Europa a Caminho da Polarização e dos Extremismos
Por António Justo
Depois de o Parlamento alemão ter
declarado o massacre Turco-otomano aos arménios como genocídio, os 11 deputados
de origem turca no Bundestag têm recebido ameaças de morte que partem de associações
turcas na Alemanha e de apelos vindos da Turquia. A situação é tão séria que dois deputados (Özdemir e Özcan Mutlu) já têm
protecção pessoal da polícia.
Der Spiegel cita o protesto das associações
turcas onde estas afirmam que 90% dos turcos são contra a resolução. As reacções de Erdogan e das associações
turcas mostram que estes partem do princípio que os deputados turcos no
Bundestag deveriam ser o lóbi da Turquia na Alemanha. Erdogan, interessado
em fortalecer o seu regime extremamente autoritário, usa para tal a mobilização
do sentimento nacionalista contribuindo, especialmente ele, para o aquecimento
do estado de ânimo que levou a estas reacções. Na opinião do presidente Erdogan os 11 deputados são o braço alongado
dos terroristas e do partido curdo PKK.
Os 11 deputados de origem turca,
na qualidade de deputados alemães, têm que defender os interesses alemães…
Independentemente do momento da resolução ser ou não oportuno ela quer levar à
consciência pública a gravidade do massacre e a injustiça da História em relação
ao povo arménio numa sociedade, que passados 100 anos do crime, não quer
reconhecer as suas barbaridades cometidas quando a Alemanha reconheceu as
próprias (genocídio dos judeus) depois de 12 anos. Na resolução também se
condena a cobertura do regime alemão de outrora ao regime turco. Houve algumas
associações turcas, especialmente curdas que saudaram a resolução.
Já antes da resolução do Parlamento alemão, organizações turcas na Alemanha
tinham organizado uma manifestação de protesto, com mais de 2.000 pessoas em
Berlim, com cartazes e com entoações como estas: "Parlamentos não são
tribunais… "Allah-u Akbar, ” Alá é Grande”, “A Turquia é a maior”, “A mentira do genocídio”… A
sociedade turca, que nunca se manifesta através de manifestações contra as
barbaridades cometidas por salafistas e extremistas que saem das próprias
comunidades para combaterem ao lado do Estado Islâmico, levanta-se agora em
peso contra uma resolução.
A Europa parece cada vez caminhar mais no sentido da desunião e de
extremismo. A Áustria dividida em dois
campos, a Alemanha unida nos partidos do governo mas com parte da Europa contra
ela, a negociação com a Turquia (“Pacto para os Refugiados”), uma social-democracia
com os partidos da esquerda a virá-la para a esquerda e uma direita a fugir do
centro a querê-la à direita, enfim, uma salada russa difícil de digerir.
A reacção turca na Turquia e na
Alemanha estatuem um exemplo dos problemas de futuro numa Europa que se quer
aberta mas onde os nacionalismos dominam devido ao falhanço da política e em
grande parte por culpa da própria EU.
Quando os políticos de um país não
estão à altura de um certo desenvolvimento europeu sevem-se de acções como esta
que fortalecem o nacionalismo turco unindo os secularistas turcos e os
religiosos de Erdogan. Um acto de
justiça para com a Arménia incendeia a Turquia. Esperemos que tenha sido bem-intencionado!
O Parlamento não foi certamente diplomático ao ignorar a violência própria do
poder e a necessidade de o povo querer ser enganado. O governo turco deveria
contradizer as ameaças de morte provindas da própria sociedade. Não o fará
porque, infelizmente, em questões de poder quem pode não cede.
Moral da fábula: Complexos de inferioridade e sentimentalismos
nacionais não devem ser descurados. Nem a humilhação nem o orgulho são bons
conselheiros. O Extremismo nacionalista é apresentado nesta novela, na bandeja de
uma europa da Bela Adormecida
O nacionalismo vem dar força a muitos turcos
que vivem no meio de uma sociedade aberta que os deixa entregues a si mesmos e
a muita gente sistematicamente desestabilizada pelo politicamente correcto e que
agora anda à procura de segurança e de certezas.
António da Cunha
Duarte Justo
Pegadas do tempo
http://antonio-justo.eu/?p=3637
1 comentário:
O que é lamentável é que a consolidação de uma soberania se dê as custas do sofrimentos de outras culturas. Os armênios a muito ocupavam ali terras, penso, obviamente sob o olhar de 2016 (dias atuais) que poderia ser muito diferente, mas foi a intolerância que predominou.
Antes foram os bisantinos, depois os armênios, a bola da vez serão os curdos? É o que parece.
A visinha Geórgia passou pela necessidade de conviver com culturas distintas em seu território. Não conseguiu, por na região os interesses são muitos, pagou um alto preço com a peca de soberania sobre duas regiões, Abcassia e Ossétia do Sul, curiosamente mulçumanas em um país cristão e graças a uma Russia, que também ali mantêm historicamente seus interesses geopoliticos.
O Caucaso parece ser palco de conflitos indiretos de duas potências, Turquia e Russia.
Um pouco mais distante, Othan (EUA) e Russia.
Tudo parece indicar que os conflitos não param aqui.
Saudações,
Vilson
in Diálogos Lusófonos
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