÃO DA UCRÂNIA NA UNIÃO EUROPEIA!!

António Costa apelou para o sentido do realismo, manifestando-se contra as esperanças falsas, que a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen anda a levantar ao pretender um trato especial no processo de integração da Ucrânia na União Europeia.  

O primeiro ministro português avisa que não é bom andar a criar “falsas expectativas” o que poderia criar depois “frustração” quanto às aspirações ucranianas.

De facto, a Ucrânia ainda está muito longe de ter um sistema democrático que o torne compatível com as exigências da EU!  

De facto, depois da guerra haverá muito trabalho a fazer e o primeiro passo a fazer será a ajuda económica à Ucrânia e só passados muitos anos esta (parte dela) poderá entrar na União Europeia!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7606

 

O PAPA E A GUERRA NA UCRÂNIA

 O Papa ao dizer que a guerra tinha sido provocada (“Eles estão latindo nos portões da Rússia”(1) desejou que as coisas começassem a ser tratadas com maior objectividade e não se confundisse fantasias com realidade.

A realidade precisa de ser confirmada pela interpretação que se lhe dá ou pela circunstância, dado os facto reais em si, como se vê na narrativa sobre a Ucrânia/Rússia/Usa, depender da interpretação dada pela perspectiva da observação.  A imprensa não deu o relevo devido à afirmação do Papa porque vinha perturbar o recrutamento de “soldados” em que a nossa guerra de informação está interessada.

A realidade não se reduz a bem ou mal; a realidade é complexa e tudo nela é complementar. O que aqui está em jogo não é o bem ou o mal, o que aqui está em jogo são interesses de domínio estratégico, de expansão económica, de venda de armas, de reorganização de um mundo querido determinado só por poucos!

O mundo estava em guerra mas os europeus só fizeram propriamente registo disso quando ela chegou à Europa!

A humanidade sofre por todo o lado e grita por amor e compreensão mas a sociedade divide-a, quer bons e maus; a tecnologia e os interesses dominaram a moralidade e com ela esvai-se a humanidade. Já o filósofo Kant dizia: "A inumanidade que se causa a um outro destrói a humanidade em mim".

Mais um esclarecimento do Papa: https://sol.sapo.pt/artigo/773736/papa-francisco-diz-que-a-terceira-guerra-mundial-ja-foi-declarada-?fbclid=IwAR2--Z9kc5HAygOTeOgwJLRZccNEbM22P1wOhymH3LQN8M7stP5w6g1NhQs

Coloco aqui um link que pode também ser lido em inglês, espanhol, francês, etc. e que é mais completo que o de Sol.sapo.

https://www.laciviltacattolica.it/articolo/papa-francesco-in-conversazione-con-i-direttori-delle-riviste-culturali-europee-dei-gesuiti/

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7598

(1) https://antonio-justo.eu/?p=7410

terça-feira, 14 de junho de 2022

A Sociedade europeia aberta autossacrifica-se por negar os Padrões éticos que causaram a sua Evolução e Abertura

 

LIBERDADE A SER SUBORNADA NAS DEMOCRACIAS LIBERAIS

A Sociedade europeia aberta autossacrifica-se por negar os Padrões éticos que causaram a sua Evolução e Abertura

Por António Justo

A democracia liberal deixa de oferecer garantias de humanidade e de sustentabilidade ao produzir uma crescente atitude político-social autoritária e uma postura de autodefesa autocrata que se serve de medidas legislativas e burocráticas limitadas a corrigir as desfigurações do sistema. Uma sociedade vital não pode limitar-se a ser defensiva para o exterior e, ao mesmo tempo, destruir os padrões que a definem e lhe dão coerência a nível interior.  

No início da era digital reconhecíamos nas novas tecnologias de comunicação e informação uma grande potencialidade para democratizar a sociedade e víamos nela a possibilidade de dar também voz aos que não têm voz e, ao mesmo tempo, a possibilidade de moderar e contrabalançar a demasiada influência de elites politico-económicas, regimes políticos, hierarquias estatais e privadas na formação da opinião pública e no desenvolvimento da consciência dos povos. As instituições, porém, conseguiram ganhar a dianteira domando essas potencialidades, na consciência de que quem domina a informação tem o cidadão na mão e naturalmente o poder sobre a ordem estabelecida!

