A tolerância da intolerância é intolerante consigo mesma
António Justo
A liberdade é, depois da vida, o melhor bem que o Homem tem. Mas a
liberdade para não ser receada tem como companheira a tolerância e a
responsabilidade. A tolerância é filha
da liberdade e da responsabilidade. As asas das ideias não devem ser cortadas
para que os sonhos dos povos elevem a Terra. Toda a pessoa livre quer ser
participante do poder sem se tornar súbdita dele.
Muitas vezes confunde-se mente aberta com indiferença ou cinismo sob a
forma de tolerância. A tolerância da intolerância aplaina o caminho para a
violência dos intolerantes. Por todo o lado se encontram disputantes sobre região
e islão, mas o nível das discussões assemelha-se muitas vezes a campanhas
partidárias e no caso a acções de prevenção contra a intolerância (1).
Tolerância e justiça são pressupostos de paz
Minorias reclamam, justamente, tolerância e respeito por parte da
maioria da população, mas isto deve pressupor uma bilateralidade de tolerância da
maioria que suporte a variedade e também da minoria que aceite a maioria. A
situação de minoria não lhe confere automaticamente o estatuto de criança. O direito a uma certa autonomia constrói-se na afirmação
da liberdade e do respeito cimentado pela responsabilidade.
Tudo o que é
definido ou concreto é limitado porque percepcionado na perspectiva das
subjectividades do conhecimento. O reconhecimento desta realidade tem como
consequência a tolerância do percepcionado e afirmado também pelos outros, numa
atitude leal de reciprocidade e na consciência da lei da complementaridade.
A tolerância para ser verdadeira e eficiente não pode assentar na areia
da indiferença nem na embriaguez do cinismo.
Quem se encontra seguro nos seus valores tem maior probabilidade de
apreciar e respeitar os valores dos outros.
Para irmos ao encontro dos outros, com dignidade, temos de estar conscientes
dos nossos valores. Ter uma visão
implica assumir responsabilidade na defesa dessa própria mundivisão.
Substituir o pensar positivo pelo pensar amigo
Perante a violência islâmica visível no mundo, a tolerância tornou-se
num tema importante devido à afirmação da diferença e do outro numa comunidade
diferente.
A tolerância, embora
seja uma virtude secundária importante, pode tornar-se numa armadilha do
pensamento, se provoca o seu bloqueio. O Ocidente, tolhido pelas derrotas que depois
da segunda grande guerra sofreu em relação às suas falsas intervenções em
terreno muçulmano e dependente do petróleo árabe, sofre as consequências da
imigração muçulmana. (O Ocidente nas suas intervenções fomentou o extremismo de
grupos muçulmanos usando-os para os seus fins que se revelaram injustos e
contraproducentes.) A Europa, agora com
os problemas em casa, comete o mesmo erro já praticado ao não ter em conta a
vitalidade e estratégia inerente ao sistema islâmico; a Europa abdica de si
mesma e arranja um modus vivendi confuso deixando o destino dos europeus
abandonado à força do acaso e do que um dia se revele mais forte.
Confrontada com a bagunça criada apenas reage numa mistura de resignação,
medo e coragem. Na praça pública faz do medo e da coragem um recurso elaborado
a que chama tolerância: esta implica uma atitude corajosa ad intra mas que
também pode tornar-se numa maneira de tratar a coragem pela fuga a ela (uma
coragem negativa que camufla o medo como virtude dando-lhe a roupagem de
tolerância): a Europa assume a virtude da mortificação como maneira de
circundar o problema e adiá-lo, não tomando a sério o parceiro dialogante.
Para se não abusar da tolerância torna-se óbvio substituir o pensar positivo
pelo pensar amigo.
