domingo, 17 de novembro de 2019

DA POBREZA DE UM MUNDO DIVIDIDO ENTRE SOCIALISTAS E CAPITALISAS


A Luta subsidia os Lutadores e desfavorece os Pacíficos


António Justo
O mundo tornou-se num palco da guerra económica e ideológica entre as zonas de influência socialista da China e da Rússia e as zonas de influência capitalista dos USA. Também socialmente tem-se a impressão que nos encontramos em tempos pré-bélicos. Por todo o lado se propaga uma cultura da violência física e psíquica.

De um lado temos o capitalismo de raiz protestante fomentador das filosofias idealistas do liberalismo e do outro lado o socialismo de raiz materialista Marx-Lenine-Estaline-Mao. O muro da divisão encontra-se também no seio das sociedades. Se olhamos para a América latina, o “fascismo” de esquerda e de direita debatem-se aferradamente, sem consideração pelo destino do povo.

 Nas zonas de antagonismos internacionais, como o conflito da Síria, dão-se as lutas pela aquisição de zonas de influência dos USA e da Rússia e da Turquia e Irão (islão sunita e islão xiita). De maneira agressiva, mas sub-reptícia, esta luta dá-se entre o capitalismo (USA) e socialismo (Rússia e CHINA) na América latina. Uma luta que é promovida pelo turbo-capitalismo e pelo socialismo, a acontecer à custa e em nome do povo e dos pobres, mas apenas em benefício de capitalistas e de socialistas. De facto, o socialismo real cria pobreza e o capitalismo liberal cria alguns novos ricos à custa da muita pobreza de muito povo. De um lado, temos falanges em nome da economia e, do outro, as falanges em nome da ideologia.

A sociedade precisaria de uma terceira via entre socialismo e capitalismo que poderia partir da doutrina social da Igreja que contempla a inclusão dos dois contraentes numa perspectiva de complementaridade ao serviço da pessoa e do bem comum; a doutrina social católica possui um fundamento intelectual mais abrangente (A economia social de mercado, que ao surgir tinha uma conotação católica conjuga o desempenho económico com o progresso social garantido).
Enquanto continuarmos a ser ferrenhos apoiantes de um sistema contra o outro (socialista ou capitalista), reduzimo-nos à qualidade de pequenos soldados mercenários da palavra a servir a guerra socialista e a guerra capitalista sob o pretexto de se querer servira a paz e a razão.
O capitalismo divide o mundo em ricos e pobres e o comunismo (tal como o islamismo) divide o mundo em duas falanges: os de dentro a defender e os de fora a combater-se (símbolo do punho serrado!).  

Neste sentido não há bons socialistas nem bons capitalistas; numa sociedade de transição precisaríamos de sociocapitalistas ao serviço de todos, sem que em nome do todo se domine a parte nem em nome da parte se domine o todo. 

No meio de muita gente bem-intencionada, observa-se uma certa disfuncionalidade pelo facto das suas energias serem ordenadas por uma ideia confusa que conduz a um sincretismo que no fim se revela anárquico.

Em causa não deveria estar o serviço a uma ideologia ou confissão, mas sim a salvação da pessoa e do povo, nele e por ele mesmo. Isto só será possível mediante uma mudança radical de mentalidades e uma nova reflexão sobre indivíduo e sociedade que reconheça e integre os polos opostos. Uma estratégia política que divida o povo, para legitimar uma tentativa de solução social à direita ou à esquerda, impede o povo de andar em frente.
 
Os governantes, quer de esquerda quer de direita têm de reconhecer as leis naturais que regem a economia e a sociedade no sentido do bem comum digno para todos, doutro modo continuam a empobrecer a sociedade e tornam a justiça arbitrária. A sabedoria do povo diz-nos que o ótimo é inimigo do bom e a filosofia ensina-nos que a virtude se encontra no meio e não nos polos. Nos polos concentra-se também a energia da violência.

O Comunismo, nos países onde governa, costuma explicar a sua má administração com os «inimigos internos e externos», os atacantes e os atacados; o inimigo externo é personificado no capitalismo dos USA e o inimigo interno é personificado nas empresas do país… Por outro lado, o turbo-capitalismo costuma justificar a injustiça social com o argumento da liberdade e da concorrência estimuladora do mercado; assim justificam ambos a lei do poder e do direito do mais forte. A observação da História pode resumir-se no seguinte: enquanto o turbo-capitalismo faz os ricos mais ricos à custa da energia de muitos pobres, o socialismo gera alguns funcionários poderosos e ricos à custa, do adiamento até ao infinito, da esperança dos muitos proletários e pobres.


