Política
não interessada em acordos bilaterais em questões de tolerância religiosa
Por António Justo
No momento em
que celebrava a missa, Jacques Hamel de 86 anos, padre coadjutor em
Saint-Etienne-du-Rouvray, Rouen, Normandia, foi degolado por dois terroristas
do Daesh, segundo o método das suras do Corão ( 8:12, 47: 4). Traziam
facas, uma pistola e falsos engenhos explosivos. Do altar, fizeram um sermão em
árabe, que filmaram com o assassínio do padre a ser obrigado a ajoelhar.
Enquanto faziam isto uma freira conseguiu fugir da Igreja e alarmar a polícia.
Feriram gravemente um outro fiel no pescoço. Um atacante tinha 18 anos e era natural
de Saint-Etiénne, o outro é Adel Kermich de 19 anos que tinha tentado servir o
Estado Islâmico na Síria. A brigada de intervenção matou-os.
O que
pretendem os terroristas
O objectivo da
guerrilha na Europa é colocar pessoas e comunidades umas contra as outras. Os
extremistas muçulmanos pretendem com tais actos transformar a sua luta bárbara
numa luta de religiões. Se os cristãos abandonassem os
princípios do evangelho e adoptassem os métodos de violência dos guerrilheiros
de Alá, estes conseguiriam mobilizar também os muçulmanos moderados no sentido
da sua guerra santa (Jihad). Então conseguiriam acabar com o Maomé de Meca (místico)
para só fazerem valer o Maomé guerreiro de Medina.
O seu objectivo
é dividir uma sociedade que no seu interior político estatal já se encontra
dividida. Querem afirmar a diferença de mundos espirituais e ver legitimada a
violência.
Reacções ao atentado
O Papa Francisco
manifestou “dor e horror” pelo “assassinato bárbaro” e um comunicado do
Vaticano declarou: “Estamos particularmente abalados por esta violência
horrível ocorrida em uma igreja, um lugar sagrado no qual se anuncia o amor de
Deus”.
A reacção do bispo de Rouen ao
atentado foi: “A Igreja católica não pode ter outras armas que não sejam a
oração e a fraternidade entre os homens”.
O Cardeal Reinhard Marx,
presidente da Conferência Episcopal alemã reage: “Com isto pretende-se fomentar
o ódio entre as religiões… Vamos fazer frente a ele e não nos vamos juntar à
atmosfera de ódio e violência".
O presidente Hollande
disse: “Estamos em guerra” contra o Daesh.
Será
que só resta à população apelar a Deus?
A guerra não pode ser porém a palavra de ordem
dos cristãos; guerra é o alimento da guerra. Torna-se compreensível
que uma França aterrorizada tenha vontade de se vingar e naturalmente deva usar
também da violência contra o terror mas não de esquecer a parte humana e a corresponsabilidade:
a França e seus aliados fazem o seu negócio fornecendo os estados árabes e os
grupos rebeldes com armas e eles respondem fornecendo dinheiro e assassinos.
Muitos, que não percebem o âmago
da espiritualidade cristã, criticam a Igreja que ao reagir da maneira pacífica
como reage se submete. A igreja não pode porém reagir da mesma maneira que
reagiriam muçulmanos tradicionalistas ao ataque de uma mesquita. A sua mensagem
é outra e a sua maneira de estar na sociedade também.
A tarefa da pacificação não é
fácil. Querer reunir representantes cristãos com os seus homólogos islâmicos
nunca se dá em pé de igualdade atendendo aos diferentes conceitos dos parceiros
em relação à violência, ao governo, à sociedade e a outras religiões; para um Imame
não há negociações sobre uma palavra de Deus que não pode ser interpretada. É
inerente ao Islão não só uma agenda religiosa mas também uma agenda política.
Não chegam palavras de respeito é preciso que sopre um outro espírito nas
mesquitas com a valorização do Maomé religioso em Meca e uma interpretação
histórico-crítica do Maomé guerreiro (de Medina). Então seria possível a
publicação com comentários explicadores. Confundir as “revelações de Meca com
as de Medina” , ou até dar primazia de orientação prática a partir das suras de
Medina é democratizar a jihad como forma de vida mais que ad intra, ad extra. A
Política tem-se demonstrado desinteressada no estabelecimento de acordos
bilaterais em questões de tolerância religiosa.
A
figura insegura e duvidosa de políticos
A política tem
deixado também os seus cidadãos cristãos à chuva; nunca se preocupou com
convenções bilaterais entre Estados em questões de tolerância religiosa. O
fanatismo antirreligioso secularista procura, muitas vezes, enxovalhar o cristianismo
colocando a violência expressa no islamismo como algo inerente às religiões,
difamando assim as igrejas cristãs que tanto têm feito na defesa dos refugiados
e para a tolerância do islão.
É de observar uma atitude de
irresponsabilidade política crassa ao transmitir à população a ideia repetitiva
de que o fomento da polícia, das armas e as limitações dos direitos legais dos
cidadãos serão a resposta à insegurança e os garantes da estabilidade.
