quinta-feira, 22 de agosto de 2024

UCRÂNIA FOMENTA CISMA ORTODOXO AO PROIBIR A IGREJA ORTODOXA RUSSA (IOU-PM) NO PAÍS


Maldades da Guerra e dos Belicosos

 

Na Ucrânia a Ortodoxia cristã encontra-se atualmente dividida entre a Igreja Ortodoxa Ucraniana autónoma (IOU-PM) sob a jurisdição do Patriarcado de Moscovo e a Igreja Ortodoxa Ucraniana autónoma (IOU) sob a jurisdição do patriarca de Constantinopla. Apesar de deserções, a IOU-PM ainda conta com cerca de 10.000 a 12.000 paróquias (cerca de 68% de todas as comunidades cristãs ortodoxas do país). Tem uma forte presença sobretudo em regiões do Leste e do Sul da Ucrânia. Por sua vez a IOU contava em 2023 com aproximadamente 7.000 a 8.000 paróquias.

O presidente Volodímir Zelenski que advoga uma «independência espiritual» total, para a Ucrânia, viu a sua vontade confirmada em lei pelo parlamento ucraniano que aprovou a proibição da Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Moscovo (IOU-PM). O Decreto-lei que proíbe atividades à (IOU-PM contou com o voto de 265 dos 450 deputados do parlamento (39 a mais do que o mínimo necessário). As comunidades terão nove meses para romper com o Patriarcado de Moscovo da Igreja Ortodoxa da Rússia...

As duas igrejas são expressão e testemunho da divisão do povo ucraniano que devido aos interesses geopolíticos rivais entre a Rússia e os EUA-EU-NATO viu perturbado o seu crescimento orgânico e natural na qualidade de povo ucraniano quer como Estado unitário quer como Estado federal.

Segundo a InfoCatólica “A ilegalização dos ortodoxos leais a Moscovo, que são a maioria dos ortodoxos ucranianos, poderia aprofundar o cisma ortodoxo ao ponto de o tornar praticamente irreversível. Seria o maior cisma no seio das Igrejas Ortodoxas desde a sua rutura com Roma (2).”

A Igreja Ortodoxa da Ucrânia (IOU) foi reconhecida como autocéfala pelo Patriarcado Ecuménico de Constantinopla em 2019, deixando de pertencer à jurisdição de Moscovo para passar à de Constantinopla (3). Deste modo se rompeu com séculos de união e supremacia do Patriarcado de Moscovo sobre o cristianismo ortodoxo na Ucrânia... Desde a sua criação em 2018, a IOU tem-se afirmado como igreja ortodoxa nacional (patriótica), especialmente nas áreas mais anti Rússia. Muitos ucranianos que anteriormente pertenciam à IOU-PM passarem para a IOU por razões nacionalistas e de identidade nacional.

As relações entre as duas principais igrejas ortodoxas na Ucrânia são tensas devido a questões de identidade nacional e de geopolítica...

A Igreja Ortodoxa Ucraniana autónoma (IOU-PM) sob a jurisdição do Patriarcado de Moscovo tinha ficado ligada a Moscovo mesmo após a independência política da Ucrânia...

A lei ucraniana instrumentaliza a religião pois a proibição da (IOU-PM), corresponde, de facto, a uma nacionalização da espiritualidade e ao mesmo tempo a um ataque à existência da minoria russa da Ucrânia e ao povo ucraniano que em geral quer continuar sob a jurisdição do patriarcado de Moscovo.

É um caso verdadeiramente embaraçoso e fatídico para todas as partes, o facto de a religião estar a ser mais uma vez a fazer parte de uma guerra na Europa (4). 

Na Ucrânia, políticos nacionais e internacionais agem de forma sorrateira e enganadora do seu próprio povo e dos cidadãos europeus. A Ucrânia está transformada num cavalo troiano dos interesses geopolíticos da Rússia-USA-NATO...

António da Cunha Duarte Justo

Texto completo e notas em Pegadas do tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9575

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A PALAVRA/VERBO E OS SEUS COMPLEMENTOS

"No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus... e ela se fez Carne."

Deus começou por falar fora do tempo; um "tempo" divino em que a Palavra era um processo em potencial, capaz de ganhar forma, mas ainda não formatada; um estado em que ser e existência não se diferenciavam no devir latente. O ser e a existência coexistiam, indissociáveis, no kairós do tempo sem tempo. Para que o ser se tornasse existência, era necessário moldá-lo no espaço e no tempo. Foi nesse surgimento que a Palavra encontrou o seu eco no espaço e no tempo.