Pelo que me é dado observar,
em disputas dos meios de comunicação social e em palestras com certos
profissionais do diálogo, chego a ter a impressão que nos aproximamos de uma atitude de tolerância
violenta (flexibilidade ad extra e empedernimento ad intra). Em vez de se
discutirem as questões num terreno neutro, a nível de teses e princípios
moventes, de argumentação e de prós e de contras (seguindo o método da controvérsia), passa-se a um discurso meramente pedagógico, com um caracter de
autorreferência ou de mera catalogação de exemplos. Cai-se no equívoco de se querer ter um pensar positivo em vez de se ter
um pensar amigo. O pensar positivo é monorreferencial e como tal
individualista, levando à indiferença enquanto o pensar amigo é estrutural e
como tal interessado em criar comunidade (acentua a intercultura e não a multicultura
guetoal). Abdica-se do pensar livre e do discurso desembuçado para se passar
a um discurso passado pela própria grelha, a grelha da circunstância e do
oportunismo. O discurso motivado pelo pensar positivo torna-se próprio de uma
atitude de escravos de uma liberdade fechada, sem referência, criadora de desinteresse e que implementa uma forma de
estar individual e social de tipo autista, virada só para o momento e com tal
sem conotações, voltada para os guetos equacionados em termos de multiculturas.
O discurso do pensar amigo parte de uma matriz aberta orientadora que se
encontra e discute com outras matrizes de forma controversa, sem se perder no
acidental, e é motivado pela consciência da precaridade de todos os sistemas,
numa vontade de aproximação e procura comum da “verdade” e na intenção de criar
comunidade.
A tolerância
torna-se violenta quando preponderantemente centrada no aspecto moral ou no
sentimento circunstancial que, precipitadamente, opta por ou
contra uma das partes, sem dar tempo a uma supervisão das próprias emoções ou
opiniões, feita à luz da razão ponderada. A
tolerância violenta cria tabus e proíbe de pensar ou evita o pensamento causal
com medo das sombras negativas que a realidade encarada poderia deixar (ou
consciencializar). Torna-se cobarde ao misturar nela o medo com um certo
narcisismo – a necessidade de fazer boa figura – uma espécie de complexo da
simpatia que se resume em cinismo e hipocrisia.
O medo que nos tolhe leva-nos à tolerância violenta
Uma olhadela sobre os Media europeus, em questões de muçulmanos, revela posições antagónicas que se situam entre o medo do islão e a islamofilia
até à própria negação. A sociedade permanece indecisa entre medo e admiração e
deste modo aprisionada nos sentimentos que alguns categorizam de islamofobia e de
islamofilia.
A sociedade europeia foi
traumatizada, ao longo da História, pela experiência que teve no contacto
com a violência islâmica e que hoje se expressa à semelhança dos seus tempos
primordiais. A experiência do medo e da insegurança (também a ameaça e a imprevisibilidade
do antigo corso e da pirataria é hoje avivada com o terrorismo que irrompe do
seio da Umma.) levou a sociedade ocidental ao recalcamento dos próprios
sentimentos e à internalização do medo, fazendo do islamismo um tabu; os
políticos, que conhecem o metier do poder verificando que não levarão a melhor
perante o sistema islâmico, preferem ignorar a sua realidade. Temos disso um exemplo nas actuais relações
entre a Alemanha e a Turquia; torna-se típica a maneira subserviente como o
governo alemão reage às difamações e ataques atrevidos do governo turco,
porque, embora o governo alemão (e a EU) tenha mais poder, não o pode usar pois
o governo turco tem o poder da violência (e o método de enganar e obter
vantagens: Hudaybiyyah) e esta é quem determina a História em momentos
decisivos, porque na realidade há sempre interesses a ser repartidos.
O islão (=submissão), também a nível de consciência colectiva, constitui
um risco ominoso para o homem Ocidental se, inconscientemente, o transforma em
tabu: o pensamento ocidental, como se depara geralmente na imprensa publicada,
em vez de encarar o islamismo com naturalidade e como é, pensa-o como ele
deveria ser e, para tal, desliga a razão e recalca os seus sentimentos naturais
de agressividade, transformando-os em sentimentos de compreensão para não ter
de se confrontar com a realidade da prática e da filosofia contida no Corão, na
Sharia e nas ahadith da Suna nem ter de tomar uma atitude perante o agir
violento do islamismo por toda a parte.
