Multicultura
contra a Intercultura – Turcos solidários com Erdoğan
Por António Justo
Em Colónia (31.07) quase 40.000
turcos participaram numa manifestação organizada pelas organizações DITIB e
UETD (Organização lobby do AKP da Turquia), para apoiarem o presidente da
Turquia (Erdoğan). 2.700 Polícias acompanharam a chuvosa manifestação que
decorreu pacífica. Na Alemanha já tinha havido em diversas cidades
manifestações pró- Erdoğan. A pretexto da multicultura afirmam-se
guetos nacionalistas adversos à construcção de uma sociedade
intercultural. Esta é a plataforma para conflitos de maior envergadura no
futuro.
A Alemanha está
chocada ao presenciar tantos turcos nascidos na Alemanha a apoiarem um déspota
que pretende transformar a Turquia num califado. A Alemanha
já tem a experiência de um ditador de eleição democrática (Hitler) que se
aproveitou da população mais simples para conduzir a nação à perdição; por isso
é tão sensível ao que se passa na Turquia de Erdoğan e ao facto de associações
turcas importarem para a Alemanha os problemas da Turquia.
Isto mais que a amostra dos
turcos na Alemanha é a amostra da força das suas organizações e o fracasso dos
esforços de integração (os valores de cunho árabe mostram-se resistentes aos
valores da Constituição alemã). O comício deu-se sob o título de "Sim à
democracia - Não ao golpe de Estado"! As associações DITIB e UETD
(Organização lobby do AKP da Turquia), organizadoras da manifestação, no dizer
de observadores críticos, entendem a luta e a denúncia como “um serviço à
religião e ao país”. Levam em conta uma sociedade a preto e branco feita só
de amigos e de inimigos. O Tribunal Constitucional Alemão não permitiu a
transmissão em ecrã gigante de um discurso televisivo de Erdogan aos seus
apoiantes em Colónia.
Um país onde “curdos, arménios e
outras minorias e religiões são oprimidos”; um país onde os cristãos têm um
número próprio que os identifica para serem discriminados; um país onde, depois
da tentativa de golpe de 15 de Julho foram despedidos mais de 3.000 juízes e
procuradores da justiça, mais de 3.000 oficiais das forças armadas, 1.389
soldados, 50.000 funcionários públicos e dezenas de jornalistas; um país onde
em poucos dias também foram aprisionadas mais de 18 mil pessoas, grande parte
delas por razão de suspeita e em que a denúncia e saneamento se tornaram
desporto popular não pode ser suportado pela EU.
O que moverá
tantos turcos a sair para a rua em manifestação Pro-Erdoğan e a apoiar quem
está disposto a institucionalizar a pena de morte e se aproveita do “golpe”
como pretexto para fazer o seu golpe de Estado? Porque será que, nas últimas
eleições parlamentares da Turquia, o partido de Erdogan (AKP) teve maior
percentagem de votantes turcos na Alemanha (60%) do que na própria Turquia?
Será este o
resultado de 60 anos de integração? Erdoğan em anos anteriores já
tinha dado a palavra de ordem à comunidade turca na Alemanha: “não se
assimilem aqui”; a tática do poder é organizar sociedades paralelas numa
esquizofrenia de lealdades. A lealdade à Turquia é mais forte que à Democracia.
Isto torna-se compreensível num Estado islâmico que controla a religião e
grande parte dos seus fiéis através de 600 imames (chefes de mesquitas) que
envia todos os anos para a Alemanha e onde ficam, por cinco anos, ao serviço do
governo turco.
A Turquia exige a livre
circulação dos turcos na Europa e ameaça a EU a ter de permitir a isenção de
vistos para turcos num prazo de três meses (o que significaria uma carta aberta
também para refugiados turcos)! Resultado: A EU verá rescindido, mais cedo ou
mais tarde, o acordo com a Turquia sobre os refugiados. O Estado turco não
oferece confiança.
Há 24 anos houve na Alemanha
ataques a residências de refugiados e em Mölln morreram 3 turcos numa casa
incendiada por extremistas. Em Munique o povo alemão solidarizou-se com os
turcos organizando uma cadeia de velas em que participaram 400.000 habitantes
de Munique. A Alemanha ainda se encontra à espera da reacção muçulmana aos
atentados efectuados por muçulmanos e sinais públicos de solidariedade com as
vítimas. As comunidades muçulmanas ligadas a associações e mesquitas
deveriam também manifestar-se publicamente para se distanciarem também com
manifestações contra os atentados terroristas em nome do islão e para mostrar
solidariedade com os cidadãos não muçulmanos. Doutro modo o matar inocentes em
nome do islão não é compreendido como insulto ao islão pelas organizações
muçulmanas.
A questão consequente que se
coloca: onde vivem as associações muçulmanas, como reagem à violência que surge
do seu meio?
Embora 30-40 mil turcos tenham
demonstrado em Colónia entre os três milhões de turcos há muita gente turca
que é moderada. Um outro aspecto a ter em conta é que Erdogan é fruto da
democracia e pelos vistos os turcos querem uma democracia autoritária e
problemática pelo facto de os três poderes não serem independentes. Actualmente,
na Turquia, como em tempos de revoluções, facilmente se é herói ou traidor!
O secretário-geral da CDU Peter
Tauber disse no Die Welt: "Quem aplaudiu a liquidação da democracia
turca, não se encontra na plataforma da nossa Constituição". (http://www.welt.de/debatte/kommentare/article157395025/Tuerken-in-Deutschland-muessen-ihre-Loyalitaet-klaeren.html)
Surgiu na discussão pública a
ideia esporádica de se introduzir a opção de jovens turcos, em vez de serem
possuidores da nacionalidade turca e da nacionalidade alemã, terem de se
decidir aos 23 anos por uma ou por outra.
A desaprovação da violência terá
de ser manifesta e combatida tanto por alemães como por muçulmanos; só assim se
cria confiança, porque para se construir a paz e evitar violência e guerra não
pode haver uma solidariedade só para os de dentro.
A sociedade tem
uma vida colorida mas o problema é que cada grupo pinta com a sua cor. Não é
conhecida a mistura das cores e por isso temos um quadro de sociedade berrante.
Vivemos, cada um no seu mundo, uns ao lado dos outros, em vez de vivermos uns
com os outros.
António da Cunha Duarte Justo
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