Em particular, não há proteção suficiente contra máquinas de filtragem e de censura arbitrária de plataformas de monopólio como Google, Facebook, etc. Além disso, os direitos civis digitais são relegados para segundo plano no que diz respeito aos interesses da indústria e do governo.

A liberdade de expressão e a liberdade de receber e transmitir informações e ideias sem interferência da autoridade pública e privada é cada vez mais condicionada a interesses de instituições. Mesmo a posição parlamentar sobre o #DigitalServicesAct (DAS) da EU não satisfaz os direitos fundamentais na rede e transmite parte da decisão sobre a liberdade de imprensa e de opinião à direcção do Facebook & Co. A liberdade de expressão como direito fundamental de importância elementar só poderia ser restringida pelo legislador e não deixada aos critérios de uma empresa.

A esperança de que, com a queda da União Soviética, a democracia liberal seria o sistema para o futuro, como anunciava o cientista político Francis Fukuyaman, não se confirma e cada vez deixa mais a desejar.

Entretanto observa-se um maior controlo do Estado com medidas de intervenção na rede a pretexto da defesa de moral pública. Naturalmente terá de haver regulação para se impedir a criminalidade, mas sem que o Estado se promiscue, doutro modo aumenta o processo de entropia da nossa civilização e  amplia a desconfiança num regime que, cada vez mais, põe em perigo a liberdade social e a democracia ao pretender construir um monstro com pés de barro.

Liberdade é o âmago do desenvolvimento humano e da democracia liberal, mas, numa sociedade aberta de valores meramente abstratos, a elite política reconhece-se incapaz de manter socialmente a sua liberalidade e por isso já procura comprometer empresas privadas globais na tarefa política de controlar a sociedade. Bruxelas tem trabalhado em textos tendentes não só a desconstruir a cultura europeia, mas também a permitir uma maior promiscuidade entre estado e privado no intento de diminuir a liberdade do cidadão para mais facilmente mecanizar e burocratizar a sociedade (a burocratização e a administração devem, ao mesmo tempo, substituir a espiritualidade da sociedade) a sociedade. Os nossos tecnocratas decretam já hoje medidas controladoras da personalidade humana que, pouco a pouco, legitimam instalar entre nós o modelo chinês que concebe o cidadão apenas em termos de funcionalidade dentro da máquina estatal! Nesse sentido a máquina de Bruxelas serve-se de agendas devotadas à desestabilização e desconstrução dos fundamentos da cultura europeia minando assim os princípios mais elementares da dita democracia (valores vitais como o da vida e da liberdade começam a ser subjugados aos princípios da funcionalidade, dado o sistema pretender ser a premissa ordenadora dos valores).

A política ao ver-se confrontada com grandes problemas sociais criados pela própria sociedade liberal, reconhece a própria incapacidade de regular uma sociedade humana orgânica, e, para se desviar do problema, aposta no centralismo total implementando para tal o controlo digital da população não tendo sequer escrúpulos em delegar competências de controlo de caracter público às grandes empresas privadas de comunicação social, como Facebook, Google, etc ....

Atualmente o baralho (de realidade, opinião e ilusão) é tal que a liberdade social parece oscilar, como o pêndulo de um velho relógio de sala, movido por forças sociais já indetermináveis porque a rosa dos ventos perdeu a orientação ...