Autoridades muçulmanas,
vêem-se assim sem necessidade de reflectir nem desenvolver a sua filosofia e
religião em termos de uma plataforma de complementaridade num plano
intercultural universal; assim, a sua reacção
perante os occidentais só pode ser de piedade cínica, e vêem-se
encorajadas a afirmar o seu ideário que entendem como superior e dogmático
porque não encontram resistência interna nem externa; de facto o comportamento extremamente tolerante dos “infiéis cristãos
ou ateus” e da política que os rodeia confirma-os na sua fantasia e estimula-os
a continuar a agir sob o pressuposto da sua guerra-santa (jihad), pelos vistos,
vantajosa: “se queres amigos bate-lhes”. Para que a política se torne
responsável e creditável é necessário que tome o poder cultural e religioso tão
a sério como toma o comércio e o negócio regulado por convenções bilaterais.
(Não me refiro aqui à grande riqueza e capacidade de energias pessoais que
muçulmanos trazem à sociedade ocidental a nível económico porque enquanto
muitos dos seus colegas de escola dos países acolhedores não sabem a razão porque
estuda nem o que querem na vida, muitos colegas muçulmanos esforçam-se e querem
subir na vida e por isso esforçam-se mais, chegando mais tarde na sociedade
mais longe do que os colegas autóctones).
Intelectuais inibidos na capacidade crítica na discussão como o Islão
A realidade política mostra-nos, por um lado, a expulsão das minorias
não muçulmanas dos seus países e, por outro lado, uma migração de povos muçulmanos
(xiitas e sunitas) para o Ocidente: nos países de maioria muçulmana só é
possibilitado, em termos de futuro, o latifúndio muçulmano e fora deles os minifúndios
islâmicos.
Em vez de nos perguntarmos porque é que o islão avança e muda o mundo
através da violência, procuram-se no Corão versículos de paz, numa tentativa
eficiente de se ignorar a realidade violenta a acontecer em quase todo o mundo,
onde o islão está presente; a política e
a opinião pública ocidental, além de não querer entender a filosofia/política e
a mensagem vinculativa inerente ao
Corão-Sharia-Suna, tem o descaramento de chegar a afirmar com as
autoridades muçulmanas que as barbaridades que acontecem não têm nada a ver com
o islão. Os políticos europeus deixam-se orientar pelo princípio, “o que não
deve ser não se pensa” e as autoridades islâmicas julgam segundo o princípio,
“o que é bom é islâmico, o que não é bom não pertence ao islão”. Por outro
lado, o secularismo que governa o Ocidente, demasiadamente encostado ao Estado
equivoca-se ao sonhar com o fim das religiões esperando que estas se
desqualifiquem umas às outras! O poder secular ainda não acordou ao não
constatar que o islão é o seu verdadeiro rival. Ignoram que a religião é povo e
como tal é a força mais política que o acompanhará até ao fim dos tempos!
O conhecido intelectual Thilo Sarrazin, perito em política e
economia, tentou fazer uma abordagem bastante objetiva sobre os estrangeiros
especialmente turcos , no livro "Alemanha extingue-se a si mesma".
Foi logo boicotado e crucificado pela imprensa do mainstream e pela classe
política estabelecida, não interessada em investigar os dados e premissas que
um livro de não-ficção apresenta.
Reagiu escandalizada certamente pelo facto de um dos seus ter falado
texto claro e trazer consigo o perigo de se entrar numa discussão intelectual
que poderia conduzir a uma análise séria da questão. É compreensível o medo da política face às emoções populares que por
isso prefere um discurso mais orientado para a tolerância da mentira do que
para a tolerância da verdade. A verdade não deve ser pública, mas
salvaguardada na privacidade de leituras esclarecedoras.
Na Alemanha, o número 12 do catálogo de ética do Código da Imprensa determina
que no caso de delitos cometidos deve ser escondida " a pertença do
criminoso ou do suspeito de minorias
religiosas ou éticas”; deste modo dá-se uma discriminação negativa da maioria
ao só poderem ser referenciados os com nome e etnia os criminosos da maioria.
Ao impedir-se que a realidade seja conhecida fomenta-se inconscientemente o
problema.
