sexta-feira, 4 de março de 2022

Acirrar o Urso russo significa preparar uma Guerra nuclear na Europa

 A GUERRA NUNCA É POR UMA BOA CAUSA

A ilusão de se vencer Putin conduzirá à tragédia de pôr todos em perigo. Depois do 24 de Fevereiro, acordámos num mundo diferente: horrorizados com a guerra, o receio e a ansiedade acompanham-nos! Mais de um milhão de ucranianos encontram-se em fuga. Segundo a ONU, dos 874.000 ucranianos que estavam há dias em fuga, 454.000 já se encontravam na Polónia e os restantes em nações (1) vizinhas. A ONU presume que outros quatro milhões deixarão o país.

Nunca há guerra por uma boa causa. Esta guerra embora fabricada na Ucrânia não deixa de ter direitos de autoria!  Por isso há que ser pelos Ucranianos e preocupar-se por encontrar soluções para depois da guerra. A Ucrânia tem o direito à autodeterminação, embora o povo se encontre dividido, o que complicará a questão também depois da guerra. Isto e o facto de o presidente ucraniano pretender forçar que a Ucrânia entre na EU, mais complica a questão (a guerra não se dá directamente entre a Rússia e a EU e os parceiros da Nato!). Há perguntas por responder: porque é que a Ucrânia, pelo menos numa fase intermédia, não quer ser não-alinhada, independente da Rússia e da Nato?  Deste modo causaria menos dores de cabeça à EU e aos blocos rivais. Não será que o presidente ucraniano com o seus acto heroico não estará a sacrificar a Ucrânia ao pôr demasiada confiança nos parceiros da Nato? Não será que quanto mais armas se entregarem à Ucrânia mais fogo haverá lá porque elas apenas prolongarão a guerra? Será do interesse dos USA/Nato prolongar a guerra o mais tempo possível, na esperança de Putin ter de ceder devido às consequências internas das sanções impostas; mas os ucranianos é que pagarão esta estratégia com as próprias vidas e com a debandada do país. A que conduzirá o demasiado cerco internacional a Putin? Que acontecerá quando o urso russo se encontrar em situação de já não ter mais nada a perder? A sua única força é a bomba atómica! Será que queremos uma aliança entre a Rússia e a China? Há um ditado chinês que diz: “Um homem aponta para o céu. O tolo olha o para dedo, e o sábio vê a lua”

Além de assistirmos à guerra militar entre a Rússia e a Ucrânia estamos envolvidos numa guerra mediática onde se pretende criar fronteiras mentais; neste sentido procura-se, evitar falar do contexto, falando-se só dos aspectos emotivos para facilmente armar a mente das pessoas e assim fazer das suas opiniões soldados ao serviço de uma parte ou da outra: o que interessa é formar soldados!...(O ambiente mediático cria a sensação de que já estamos em guerra e até faz surgir entre jovens a vontade de se alistarem como soldados mercenários para a Ucrânia). É preciso evitar analisar a situação em termos maniqueístas e também não culpar as vítimas nem desculpar o crime. Em política não há santos, o que resta e conta são os factos e acções, que ficam, por vezes, à margem da razão e de actos corajosos!

Se estivermos atentos ao que se passa na opinião pública, notaremos que se está a actuar em termos da ordem marxista que divide o mundo entre os que estão do lado certo e os que estão do lado errado: dividir para instrumentalizar, dividir a sociedade e o mundo em opressores e oprimidos para deste modo, o grupo dos espertalhões se alimentarem à custa do que falta ao povo (segundo essa lógica nos seus domínios os do lado certo está a troica dominante e nos domínios dos outros estão do lado certo os oprimidos!  errado os dominantes (capitalistas-fascistas).  Deste modo, impede-se, na sociedade, a construcção de pontes possibilitadoras de convivência e colaboração pacífica entre as camadas sociais e as partes. Continua-se a afirmar e a justificar a ordem da sociedade e do mundo numa estratégia de luta antagónica.  Ao colocar-nos, inflexivelmente, de um lado ou do outro confirmamos a estratégia marxista que procura legitimar a violência pelo facto de ela se encontrar ancorada, em termos de poder, na natureza (evolucionismo selectivo afirmativo do mais forte). Na actual invasão russa na Ucrânia, observa-se o princípio natural de afirmação dos mais fortes (Rússia rival da Nato) contra o pequeno! Por outro lado, constata-se, como reacção, o surgir da solidariedade (princípio de colaboração e apoio entre os mais pequenos), único meio de juntar forças para resistir aos grandes. Aqui ajudaria o espírito do discernimento e a coragem de integrar como forma de vida os princípios inclusivos da ordem cristã. O facto de termos o sentimento de podermos escolher, não nos deve desviar da realidade de só termos liberdade para escolher um senhor!

