segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

NATAL HOJE



António Justo
Quando era pequenino, andava de colo em colo, colhendo o fruto das cores do arco-íris. Entretanto crescido, tornei-me um rei mago a caminho do presépio; vou levar ao menino um sentimento agradecido na forma de pétalas olorosas colhidas a caminho; não vou movido por pecado nem culpa, sinto-me apenas impelido por um afecto reconhecido de ter algo para oferecer. Agora crescido, sou o rei mago a caminho do presépio; vou levar ao menino um sentimento agradecido na forma de pomba; não vou movido por pecado nem culpa, sinto-me simplesmente impelido por um afecto reconhecido de ter algo para oferecer. 

No menino estás tu, estou eu, sem culpa nem dever, com o sol da manhã sempre a amanhecer. Tu, meu vizinho, Deus Menino, não me carregas com culpas nem pecados, és um inocente menino. Um menino Deus como tu, anda por aqui à procura de um abrigo, em nome do céu, da política ou de alguém, sempre adiado, na procura de Belém. 

A ida ao presépio é uma descida à gruta do coração onde a vida se oferece longe do bulício. No presépio se une Céu e terra, a humanidade também. Aí, no silêncio de mãos erguidas, jorra a água límpida do amor, jorra viva sem as cores de leis, concepções e credos. Aí, na escola maternal, antes da história da matemática e do catecismo, vou descobrir a dimensão de ser céu e terra à luz do sol. 

Em Jesus descubro o caminho aberto para Deus que é felicidade. Não é um livro, mandamento nem dogma. É uma pessoa caminho, a caminho sob a mesma chuva, sob o mesmo sol. A pessoa é mais que um livro aberto. Um livro, uma ideia, um mandamento também pode torna-se em tropecilho a desviar do caminho. O Homem não é só ser, é tornar-se, é ser indefinido na definição, porque é in-formação; é o in a passar-se na forma como o sol pela vidraça. A alegria e a tristeza, não são vida, são apenas nuvens e abertas no alto, segredos de anjos nas asas do tempo a acenar. 

No teu interior (presépio), no seio da igreja espiritual, germina o eterno que quer tornar visível a realidade mística da feminidade a dar à luz o infinito. 

Toda a natureza se encontra nas dores de parto, toda a pessoa se acha em choque, a dar à luz num momento deslumbrado. A dor do grito desconsolado não encontra guarida nem alívio porque é impulso no seio do mundo a afastar a treva do corpo. A treva na procura do sol de aleluia.

Em cada um dorme um Deus-menino à espera de realização; em cada pessoa se encontra um corpo presépio, a feminilidade a querer dar à luz o salvador. No presépio somos todos um. Este um, passa a ser mãe, passa a ser filho e pai também. Cada um é mais que o mundo porque traz em si o eu, o tu e o nós, o eu e o universo numa aparição concretizada na Segunda Pessoa a caminho do Pai.

António da Cunha Duarte Justo

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