Emigrantes desesperados à Procura do Futuro
Remessas de 2.254,580 milhões de Euros para Portugal em 2012
António Justo
À Imigração precária segue-se a Procura da Imigração qualificada
A Alemanha que nos anos 60 precisava de trabalhadores desqualificados para dar resposta ao milagre económico alemão necessita hoje de mão-de-obra qualificada para as novas apostas no futuro. Outrora, com a imigração carente provocou a concorrência a nível de classe operária nacional e estrangeira, conseguindo iniciar assim um nivelamento do operariado pela base. Foi a fase da concorrência entre as camadas baixas da sociedade. Disciplinou a classe obreira para o combate económico iniciado com a globalização. Actualmente procura-se disciplinar e dominar a camada social média. A luta passou a dar-se entre a camada média alemã com os seus técnicos e a classe média estrangeira, imigrantes especialistas internacionais. Assim a Alemanha consegue manter-se como o lugar privilegiado da tecnologia e do desenvolvimento, assegurando assim para a Europa a vanguarda do progresso tecnológico e económico.
A crise do Sul da EU beneficia os povos mais ricos que, por sua vez, desestabiliza os estados da periferia. Exercita neles possíveis cenários de conflitos laborais e sociais de gerações vindouras dos actuais países fortes. Portugal é o país que exporta mão-de-obra mais qualificada deixando assim um buraco de menor produção no país. Estes emigrantes são altamente motivados e contribuem, pelo seu perfil biológico e currículo para o incremento do nível social alemão (países fortes) e consequentemente para o empobrecimento do nível social português/ da periferia. Geralmente emigram os melhores, com maior espírito criativo e de mobilidade.
A Alemanha absorve 400.000 imigrantes por ano
A Alemanha precisa dum contingente de 400.000 imigrantes por ano para equilibrar a o défice demográfico. O problema da diminuição da população alemã com os consequentes problemas para o pagamento de reformas futuras, segurança social equilibrada e pagamento das dívidas, anteriormente prognosticado por cientistas, já não mete medo devido à crescente imigração para a RFA.
A crise do Sul beneficia os povos mais ricos para onde emigram. Segundo relata a revista “manager magazine” 1/2013 alemã conta-se, pelo menos, com um aumento de 2,2 milhões de habitantes na Alemanha até 2017, e, perante a “tristeza de depressão do sul da Europa”, a afluência podia até aumentar. Este ano a imigração para a Alemanha já atingiu os 400.000; isto corresponde a duas cidades médias por ano.
Erro crasso dos Governos do Sul
Em 2011 emigraram 44 mil portugueses. Portugal e os países da periferia ficam com as dívidas, com a sangria da sua juventude qualificada, com as pessoas idosas a manter e com um operariado não confrontado com a concorrência operária (entre firmas) mas sim com o receio entre emprego e desemprego. No século passado estados nacionais compensavam a sangria, provocada pela emigração, com uma maior natalidade e com as remessas dos emigrados. Nessa altura as potências europeias viam no incremento da imigração uma espécie de apoio ao desenvolvimento económico dos países pobres considerando as remessas como crédito para estes países poderem pagar as suas encomendas. Hoje esta seria uma conta errada tanto para os estados credores como para os devedores.
A situação dos países devedores é tal que para poderem alimentar o povo e evitar revoltas sociais terão de exigir uma nova ordem económica na Zona Euro. Dado os países fortes serem os beneficiados desta zona teria de ser criado um instrumente equilibrador das diferentes regiões económicas. Os países economicamente fortes teriam de efectuar uma transferência solidária de dinheiros para as regiões mais fracas. Além disso na Alemanha unida há o “imposto de solidariedade” que cada empregado paga para que a zona da antiga Alemanha socialista (DDR) consiga atingir o mesmo nível de vida da antiga parte ocidental da Alemanha (BRD). Esta contribuição de solidariedade corresponde a 5% dos impostos que se pagam.
Pelo que se observa os nossos políticos deixam-se enganar hoje com as remessas dos emigrantes como ontem com os apoios da EU. A mão-de-obra especializada é a melhor ‘matéria-prima’ dum país moderno.