Não podemos querer tudo ao mesmo tempo, mas também não podemos ignorar, por um lado, as necessidades individuais nem, por outro, desconhecer a necessidade da existência de constelações, de instituições e hierarquias. Essa ordem é tão natural que até se pressupõe na esfera celeste (anjos, arcanjos, etc.), o que não justifica a sobreposição de uns sobre os outros.

Na impossibilidade de se refrear o conflicto actual (2),  o mais racional seria tentar uma maneira de lidar com o antagonismo de modo inteligente não desperdiçando as nossas energias com reacções emocionais que mais lembram tubos de escape ou, pior ainda, servem para afirmar a sustentabilidade da guerra, pelo facto de cada parte se sentir do lado certo! (Tenho naturalmente o direito individual de estar do lado certo desde que numa atitude humilde de serviço, de empatia com o todo e de complementaridade!) Não há que forçar a natureza, importa andar com ela e tentar melhorar nela o que se pode. Martin Luther King lembra:” Ou vivemos todos juntos como irmãos ou morremos todos juntos como idiotas!” Tudo leva a crer que continuaremos, por muito tempo, no estado de idiotia, porque nos preocupamos mais com o ter do que com o ser!

Um efeito colateral da guerra mediática será criar-se socialmente uma atmosfera propícia a que se acolha de braços abertos os refugiados ucranianos (o que será um grande gesto humano e um grande enriquecimento para o país de acolhimento); por outro lado, justificará as medidas que governos e a economia tomarão provocando um encarecimento quase insuportável da vida, o que não seria justificável sem a guerra! A sociedade europeia não será mais o que era!...

A guerra põe ao leu o que se passa nas guerrilhas! Enquanto a guerra gera pessoas sinistras, as guerrilhas possibilitam aos dominadores andarem de cara levantada, porque o fomento de guerrilhas é considerado permitido (veja-se o estado anterior na Ucrânia, a Primavera Árabe, a invasão no Iraque, Síria, Afeganistão, etc...

Porque não iniciar uma política no sentido de evitar a guerra e as guerrilhas? A questão é que as guerrilhas não violam direito internacional por serem consideradas lutas intestinas e o sangue correr sem que o mundo note. Encontramo-nos numa época em que as emoções determinam as decisões e não a razão; essa é uma das razões que nos leva também a não estarmos atentos ao que se passa em África!

Pelo que vemos, não existe um caminho seguro entre a paz e a guerra!...

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,  https://antonio-justo.eu/?p=7149

(1) Outros preveem até 7 milhões. A Alemanha conta albergar, para já um milhão de ucranianos! Kassel, uma cidade alemã de 200.000 habitantes, está a preparar-se para acolher 3.500 pessoas; os refugiados são distribuídos segundo o número de habitantes das cidades. Em 2015/16 Kassel recebeu 4.000. Os refugiados da Ucrânia, não são abrigados pelo estatuto de outros refugiados, pelo que se a UE não alterar a regra, permanecerão por 90 dias.

(2)  Ditadores como na Bielorrússia, Turquia, Rússia, etc. não se deixam intimidar. O facto de a EU ter falado da possibilidade da Ucrânia entrar na EU torna-se numa verdadeira provocação a Putin. O surgir de novos candidatos para entrar na EU mais acirrará Putin! Quanto mais se olha e vê mais se sofre e, por isso, muitos retiram-se na zona privada de conforto. Ditadores como na Bielorrússia, Turquia, Rússia não se deixam intimidar. Na guerra, a verdade morre primeiro e depois a vontade de difamar aumenta. Os políticos de direito próprio não morrem; eles enviam os soldados para a frente. Já havia uma guerra civil e uma brutal "operação antiterrorista" dirigida contra o próprio povo em Donetsk e Lugansk. AS mais de 14.000 vítimas foram negligenciadas pelo público mundial e agora as forças do destino vingam-se.

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