Enquanto a
Igreja se foi despedindo do Estado, reconhecendo com a democracia o princípio
evangélico da divisão de poderes (“a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus”), as Organizações muçulmanas negociam com os órgãos do Estado para que
lhes sejam concedidos privilégios no sentido do islão político. Muitos
políticos ocidentais, como se consideram representantes do laicismo não estão
interessados no estabelecimento de contratos com vínculo de reciprocidades no
trato religioso entre os países europeus e os países de cultura
fundamentalmente árabe. E ainda têm o cinismo de, publicamente, se admirarem do
que acontece na Turquia, e calam a realidade concreta de que o Estado turco
sempre segrega e discriminou os cristãos: até no cartão de identidade turco os
cristãos são identificados com um número específico, para que sejam impedidos
de assumir cargos públicos de grande relevância, dado um cristão ser um
suspeito para o Estado.
Tanto a palavra de Deus (Corão)
como as orientações de Maomé (Hadit) não são interpretadas no seu contexto
histórico pelos portadores do Islão (A teologia islâmica esgota-se na
jurisprudência e não reconhece a abordagem histórico-critica aos seus textos).
Muitos pensam que o comportamento do terrorismo árabe é apenas uma aberração da
idade média sem se interessarem pelo seu fundamento; os jihadistas sentem-se no
direito porque vêem o seu agir fundamentado em orientações religiosas
transmitidas e interpretadas à letra pelo facto de Deus se ter in-librado no
Corão. Os seguidores do Corão à letra não são elucidados pelos imames de que muitas
das revelações descritas no Corão eram feitas para justificar actos da vida
privada e política de Maomé (para isso teriam de reconhecer a análise
histórico-crítica do Corão e das Hadith). Esta visão é activamente fomentada
pela Arábia Saudita e suas embaixadas e transportada por todo o mundo por
salafistas que muitas vezes se escondem por trás de acções de distribuição
gratuita do Corão. Por isso muita conversa na opinião publica ao dizer que é
preciso combater a ideologia dos terroristas não notam que a sua fonte está no
próprio islão que precisaria de ser reformado.
A imprensa banaliza, por vezes,
actos como o de 2013 em Garbsen, Hannover, onde jovens muçulmanos queimaram a
igreja protestante Willehadi, falando apenas de “agitação de gangues de jovens criminosos”.
Os interesses da ordem do dia são
outros e nestas questões de terrorismo parece que o que resta ao povo será
gritar a Deus!
A Atitude do padre assassinado
Assassinaram o “homem bom”, o
“raio de sol do Rouen”, que tinha colocado toda a sua vida ao serviço das
pessoas e da comunidade.
O último apelo do padre Jackes
aos paroquianos que partiam para férias foi: “As férias são o momento para nos
afastamos das nossas ocupações habituais. Mas não é um simples parênteses, além
de tempo de descontração, servem também de encontro, de partilha, de
convivialidade. Oremos por aqueles que têm mais necessidade, pela paz, para um
melhor viver em conjunto”.
António da Cunha Duarte Justo
5 comentários:
Maomé foi um guerreiro… Por isso eu distingo os muçulmanos dos maometanos.
Ruy Ventura
Facebook
Os muçulmanos não gostam de ser chamados maometanos!
Esses métodos de tirar a vida ao semelhante em nome de religiões,ideologias e outras sandices,colocam o ser humano na lama,tiram-lhe a dignidade e reduzem-no ao lixo …O mundo está virando lixeira.
Gabriel Cipriano
Facebook
Justo explica a razao das duas nomenclaturas.
Rosa barros
Facebook
ISLÃO DE MECA E ISLÃO DE MEDINA
Penso que te referes ao islão (revelações) de Meca e ao Islão (revelações) de Medina.
Maomé começou por pregar o monoteísmo de Alá aos habitantes de Meca – um lugar de culto politeísta e multifacetado. Viu porém que os habitantes de Meca e as caravanas que por lá passavam se riam dele e da sua tentativa de criar um livro religioso que unisse as tribos árabes sob o manto de um livro e um Deus, à imagem dos Judeus (Antigo Testamento) e dos Cristãos (Novo Testamento).
Ao ver-se ridicularizado pelas diferentes tribos árabes e até combatido mudou-se para Medina com os seus adeptos, no ano 622 (Egira).
Especialmente aí optou pela espada como meio para fazer valer a sua razão, tornando-se num líder guerreiro de Estado . Para tornar o seu poder mais eficiente uniu a agenda política à agenda religiosa numa mesma missão e identificação. A parte do Corão elaborada em Meca é mística, poética e muito religiosa; a parte revelada na fase de Medina é muito violenta. Os seguidores do Islão violento têm fundamento nas suras de Medina. Em geral, os muçulmanos não fazem manifestações públicas contra os seus extremistas porque tanto as suras de Meca como as de Medina fazem parte do Corão.
Um abraço, António Justo
Enviar um comentário