Portugal, conjuntamente com os países da periferia, repete hoje o mesmo erro que cometeu com a política de fomento da União Europeia limitando-se a dar resposta às imposições do grande capital internacional. Os governos tornaram-se nos servidores do capital internacional aplicando apenas as suas directrizes estruturais. Há porém uma grande diferença entre as pequenas economias e as economias dos estados potências. Estes têm as políticas aferidas às suas elites financeiras enquanto os estados pequenos não têm elites financeiras capazes de estratégia política para concorrer a nível internacional. A EU implementou a construção das infraestruturas da periferia com avultados apoios financeiros, créditos e investimentos a fundos perdidos. As grandes multinacionais europeias em parcerias com os seus estados através da política da EU, conseguiram assim aproveitar-se dos fundos europeus fazendo investimentos nos respectivos países. Passados poucos anos as firmas abandonaram os países levando com elas os lucros para os investirem na competição das firmas a nível global (China, etc.). Provocaram a ruína das firmas autóctones rudimentares e deixaram as economias nacionais destruídas e consumidores exigentes. A colaboração dos Estados fortes com as suas empresas no investimento do desenvolvimento tecnológico faz destes estados os lugares privilegiados na renovação tecnológica, a única estratégia capaz de manter a supremacia sobre os países emergentes. A Alemanha é a nação da EU mais preparada e vocacionada para dar resposta ao desafio do futuro. A criação do euro não passa duma tentativa estratégica e capitalista para disciplinar a política, os estados e o operariado.
Remessas de 2.254,580 milhões de Euros para Portugal em 2012
O maior aumento de remessas em relação a 2011 foi o da Alemanha que passou de 92,1 milhões para 142,7 milhões €; na França diminuiu de 749,8 milhões € para 712,9 milhões €.
Segundo as estatísticas do Banco de Portugal as remessas dos emigrantes portugueses para Portugal atingiram, nos primeiros dez meses de 2012, os 2.254,580 milhões de Euros. Isto são os números oficiais porque há muito outro dinheiro que se leva directamente para Portugal. Os países de maior envio foram: França 718,934 milhões €, Suíça 540,870 milhões € (230mil portugueses), Angola 219,072 milhões € (100.000 port.), Alemanha 142,732 milhões € (92 mil port.), EUA 113,922 milhões €, Reino Unido 107,708 milhões (84 mil portugueses). Espanha 105,595 milhões € (146 mil port.), Luxemburgo 62,464 milhões €; Bélgica 42,057 milhões €, Canadá 39,370 milhões €.
Numa era em que os estados nacionais se dissolvem, a europeização se alarga e a instabilidade económica aumenta e os emigrados não se sentirão a aumentar remessas para zonas instáveis. Já hoje, muita dos emigrantes da velha geração, que se encontra reformada, não se sente motivada a regressar e chega mesmo a lamentar o não ter investido atempadamente na nação de residência em vez de o ter feito na nação mãe. Isto nota-se principalmente nas mulheres. A nova geração de emigrantes fará uma aplicação mais racional que emocional das suas poupanças. Prevendo-se isto urge uma nova política nacional e europeia.
A actual política da EU revelar-se-á catastrófica para o sul. Enquanto o sul sofre a Alemanha (e países centrais) esfrega as mãos de contente. Os imigrantes provenientes da periferia europeia são bem-vindos porque são trabalhadores qualificados e não causam os problemas de guetos que os imigrantes muçulmanos criam. Para agora chegam os imigrantes da periferia e têm a vantagem de serem mais qualificados; por isso se reserva para mais tarde o fomento da angariação os emigrantes da África do Norte, Ásia, etc. Assim não se precisa de prover a uma política de família responsável. Em 2012 a Alemanha deu trabalho a 25.000 especialistas imigrados provindos de Espanha, Portugal e Grécia. As firmas recrutam o pessoal de forma objectivada procurando engenheiros nos ramos de engenharia de construção e engenharia elétrica. Recrutam os melhores absolventes das faculdades estrangeiras, tal como sempre fizeram os americanos. Principalmente o sudoeste alemão aponta para o futuro apostando na imigração qualificada. Há agências especializadas no recrutamento de engenheiros e profissões qualificadas.