De uma maneira geral, os intelectuais europeus actuais, devido à grande
percentagem de estrangeiros islâmicos na população e devido à domesticação
exercida pelo pensar politicamente correcto, têm também receio de serem identificados com correntes da população denominadas de
“populistas” e de contribuírem para um espírito anti-islâmico cada vez mais
presente numa parte da população que não consegue digerir os factos do dia-a-dia.
A moderação da capacidade crítica
em relação ao Islão torna-se assim natural; os interesses e os erros cometidos
na sociedade aconselham-nos a não o encarar de maneira livre objectiva como
fizeram outros intelectuais em séculos passados. Assim os intelectuais abdicam
do seu importante papel político que deveria ser colocado na balança das
decisões políticas e na formação da opinião pública. Naturalmente, toda a
pessoa formada tem, em geral, um sentido maternal em relação à população não
exigindo demasiado dela (por outro lado como os formadores de opinião têm um
estatuto privilegiado não se encontrando geralmente envolvidos nos sectores
produtivos da população podem permitir-se ficar-se pelo abstracto). Muitos intelectuais parecem sofrer, também
eles, do trauma colectivo (medo que se transforma em consideração pelo islão)
e, por isso, sempre que se referem a barbaridades cometidas por motivação
islâmica, vêem-se na necessidade de apresentar também explicações confusas
desculpantes chamando em ajudas das barbaridades muçulmanas as barbaridades
europeias de séculos passados, segundo o princípio: as culpas do passado
justificam as do presente. Nestes
aspectos, adopta-se praticamente a defesa árabe e não se é capaz de fazer uma
análise antropológico-sociológica e filosófica da cultura islâmica nem uma
fenomenologia do hommo arabicus e do hommo europaeus ou, mais propriamente, uma
fenomenologia antropológica e sociológica do hommo christianus e do hommo
islamicus) em proveito das partes. Também se encontram aqueles que se
declaram ateus e colocam todas as culpas nas religiões e deste modo se sentem
ilibados de qualquer discussão séria não notando que a sua crença ateia é irmã
da crença religiosa e o que está em jogo é a distinção entre poder religioso e
poder do Estado (A César o que é de César e a Deus o que é de Deus).
A ausência de
saber, aliada ao não querer saber, leva a uma cegueira político-social que
confunde a realidade factual com desejos e fantasias (esta postura atribui ao
islamismo uma vontade de paz que não encontra provas na História nem nos seus
fundamentos (Corão, Sharia e Suna), que pressupõem, a nível mundial, apenas uma
monocultura constituída do hommo islamicus). A história do islão é, predominantemente,
uma história de guerras e guerrilhas, uma sociedade com uma economia da guerra
que se serve da sujeição (escravização), do pagamento de imposto islâmico (ou
discriminação) e da pirataria „sarracena" como meio de sustentabilidade.
Histórica e socialmente o “muçulmano” não conhece o fenómeno de
desenvolvimento que se dá também através da osmose (dar e receber), apenas
conhece o fenómeno da afirmação pela assimilação do outro até que a identidade
deste desapareça (exemplo: Turquia moderna hoje só com 0,2% de cristãos quando
no início do sec. XX tinha 22%). Outrora, “o infiel” enquanto não fosse
assimilado pelo Islão tinha de se vestir de forma a ser reconhecido como não
muçulmano e pelo pagamento especial do imposto por cabeça; nos estados
islâmicos actuais o imposto foi substituído pela discriminação e repressão
institucional e social de quem não for muçulmano. O problema começa no momento
em que passam a ser maioria!
Em muitos foros de discussão nostálgica nota-se, por vezes, uma
necessidade latente de ser enganado: não se pretende entender a realidade como
ela é (para a poder mudar), entende-se como ela deveria ser. Muitos
sentir-se-iam mal se tivessem de constatar que o islão não é uma religião como
as outras. O temor fino é tanto e a
coragem é tão pouca que leva a sociedade ocidental, instituições e indivíduos à
necessidade de, em seu nome, branquearem os aspectos negativos de factos
praticados por muçulmanos e a não falar da escravidão branca no Mediterrâneo. Fala-se de cruzadas sem explicarem o ataque sistemático
muçulmano ao império cristão do Oriente que foi absorvido e transformado em
monocultura islâmica também com a ajuda indirecta dos povos cristãos do
Ocidente.
