Repensar a Europa dos três (E-3)
O Vírus da
Guerra
Imagine a guerra não como um incêndio ocasional, mas como uma doença crónica
que se instala no corpo da Europa. Com este artigo pretendo alertar para o
facto de estarmos a normalizar o conflito. O rearmamento acelerado e a narrativa
de que a guerra é inevitável não são só decisões políticas, são uma mudança
profunda na nossa alma coletiva. A Europa está a trocar o seu projeto de paz
por um colete blindado. Cega parece seguir os interesses de uma Europa dividida
e determinada pela Europa dos três (E-3).
O Antídoto
Ético: Uma Paz que Desarma
No meio deste ruído de armas, surge uma voz rara e corajosa: a da Conferência
Episcopal Italiana. Com a sua Nota Pastoral "Educar para uma paz desarmada
e desarmante", eles não propõem uma paz frágil, mas uma força ativa. É um
apelo para desarmarmos os nossos espíritos antes de pensarmos em desarmar os
exércitos. É o primeiro grande contraponto a uma cultura que está a adormecer
para o horror.
A Amnésia
Perigosa: A Alemanha Esquece as Lições
A Alemanha, outrora guardiã da memória dos horrores da guerra, tornou-se a
principal motorista do rearmamento. É como se um ex-fumante, curado de um
cancro, começasse a vender cigarros. Chama-se a Alemanha à atenção de uma
"amnésia estratégica": a sua verdadeira segurança sempre veio da
cooperação, não das armas. Ao abraçar cegamente a lógica da NATO, Berlim está a
desistir de pensar uma Europa autónoma e a empurrá-la para o abismo de um
confronto sem fim com a Rússia.
Os Arquitetos
da Divisão: NATO e Reino Unido
A NATO já não é só um guarda-chuva defensivo; tornou-se um professor que dita o
que uma sociedade deve pensar e valorizar. A exigência de se gastar 5% do PIB
na defesa é a receita para militarizar não só os orçamentos, mas também as
nossas mentes. Paralelamente, o Reino Unido, após o Brexit, age como um
"sismógrafo do caos": para se manter relevante, semeia a divisão no
continente, uma estratégia antiga das potências marítimas que deixa a Europa
mais frágil e instável.
A Europa sem
Bússola: Reagir sem Pensar
Aqui está a metáfora central: a União Europeia parece um barco à deriva, sem
leme nem mapa. Reage às ondas (as crises), mas não sabe para que porto quer
navegar. A EU movida pela EU-3 esquece um facto geográfico crucial: a Europa é
uma península da Ásia. Tentar isolar ou humilhar a Rússia é como tentar separar
o quarto da casa em que se vive. A verdadeira segurança só pode ser construída com o vizinho, nunca contra ele. «Quem cava uma cova para
os outros, cai nela», diz um provérbio.
A Escravatura
Invisível: O Neocolonialismo das nossas Mentes
O colonialismo de outrora roubava terras e corpos. O de hoje é mais insidioso:
rouba o nosso pensamento. Através de uma informação centralizada e de
narrativas simplistas e maniqueias, somos condicionados a aceitar a guerra como
normal. É um "colonialismo mental" que nos escraviza desde a
infância, fazendo-nos temer e odiar antes mesmo de podermos refletir. A guerra
já não precisa de ser declarada; ela já venceu quando se instala no nosso
inconsciente. E no neocolonialismo das mentes estabelece-se um regime
sustentável das elites em que já não é a humanidade nem o humanismo que contam,
mas o funcionamento da máquina. O argumento da guerra no seguimento do regime
COVID-19 prepara os espíritos para a servilismo total.
Quem paga a
Conta é o Povo. Quem lucra são as Elites e as Potências.
Uma verdade antiga e cruel: as guerras são decididas em gabinetes luxuosos, mas
pagas com o sangue dos filhos das famílias comuns. Enquanto a indústria bélica
e as elites políticas e financeiras lucram com o medo, a paz torna-se um perigo,
porque exige justiça, transparência e cooperação, que ameaçam os seus
interesses.
A grande
Viragem seria investir na Paz como Estratégia
E se, em vez de gastarmos milhares de milhões em armas, investíssemos o mesmo
numa "Cultura da Paz"?
Seria de começar com essa revolução:
- Educação para o pensamento crítico.
- Diplomacia ativa e preventiva.
- Justiça social como a melhor política de segurança.
- Media diversificados e descentralizados mais conformes com um regime democrático.
- Cooperação
global que leva
desenvolvimento, e não apenas exploração.
Isto não é um sonho ingénuo; é o único plano realista de sobrevivência a longo
prazo.
Conclusão: A
Encruzilhada Final
A Europa está numa encruzilhada histórica:
- Caminho 1: Ser uma "Europa Armada", rica em armas, mas pobre em consciência, subalterna, dividida e reativa.
- Caminho 2: Ser uma "Europa Pensante e Consciente", que investe na paz como força civilizacional iniciando finalmente o processo de realizar o ideal cristão da irmandade entre todos os humanos e entre todos os povos.
A pergunta final do artigo é uma faca na consciência coletiva: Que tipo de humanidade queremos promover? Financiar a guerra é fácil e dá votos a curto prazo. Construir a paz exige coragem, paciência e uma visão que vai além do próximo ciclo eleitoral. A verdadeira segurança começa no dia em que a guerra deixa de ser sequer imaginável.
Sintetizando
A Europa está a adoecer da "normalização da guerra", guiada pela
amnésia da Alemanha, pela lógica divisionista da NATO/Reino Unido e pela sua
própria falta de visão. Estamos a trocar o projeto de união por um pesadelo de
militarização e colonialismo mental, onde as elites lucram e o povo paga. O
antídoto? Uma audaciosa "Cultura
de Paz", financiada com a mesma verba que se destina às armas. A
escolha é entre sermos um forte militar ou uma luz para o mundo.
António da Cunha Duarte Justo
Resumo do artigo integral em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10478


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