A união do mercado europeu favorece os seus epicentros da economia. Assim podem com os imigrados manter as indústrias no país não precisando de fundar sucursais nas periferias. Muitos médicos e engenheiros emigram também devido à atracção da estabilidade social alemã. Um aspecto interessante de algumas firmas pequenas alemãs é o facto de se preocuparem também com o bem-estar familiar do empregado, apoiando-o, por vezes, no sentido de encontrar lugar de trabalho também para a namorada. Para a nova geração de emigrantes é muito importante a estabilidade.
EU actualmente ao serviço do grande capital
A União Europeia (EU), desde o início, desenvolveu uma estratégia de fortalecimento das suas elites financeiras através do fomento da EU e da criação do Euro para elas poderem fazer frente às elites financeiras americanas e mundiais. As nações fortes da Europa elaboram as suas políticas com base em prognoses e programas económicos científicas a longo prazo. Assim asseguram o bem-estar dos seus cidadãos dando resposta adequada aos problemas do seu futuro económico. As nações mais débeis, porque não têm grandes elites económicas, limitam-se a reagir às macropolíticas sem pensar nos verdadeiros objectivos a elas subjacentes.
Nos anos oitenta e noventa a Alemanha seguiu uma política de fortalecer as grandes empresas nacionais para estarem preparadas para o combate económico da globalização; essa política revelou-se nacionalmente inteligente por dar resposta ao grande problema da concorrência com os países emergentes e a fortaleza da sua indústria atrair imigrantes técnicos que compensam a falta de mão-de-obra devida à baixa natalidade (o grande problema do futuro).
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@gmail.com
www.antonio-justo.eu
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4 comentários:
Excelente texto, excelente análise.
Saúdo mais uma vez o Sr. Antonio Justo.
Deu-nos uma aula.
A armadilha é mais perversa quanto analisamos a taxa de natalidade. Estima-se que a Grecia por conta de sua baixa taxa de natalidade perde a cada 25 anos 1/3 de sua população, que está cada vez mais velha. Quem sustentará futuramente aquele país? Sem população economicamente ativa para viabilizar o país, como fica sua soberania? Países como Japão, Portugal, Espanha e Itália estão indo pelo mesmo caminho.
Quem se salva? Os países de economia forte, que conseguem compensar sua baixa taxa de natalidade atraindo emigrantes "assimiláveis".
Por isso, é necessário que países como o Brasil (que é fragilizado por não dispor de um bom sistema educacional, que é algo estratégico para qualquer nação), deve ter muito cuidado com armadilhas contidas em políticas de controle de natalidade, casamentos entre pessoas de mesmo sexo, etc, pois geralmente a justificativas são meramente econômicas (com verniz social), ou seja, mesmo por trás de aparentes (as vezes necessárias) politicas públicas esconde-se interesses obscuros.
Abraços a todos os participantes,
Vilson
in Diálogos Lusófonos 9.01.2013
Prezado senhor Vilson
Obrigado pela sua abordagem e pela chamada de atenção para verdadeiros problemas.
Realmente a crise provocada na periferia europeia satisfaz plenamente os desejos e necessidades das potências fortes que há já vários anos apontavam para o problema da baixa natalidade, tendo de, com o tempo, a continuar assim, passar um trabalhador a ter de fazer descontos altos para pagar a reforma dum reformado. Com a política de imigração em via conseguem compensar a falta de fecundidade ocidental. O problema é que enquanto na Alemanha se faz uma política em parte favorecedora da procriação, Portugal não está consciente do problema, contando-se entre os países da Europa com menos crianças por mulher. Portugal gasta imenso dinheiro com a formação de técnicos que vão enriquecer outros países.