O socialismo do século XXI, depois do seu falhanço real e da repulsa popular na União Soviética, escolheu a América Latina para seu novo campo de acção prática, usando, para tal, o método da desestabilização social e económica e para a Europa optou pela implementação de agendas anticultura europeia, a ser propagadas por ONGs e até pela ONU. 

©António da Cunha Duarte Justo
In Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=5703

3 comentários:

Anónimo disse...



Caro António Justo.

Já te afirmei que leio, com todo o empenho e agrado, o que aqui nos vais plantando.
Leio, porque me obrigas a reflectir e a questionar posições por mim aceites ou assumidas e que, às vezes, me criam, ou dúvidas ou incertezas a mim próprio, apesar de aceites e assumidas. Por exemplo: penso que em ambos os campos que mencionas (direita – esquerda) haverá, em termos sociais, económicos, filosóficos, etc., alguns princípios, algumas ideias, algum modus faciendi… “aproveitáveis”, mas que só resultariam – minha opinião – se devidamente seleccionados, tratados, analisados, postos em prática por uma terceira via que, independente e honestamente, conseguisse congregá-los e pô-los no terreno, a funcionar. É uma utopia, evidentemente, mas responde à minha dificuldade em acreditar (não acredito!) que apenas sejam possíveis dois caminhos: direita/esquerda, preto/branco. Como tu o aceitas e referes, aliás..
Seguindo e aproveitando o teu raciocínio, veio-me à mente todo o pensamento e doutrina da Igreja sobre o tema que tão bem nos apresentas. Começando pela Rerum Novarurm, de Leão XIII, nos finais do século XIX, depois a Quadragesimo Anno., mais terde a Mater et Magistra, a Populorum Progressio…, até à Laudato si, do actual Papa, temos todo um conjunto de orientações suficientemente claras (penso eu) sobre temas sociais (consequentemente, políticos), maxime para os católicos, numa sociedade que, no século XIX e sobretudo na Europa, tanto se maravilhava e orgulhava com as conquistas duma tecnologia facilitadora dum capitalismo galopante e gerador duma nova escravatura – a fabril. Conhecedora das vicissitudes da sociedade de então, a Igreja antecipou-se amplamente ao celebrado Capital de Marx e à sua doutrina/filosofia (?) catastrófica e geradora de morte, de desespero e de ainda mais escravatura. (Estaline pensava ter razão quando perguntava onde estavam os exércitos do Papa. Uma ideologia – pensaria ele – impunha-se pelas armas. A História parece provar exactamente o contrário..)
Por outro lado, fico sempre com um sentimento de fracasso, de que algo não correu bem, ao pensar que a Rerum Novarum e restante doutrina social da Igreja poderiam ter sido marcos históricos, com consequências inimagináveis na construção duma sociedade justa, se tivesse havido, da parte da Europa, mais inteligência, mais compreensão, mais empenho em adaptar à prática o que foi uma antecipação histórica, até pré-monitória, do ateísmo materialista de Marx e congéneres. Mas assim não aconteceu.
Será que, também por isso, hoje temos uma Europa órfã, confusa e abúlica?
Um à parte: mas há excepções que confirmam a regra; mesmo entre nós, há quem aplique aquelas orientações na sua própria casa, queria eu dizer, na sua fábrica. É feliz com isso, tem resultados e dá-se bem com a “estratégia”.
Mais não escrevo; mas o nosso amigo Agostinho Santos também é conhecedor do facto…
Agora, diz-me tu, caro Amigo Justo, estarei eu a ler mal a História?!
Um Abraço do
Evaristo Miguel

Anónimo disse...



Caros amigos, colegas, condiscípulos Justo e Evaristo

A questão da DIREITA /ESQUERDA e da ESQUERDA/ DIREITA, para além do marchar e da ordem unida da tropa, tem que se lhe diga, sendo pertinentes as dúvidas sobre o que era e é essa “versata questio” !
Direi que a questão nasceu com o posicionamento dos deputados na sala do Parlamento após a Revolução Francesa : uns escolheram ficar do Lado Direito, outros do Lado Esquerdo , outros em Cima e outros em Baixo ! Mas , claro, por grupos, a que se convencionou chamar Partidos! Com o tempo na Europa , a começar no Reino Unido, formou-se o Partido Conservador dum lado , a DIREITA e o Partido Trabalhista , A ESQUERDA, do outro , a que se juntou o Partido LIBERAL quase sempre um partido de charneira para fazer maiorias ! Na Alemanha os 3 mesmos Partidos , a CDU ( democratas cristãos) e a CSU ( na Baviera) de Direita e o SPD (sociais democratas) de Esquerda e o FDP ( partido Liberal) e outros sem significado.
Na França e na Itália, sempre houve mais partidos , mas predominavam, no pós segunda guerra , uns de tendência democrata-cristã , outros socialista , outros comunista …na Espanha idem idem !
E em Portugal ?
A seguir ao golpe militar do 25 de Abril surgiram os Partidos CDS, PPD, PS e PCP , fora a esquerdalhada. Por força do ambiente censório, a Constituição consagrou o caminho para o socialismo e nenhum Partido se afirmou de direita porque… todos sabem , nem o CDS se afirmou como tal , mas sim ao CENTRO ! Logo continuo …
Joaquim Martins

