segunda-feira, 17 de maio de 2021

A PANDEMIA QUE O SOL ENCOBRE!


Às vezes vem-me vontade de gritar de desgosto e de desespero; magoa-me a solidão mascarada a caminhar pelas nossas ruas tornadas anónimas.

Hoje, ao fazer a minha caminhada na floresta que envolve a cidade, vi muita gente que caminhava sozinha, vi crianças tristes, adolescentes desiludidos, pais exaustos, pessoas deprimidas; vi tudo a acenar a sua angústia nas tenras folhas das árvores que se inclinavam para o chão em mim.

No meio de tanta vida penalizada que jazia no chão, descortinei um raio de sol numa criança que, nos seus quatro anitos, abraçava, o tronco de uma árvore já caída! 

No meio de tanta desolação, queria gritar para as árvores, para o mundo, mas não estava lá ninguém; no meio da floresta só vislumbrei um que ouvia o meu gritar; esse alguém era Deus (1).

Depois de gritar a minha raiva, o meu desespero e a minha tristeza com Deus, notei que no horizonte o sol sorria para todos e a todos (mascarados e desmascarados) como que a dizer: Tu estás procurando o outro (a contraparte, o semelhante) em Deus e Deus está procurando o outro (a contraparte, o semelhante) em ti!

António da Cunha Duarte Justo

Nota em Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=6504

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