Ministros
da propaganda da omnipotência presidencial na Turquia - os novos “mártires”?
António Justo
Os Factos
Dia 11.03 o governo holandês não permitiu a aterragem do avião do MNE turco,
Cavusoglu, que vinha fazer propaganda no consulado de Roterdão; no mesmo dia a
ministra da família Syan Kaya entra na Holanda vinda da Alemanha de carro e é
circundada de polícias e solicitada a sair do país. (A Holanda sob pressão
política com eleições legislativas na quarta-feira quer dar um sinal de quem é
senhor na própria casa, o que leva o governo a agir precipitadamente).
No dia 12, Cavusoglu, num comício de propaganda na cidade francesa de Metz,
disse que a Holanda tinha de ser responsabilizada. Recep Tayyip
Erdogan reage também fazendo acusações de nazismo e fascismo contra os Países
Baixos (como já tinha feito contra a Alemanha) e pede sanções contra a Holanda.
Em política, na luta dos grupos de interesses quem
ganha tem razão
Na falta de argumentos para a defesa da mudança da Constituição turca, o
actual presidente Recep Tayyip Erdogan, puxa todos os registos nacionalistas
para conseguir alargar os seus poderes presidenciais no espírito do império
otomano. Erdogan quer apagar da Constituição turca o espírito moderno ocidental
introduzido na Turquia por Kemal Atatürk, seu fundador.
Na luta entre os grupos de interesses, no palco da arena política, o
governo turco consegue o que quer: mobilizar os nacionalistas e fascistas
turcos dentro e fora do país e consegue simultaneamente a desorientação nos
andares superiores da EU, que tem sido muito benigna em relação à tentativa do
partido de Erdogan para estabelecer um sistema presidencial omnipotente na
Turquia. A Europa cala-se porque precisa da Turquia e precisa do povo. Precisa
da Turquia por interesses das elites económicas, mas estes concorrem com os
interesses do povo.
Erdogan conseguiu a atenção que queria e, para quem
não está informado da omnipotência que Erdogan pretende com o referendo, fica
com a sensação de que a Turquia é vítima. Gente bem-avisada opina que seria
melhor deixar a Turquia fazer a sua propaganda entre eles, como fez no passado.
Então deveria ser facilitada também a propaganda da oposição. Por outro
lado, a actual propaganda para o projecto em vista contradiz os valores
constitucionais dos países da EU e os propagandistas viajam à custa do Estado
turco (excepto a oposição!)
A Holanda, ao tomar uma decisão governamental soberana, serviu, porém, os
interesses do governo turco empenhado numa discussão meramente emocional e
demagógica sobre o referendo. O regime de Erdogan, conseguiu já maior coesão
interna levando a própria oposição a defendê-lo ao criticar a Holanda.
Erdogan conseguirá também ter um pretexto para mudar o seu embaixador na
Holanda e colocar lá um diplomata ainda mais empenhado no seu partido. A
Alemanha, também intitulada de nazismo por Erdogan, fecha os olhos e não toma
decisões a nível de governo em relação à propaganda turca na Alemanha e deixa aos
municípios a questão de impedimento ou não da propaganda turca na Alemanha com
os ministros turcos.
O que os governos deveriam aprender da lição é o problema que os
tucos trazem com o seu estatuto de dupla nacionalidade. De facto, o regime
político e jurídico alemão e de outros países da EU encontram-se diametralmente
opostos ao fascismo pretendido pelo sistema presidencial turco. Os imigrantes
que votam por ele são infiéis aos valores defendidos pelas Constituições dos
países onde vivem. É ambivalente a atitude de quem exige e usufrui dos
valores democráticos dos países onde vive e quer para o seu país a
institucionalização de valores antidemocráticos.
Vivemos num mundo maluco! O governo turco que pretende a omnipotência do
chefe de Estado para o seu regime ataca de fascistas os governos de grandes
democracias como a Alemanha e a Holanda.
Boa tarde Europa, boa noite Turquia! O amanhecer de uma e outra só pode ser
enevoado e turbulento.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Espírito
no Tempo http://antonio-justo.eu/?p=4186
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