Com Ayatollah Khameini desde 1981 e com a queda da União Soviética e as intervenções
do Ocidente (Afeganistão, Jugoslávia, Iraque, Líbia e Síria) foram
desestabilizados os regimes autoritários e deste modo a guerra santa e o
fanatismo islâmico ganharam asas em todas as regiões onde se encontram muçulmanos.
A irresponsabilidade dos agentes políticos e o factor medo internalizado
leva o Ocidente à cobardia que nos é própria em encontros com os representantes
das corporações islâmicas. Uma Alemanha complexada pela culpa nazi também se
encontra sob a obrigação de dar bom exemplo. O nosso comportamento de complexados pelo colonialismo exercido, fortalece-lhes
a ideia de que quem deve mudar são os povos acolhedores. Numa cultura em que a agressividade é
socialmente aceite afirma-se a impressão de que compreensão e tolerância é
fraqueza. Mesmo assim, a atitude que
nos deve levar a encarar o islão não deve ser para o combater ou atacar, mas
para incentivar os muçulmanos a revolucionar o islão por dentro: a única chance
para ele e para a paz no mundo. Se Alá mudou de opinião no Corão num
período que não chegou sequer a duas dezenas de anos (período de Meca para
período de Medina) muito mais motivo terá para a mudar depois de 1500 anos.
O comportamento da muçulmana está para o muçulmano como o Ocidente para o Islão
Nas relações da consciência pública entre Ocidente e Islão dá-se um
fenómeno paralelo ao que acontece entre os homens e as mulheres muçulmanas. A
escravização e a submissão sistemáticas das mulheres muçulmanas durante séculos
levaram-nas a criarem um inconsciente de seres de segunda natureza, em relação
ao homem; a submissão expressa-se numa aceitação internalizada e inconsciente
do patriarcalismo exacerbado como algo natural (a dor psíquica habitual
torna-se inconscientemente normal, parecendo activar, na mulher, um processo de
dessensibilização da própria consciência como mecanismo de defesa automático de
acomodação ao homem para não sentir tanto a dor, pois a realidade da situação encarada
conscientemente tornaria a dor insuportável; por isso reagem com orgulho num
islão de lenço na cabeça; um islão moderno tornar-se-ia para elas num desafio
provocante – o sistema económico fomenta a sua dependência legitimando por sua
vez a tradição machista). Faz-se da situação dada e da necessidade uma virtude
e da violência sofrida, algo que no fundo também conduz a um certo clímax de
satisfação (isto faz lembrar o filme em qua a mulher violada que, um dia, na
sua dor, chega a querer ter relações sexuais com o violador e assim ter a satisfação
de o usar no segundo acto; esta é a forma que ela tem de se vingar dele! Lembra
também um fenómeno psicológico não raro de mulheres muito boas e “legais” se
sentirem atraídas preferencialmente por assassinos ou por criminosos que se
encontram em prisões! No caso das mulheres da burca a sua prisão dá-lhes o
sentimento de autoprotecção perante um mundo bruto e agreste).
A prática da subjugação é elaborada pelo inconsciente como um momento sentido
necessário para manter a ordem; assim a subjugação torna-se habitual e parte da
natureza, deixando de aparecer como sofrimento consciente ou como algo
estranho. O contacto dos povos do
ocidente com os povos islâmicos e a lida constante com a violência turca e
árabe e com a pirataria do norte de áfrica no Mediterrâneo, leva o Ocidente a
internalizar a sua consciência de ser mais fraco em relação à força islâmica.
A força islâmica envolve te tal forma o indivíduo e a sociedade que as pessoas
ocidentais, com um certo senso de privacidade se refugia criando uma
consciência colectiva já não de vítima, nem de acusador, mas de menino
bem-comportado em relação ao irmão mais forte. O Ocidente com a experiência
multisecular da escravização e do ter de se aceitar como diferente leva-o a
considerar natural a discriminação e violência sofrida; perante a impotência internalizada durante séculos, a condição de
vítima é compensada com a aceitação e o reconhecimento do agressor. (Na
História contemporânea os povos árabes têm razão em insurgirem-se contra as intervenções
do Ocidente que os confirmam no seu papel de se julgarem vítimas!)
