segunda-feira, 11 de julho de 2016

PORTUGAL CAMPEÃO EUROPEU 2016 - PORTUGAL 1 – FRANÇA 0

O Jogo é uma parábola da vida!

Por António Justo
A equipa campeã do Euro 2016 teve um “líder carismático”, Fernando Santos. O treinador convenceu até os seus mais críticos através da organização estável da equipa e da sua eficiência. Da expressão de seu rosto transmitiu a mensagem que no trabalho sério não se ri e mesmo no caso de um golo bem marcado, os músculos faciais do riso ficam congelados enquanto a missão não estiver cumprida!(1)

No jogo do campeonato concretizou-se o sonho de Ronaldo, o sonho da equipa, o sonho de Portugal: ganhar o europeu: Portugal 1 – França 0, com o golo de Éder no 109 minuto do prolongamento.

A defesa e com ela o seu expoente Ricardo Patrício, tornaram a bola insegura. Parece que reuniram em torno da baliza o anjo de Portugal e todos os espíritos da lusofonia a dar-lhe força e determinação.
No Estádio de Paris que reunia 92.000 espectadores, pulsavam, em tensão alta, o coração de Portugal e da França. Na sequência de alguns cantares galeiróses da imprensa francesa, os fãs da França pareciam ter-se tornado seus altifalantes no estádio; no decorrer do jogo, pouco a pouco, iam baixando o pio, à medida que os fãs portugueses iam levantando as asas. Foi um banho de água fria para a França; a claque francesa do estádio de Paris, que assobiou a saída do Ronaldo do relvado na sequência de um ferimento grave causado por Payet, vê-se também ela obrigada a sair do estádio, mas de cabeça baixa em acto de penitência pela injustiça praticada.

Os franceses tinham começado o jogo com a mesma mexa com que tinham começado o jogo contra a Alemanha. Mas, a estratégia de F. Santos desorientou-os de tal modo que a equipa francesa acabou por se adaptar ao jogo de Portugal. A partir daí Portugal dominou! Parabéns a todos e em especial a Ronaldo, Éder, Quaresma, Nani, Pepe, Patrício, e a F. Santos com toda a equipa.

Apesar dos complexos de superioridade e de inferioridade em jogo, a França revelou-se uma grande equipa e Portugal também. Importante é manter-se um espírito comedido que não fira susceptibilidades de portugueses nem de franceses.

Jogo é vivência da criação que inebria

O jogo da selecção nacional mostrou-se como um resumo da vida: uma vivência em convivência sempre condimentada com o sal do suor e das lágrimas geradas e derramadas, ora na tristeza ora na alegria. 

No jogo, como na vida constata-se o esforço dos contraentes; no relvado e no banco dos espectadores, juntam-se vencedores e vencidos numa acção conjunta de contradizer o destino. No jogo a vida brinca e nela nos jovializamos se fizermos dele uma brincadeira. A bola, a ambição, a fantasia, a magia, o afecto, atrás de que corremos, são tentativas de nos reinventarmos no jogo do estádio da vida. 

Ronaldo, nas bancadas, ao lado de Fernando Santos, revelou-se como possível treinador. Onde há fé e vontade surge sempre um caminho, neste caso, o da vitória. A selecção portuguesa foi crescendo no campeonato, afirmando-se à medida dos adversários.

Fernando Santos conseguiu construir uma defesa tão eficiente que nem os melhores adversários conseguiram bater. Mostrou que tinha um conceito e uma estratégia eficiente: Prevenção de golos. Ficará na memória pela defesa com o guarda-redes Rui Patrício. 

A presença de filhos de jogadores no campo a festejarem a vitória deu uma nota muito humana e familiar à festa. 

Com a vitória de 2016 Portugal superou o trauma da derrota contra os gregos de 2004, de recordações menos felizes.

No futuro, o campeonato europeu já não se realizará num só país. Em 2020 o campeonato europeu será realizado em treze países da Europa.

Uma lição para a política?

Ronaldo esteve sempre presente e o seu ferimento fortaleceu a abertura de espírito para o trabalho de equipa. O espírito comunitário é mais importante que a confiança num homem milagroso.

A vitória é o tema que coloca o resto na sombra e que pode levar muitos a uma perda da visão da realidade em relação à política. A euforia mobiliza forças semelhantes às da esperança que provocam milagres se forem positivamente canalizadas. A futebolite embora nos subisse à cabeça não pode ser mais que um momento de pausa e de reflexão no campeonato do Estado. O mesmo Portugal que é grande em futebol poderá ser grande em economia e em política.