Embora todos nós tenhamos direito às nossas opiniões e a decidir do que é importante na nossa vida e do que é nosso, não estamos isentos do enquadramento limitativo do direito do Estado e da sociedade em que se vive. A lógica não tem a última palavra a dizer numa sociedade plural e multifacetada, (porque exige muitas diferenciações), tendo, por isso de ser supervisionada pela Razão de caracter mais abrangente do que a ordenação de factos ou ideias numa linha lógica linear de conclusões inequívocas. O facto de uma democracia liberal – como a sociedade europeia aberta - ter vantagens, por tentar dar resposta à questão da diversidade, a liberalidade não a iliba dos problemas sociais internos que ela mesmo cria e em muitos casos a deslegitimam (imigração desregrada consequência do poder político-económico imperialista transforma-se em cavalo troiano dentro da cultura europeia).

Observa-se na sociedade ocidental a tendência para se insistir na liberdade da heteronomia e por outro lado numa intervenção cada vez mais directa do Estado contra a autonomia e contra a liberdade do cidadão assumir responsabilidade pessoal. Muitos deixaram-se levar na onda contra o presidente dos EUA Trump, o que veio a possibilitar aos administradores das redes sociais expulsá-lo; aqui o que é grave é o facto de se constituir um precedente perigoso e o transfer de poderes do Estado para empresas particulares (este reconhece assim a sua incompetência própria de regulador isento da sociedade) pondo em perigo o cidadão e o sistema democrático.

Assim se cria o pretexto de se poder proibir informação enganosa sem a necessidade de definir o que é enganoso e que parâmetros são usados para chegar a tal. De facto, a pergunta a ser primeiramente resolvida seria: assunto enganoso porquê; enganoso de quem e para quem? Considera-se como factual a informação mais conforme no sentido do regime ou da população e como fack o que as questione ou que seja realmente notícia falsa com objectivos escuros? E quem deve decidir sobre o caminho pré-determinado a seguir? O problema reside na circunstância de muitos factos serem susceptíveis de diferentes interpretações e de serem ordenados para determinados fins que alguns poderão querer que o povo siga. Naturalmente também há notícias construídas, fotos manipuladas, etc. e tudo isso vem complicar a situação, mas há que estar atento a uma paulatina chinesação dos aparelhos do Estado.

Muitos acusam a liberdade de ser  o princípio de muitos problemas (ou de parte dos problemas) mas aí reside um equívoco porque só a liberdade pode dar resposta aos problemas que a sociedade vai apresentando: só a liberdade humana aliada à identidade comunitária chamada a realizar-se e a servir toda a humanidade no respeito mútuo de cada um pode dar resposta aos problemas do nosso tempo e não o erro globalizado do liberalismo arbitrário avassalador deixado às leis do mais fortes numa sociedade considerada mercado de grupos e instituições que tem criado problemas incalculáveis à construção de um futuro mais humano.  veja-se o poder que empresas digitais e empresas globais já têm de determinar disposições e preços sem que os atingidos tenham possibilidade de intervir porque o estado que os devia defender também é sócio na defesa de interesses e na sua especulação porque vê alguns dos problemas resolvidos e também recebe os seus dividendos através dos impostos (quanto maior o custo do produto mais o Estado ganha).

Embora condicionados à morte somos chamados à liberdade! Querer reduzir a liberdade à mera materialidade ou a um mecanicismo de caracter funcional e pragmatista corresponde a uma atitude desumana porque faria da pessoa uma peça; a liberdade e o espírito são o sol que tudo vivifica e estes pertencem à pessoa e não às instituições; estas só têm relevância pelo serviço que prestam e pela memória que possibilitam no andar da história.

Nos últimos anos, a liberdade de expressão tem sido cada vez mais ameaçada, não só por um Estado faminto de impostos e cada vez mais controlador e colecionador de dados, mas também por actores privados, como bancos e corporações tecnológicas ao serviço dos gigantes da economia; por este andar chegaremos a um tempo em que o cartão do banco inutilizará o cartão do cidadão. O controlo generalizado em via e a censura são males, venham eles donde vierem.

Não é de confiar num Estado zeloso que determine a medida do discurso político a ser admissível. As grandes plataformas tecnológicas Google, Face Book, etc., não têm legitimidade para controlar o cidadão e o Estado, ao conceder-lhe competência para tal, está a demonstrar a sua incompetência para governar a sociedade que criou e parece estar a tornar-se ingovernável com meios democráticos; as empresas têm a sua lealdade para com os seus accionistas porque foram criadas com a finalidade  de ganharem dinheiro para eles.