Como o senhor Vilson diz, os Estados deveriam estar atentos às políticas que fomentam. Muitas vezes não fazem mais que seguir os ventos gerais da moda produzidos por interesses anónimos bem escondidos que se estão marimbando com o bem dos Estados e das pessoas. Por iosso cada vez mais se necessita formadores de opinião responsáveis que não se deixem levar pela onda de lógicas superficiais que pretende destruir valores adquiridos pela civilização ocidental e agora à disposição. Estamos a assistir a um verdadeiro retrocesso civilizacional. Quer-se fomentar uma mentalidade proletária sem exigência para uma pequena camada alta exploradora tudo dominar sem complicações nem resistência por parte das universidades e das religiões. Quanto mais baixo o nível moral/cultural mais oportuna se torna a caça.
Abraço solidário para todos.
António Justo
www.antonio-justo.eu
www.arcadia-portugal.com
www.quinta-portugal.de
Viva, Professor António Justo
Antes de mais os votos de um ano de dois mil e treze em paz e com muita saúde, para si e todos os seus.
E mais uma vez somos prendados pela acutilância de um texto precioso e necessário, pois nestes tempos cinzentos em que os povos estão sendo derrotados na guerra que a constelação de interesses e ganâncias lhes moveu, no duplo sentido de se apropriarem desta forma imoral das riquezas por aqueles criadas e de lhes imporem a perda de direitos e da dignidade que forcem a aceitação da(s) fatalidade(s) que a pobreza sempre faz recair sobre aqueles que agrilhoa, num quadro mental de totalitarismo de mercado que, num verdadeiro retrocesso civilizacional que mentirosamente impõe o discurso da ausência de alternativas, em tempos tais de trevas para a dignidade com que a pessoa humana nasce, importa a coragem de sabermos denunciar e desmascarar os ardis que, no plano das ideias, mais não são afinal das bombas com que o indizível ameaça destruir as casas das pessoas comuns. É justamente isso que o Senhor aqui nos tem oferecido, com o bónus adicional de o fazer com a elegância das explanações claras e substantes e a bonita particularidade de partirem de alguém com tão elevada posição académica o que – permita-me essa opinião – além de tudo só pode revelar a grandeza de carácter. Por isso me curvo perante si, em sinal de respeito e agradecimento. Afinal, são pessoas como o senhor que, mesmo no meio do desespero destes dias de chumbo – infelizmente, os mesmos que novamente nos colocam no horizonte o “Hard Times” do gentil Dickens – nos permitem manter acesa a chama da esperança, esse sentimento tão eminentemente humano e sem o qual sequer teríamos como encontrar sentido para a Humanidade.
Aquele abraço, companheiro
Luís Luís F. de A. Gomes
in revista Estudo Geral a 9 de Janeiro de 2013
Prezado escritor Luís F. de A. Gomes
Agradeço e retribuo os seus votos.
Tem toda a razão. Os “tempos cinzentos” em que vivemos são branqueados por uma opinião pública manipulada pela opinião publicada e mantida pelo politicamente correcto subjacente aos interesses das oligarquias económicas. Realmente estas conseguem engordar à custa da pobreza dos outros e da massa acrítica fomentada.
O amigo põe os pontos nos is ao falar dum “verdadeiro retrocesso civilizacional”. A civilização ocidental europeia (falo do espaço que melhor conheço) encontra-se de retirada. Com o argumento de se querer definir como sociedade aberta abdica da qualidade em benefício da quantidade, abdica da alma em benefício do dinheiro.
O que faço não tem nada de especial se pensarmos que cada cidadão deveria sentir-se responsável no trabalho de servir a humanidade.
De facto Charles Dickens, já em 1854, ao falar da classe proletária e da classe alta, mostrava no seu romance “Tempos Difíceis” os problemas duma sociedade baseada na ideologia de que para a sociedade baixa basta apenas o trabalho como ideário de vida e duma classe alta que mantem o proletário sob a sua batuta. A proletarização social e nacional encontra-se em aceleração total por uma política destruidora do ideário cristão, da economia social e da subornação das democracias e estados.
Atenciosamente
António Justo
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