A palavra de Deus começou a ressoar na natureza, na voz do homem e dos povos, nas várias línguas e biótopos da natureza e da cultura. Foi então que o eco de Deus se tornou existência, e a existência tornou-se o Eco de Deus.

O som da linguagem está na origem de todo o devir. No entanto, o devir só se completa quando o som retorna à Palavra que o gerou. Em todo o humano e em todo o universo, ouve-se e sente-se o eco da Palavra divina original, em constante expansão. Diante de tão grandioso Eco, a alma humana procurou resolver o hiato entre a palavra e o eco, entre o Criador e a criação, encontrando-o no modelo e padrão da realidade humana e cósmica: Jesus Cristo (a Palavra encarnada e a carne tornada Palavra).

A linguagem humana, como elemento de ligação e diferenciação, contém em si a energia primordial do caos, que, através da afirmação da contradição, tenta dar forma à Palavra, recorrendo à analogia numa tentativa de compreender o enigmático.

O destino fatídico da humanidade parece ainda não ter percebido que o eco da Palavra se manifesta de maneiras diferentes, assumindo, em cada ser, lugar e tempo, um som distinto. Esse som (eco divino) expressa-se na frequência do coração, do intelecto, da ciência, da religião, da política e de cada indivíduo, como uma ressonância única de um mesmo som. O trágico da questão é que cada eco se confunde, tomando-se por Palavra, em vez de reconhecer que é apenas uma ressonância da frequência de uma realidade que nos ultrapassa.

Encanta-me sentir a ressonância de um som brilhante ao amanhecer e sombrio ao anoitecer! Para mim, tanto a nível pessoal quanto alegoricamente para toda a humanidade, acredito que a fórmula de toda a realidade, tanto no nível da Palavra (o espírito) quanto no nível do Eco (a criação), é Jesus Cristo.

Em Jesus Cristo, o ser e a existência, o espírito e a matéria, reúnem-se. O eco que lhe dá forma é o amor, aquele paráclito que possibilita unir o conteúdo à forma, o criado ao não-criado, superando assim a dualidade que a condição humana e nossa linguagem expressam. De outro modo, continuaremos todos a viver sob a sombra dos escombros da Torre de Babel.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9565

Ver versão poética em http://poesiajusto.blogspot.com/

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

DESPEDAÇADOS

 Arte vítima da Política

No “berliner tagesspiegel” de 1/08/2024 li que o escritor ucraniano Andrei Kurkov considera que os laços culturais entre a Ucrânia e a Rússia estão cortados. “Este laço está completamente destruído, tanto dentro da Ucrânia como, claro, especialmente para os escritores na Rússia”. A literatura ucraniana em língua russa também já não existe. “Os escritores que continuam a escrever em russo na Ucrânia são ignorados ou atacados verbalmente...”

Também em países da União Europeia, como a Alemanha, artistas, escritores e cultura russa passaram a ser discriminados, a não ser que sejam declaradamente contra Putin!

O que o escritor Andrei Kurkov diz deixa antever, nas entrelinhas, a situação.

Quer-se a arte e a cultura ao serviço do sistema para termos cidadãos convencidos e não se encontrarem sós. Este é, porém, um vírus sem identidade nem passaporte que se pode encontrar em estados democráticos e não democráticos. Tudo deve ser feito em benefício do próprio regime até porque a verdade não tem pernas longas e só parece querer chegar até à própria fronteira. Hoje encontra-se muita gente cega que para não ver nem perceber o que se passa prefere falar da estupidez de tempos passados lavando assim a de hoje com a de ontem.

Muitas pessoas serias já não confiam nas suas percepções porque o mundo se tornou tão estranho.

Porém, quanto mais se examina, mais se vê e menos dependente se fica; a informação que nos é oficialmente apresentada não passa muitas vezes de uma realidade pós-factual, já remastigada.

Parte-se do pressuposto que os pensamentos sujos protetores de negócios sujos não fazem mal e que o discurso feiticeiro ajuda!