 

Uma limitação de liberdade pelo governo só seria justificável se ocasionalmente limitada no tempo, mas tem de estar sempre sob a pressão crítica de ter de se justificar perante o cidadão. O cidadão crítico desempenha uma função importante na defesa das massas de uma censura indiretamente institucionalizada para reduzir a liberdade de expressão e de opinião. Mas também é de compreender a atitude de muito cidadão que, resignado, cada vez se refugia mais na sua vida privada, como já é de observar em camadas da juventude. A gravidade da situação em que nos encontramos (medidas Corona e propaganda em relação à Rússia-Ucrânia, etc.) conduz a posições extremistas e motiva conservadores a defenderem medidas estatais drásticas e move também os progressistas a defenderem a limitação da liberdade individual e civil como preço a ser pago para se conseguir progresso ou uma reconstrução social no sentido socialista.

Na fase do regimento Corona, a liberdade foi simplesmente subordinada ao valor da saúde e agora que temos o regimento da guerra na Europa tudo passou a ser condicionado à segurança (o comportamento assumido por governantes e média e a maneira indiferenciada como é acatado pela generalidade do povo faz duvidar da capacidade social para defender a liberdade). Isto é também sinal da falta de critério e de maturidade da classe dirigente que se comporta de maneira cínica como dominadora da consciência social e olha só para o momento sem considerar o futuro. A política ao valorizar apenas valias individualizadas falha contra o critério que pressupõe o equilíbrio e a referência integral de todos os valores humanos e sociais a preservar.

Não é suficiente ir-se vivendo nem chegam as ondas sucessivas criadas na sociedade para dar sustentabilidade a um povo e menos ainda a consequente atitude relativista de uma democracia liberal limitada a fazer caminho sem missão nem metas; embora se tenha a impressão que a democracia  liberal seria o sistema político capaz de dar resposta à questão da diversidade nas sociedades europeias, a EU na sua ideologia de sociedade liberalista está a conduzir-nos a grandes problemas porque não chegam o valores abstratos liberais que os nossos tecnocratas nos querem impor como mundivisão  aberta (valores europeus); estes revelam-se incapazes, de darem resposta a uma vida orgânica existencial de cidadãos e de sociedade já despojados num globalismo impulsionador de (e servido por) sociedades anónimas e secretas que, para se afirmarem no Ocidente, se tornam demolidoras da família, da pátria e de um tecto espiritual comum.  O seu radicalismo contra o regionalismo e contra a província desqualificam as suas pretensas boas intenções de criarem uma humanidade sob um só tecto universal materialista e sem metafísica.

A liberdade pela liberdade torna-se insustentável porque levaria a um estado caótico da existência de indivíduos sem instituições nem órgãos ordenadores. A liberdade manifesta-se como factor dinâmico competidor entre o indivíduo e as suas organizações institucionais; esta tensão tem de ser mantida em equilíbrio muito embora pendular.

Creio que o liberalismo democrático, que na qualidade de ocidentais tanto afirmamos, poderá ter a sua lógica linear como método de resposta à diversidade de problemas e exigências criadas depois da segunda guerra mundial, mas, numa ordem globalizante, não resolve os próprios problemas sociais por ele criados e menos ainda outros problemas existenciais e de sentido que este liberalismo mercantilista aberto e sem fronteiras cria. Creio que o problema da razão, nas suas tentativas de alinhamentos lógicos se torna num pau de dois bicos ao apostar numa narrativa de perspectiva unilateral que subordina a vida do cidadão ao aspecto utilitário sociológico-político. Sem abandonarmos a polis teremos de reconhecer a natureza (família, aldeia e regionalismo), como lugar de vida autêntica e de orientação, doutro modo o globalismo servido por democracias liberais terá como consequência lógica a criação de governos autoritários servidos por oligarcas.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7593