quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

N A T A L 2 0 0 8

E tu, que gostavas de ter como prenda de natal?
António Justo
“Que gostavas de ter como prenda de natal?” – pergunta a mãe viúva ao filho triste que aperta nas mãos uma moldura com o retrato do pai. “ Gostava que meu pai arrombasse a moldura para me acarinhar” – responde o filho, sem hesitar.

“Que gostavas de ter como prenda de natal?” – pergunta o professor na escola. “Gostava de ter um professor que derrubasse os muros da escola para poder estar comigo” – responde o aluno no seu anonimato.

“Que gostavas de ter como prenda de natal” – pergunta o patrão. “Gostava que os muros da fábrica caíssem para a fábrica se tornar num lugar onde se ganha o pão com honra” – responde o empregado.

“Que gostavas de ter como prenda de natal” – pergunta o político ao cidadão. “Gostava de ter políticos que rebentassem as grades do partido e formassem um governo que não faça da nação uma prisão.”

“E tu, que gostavas de ter como prenda de natal?”
Eu gostava de ter uma família, uma escola, uma igreja, uma política, um patrão, um amigo que estivesse cá para mim. Tenho um desejo insaciável de alguém que me acolha e me acompanhe. Tenho saudade de alguém que saia fora do quadro, que estoire a moldura da rotina e as armações das estruturas, que deixe cair a máscara para se encontrar comigo em Belém.

“Que gostavas de ser então?” – pergunta-nos Jesus. “Gostava de tornar-me Jesus Cristo ao serviço dos irmãos” – respondes tu e eu.

Tu e eu somos Natal a acontecer!

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

4 comentários:

Anónimo disse...

Romper fronteiras, não só no natal. Por que será que no natal as pessoas desejam as coisas com mais afinco e mais sinceridade?

Como se tudo pudesse acontecer e como se todas as culpas pudessem ser redimidas com uma oração em volta da mesa.

António da Cunha Duarte Justo disse...

Tem razão!
Natal não e´ um aniversa´rio, não e´ uma recordação. Natal e´ processo, e´ acontecer, e´ a realização da ipseidade!
A culpa sera´ a crosta que se forma num processo vital ou de cura! A oração como a revolta poderão ser uma expressão de vitalidade, de resistencia.

Luís Costa disse...

Estimado Justo,

passei por aqui. Como sempre palaras que valem a pena ser lidas. Tenho agora um novo blogue, se quiser passar por lá será bem vindo.

Abraços

Luís.

Helena Figueiredo disse...

O Natal é todos os dias,especialmente para quem trabalha com crianças, como é o meu caso, onde o tempo é sempre de dar, mas especialmente receber, onde há espaço para tudo o que de melhor se deseja nesta época: alegria, afecto, partilha, companheirismo.

Helena Figueiredo