segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Ancara faz chantagem instrumentalizando o fluxo dos refugiados para a Europa

O GOVERNO DA TURQUIA “NÃO OFERECE CONFIANÇA”

António Justo
A Turquia, como se vê no ataque terrorista em Istambul a turistas e na guerrilha curda está a colher os frutos de uma política de confrontação e oportunismo que tem seguido especialmente desde que o partido de Erdogan orienta os destinos do país. A Turquia causou, em parte, o afluxo incontrolado de refugiados, tornando a Europa vulnerável e sujeita a chantagem. Também por isso conseguiu receber 3 mil milhões de euros da EU para ter mão nos refugiados.

O especialista alemão em Médio Oriente e em terrorismo, Doutor Guido Steinberg, afirma em entrevista ao HNA 14.01.2016: “O afluxo de refugiados, do ano passado (2015), devemo-lo, pelo menos em parte, a uma decisão consciente do governo turco, de abrir as fronteiras para Grécia para criar problemas aos europeus”

A Turquia tolera o ISIS prestando-lhe “apoio passivo” desde 2013 permitindo que use o seu território como região de retiro: "não só todos os combatentes estrangeiros do mundo árabe, mas também os da Europa e do resto do Ocidente, usaram a Turquia como área de preparação... A Turquia não é de confiança, como mostra o seu comportamento em relação ao ISIS e a outros jiahdistas… A Frente Nusra e Ahrar al-Scham (uma espécie de Talibans) recebem apoio da Turquia”, afirma o especialista. Além disso os seus ataques às zonas curdas da Síria e do Iraque, sob o subterfúgio de atacar o ISIS, são situações que apontam para o uso impróprio dos bombardeamentos.

Deste modo a Turquia age contra os interesses da Nato, de que é membro e mina também os interesses da UE. Naturalmente o quase milhão e meio de refugiados que entraram na Alemanha em 2015 provocam tantos problemas à Alemanha que esta terá de implementar estratégias efectivas, a nível internacional, que fomentem a riqueza nos países produtores de emigração e não se reduza à acumulação de problemas, estabelecimento quotas de refugiados para os diferentes países da UE.

A UE precisa da Turquia devido à sua posição geográfico-estratégica, à quantidade de turcos na Alemanha, e também para o combate ao terrorismo e para a regulação do fluxo de refugiados. A Turquia tem um grande potencial de chantagem em relação à Europa (sua presença migratória e refugiados) e à Nato (instrumentalizando-a indirecta e militarmente também contra os Curdos). Também é facto que os Curdos refugiados especialmente na Alemanha, França e Holanda apoiam economicamente os seus irmãos de luta na defesa da liberdade e da independência. Enquanto não for organizado um Estado curdo resultante dos curdos a viver nas regiões fronteiriças de alguns países não haverá paz na região. As potências têm sacrificado o povo curdo a interesses nacionais e estratégicos.

Agora com o atentado de Istambul, por razões económicas, o governo turco ver-se-á obrigado a agir mais decisivamente contra o ISIS: o turismo turco recebe da Alemanha dez milhões de turistas por ano. 

O presidente Recep Erdogan tem feito tudo pela islamização da Turquia (continuando também a discriminar os cristãos) e contra o projecto de secularização do estado iniciado por Atatürk fundador do Estado turco. Erdogan tirou o poder aos militares, impediu o movimento democrático no país, rescindiu o contrato de tréguas com os curdos, fomentando assim a guerra civil e prosseguindo uma política externa pró-árabe e anti-israelita.
A Turquia quer fazer história com o “Estado Islâmico” (ISIS)!
António da Cunha Duarte Justo

4 comentários:

Anónimo disse...

Concordo, ma a Turquia vai-se dar mal, principalmente quando começar a perder turistas.
Jorge da Paz

Anónimo disse...

