terça-feira, 4 de junho de 2024

A PALAVRA

 

PALAVRA

“No princípio era o verbo

e o verbo se fez carne”

O espírito revela-se na palavra,

Ora masculina, ora feminina                

Dela a essência do ser se lavra,

O sulco da vida, na lavoura divina 

Cada sílaba canta a verdade,

E no verso, a alma se faz notar.

Verbo divino em comunidade,

Eterna chama a iluminar.

Da voz emerge o som profundo,

Eco do cosmos, divino mar.

Palavra que abraça o mundo,

É a essência de Cristo a pulsar.

António CD Justo

Pegadas do Tempo: http://poesiajusto.blogspot.com/

 

 

A modo de ajuda para se entender algum dos aspectos de interpretação da poesia:

Já quando era estudante do secundário me interessava muito pela fenomenologia das religiões e por tudo o que a vida nos brinda. Creio que o interesse me surgiu quando na aula de História se tratou da mitologia grega e foi referido o mito de Prometeu. Encontrava-me a estudar no seminário dos salesianos em Mogofores.  Foi então que tive como que um momento eureca em que passeia a ter uma compreensão e um interesse especial pelas narrativas míticas dentro do cristianismo e fora dele. Verifiquei que o mito transmite uma verdade mais abrangente do que as verdades históricas. Desde aí passei a intuir que não existia só o aspecto narrativo a nível histórico, mas também paralelamente a narrativa mítica de significado mais profundo, além de outros métodos de procurar saber sobre a realidade.  Então impressionou-me sobretudo o mito de Adão e Eva que intui como um alargamento do mito de Prometeu que roubou o fogo aos deuses do Olimpo para o dar à humanidade. Mais tarde mexeu especialmente comigo a revelação de Deus a Moisés no monte Sinai quando este perguntou a Deus na sarça ardente como o deveria apresentar ao povo e Deus lhe respondeu “Eu sou o que sou, eu sou o tornar-me.…”. Uma outra Palavra que me acompanha em tudo é a expressão do evangelista João quando diz “No princípio era a Palavra/a Informação e esta tornou-se carne e ainda o mistério da Trindade do 1=3 e 3=1 (que entendo como a fórmula de toda a realidade)  e também a incarnação em que Jesus Cristo se torna o protótipo de toda a pessoa, de toda a humanidade e de toda a realidade. Isto entusiasma-me porque vejo aqui todas as filosofias incluídas e o Cristianismo como espaço aberto a toda a discussão séria. Isto entusiasma-me e leva-me a ver no Cristianismo um modelo exemplar de filosofia e ética para toda a humanidade. Da meditação destas revelações para toda a humanidade deduzo todo o meu pensamento e transmito-o indirectamente no que escrevo, havendo em tudo m fio condutor.

No mistério da encarnação constata-se o pulsar divino ligado ao pulsar humano e ao pulsar de toda a criação. De facto, estamos todos ligados uns aos outros e com a natureza fazendo parte de um só corpo e de um só espírito; em Cristo temos a divindade que nos une e sustenta e no Jesus temos a união de espírito e matéria; portanto em Jesus se revela também o Cristo cósmico.

Nas experiências do nosso dia-a-dia verificamos que tudo se encontra ligado e por vezes sentimo-lo através de intuições e até de se pressentir o que o outro sente ou pensa sem que o diga. Geralmente andamos muito distraídos com as narrativas que nos são apresentadas no nosso dia-a-dia e resta-nos pouco tempo para nos dedicarmos a entendermo-nos a nós mesmos e o que se passa em torno de nós. Cada pessoa é como que um microcosmo em que se encontra tudo reunido em ponto pequeno: o macrocosmo no microcosmo e o microcosmo no macrocosmo!

António CD Justo

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