António da Cunha Duarte Justo disse...

Muto obrigado caros amigos EVARISTO MIGUEL e JOAQUIM MARTINS pelos vossos importantes textos.
Como dizes, foram, de facto as encíclicas sociais da Igreja católica que contribuíram imenso para a organização de sindicatos e em especial para a evolução do capitalismo selvagem para um capitalismo de rosto humano, ou seja para a economia social de mercado. Contribuíram também para a humanização do socialismo de luta proletária para o socialismo de luta cultural (Escola de Frankfurt); este produz, porém, atualmente os maiores estragos!
Como pessoa que vive na Alemanha sofro bastante ao comparar o socialismo e o comunismo português (à américa latina) com o socialismo e comunismo das outras nações europeias. De facto, o socialismo de Willi Brand que ajudou Soares evoluiu de tal modo podendo dizer-se que o SPD de hoje não é socialista no sentido original e jacobino do termo; por seu lado o socialismo e o comunismo português e espanhol mantiveram-se no antigo testamento da ideologia. Infelizmente pessoas que se mantêm orientadas pelos meios de comunicação social portuguesa não nota sequer o que se passa na evolução das ideologias e partidos em relação aos partidos irmãos na Europa e não estão conscientes do atraso ideológico em que o sistema partidário português se encontra. A Constituição parida pelos revolucionários de Abril, não permitiu propriamente uma formação de partidos conservadores conscientes. Assim temos de um lado socialismo ideológico e jacobino (sustentado pela maçonaria) e do outros lado partidos incolores condenados a desaparecerem com o tempo pelo facto de terem sido vítimas da nossa Constituição de tipo ideológico e pela maquinaria do pós-abril que conseguiu transformar o medo do povo em entusiasmo saloio atrás de uma ideologia que apregoava só existirem cravos vermelhos e o fatal foi que o povo e até as elites passaram a pensar que de facto não há cravos de outras cores. O vermelho passou a ser a referência e o povo amigo da festa nada notou.
Sim, a “Europa órfã, confusa e abúlica” atual deve-se naturalmente à traição dos multiplicadores sociais ao ideal europeu baseado na herança judeo-cristã e na filosofia grega; deixamos de ser gregos-romanos-cristãos e monoteístas para nos tornarmos politeístas. O Deus nacionalista da nação judia e os deuses dos povos que tinham sido congregados e domesticados sob o Deus pessoal de Jesus Cristo estão de volta para em nome deles se voltar culturalmente à pré-história. O iluminismo, o materialismo, o mecanicismo e em especial, os senhores da nova democracia criaram um politeísmo selvagem que lhes dê fundamento.
Caro amigo Evaristo, tu como eu não estaremos a ler mal a História porque somos seus aprendizes conscientes e atentos e como tal sabemos bem que a História torna-se válida na sua interpretação. Posso também eu confirmar que o empresário Agostinho Santos se manteve fiel à sua vocação e na consequência aplica no seu ambiente a doutrina social da Igreja.

Sim Joaquim Martins, pelo que dizes e pelo que observo também penso que os conceitos de direita (conservadorismo) e de esquerda (progressismo) se encontram cada vez mais em crise.
No escabeche em que vivemos teríamos talvez de passar a falar de muitas direitas e de muitas esquerdas. Por isso prefiro falar das ideologias Socialismo e Capitalismo que são aquelas que determinam a formatação do pensamento da nossa sociedade atual, muito embora, depois dos anos do deserto, se veja agora o ressurgir de um pensamento conservador sério, acordado pelo povinho que reage diretamente aos sinais dos temos e estimula intelectuais conservadores a não terem medo de virem também para a rua.
Bem, vou-me ficar por aqui para não sofrer da sabedoria popular alemã que diz “Longo discurso, pouco senso(sentido)”= “Lange Rede, wenig Sinn”!
Um grande abraço
António Justo