O velho Modelo acabou - Países lusófonos como Chance
António Justo
A situação europeia
A EU que temos é de há anos atrás e como tal já não existe. Temos a zona
euro com uma economia que nos divide; temos a Ucrânia, os refugiados e a boa
vizinhança com a Rússia perturbada; temos o Reino Unido fora, Ronald Trump a
exigir o empenho dos europeus na NATO e a querer mudança de sentido na
economia; temos também os países do Norte que com a saída do RU sentem o eixo
de influência a deslocar-se para o sul; temos parte do povo, desiludida de uma
EU de sobremaneira interessada nos magnates da economia, da administração e da
ideologia, a revoltar-se contra a classe política e temos também um bom grupo
de pessoas de estomago bem recheado em funções de partido ou do Estado
interessado em manter o status quo que lhe confere regalias.
A situação portuguesa
Portugal encontra-se tradicionalmente numa fase de esgotamento
prolongado. É um país irrelevante a nível de economia na EU. Embora tenha boas
infraestruturas de autoestradas e internet é um país sem eficiência económica,
e de mãos atadas por depender das políticas da EU feitas para macrosistemas sem
que Portugal possa utilizar a moeda nem a banca como regularizadores da
economia interna. Uma política europeia feita para “latifundiários” económicos
nunca poderá servir um país como Portugal todo ele feito de minifúndios. Embora
com um clima que dá saúde e conter um povo flexível aberto a tudo não consegue
tornar-se competitivo. A transacção do Banif para o Santander custou 3,3 mil
milhões de euros ao Estado português. Éste foi mais um passo da Europa em
direcção à Espanha contra Lisboa.
A desregulação migratória desfavorece ainda mais Portugal, que se
encontra numa zona mundialmente rica, a precisar de imigração de alta
qualificação, mas a quem Portugal contraditoriamente cede especialistas,
servindo os Estados mais ricos do seu bloco económico. O país não se preocupa
em criar lugares de empregos para a massa cinzenta que produz e emigra para
engrandecer e rejuvenescer povos mais ricos. Um país que não guia a economia
é desviado para ela.
Primeiro o estômago e depois a festa
Os países da margem ausentaram-se do processo europeu que é
fundamentalmente económico e estratégico. Contentaram-se com as ajudas de
fundos perdidos, os empréstimos da miséria e com lugares bem pagos, para os
boys das corporações, na administração e na política europeia. Estes com os
seus lacaios são os que mais protestam, contra os perdedores da EU que os
contestam; são por isso, apelidados de populistas como se uma democracia não fosse
formada por grupos de interesses rivais e só fosse constituída por donos e
balbuciadores de améns.
A política da mentira comprova-se
O Estado português perdeu a batuta da orquestra nacional, deixando-se
levar pela da macroeconomia fomentada pela UE; esta, como funciona só fomenta
os latifundiários. A classe política continua uma política da mentira em
relação aos portugueses e de hipocrisia em relação à EU. Temos partidos e um
parlamento que vão ocupando o tempo da opinião pública e o Estado com medidas
de assuntos partidários e ideológicos; para desviarem o povo da realidade negra,
armam cenas e gestos dirigidos à conversa fiada e à emoção, quando o que
Portugal precisa é alimento para o estômago e para a razão.
Na EU não é suficiente um projecto para contentar a todos. Também não é
de contentar sermos uma União Europeia de estados com populações muito
desiguais, e com igualdade apenas a nível de aparelhos de Estados e de altos
funcionários; de facto importante seria ter populações menos desiguais e com uma igualdade em que as
desigualdades dos funcionários do Estado estejam em proporção com a igualdade
do povo.
A EU precisaria de uma redefinição de estratégia geopolítica que englobe
a Rússia como sua parte integrante.
Também Portugal precisaria,
além de uma mudança de mentalidade política uma redefinição de estratégia
geopolítica, mas cujo centro de gravidade deveria ser os países lusófonos; de
resto temos como vizinhos a Espanha e o Atlântico.
Seria catastrófico para
Portugal continuar a seguir a ideologia funcional instalada no Estado com a
República e continuar a meter a cabeça debaixo do tapete para não ter de
enfrentar os desafios que acontecem ao seu redor. A lusofonia será a melhor
resposta à globalização num Portugal a funcionar como ponte de continentes e
culturas. Imigrantes do Brasil e dos PALOPs poderiam compensar a sangria da emigração
nacional. Empresas interlusófonas poderiam formar-se de maneira a poderem aguentar
a concorrência de potências fortes.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do espírito no Tempo http://antonio-justo.eu/?p=4201
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