Biólogo
aponta para o Possível Problema de Padrastos
António Justo
Casamento para todos já não é casamento, é casamento para ninguém! A gota
só o é enquanto não se transforma em nuvem ou enquanto não cai no mar!... No
momento em que tudo é um, só a autorrestrição imposta a si mesmo pode reconhecer
o outro.
Um contributo para a discussão
Na Alemanha o Parlamento
aprovou o “casamento para todos” independentemente de os pares serem heterossexuais
ou homossexuais. Em reacção ao facto, o Prof. Dr. Ulrich Kutschera da universidade de Kassel, tematizou três aspectos:
“O contexto do novo casamento universal com a Ideologia do Género, a base
biológica do ser humano e a pedofilia”.
Kutschera receia, no sim do
Parlamento ao “casamento para todos “, pedofilia subvencionada pelo Estado e
grave abuso infantil no futuro”.
Segundo ele, no casamento gay
fortalece-se “o problema dos padrastos”, que constituiria um risco acrescido
para as crianças: um padrasto que vive em casa com uma filha adoptiva, sem
ligações genéticas, poderá ter uma maior possibilidade de abuso, embora haja
muitos padrastos bons.
Para o biólogo, casamentos
gay com filhos adoptivos não possuem a herança genética de imunização contra o incesto.
Em casamentos heterossexuais, pai e mãe são em 50% parentes genéticos de seus
filhos, e a consanguinidade produz um efeito inibidor do incesto.
A probabilidade de
inclinação para pedofilia segundo investigações citadas pelo cientista é 10
vezes maior em casos de padrastos e de madrastas (estudo de Regnerus M 2012);
refere também que resultados de investigações mostram que filhos sem pais
biológicos sofrem mais de depressões e se tornam mais frequentemente criminosos
e dependentes da assistência social.
Argumenta biologicamente contra o direito de adopção de crianças por Gays “dizendo
que “crianças são moldadas inteiramente pela voz da mãe biológica durante o
desenvolvimento pré-natal”. Considera “inaceitável uma troca voluntária desta importante
pessoa de referência por pessoas estranhas.” Defende que na biologia, desde
1735, “Sexo” corresponde à reprodução bisssexual (fertilização) enquanto para a
ideologia Gender, sexo, desde 1876, significa o desenvolvimento de animais
sexualmente maduros”; insurge-se contra a erotização infantil precoce (que a
ideologia do Género implementa nos programas de todas as escolas), uma vez que
a pessoa só é capaz de actos sexuais depois da puberdade.
A visão do investigador
contempla a ideia que homens e mulheres nascidos homossexuais não devem ser
discriminados. Efectivamente, o problema vem do facto de o casamento Gay
implicar o direito a adopção e de o matrimónio implicar heterossexualidade e a
possibilidade de procriação.
Indagação ministerial: autoridade institucional contra autoridade individual
O Ministro da Ciência do Hesse (Boris Rhein) insurgiu-se contra Kutscera
que defende a teoria de que o “casamento para todos” aumenta o perigo de abuso
de crianças”. Boris Rhein diz que estas declarações do Professor são “tão
absurdas” que a reitoria da Universidade deve examinar as declarações e
verificar “se o professor feriu os seus deveres de funcionário, pelo facto de
ter falado prejurativa e depreciativamente contra os gays”.
A universidade retorquiu ao ministro com o argumento da liberdade académica
e da liberdade de opinião do professor.
O ministro solicitou então à Universidade que examinasse se através das
convicções do professor com as suas declarações terá prejudicado o local da
ciência da universidade e do Hesse.
A universidade respondeu não poder fazê-lo porque questões legais pessoais
são estritamente confidenciais e que a universidade está consciente dos
direitos e deveres dos seus funcionários.
A reitoria da universidade distancia-se de Kutschera e parte do parecer que
a maioria pensa diferente, mas que o princípio da liberdade da ciência e de
opinião não podem ser postos em questão pela Universidade. Nas respostas a universidade mostra-se consciente de que a ciência está
dependente da atribuição de fundos económicos do Estado, mas também da
criatividade e de um mínimo de independência dos seus professores….
A Universidade de Kassel mostrou coragem ao não aceitar, no caso,
subjugar-se ao sistema, ao neutralizar as intenções do Ministro no seu intuito
de perseguir um cientista que parece não se submeter ao pensamento
politicamente oportuno (o mesmo espírito que levou à inquisição na Idade Média
manifesta-se hoje na tentativa de funcionar o saber no sentido dos interesses da
instituição contra o indivíduo).