A meu ver, torna-se interessante verificar o facto de também a cultura
muçulmana criar, por sua vez um trauma na sua alma; o trauma árabe funciona no sentido inverso ao do trauma do Ocidente; o
homo turcus-arabicus ao não compreender ele mesmo nem assumir a
responsabilidade dos actos da sua brutalidade, não pode desenvolver nele a
culpa e por isso inverte-a considerando-se vítima; a agressão e a crueza são
tais que uma consciência colectiva não suportaria explicar e por isso cria
inconscientemente o complexo de vítima: deste modo não precisa de reflectir os
próprios actos, dado o Corão legitimar a violência; Cria-se assim uma dinâmica
paralela: fora a violência factual e dentro a sensibilidade repousante. A culpa
está fora, nos outros.
Por tudo isto não há interesse na averiguação da realidade, nem da História
nem dos factos porque isso exigiria uma gestão de resultados com soluções que
implicariam o compromisso esclarecido em benefício dos povos e de uma paz
sustentável. Isso implicaria a integração de consciência e inconsciência e o
reconhecimento do dentro e fora, da razão e do coração, de Deus e da natureza,
não como antagónicos, mas como polos numa relação de complementaridade em que a
realidade é apercebida de forma a-perspectiva, como não reduzível a um ponto de
vista ou perspectiva. A feminidade é um pressuposto da paz não podendo ser
reduzida ao sector privado (ao dentro). A feminidade terá de ser uma componente
do ideal público (do fora…). Numa sociedade equilibrada a feminilidade e a
masculinidade passam a não ser polos extremos para se encontrarem num fluxo interactivo contínuo de energias diferentes numa Consência de
Complementaridade num todo.
Conclusão
O saber é universal não se podendo manter nos limites de uma religião,
cultura ou ciência como entende o islão; a sabedoria ultrapassa a razão e o
entendimento não se pode meter no espartilho de uma
só lógica ou interesse. O coração une e a cabeça discerne, um articula e a
outra desarticula. Por isso, para se alcançar uma visão global integral não se
poderá abstrair do coração nem da razão, o que não justifica ficar-se na
ambivalência ou na oposição como forma de se afirmar na vida. A realidade
afirma-se através de uma dialética certamente polar, mas de preocupação
abrangente e inclusiva. O pensamento não tem proprietário e também não pode ser
enfunilado num só determinado tipo de lógica ou cultura.
Consequentemente, a fraqueza de uma ideologia seja ela científica,
política ou religiosa não constitui argumento que fundamente o combate contra
ela nem qualquer violência contra os seus seguidores. Doutro modo seguiríamos
nas nossas apreciações e atitudes uma práxis muito à semelhança do actuar dos
países muçulmanos.
Do mesmo modo não deveria constituir argumento, evitar uma discussão
aberta e séria sobre o Islão, pelo facto de a sua estratégia drástica de
afirmação ser um modelo prático e oportuno para a organização, defesa e
execução de interesses de grupos de tipo maquiavélico.
©António da Cunha
Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo (História e português)
Pegadas do Espírito no Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4217
(1) Observei
muitos profissionais do diálogo (políticos e cristãos), em grandes palestras
com os seus parceiros muçulmanos ou em simpósios sobre o islamismo e constatei,
quase sempre, que os parceiros ocidentais abdicavam da própria personalidade e
dos valores que representavam. O mesmo se constata em conversas com pessoas no
dia-a-dia. Chegam a dar a impressão que os nossos valores herdados não precisam
de defesa ou se encontram à disposição perante parceiros que os não aceitam
(dando também a impressão de não conhecerem verdadeiramente os valores em jogo
de uma parte nem da outra). Actua-se como se se tratasse de defender a nossa
simpatia e vaidade pessoal e para tal até nos adiantamos aos parceiros
dialogantes citando frases bonitas do Corão, mas sem ter a coragem de abordar o
tema da intolerância e da violação dos direitos humanos nele contidos. Em
diálogo pressupõe-se o encontro de sistemas abertos ainda orientáveis e não
apenas de frases feitas nem troca de simpatias.
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