Neste aproximar do Natal, agradeço a amizade da vossa presença e desejo a todos os visitantes e leitores os meus mais sinceros votos de paz, alegria e momentos luminosos e de carinho junto daqueles que vos são queridos.
Que o novo ano nos traga a todos saúde, confiança e a gratidão de quem sabe celebrar a vida.
Junto uma poesia que vos dedico.
Com amizade e reconhecimento
António
PRESÉPIO DE LUZ
No jardim secreto da alma
onde o silêncio aprende a florir
o Natal não chega:
nasce.
Não é data,
é chama antiga
a arder no coração do mundo,
estrela interior
a abrir o céu por dentro.
Num estábulo mínimo
onde o divino se inclina,
terra e céu tocam-se.
E a Luz entra na História
no corpo frágil de um Menino,
Seu nome é Jesus.
Nele a humanidade inteira
se entregue como dom.
Presente sem preço,
sem embrulho,
oferta nua
no berço da Terra.
Nele o mistério abre-se:
Não somos apenas quem recebe.
Somos o presente.
Eu-Tu-Nós,
existimos para ser dados:
como pão, abraço,
como palavra justa que salva,
ou silêncio que ampara.
Quando o sabemos,
tudo se torna dádiva
e a gratidão aprende a cantar.
Estamos embrulhados em Deus:
feitos de musgo e estrela,
poeira e infinito,
ligados com fios invisíveis
a tecer-nos em pessoas verdadeiras.
Até o sol é oferta,
coração em fogo
a aquecer a pele do planeta
e a erguer o olhar da alma.
A estrela não guia só à Belém da História,
mas à que dorme em nós,
no fundo fértil do ser
onde a Luz ensaia nascer.
Ali, Deus dança.
Energia em êxtase,
desejo puro,
movimento de ascensão
contra o peso do medo
e da cinza.
A voz divina ecoa:
no mar, no vento,
na sede dos pobres por justiça,
no olhar dos animais
quando a madrugada recomeça o tempo.
Que este Natal nos acorde
para o assombro de sermos oferenda viva,
continuação da Luz
num mundo ferido.
Feitos de terra e céu,
embrulhados para a vida,
somos chamados a dançar,
a oferecer,
a crescer em humanidade.
Mesmo sob as cinzas e o ruído
de uma sociedade cansada,
governada pelo útil
e pelo passageiro,
o Natal resiste,
Brilha e espera.
Ele nasce
sempre
que alguém
se oferece.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10542
Nota do Autor
Este poema nasce da impressão, tantas vezes inquietante, de habitarmos um mundo que, apesar do seu progresso técnico e organizativo, parece agir contra o humano: um mundo orientado pelo útil, pelo imediato e pelo descartável, onde a vida corre o risco de perder profundidade, sentido e ternura.
Diante dessa experiência, a figura de Jesus surge aqui não como pertença exclusiva de um credo, mas como protótipo do humano pleno e sinal de uma criação inteira a caminho. Nele reconheço uma síntese viva do que o humano pode vir a ser: relação, entrega, consciência, compaixão, natureza humano-divina. Por isso, a sua luz ultrapassa fronteiras religiosas e também as negações ateias, não para as negar, mas para as iluminar a partir de dentro.


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