Fiquei surpreendida com tantas afirmações deste texto como a da chantagem feita pela Turquia. Não a imaginava tão ativa no conflito.
Já se sabe se foi mesmo o ISIS que provocou o ataque bombista contra os turistas alemães em Istambul?
Se tiver sido o ISIS não se entende porque haviam de atacar na Turquia prejudicando a Turquia (levando a ter
menos turistas) se a Turquia os tolera prestando-lhes “apoio passivo”. Bom, tu afirmas que a Turquia não é confiável.
Então também não o é para o ISIS, daí que eles atacaram. Quem te parece que o ISIS quis atingir: os alemães ou a Turquia?
Os alemães por eles se terem posto contra o ISIS, os turcos poque atacam os curdos dizendo que querem atacar o ISIS…
Como é que a Turquia quer fazer história com o ISIS? Estou confusa mas acho que não é para menos com tantos
“jogos políticos”…

MManu

António da Cunha Duarte Justo disse...

Confusão! Dela vive melhor quem pode, os poderes instalados. Querida colega, se todos fossem como tu, querendo ir ao fundo das questões, o mundo viveria mais em paz, porque virado mais para a razão de argumentos e menos para opiniões fomentadas apenas pela emoção.
A Turquia tem o problema com os Curdos que quer dominar e tirar o direito a existência própria no seguimento do que fez com os cristãos. Inicialmente os cristãos eram 25% da população e agora são cerca de 0,02% da população. Com os curdos que ao empenharem-se na luta contra os sunitas (ISIS) a Turquia sente-se incomodada porque por um lado está interessada em combater os xiitas e em combater os Curdos não só na própria região mas também nas regiões dos países fronteiriços. Enquanto a EU e os USA estavam interessados em combater o ISIS e o governo Sírio, a Turquia (membro da Nato) estava interessada em instrumentalizar as armas da Nato em seu benefício (combate aos Curdos). A Alemanha admoestou-a mas pouco valeu. Quanto ao ataque bombista de Istambul, uma hora depois dele já o governo turco pretendia saber quem era o assassínio. É importante que nos primeiros tempos a opinião pública navegue na incerteza porque em qualquer caso quem ganha é apena o ISIS e entretanto tudo se esquecerá através de um outro atentado. Se fosse um Curdo estava mal porque muitos alemães deixariam de passar férias na Turquia e alertaria ainda mais para a guerra-civil na Turquia; sendo um ataque do ISIS contra a Turquia poderia corresponder a um castigo por a Turquia prometer mais eficiência na luta contra o ISIS; se tiver sido um atentado contra turistas alemães também com um só golpe o ISIS “mata duas moscas.” De qualquer maneira, a estratégia dupla da Turquia de se “unir também ao diabo” mostra que reverte em desfavor da estratégia dupla. Eu não afirmo que a Turquia não é fiável, que disse isso foi o perito que citei e que penso ser das pessoas mais bem informadas sobre o assunto na Alemanha. Penso que a Turquia quer fazer História própria com o ISIS, porque estes são os guerrilheiros da grande maioria turca que é Sunita e porque quer fazer tudo por tudo para acabar com a legítima reivindicação turca de erguer um Estado curdo composto pelo território fronteiriço dos países vizinhos onde se encontram.
O fomento da confusão é uma estratégia de que todos os implicados (Nato, Turquia, Irão, Arábia Saudita, EU e USA) no conflito da região síria e iraquiana vivem bem, conseguindo evitar a crítica dos cidadãos dos países democráticos.
Grande abraço
Justo

António da Cunha Duarte Justo disse...

Ao dizer que os implicados na Síria (Nato, Turquia, Irão, Arábia Saudita, EU e USA) esqueci-me de dizer que também a Rússia faz parte dos interessados em ganhar trunfos no conflito entre Xiitas (Irão) e Sunitas (Isis, Turquia e Arábia Saudita). Com o regresso do Irão ao palco internacional surge na região uma poténcia antes apoiada só pela Rússia e até agora combatida pela Nato que estava interessada em afirmar a hegemonia turca na região. Daqui surgirão novos problemas: Israel tornar-se-á menos estável também. Como no fim o que interessa é o capital e a ideologia como elementos fomentadores do poder, é de crer que o Irão se deixe entrar em compromissos para se afirmar como potência económica e daqui a dez anos poder voltar aos seus programas de energia atómica.