Há que ter cautela ao nadar-se no rio de muita informação, pretensamente factual, porque há demasiadas bactérias no fluxo de informação.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9555

Interação bidirecional entre genética e cultura: o DNA Gene biológico e o DNA Logos (cultura)

 

LUTA DOS CROMOSSOMAS NA MATRIZ SOCIAL MASCULINA EXPRESSA NOS JOGOS OLÍMPICOS


Nesta análise ou reflexão surgida depois de observar a questão da desigualdade genética verificada na luta entre a boxeadora italiana e a boxeadora argelina bem como  a resultante discussão conduzida num contexto social de afirmação dos opostos e não do que une, ouso partir da seguinte premissa:

A vida e a sociedade podem ser compreendidas como sistemas interconectados e unificados, nos quais a informação, seja biológica, cultural ou espiritual, desempenha um papel central na criação, evolução e organização do universo. Na perspectiva biológico-física, a transmissão genética através do DNA e a propagação de memes culturais moldam a natureza física e comportamental dos indivíduos e sociedades. Na perspectiva teológica, a noção de que "no princípio era a Palavra" sugere que o logos, ou a informação, é a essência criativa e organizadora da criação (cosmos), refletindo uma interdependência entre o material e o imaterial, o físico e o cultural. A física quântica, ao fazer eco dos mitos e verdades religiosas de maneira científica, reforça a conexão entre essas perspectivas, indicando que tanto a matéria quanto o espírito (e a mente) estão entrelaçadas em um sistema universal de troca e complementaridade. Assim, o desafio contemporâneo reside em realizar ou desenvolver uma visão de mundo que priorize a colaboração e a partilha, em oposição à exploração, garantindo que a evolução seja uma conquista coletiva e não um privilégio de poucos (1) Na relação sexo-género urge a formação de uma matriz social  que afirme não só o princípio natural da evolução mediante a afirmação do mais forte mas integre também a nível estrutural básico o outro princípio da evolução  natural da colaboração.

A boxeadora italiana, Angela Carini, ao ser derrubada nos jogos olímpicos de Paris pela boxeadora argelina, Imane Khelif, desistiu da competição alegando "não ser justa" a luta com a atleta argelina diagnosticada de hiperandroginismo (demasiada produção de testosterona e estrogénio)! Verifica-se que o desporto define claramente o que é masculino e o que é feminino enquanto a biologia por vezes mistura a regra com a excepção complicando a definição e a discussão social...

No desporto refletem-se as questões de ordem física e mental da nossa sociedade. De lembrar será que a natureza nos condicionou a sermos atraídos naturalmente pelo sexo premiando-nos com o gozo e o sentimento de amor, para em contrapartida a recompensarmos com a fertilidade que lhe dá continuidade e podermos continuar a festejar a vida e não pelo género que é uma construção social de caracter mais funcional e organizativo que nos ajuda a viver em sociedade. Daí a importância de se construir uma tolerância não baseada na ignorância nem na desumanidade de não querer ver porque então ela não passaria de intolerância camuflada ao serviço de uma autoafirmação unilateral...

Por vezes há anomalias dos cromossomas tanto na mulher como no homem que provocam desorientação em quem define o homem e a mulher pelo seu aspeto exterior, (homem: pénis e testículos e mulher: vulva e vagina) e dão oportunidade aos que fazem uso da excepção para criarem confusão....

enquanto a observação das pessoas em competição e a verificação do género forem apenas qualificadas pela observação de características externas, as mulheres continuarão a ser discriminadas...

É um caso bicudo, ver-se que também no desporto não é possível praticar-se a justiça desportiva, a não ser que a Organização Olímpica organize as competições a nível de cromossomas ou crie também um modelo de desporto próprio para competidores intersexuais (4) de maneira a possibilitar uma comparação justa do desempenho!...

Para se chegar ao conhecimento mais profundo da realidade é necessário partir-se da interação bidirecional entre genética e cultura: interação do DNA (Gene) com o DNA Logos (cultura).  João diz “No princípio era a Palavra, a informação que ganhou forma na “carne” (Jo 1:1-28)...

Da biologia, conhecemos a transmissão genética que ocorre através do DNA que transmite a informação determinante do desenvolvimento, funcionamento e reprodução dos organismos vivos. Paralelamente ocorre o DNA Logos/informação primordial também cultural transmitida pela linguagem que através da formação de valores, tradições e interação social se transfere de geração em geração e em diferentes biótopos culturais...

Por sua vez a cultura (o Logos) molda a consciência humana e social, influenciando a forma de pensar, sentir e agir dos indivíduos (resultado do DNA (Gene) e do DNA Logos). Como na fórmula trinitária a interação bidirecional resolve o problema da linearidade e da causalidade numa realidade já não binária, mas trinaria (processo espiral) ...

