terça-feira, 9 de janeiro de 2024

ALEMANHA - UM PAÍS EM TURBULÊNCIA

 

Agricultores paralisam o país

O governo federal precisa de dinheiro para moldar a política no mundo e para transformar também ideologicamente a própria sociedade; por isso tem tomado medidas restritivas em vários sectores da sociedade e quis abolir os subsídios ao gasóleo dos agricultores. A segurança e a agricultura são a base de um Estado soberano, razão pela qual também a agricultura deveria ser protegida pelos políticos.

Na UE a agricultura tornou-se completamente dependente de subsídios e, ao mesmo tempo, é controlada por regulamentação e burocracia desproporcionais (a política agrícola da UE promove grandes empresas agrícolas em desfavor da agricultura de pequena escala).

Na Europa atual, as regulamentações são impostas de cima, mais pela ideologia do que pelos especialistas. De facto, na UE, os Partidos Verdes - habitantes das cidades que vivem longe do campo - dirigem a política agrícola europeia com regulamentações constantes que colocam os agricultores em constante stress e, além disso, os agricultores são vistos por muitos como pragas ambientais. Os agricultores estão indignados e ao lado de outros atores doutros sectores movimentam os ânimos de todo o país com manifestações de tratores (com a maioria da população a apoiar a manifestação). 

Há acusações de representantes do governo alemão de que as manifestações dos agricultores estão a ser infiltradas por extremistas de direita. Mas isto foi contradito pelos organizadores das manifestações atendendo ao bom andamento das mesmas. A acusação de extremismo de direita é regularmente utilizada pelo sistema quando faltam argumentos factuais que justifiquem o seu agir (embora pequenos grupos de extremistas de direita e também de esquerda tentem, por vezes, perturbar manifestações pacíficas e abusar delas no sentido dos seus próprios fins). Também durante a crise do coronavírus, os críticos das medidas anti Corona foram rotulados de “direitistas” e “inimigos da democracia”. Os cidadãos já perceberam isso e não se deixam impressionar; muitos deles retiram-se para as suas vidas privadas.

O governo alemão quer redirecionar imensos fundos públicos para implementação da indústria militar, tecnologias de ponta e outros sectores de futuro como o energético, sector importante para indústrias viradas para a exportação.

Neste sentido, determinou cortar subvenções aos agricultores e reduzir os gastos sociais. Porque as medidas tomadas ferem principalmente as empresas agrícolas menos fortes, estas aliadas às grandes empresas organizam manifestações com tratores que provocam grande impedimento do trânsito chegado a bloquear acesso a autoestradas. O governo não consegue justificar ao povo as medidas que toma quando por outro lado emprega bilhões de euros no fomento de empresas de concorrência internacional e disponibilizou dez mil milhões de euros para a Ucrânia.

Um fenómeno novo que se observa em iniciativas cívicas e no acompanhamento de manifestações é o radicalismo acompanhante.  Manifestntes chegam a paralisar o país como é o caso de: protestos de agricultores, greves de maquinistas da ferrovia, “a última geração”, etc.

As greves dos agricultores desenvolvem-se em defesa das regalias que medidas da coligação do governo de Olaf  Scholz corta para reinvestir de modo a dar forma à viragem da mudança: 100 bilhões de euro no fomento militar.

A partir de agora, os agricultores teriam de pagar a taxa normal de imposto de 47,07 cêntimos por litro sobre o gasóleo. No entanto, podem solicitar um retorno de 21,48 cêntimos por litro consumido.

Na Europa, segundo apresenta o diário HNA 8 de janeiro de 2024, existem diferentes taxas de imposto para o gasóleo agrícola: Na Holanda, os agricultores não recebem quaisquer descontos e pagam a taxa integral de 52 cêntimos por litro. A França subsidia com 18,8 centavos por litro. Na Polónia, os agricultores não têm descontos, pagam 33,4 cêntimos por litro. Na Itália é de 13,6 cêntimos por litro, em Espanha de 9,7 cêntimos e na Dinamarca de 7,1 cêntimos por litro. Na Bélgica não existe qualquer imposto sobre o gasóleo agrícola. Com a restituição do imposto, na Alemanha os agricultores pagam 25,56 cêntimos por litro.

Os agricultores alemães consomem dois mil milhões de litros de gasóleo por ano, o que corresponde a 5% do consumo de gasóleo na Alemanha.

Em 2020 havia 263.500 explorações agrícolas e há 25 anos havia mais do dobro delas.

De acordo com o governo federal em 2020/2021, em média, as restituições de gasóleo agrícola por empresa cifravam-se deste modo: umas explorações agrícolas receberam em média 3.886€, os produtores de leite receberam 3.238€ e os fruticultores receberam 1.052€.

Os subsídios da UE representaram cerca de 57% do total de subsídios pagos à empresa em 2021/2022. O restante dos subsídios pertence aos governos federal e estaduais.

Em 2022/23, os agricultores ganharam bem; de acordo com a Associação Alemã de Agricultores, o rendimento empresarial médio das empresas agrícolas, após dedução de todos os custos, foi de 115.400 euros por empresa.

Em 2022, sete mil milhões de euros do fundo agrícola da UE foram canalizados para a agricultura e a pesca alemãs. Para efeito de comparação, segundo a HNA: “Na Alemanha só há mais financiamento para edifícios energeticamente eficientes com quase 19 mil milhões de euros, a microeletrónica é subsidiada com quase quatro mil milhões de euros”.

António CD Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8942

 

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