Na tradição do Renascimento, a liberdade de opinião também deve cobrir
opiniões que não correspondam ao pensar do politicamente correcto ou das
massas. Em casos como este, a ideologia
do género, e os partidos não estão interessados em discussões científicas; importa-lhes
uma sociedade alheia e alheada, sem discussão objectiva, onde mais facilmente
se consegue capital para os respectivos sequazes; deste modo destrói-se, quer a
nível de maiorias quer a nível de minorias, o princípio nobre distinguidor da
cultura ocidental de todas as outras: a relação de tensão entre autoridade institucional
e autoridade individual.
O princípio do uso de sanções contra apóstatas ou renegados através da instituição
continua hoje presente nas nossas instituições democráticas com a vantagem de
que, no nosso tempo, a própria impreceptível inquisição é melhor que a do outro
e que a do passado. Instituições do Estado que subvencionam, com dinheiros
públicos, a ideologia gender nas universidades também têm de suportar a opinião
de cientistas que chegam a outras conclusões mesmo que estas não sejam oportunas
a interesses estabelecidos. A sociedade é muito diferenciada, com diferentes
necessidades e gostos, não podendo, por isso, ser alimentada por uma só
caçarola.
As posições críticas do biólogo Kutschera em relação ao casamento gay com
direito a adopção, incomodaram muita gente. Uma entrevista sua na “kath.net” em que de forma pregnante
designa pares homossexuais como “estéreis duos de sexo sem potencial
reprodutivo” afirmando, ao mesmo tempo, não querer “ofender ninguém”, mas
apenas trazer para a discussão uma “perspectiva da ciência biológica”. Segundo o
resultado do seu trabalho científico as “crianças precisam dos seus pais biológicos
para se desenvolverem de forma optimizada” (HNA 20.7.17) e “em primeiro lugar
deve estar o bem-estar do protegido. O egoísmo dos pais não deve dominar”.
O grau da tolerância de opiniões diferentes ainda é muito baixo: em vez de
se reagir a argumentos com argumentos reage-se emocionalmente contra pessoas,
sem se discutir os prós e os contras dos seus actos. Por vezes confunde-se o
tom da voz com o que se diz.
No exercício de uma
cidadania cada vez mais emotiva e apostrófica, em vez de meros cães de guarda
de ideologias contra pessoas ou contra grupos, precisamos mais de pessoas e
grupos com um discurso público de argumento contra argumento ou de argumentação
inclusiva, como era tradição desde há muitos séculos com o método do discurso da controvérsia que incluía o advogado do
diabo. Neste sentido na
praça pública seria necessária a incrementação de simpósios entre cientistas de
posições contrárias alargados ao público em geral.
Conclusão
São naturalmente legítimas as aspirações de pares homossexuais querem ver
aceites na sociedade e nas leis as suas uniões afectivas e sexuais. Questionável
é a sua exigência ao direito a terem filhos adoptivos. Tal como uma política
ocidental contra a família tradicional e de fomento do aborto leva à
necessidade de maior imigração de povos biologicamente mais férteis para os
menos férteis, também as leis de adopção poderá vir a criar problemas de
identidade a filhos adoptivos em casais homossexuais. Daí a necessidade de uma
disputa séria sem desprezar ninguém; doutro modo conduzem-se as leis vigentes
ad absurdum.
Todo o contributo para o saber corre naturalmente o risco de ser usado e
abusado no sentido de fortalecer as trincheiras dos monopólios da opinião que
tendem a generalizar os factos no sentido de se glorificarem ou de prejudicarem
minorias. A discussão constitui também ela uma afronta a pessoas que querem
viver despreocupadamente na zona confortável da fachada da sociedade, e, como
diz um ditado alemão, para quem basta “paz, alegria e panquecas”.
A Europa mostra também aqui
o busílis em que vive: um modelo que surgiu da luta da autoridade do indivíduo
(renascimento) contra a autoridade da instituição; isto aconteceu no Ocidente
devido à legitimação divina do ser humano como imagem de Deus e como tal imbuído
de personalidade com autoridade perante as autoridades institucionais; portanto,
já não súbdito, mas sujeito.
Com a morte de Deus morre o sujeito em nós e com ele morre a personalidade,
dando lugar à chegada dos deuses de um domínio de poderes anónimos a viver de
ideologias ad hoc que apregoam a força do destino hoje com o nome de força da conjuntura.
Neste sentido tanto a instituição como o
indivíduo nas suas legítimas reivindicações não devem esquecer o velho
princípio de que só se ganha dignidade na medida em que se dá dignidade aos
outros.
© António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e
Pedagogo
Pegadas do Tempo http://antonio-justo.eu/?p=4411
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