segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

NATAL É OFERTA

25 de Dezembro é a Celebração litúrgica do Nascimento de Jesus

António Justo
Para os cristãos o Natal recorda o evento em que Deus se oferece por amor à humanidade; por seu lado as pessoas rejubilam de alegria e em boas festas de gratidão oferecendo também elas presentes umas às outras. 

Dar e ofertar é uma tradição antiga, moldada por diferentes épocas e diferentes culturas. Faz também parte da espiritualidade cristã e indiana. 

Para os cristãos, o Natal é o início do tempo da reconciliação de Deus com o mundo.

Uma origem do hábito das ofertas de Natal vem da realidade de Deus amar tanto a humanidade que lhe entrega Seu Filho, como diz o versículo bíblico ao referir-se ao Natal: "Assim amou Deus o mundo"!

A tradição das ofertas no Natal representa e presencializa a verdadeira prenda de Natal:  Deus dá-se por amor e graça sem esperar nada em troca. 

O simbolismo do dar e oferecer recorda-nos também a origem da história do Natal, onde os três Reis Magos vieram ao encontro do nascimento de Jesus para o honrar, oferecendo-lhe ouro, incenso e mirra como expressão de amor, reconhecimento e amizade.

No final do ano, os romanos também celebravam a chamada Saturnalia (festa em honra do Deus Saturno). Nesta festa os ricos davam presentes aos pobres. 

Exatamente no dia 25 de dezembro, a partir do ano 274 começou a ser celebrado também o aniversário do deus Mitra (Dies solis invicti). Esta festividade foi introduzida como feriado pelo Imperador Aureliano. 

Antes de ser fixado o nascimento de Jesus em 25 de dezembro, era inicialmente celebrado em diferentes datas conforme os métodos optados pelas diferentes igrejas cristãs para a determinação do seu nascimento (recenseamento romano ou a partir dos acontecimentos da Páscoa). Desde 336 o Natal encontra-se documentado em Roma como feriado litúrgico (1).

O objetivo da Igreja sempre foi ganhar pagãos para o Cristianismo e segundo alguns autores, a Igreja decidiu dedicar a festa litúrgica do aniversário de Jesus a 25 de dezembro, em vez do solstício de Inverno.

Há muito a dizer e que explica o facto de os Padres da Igreja terem organizado a celebração do nascimento de Jesus nestas celebrações; isto tem a ver não só com a inculturação, mas também com a aculturação em relação a hábitos e tradições dos povos e à necessidade das diferentes interpretações também relativas aos dados históricos.  

Com o nascimento de Jesus, o dar de presente ganhou um novo significado. É a redenção que se manifesta no facto de que Deus se torna um de nós e um para nós. Os presentes de Natal simbolizam este presente de Deus. De acordo com a fé cristã, as pessoas já participam do Reino de Deus na terra.

O filósofo Josef Pieper disse uma vez: "O amor é o dom original. Tudo o que de outra forma nos pode ser dado imerecidamente torna-se um dom apenas através dele (amor) (2)".

Dar e receber cultiva a relação e influencia o vínculo social; move sentimentos positivos entre aqueles que dão e aqueles que recebem os dons. É um modo de se mostrar amor e apreço uns pelos outros.

A festa da Alegria e da família encontra muitos críticos que encontram em tudo pretextos para criticar, não aceitam o que é gratuito passando tudo pelo crivo da sua razão como se lhes incomodasse tudo o que é festa, aquilo que vem do coração!  As pessoas felizes tendem a dar mais, e em geral pensam positivamente e cultivam o bom humor; mostram através da sua alegria, a radiação do reino de Deus na terra.

Um estudo da Harvard Business School (3) descobriu que "pessoas felizes dão mais do que pessoas infelizes e que dar leva realmente a mais felicidade e que esses dois relacionamentos podem funcionar de forma circular". "Altruísmo" é uma palavra-chave importante neste contexto.

Gratidão é também sentir-se trazido nos braços de Alguém sem saber porquê.

© António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
(Este Texto é parte de uma palestra que fiz na Sociedade Alemã-Indiana)
Notas em Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=5751

(1)      Tertuliano (200 d.C.), equiparou o 14º Nissan do calendário lunissolar judeu com o 25º de março do calendário solar romano, tido pelos cristãos, como o primeiro dia da criação. Hipólito de Roma, (170-235) coloca o nascimento de Jesus no dia de sua morte, o dia 14 de Nissan ou seja o  dia 25 de março. Clemente de Alexandria relata (no início do século III) várias datas em que o nascimento de Jesus Cristo era celebrado. Alguns celebraram a festa no dia ,25 de Pachon (20 de maio do calendário romano), outros no dia 25 de abril (20 de abril), outros ainda celebraram o batismo de Cristo no dia 15 ou 11 de janeiro, ou seja, no dia 10 ou 6 de janeiro (cf. Vikipedia). Ainda hoje os arménios celebram o nascimento a 5 e 6 de janeiro, na Igreja georgiana de 25 e 26 de dezembro. A cópia de uma antiga liturgia palestiniana enumera a liturgia de Natal de 16 a 28 de maio. Evangelho:  "Naqueles dias, o Imperador Augusto emitiu a ordem para colocar todos os habitantes do império em listas de impostos no tempo em que Quirino era governador da Síria. Todos foram à sua cidade para se registarem. / Assim também José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, à Judeia, na cidade de David, chamada Belém, porque era da casa e da família de David. Ele queria ser registrado com Maria, sua noiva, que esperava uma criança. Quando lá chegaram, chegou a hora de Maria dar à luz, e ela deu à luz seu filho, o primogênito. Envolveu-o em fraldas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para ela na estalagem."(Lc 2,1-7)

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