Torna-se necessária, uma abordagem descontraída da realidade humana de forma analógica interdisciplinar, que possibilite a inclusão de biologia, filosofia, teologia e ciências sociais. Assim, à informação genética da espécie nos genes transmitidos num organismo através das gametas (espermatozoides e óvulos) passada através da reprodução, seria de acrescentar a informação da “Palavra” transmitida também através da mente e da consciência social acumulada nas culturas (DNA cultural) e transmitida também a nível do inconsciente...

Na sociedade europeia embora de características muito masculinas observa-se a diminuição da potência sexual (testosterona), acompanhada de uma crescente feminização dos homens nas suas relações sociais e, por outro lado, a pressão social para que as mulheres assumam cada vez mais qualidades próprias do cromossoma Y;  a crescente  diminuição do impulso sexual masculino é acompanhada pelo enfraquecimento do cromossoma Y em homens...

As hormonas naturais aliadas às “hormonas” culturais do mainstream podem levar a enfraquecer os cromossomas devido a uma influência mútua entre genética e cultura...

O cromossoma Y masculino da nossa matriz cultural ocidental conseguiu trofeus em relação a outras culturas, mas querer continuar a afirmar-se dentro da própria cultura contra a indefesa feminilidade da mulher sob o pretexto de querer dar igualdade “muscular” ao ser feminino tornar-se-ia cínico para quem sabe ler nas entrelinhas da sociedade e está consciente da matriz que nos orienta e seguimos deterministicamente... Deste modo transforma-se o que seria jogo em pancadaria física e social, o que leva a desviar do essencial as atenções das populações para assuntos que distraem da política ou de interesses de corporações que se transmitem de geração em geração sem que se possibilite uma evolução qualitativa na sociedade...

Uma cultura verdadeiramente humana e de paz pressuporia mais “cromossomas X “(feminilidade) na matriz social masculina em vez de submeter a mulher à luta masculina de maneira a ela ser condicionada a perturbar a própria feminidade ao ter de integrar de maneira perturbadora o “cromossoma Y” na sua essência feminina; assim o princípio da feminilidade encontra-se em processo de assimilação e não de integração. De facto, assiste-se a uma assimilação da feminilidade pelo modelo estrutural social masculino que se realiza mediante a apropriação da mulher através das funções sociais de características masculinas.

Tendo em conta a interacção do ADN biológico e do ADN espiritual-cultural-mental na determinação da pessoa e da sociedade  e a utilização desses conhecimentos por fábricas do pensamento  que procuram fazer uso disso na neurolinguística para através da manipulação da linguagem criarem uma consciência humana e uma civilização de caracter meramente funcional, não é de admirar   a confusão que se transmite na sociedade para que ela perca o sentido da vida (também espiritual) e abdique do humanismo para que uma pequena elite de forças anónimas servidas por fábricas do pensamento em parceria com a IA possa, a partir do seu Olimpo, dominar toda a humanidade (desvestida já do humanismo e da sua consciência soberana)...

O feminismo ideológico é dominado por cromossomas do tipo Y e por isso atraiçoa a própria feminilidade...

O desenvolvimento económico cria a necessidade de funcionalizar e converter os sexos no sentido de género, isto é, a nível de género o sexo feminino tem de assumir os papéis e comportamentos que a matriz masculina atribuía antes ao sexo masculino...

Esta situação e novos anseios sociais criam a atmosfera propícia a fazer surgir novas interferências (interações) de caracter genético (ADN) natural e de caracter “genético” (ADN) mental/cultural que criam, pouco a pouco, grandes mudanças e uma nova situação física e psíquica (consciência social) ...

Aos  fatores que determinam o nosso sexo (fatores fisiológicos como a genitália, as hormonas e os cromossomos) veio juntar-se o caracter funcional (os papéis) do género...

O mais eficiente seria ir-se transformando, de forma consciente, a matriz social masculina... por um modelo social equilibrado que sem perder a especificidade dos sexos possibilitasse uma matriz masculino-feminina em que as funcionalidades do género não chocassem com as características do sexo...

O conceito do género, como construção social, erra ao querer discriminar mães e „pessoas menstruadas" fazendo tábula rasa das características sexuais biológicas para acentuar as funções sociais e culturais do género tornando-se assim num instrumento de fábricas do pensamento; quer os fixados no sexo quer os fixados no género deveriam dar-se responsavelmente as mãos, porque por trás da disputa outros levam a sua avante; para nos adiantarmos às fábricas de pensamento não podemos continuar a deixar-nos levar pela análise da realidade complexa reduzida a um pensamento binário de caracter polar baseado em afirmação e negação, quando a realidade complexa e a inter-relação sexo-género exigiria uma visão integral (trinitária) e não a instrumentalização de uma ou outra. 

