Comissão Europeia prolongou o Uso do Glifosato sem a
Legitimação dos Estados da UE
António Justo
Depois de muita controvérsia a
Comissão Europeia acaba de prolongar a permissão do emprego do Glifosato na
agricultura por mais 18 meses embora na votação em Bruxelas não fosse alcançada
a maioria necessária. Fê-lo, sem a legitimação dos Estados da UE, um dia antes
(29.06) de terminar o prazo para o prolongamento, apesar das objecções contra
vindas da Alemanha e de instituições civis como Greenpeace. No termo deste prolongamento pretende-se
que a Agência Echo apresente uma avaliação sobre as probabilidades do herbicida
ser um produto cancerígeno e então a Comissão decidirá de novo sobre a sorte do
Glifosato.
De facto a ciência consegue
provar resíduos mínimos de pesticidas na alimentação e até na urina das pessoas
já registam os vestígios. Glifosato, herbicida da Monsanto já é usado desde há
40 anos. Apesar disso os estudos sobre o assunto são controversos e segundo
dados de certas investigações, não são conhecidos casos clínicos devidos ao
consumo de produtos provindos de cereais tratados com o herbicida embora se
comprovem resíduos de Glifosato nos cereais. Nesta discussão pública, como
noutras, uns jogam com a saúde do consumidor dado estarem interessados no
lucro, outros capitalizam o medo; o que mais me preocupa é o radicalismo de
posições extremas.
Em causa estão duas posições
contrárias: a dos adversários do uso de Glifosato, os defensores da
biodiversidade do meio ambiente e da saúde e de uma agricultura menos extensiva
e a posição dos defensores do emprego do herbicida para poderem ter o controlo
químico sobre a natureza e deste modo poderem produzir mais e, como afirmam,
darem resposta à crescente necessidade de alimentação numa sociedade mundial a
aumentar.
O herbicida Glifosato, produzido
pela Monsanto (USA) é prejudicial à saúde de pessoas, animais e ambiente,
segundo provam estudos feitos nos USA. Outros estudos consideram-no de baixo
risco ambiental e toxicológico ou até irrelevante se empregue conforme as
normas.
Em questões controversas torna-se difícil obter-se dados científicos certos
que satisfaçam todos porque em assuntos de economia e de ideologia, geralmente,
há resultados científicos diferentes e até contraditórios. O resultado dos
dados científicos está, muitas vezes, dependente de grupos e organizações de
interesses que subvencionam e encomendam os estudos e investigações.
Importante seria o emprego
racional da química na natureza, tal como se faz com os químicos que tomamos
como medicamentos. Trata-se de proteger as plantas alimentares; o emprego de
produtos químicos é como o do consumo de ideologias, quando empregues em
demasia, provocam sempre efeitos colaterais. Como em tudo o problema estará no
abuso.
Seria importante ver como reage Glifosato em combinação com medicamentos,
resíduos de pesticidas e hormonas químicas no corpo humano. Geralmente só se
fala do Glifosato como cancerígeno.
A medida da virtude está no
meio-termo como já nos advertia o nosso filósofo Aristóteles no século IV antes
de Cristo.
Para quem não é especialista
torna-se difícil avistar a realidade através da floresta dos diferentes
interesses de organizações sejam elas Monsanto ou Greenpeace, por vezes, cada
uma atirando para além do alvo. Também é de considerar que, se há séculos
houvesse tanta oposição ao desenvolvimento técnico ainda hoje teríamos as fomes
da Idade Média e uma média de idade de 50 anos, quando hoje a esperança de
vida, na Europa, já ronda os 80, apesar
de tanto veneno.
Outrora algumas organizações
também advertiam, e com razão, contra o uso do inseticida DDT que era realmente
muito prejudicial à saúde, razão pela qual foi proibido o seu emprego na
Europa; o problema é que o dito qual chega à Europa através da importação de
muitos chás e de temperos da Índia onde se encontram vestígios dele.
As quatro pulverizações anuais
com o Glifosato tornam mais rentável e económica a produção a nível de mercado.
Mas a saúde deveria ser a preocupação principal de especialistas e de políticos
que decidem do seu emprego. É verdade que simplifica o trabalho no campo,
aumenta a produção e poupa energia mas também destrói os pequenos lavradores,
impede a biodiversidade e entra na cadeia alimentícia e nas águas subterrâneas,
a nossa melhor reserva vital.
Conflitos entre relatos científicos, leis, aplicações e práticas demonstram
a importância de orientar a atenção dos investigadores para importância do
princípio da prevenção (“da precaução do desenvolvimento sustentável”) em todos
os estudos; o princípio “melhor prevenir que remediar” contribuirá para maior
segurança num mundo, de si inseguro, a viver no meio de incertezas também
científicas numa mistura de medos racionais e irracionais que a dúvida
provoca.
O mesmo se dá em torno da discussão dos transgénicos. Certo será que o
risco humano não pode ser menosprezado em favor de interesses económicos nem
negligenciar o trato da natureza, nem do consumidor.
É sabido que as paisagens floridas não são coisa para o Glifosato,
pesticida grande inimigo da flora e da fauna.
A Comissão Europeia, com esta decisão de prolongamento, não contribui para
a sua popularidade.
António da
Cunha Duarte Justo
http://antonio-justo.eu/?p=3724
(1)
Bayer anda em negociações para assumir a Monsanto por 55 mil milhões de
euros, mas Monsanto quer mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário