sexta-feira, 22 de julho de 2022

DO DISCURSO EMOCINAL CONTRA O DISCURSO RACIONAL


Na Controvérsia entre Acontecimentos e Factos alternativos esvai-se a Verdade

Os peritos da rectórica descobriram que, para se levar o cidadão a fazer o que se pretende dele, se torna mais eficiente o uso do discurso/notícia emocional do que o uso do discurso racional argumentativo...

Outras análises científicas chegaram à conclusão que se torna até “racional usar as emoções como meios de comunicação política porque estas favorecem processos de deliberação” (1). Esta tática política é de observar nos métodos empregados nos discursos dos políticos e dos Media em relação à informação sobre a pandemia e a Ucrânia onde se procura motivar as populações a apoiarem todas as medidas políticas tomadas ou a tomar.

Um discurso “emocional” tenta, em geral, apresentar o facto ou descrever a situação de maneira a obter-se um juízo de valor que leve o grupo ou a colectividade a aceitar o transmitido como se fosse norma moral ou social...

Ao contrário, o discurso racional assenta num diálogo argumentativo em que se discute a validade de afirmações e a legitimidade das normas discutidas...

Chegou-se a uma prática discursiva desenvergonhada com base no maquiavelismo de que os fins justificam os meios e como tal utilitarista para uma das partes e ao mesmo tempo grosseira. Neste sentido é de observar uma lamentável aproximação dos discursos, do populismo dos de cima ao populismo dos de baixo!...

Neste sentido é de observar uma lamentável aproximação dos discursos, do populismo dos de cima ao populismo dos de baixo! A política tem verificado que é mais simples e proveitoso mover a emoção do que a razão. Temos assim um discurso cada vez mais maniqueísta e assalariado sobre realidades reduzidas a preto e branco, o que é uma expressão sintomática da entropia em que estamos envolvidos e do autoritarismo para que caminhamos...

“Sócrates já observava que entre os doces de um confeiteiro e os remédios de um médico, não há dúvida quanto à escolha das crianças. Mas os senhores do espectáculo não se contentam em considerar seus espectadores como crianças. Um mestre na manipulação das almas, Adolf Hitler, dizia: “diante de uma plateia, para conseguir adesão, viso o mais estúpido e, nele, o que existe de mais baixo: as glândulas lacrimais ou sexuais... E ganho sempre. À minoria crítica, cuido dela de outra maneira” ...

A Europa encontra-se no mau caminho! O discurso político atual assumiu o papel de condutor cego alheado e alienante! E o mais trágico é constatar-se que as populações devido a um complexo de inferioridade não veem ou não se atrevem a dizer que os “reis” que nos governam vão nus!...

Michel Foucault e Jean-Francois Lyotard (2) constatam que não existem factos incontroversos, empiricamente provados. Pelo contrário, os factos são apenas interpretações de certos acontecimentos ou casos que também podem ser interpretados de forma diferente, ou alternativamente...

O difícil da questão está em verificar se uma interpretação ou narrativa considerada verdadeira está inserida na grande narrativa ou acontecimento...

Cada ordem implica um viver em relação e, consequentemente, ter a percepção da realidade não só na parte, mas também no seu todo...

Não chegam as próprias narrativas da realidade é preciso reconhecê-las integradas num texto ou contexto. O contexto aproxima-nos mais da realidade/verdade...

Na nossa época devido à exuberância do eu, à acentuação do ego, somos tentados a tornarmo-nos só verbo e como tal sem frase, sem comunidade que nos dê prospecção e sentido...

O artigo, o substantivo, a preposição, a conjunção, o verbo, considerados isolados em si mesmos, perdem o seu sentido que é ser elemento vivo da frase ou do texto, seja ele gramatical, social, político ou religioso...

Nem os ricos nem os pobres, nem os governantes nem os súbditos, nem os religiosos nem os ateus, nem os do Norte nem os do sul global se encontram do lado errado. Errado é o caminho que não nos leva a unir-nos nem a sermos fraternais e solidários!...

No meio de toda a discussão haverá que compreender por que é que os sentimentos nos motivam a agir, mas para tal também compreender o que está por trás dos sentimentos e qual a razão que nos leva a reagir como reagimos ou a sentirmos como sentimos. Só então estaríamos preparados para elaborar decisões com um fundo racional (mental que ilumina) e um fundo emocional que motiva a agir de modo adequado e equilibrado.

Doutro modo, na controvérsia de acontecimentos e factos alternativos esvai-se a Verdade para ficar a dúvida ao serviço do engano.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Texto completo e notas em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=7738

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