A exigência mais do que óbvia de transformar a matriz social masculina numa matriz masculino-feminina não pode ser reduzida a uma luta de caráter masculino sob o pretexto de se eliminar as desigualdades entre os sexos, especialmente quando isso ocorre às custas de uma repressão ainda maior do princípio da feminilidade. A destruição do princípio ou da realidade da espiritualidade equivale à destruição da feminilidade, redirecionando-a para a masculinidade. Se continuarmos nesse caminho, acabaremos por chegar a um mundo que se assemelha a um quartel e uma sociedade composta apenas de soldados.

Uma observação mais atenta e abrangente da fórmula trinitária da vida, expressa no Mistério da Trindade, poderia nos ajudar a superar o pensamento binário ou de opostos, como cultura-natureza, gênero-sexo, certo-errado, afirmação-negação, matéria-espírito (baseado em uma lógica de causa e efeito, pensamento linear meramente cronológico e histórico). Essa superação nos levar-nos-ia a adotar um pensamento de tipo trinário (também intuitivo e místico), ou de unidade trinitária eu-tu-nós (Pai-Filho-Espírito Santo)...

Na fórmula trinitária, a vida não é concebida em termos de opostos, mas numa perspectiva mais ampla, que pode ser alegoricamente expressa na realidade da feminilidade unida à masculinidade, que, de maneira orgânica e produtiva, se prolonga no filho através do amor. Na Trindade, o amor entre o Pai e o Filho (resumo e mediador da matéria e do espírito) expressa-se no Espírito, que testemunha e permite entrar no mistério da realidade. A estrutura trinitária (triunidade) contém em si as bases para a solução das desigualdades inerentes à visão binária da realidade.

A visão binária ou bipartida carrega a imperfeição de querer "de-finir" (do latim, delinear, traçar a linha que determina o fim) ... A ordenação da realidade em termos binários corresponde à criação de limites em uma realidade que de si é fluida, que não tem limites porque está em contínuo processo de relação e interação (a ordenação binária serve principalmente aos poderosos).

O caráter binário filtra a realidade através do condicionamento de uma mente acostumada a organizar e definir a realidade em termos de opostos, falso-errado, de coisas bem-definidas (limitadas), para dar a impressão de clareza numa realidade que inclui não só a luz, mas também a treva. Dessa forma, contentamo-nos em viver na penumbra, sem perceber que essa é apenas a fronteira formada pelas sombras da luz e da “treva” ....

... aqui faz-se valer o princípio da seleção natural de afirmação do mais forte (masculinidade) e oprime-se o outro princípio também ele natural que é o da colaboração (feminilidade).

Masculinidade e feminilidade passariam a competir apenas em jogo de modo a criar-se um tubo de escape das agressividades mútuas a exemplo do substituto da guerra em jogos olímpicos, etc. ...

No âmbito natural e social pode dar-se uma mudança ou equalização dos sexos (androginia, etc.) devido à influência do espírito (ressonância - consciência social) a nível orgânico, segundo o princípio “a necessidade cria o órgão”. A mutação dá-se devido à mudança de padrões de acção, comportamentos e hábitos dos homens e das mulheres (na redesignação de género também é normal observar-se mulheres mais masculinas e homens mais femininos no comportamento social o que pode contribuir para um processo de transsexualidade natural mas não corresponda a um desenvolvimento natural e saudável em termos de humanidade; daí a necessidade de se ter em conta todos os factores que determinam o desenvolvimento do ser humano e da sociedade evitando para isso obsessões  e fanatismos políticos, religiosos e científicos (Toda a obsessão é cega e falsifica a realidade porque apenas toma em consideração uma parte dela)...

 “Tudo flui. Tudo está em movimento, nada está parado.” como constatava o filósofo Heraclito, 540-480 a.C.: “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque tudo corre e nada fica”. No meu entender o espírito é o leito que tudo sustem e que dá garantia ao desenvolvimento e à continuidade...

Uma sociedade que se entretém demasiado com os problemas estabelecidos por LGBTQI+ (sigla internacional para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais, queers e mais), deixa-se levar pelos seus temas e ao mesmo tempo é distraída dos maiores problemas em via que se encontram nas mãos das fábricas de pensamento e de políticos condicionados a serem parte de oligarquias que vivem bem de temas e agendas por eles confecionados mas que para a generalidade caem do céu...

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Texto completo e Notas em “Pegadas do Tempo”: https://antonio-justo.eu/?p=9546