Do Branqueamento da Atualidade
Por António Justo
Até 1957 tinha
validade na Alemanha o parágrafo da obediência que dava aos homens o direito de
determinarem sobre a vida comum do matrimónio; isto era regulado pelo código civil
entrado em vigor em 1900.
Também, até
1977, as mulheres não podiam trabalhar sem a aprovação do homem.
Até 1958 o homem tinha o direito de
rescindir o contrato de trabalho de sua esposa sem o seu consentimento e sem
aviso prévio.
Quanto ao direito das mulheres poderem
votar, também só tardiamente lhes foi dada igualdade. Antes era a cabeça de
casal que tinha o direito a votar.
O sufrágio feminino foi introduzido pela
primeira vez na Nova Zelândia em 1893.
Finlândia em 1906; Alemanha em 1918;
USA em 1920; Turquia em 1930 (Graças a Ataturk), Brasil em 1932, França em
1944; Portugal 1946; India em 1950; Suiça em 1971.
Nas primeiras eleições gerais foram
eleitas para a Assembleia da República na Alemanha 41 mulheres o que
correspondia a 9,6% dos 423 deputados.
Em 2017 a percentagem de mulheres no
parlamento desceu para 30,9% no Bundestag, isto é para o nível de 1998.
Como se vê levou tempo até que se
passasse da sociedade agrícola para a sociedade industrial, onde o trabalho
determina o direito.
Apesar de todo
o desenvolvimento, a imagem da mulher ainda continua a ser muito definida pela
bunda, perna, coxa e seios; isto é, apenas como objecto de desejo.
No meio de tudo isto, verifico que a
injustiça, geralmente, caminha à frente da justiça.
A razão da apresentação destes dados
vem do facto de verificar que hoje se usam, muitas vezes no debate público, os males passados como argumento de justificação dos
males presentes. Vejo muita gente
interessada em falar mal da História de Portugal devido à colonização e em desdizer
de Portugal apresentando só os dados negativos do antigo regime, como se isso,
além de ser mau, fosse uma coisa só nossa e sem o contexto da época. Esta é
uma estratégia da esquerda para pôr os conservadores em situação de fora de
jogo!
Outros, porque não acham relevantes os
defeitos dos adversários do presente, gastam o tempo a lavar a roupa suja do
passado alheio, na esperança de que algo da sujidade antiga, suje o rosto do
adversário atual! Este espírito social de lavadouro público já lembra uma praga
social no âmbito da argumentação. E isto num tempo em que teríamos tanta roupa
suja atual para lavar! Seria fraco o nosso presente se para o glorificar precisássemos
de difamar o passado ou só falar dos seus erros.
Do Engano de se aldravar com a Moeda do Preconceito
As injustiças que
condenamos no passado servem, muitas vezes, de condimento para adoçar as injustiças
do presente, quando os erros do passado são o estrume onde nascem o trigo e o
joio de hoje.
Embora vivamos hoje num mundo diferente,
não é legítimo armarmo-nos em carapaus de corrida modernistas, e abusar de um espírito crítico de análise
com duas medidas. Hoje condenamos, com veemência, os maus hábitos de ontem, mas
achamos política e economicamente o mal que fazemos hoje, de menos relevância.
Também Pilatos passou
a rasteira à multidão ilibando-se de responsabilidades lavando as mãos sujas com
pretextos de inocência.
O passado instrumentalizado e não reconhecido,
nos seus aspectos positivos e negativos, cria o desgaste civilizacional em que
nos encontramos! É verdade que o passado
não se vende, mas é abusado para um presente que se quer sem raízes nem fundamentos;
por isso é mais considerado como adjectivo do que como substantivo, olhando-se
só para os males dele e assim nos distrairmos dos males do presente.
Hoje somos,
geralmente, obedientes ao pensamento politicamente correcto, com a agravante
que, em geral, o somos sem consciência disso.
© António da Cunha Duarte Justo
Pedagogo
In “Pegadas do
tempo”, http://antonio-justo.eu/?p=5211
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