A Em matéria de economia a selecção do governo está a perder com a UE, como se expressa no défice público: Europa 2,1% e Portugal 4,4 %. Quem não cumpre as regras perde-se em conversa de balneários e em campo coloca-se em fora de jogo.

Para se chegar mais longe não é suficiente ter-se a liderança nos pés ou na cabeça; para se qualificar como vitorioso é preciso (como Fernando Santos e a sua equipa) ter-se a consciência de uma missão a cumprir, ter uma vontade, um conceito e uma estratégia definidas; no campo da nação não chega ter jogadores ou grupinhos a fazer o seu jogo. Se a nossa política aprender a lição da nossa equipa, Portugal, em pouco tempo, tornar-se-á num modelo para a Europa. Uma ideia peregrina: Contratação de Fernando Santos para treinador do governo!

De resto, c’est la vie! Au revoir! Estão todos de parabéns, vencedores e vencidos!
António da Cunha Duarte Justo
http://antonio-justo.eu/?p=3760

(1)    A estratégia que empregou para conseguir chegar à vitória poderia ser um exemplo do comportamento a adoptar na política da frágil nação: fortalecer mais a defesa cultural e do povo e não se deixar esgotar nos avançados. F. Santos, na tradição do Portugal sensato, ensinou a sua equipa a refrear a ambição e a cobiça individual, tal como Vasco da Gama fez com os seus marinheiros. O chefe encontra-se nas pegadas dos descobridores que só no regresso a uma pátria querida diferente, bem longe da «feia tirania», poderá festejar o sucesso do esforço feito, e na “ilha dos amores”, onde saboreiam a grandeza do prémio de “afagos suaves” que saciam os “famintos beijos” e outros desejos dos sentidos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado colega e amigo António justo pela tua tão adequada e sábia análise da vitória de Portugal sobre a França que aparentemente se declarou invencível perante a nossa seleção que os obrigou a adotar e a orientar-se de outra forma que não a que eles tinham antecipadamente planeado.
Em Paris foram os portugueses a ditar a norma a seguir e não a deles…!
Mais uma vez obrigado e um grande abraço para todos!
Á L

Anónimo disse...

Caro António Justo,

Quando escreve: "Foi um banho de água fria para a França; a claque francesa do estádio de Paris, que assobiou a saída do Ronaldo do relvado na sequência de um ferimento grave causado por Payet, vê-se também ela obrigada a sair do estádio, mas de cabeça baixa em acto de penitência pela injustiça praticada."

Lembro que não foi bem assim, como descreve, o que ocorreu. Os franceses nem sempre são tão insensíveis! A claque francesa assobiou, sim, mas quando o Cristiano junto com os outros integrantes da seleção portuguesa, entrou no estádio.
Assobiaram, pela presença do Cristiano, mas quando o Cristiano foi lesionado pelo Payet e saiu numa padiola do estádio, os franceses aplaudiram em pé, o Cristiano Ronaldo.Foram dois tempos diferentes....

Mas não gostaram de perder! Reagiram mal, porque acreditavam que a vitória seria certa. Mas alguns franceses foram consolados como este
Yronikamente que recebeu o gesto solidário de uma criança que torceu por Portugal
Maria Margarida
Diálogos Lusófonos

António da Cunha Duarte Justo disse...

Prezada Margarida!
Muito obrigado pela observação que fez e pela complementação. Aqui as diferentes perspectivas talvez se fundamentem em diferentes transmissões de jogos. Eu assisti ao transmitido pela TV alemã e nele eram bem audíveis os assobios sempre que o Ronaldo ia à bola e também a mistura de aplausos da claque portuguesa e assobios da claque francesa quando Ronaldo abandonou o campo na maca!

Independentemente do ocorrido, “in dúbio pro reo”, podendo-se neste caso interpretar, que assobios da claque francesa poderão ter partido do equívoco que Ronaldo poderia estar a mostrar mais dores do que as que tinha, o que, no caso, nem por hipótese poderia ser, dado Ronaldo, com a sua saída do campo ter imenso a perder! Nestes casos, mesmo as emoções exageradas ou até injustas devem ser compreendidas no contexto em que se expressam e não ser levadas muito a sério.

A meu favor fala também a crítica da imprensa alemã aos assobios feitos a Ronaldo. Isto são porém perspectivas de observadores de comentadores. Importante é que cada pessoa, esteja na claque ou fora dela respeite cada pessoa individualmente e não estigmatize ad eternum nenhum grupo como deixo bem claro no artigo. Errare humanum est e a capacidade de crítica é a via que conduz ao progresso e é sinal de que se quer bem!
Muito obrigado cara Margarida, também por tantos outros textos que nos proporciona,
Grande abraço