Com um olho na realidade e o outro no mundo virtual
Por António Justo
Jogadores do “Pokémon Go”, à medida que
caminham, coleccionam criaturas virtuais no seu Smartphon. Actualmente,
os programadores do jogo puseram 151 figuras virtuais em marcha. O
jogador pode aprisionar, combater, e treinar as figuras virtuais.
A Necessidade cria o Órgão
Como em tudo o que é vivo há movimento, movimento afirmativo e negativo, na procura de um equilíbrio que só o sonho satisfaz.
Na ordem natural das coisas a necessidade cria o órgão e as necessidades actuais criam os seus.
Os criadores de jogos de internet notaram que não seria saudável que os
seus utentes passassem o tempo corporalmente inactivos a treinar apenas
as qualidades digitais e as células cinzentas lúdicas dentro do seu
quarto. Os prisioneiros de sofá/Internet também têm necessidade de cor,
de movimento e de conhecerem as regiões onde vivem e ter encontro com
pessoas de carne e osso; a carência estimulou a criatividade de
programadores que conceberam um jogo adequado à necessidade de exercício
físico e que leva a juventude a espreguiçar-se por onde antes só se
viam turistas. Num mudo cada vez mais dirigido, o “Pokémon Go” tornou-se
num achado.
O “Pokémon Go”
O jogo “Pokémon Go” possibilita aos seus
utentes fazer as suas caçadas de Pokémon através da natureza e deste
modo fazerem algo pela saúde e pelo bronzeamento de uma pele já
demasiado esbranquiçada pelas luzes de néon.
Puxadas pelo jogo, pessoas de todas as camadas sociais, movimentam-se por montes e vales. De olhar fixo no visor do Smartphon lá vão elas na caça às criaturas virtuais. Por
vezes também dão de caras com olhares escusos ou até de troça pela
outra legião que faz parte das massas dos que engordam a taxa de sucesso
das transmissões de TV. “Pokémon Go” é um jogo que fascina; o
efeito de surpresa, aliado à aventura bem como a sensação de se
conseguir algo, aumentam o grau de satisfação e a impressão de se ter
sucesso.
No meio de uma sociedade cada vez mais
ensimesmada e com menos perspectivas reais o Pokémon apresenta a
vantagem de unir o mundo real ao mundo virtual e de colocar a malta em
peregrinação à procura de comunicação. Cria vida partilhada e recriação
de tempos livres num meio ambiente compartilhado que não se limita a
relvado para jogo e pode apontar para outras necessidades da alma.
Aí andam eles com um olho no
visor do smartphon e outro na realidade. Assim se distraem e se mostram
como seres visivelmente comunicativos numa sociedade virada para a
ilusão.
Não adiar a vida perdendo-se em vivências de ocasião
O problema não está na internet nem no Pokémon Go;
o problema surge no momento em que o jogo ou a internet ocupa demasiado
tempo da vida e pode distrair a vontade. Do que me é dado ver, na
contemplação da cena, noto que muito jovem corre o perigo de se distrair
da vida real, de não pegar nela pela frente, com vontade própria, nem
estabelecer metas concretas para a vida real.
A vida real passa a ser ameaçada quando se dedica mais tempo e interesse ao jogo do que aos afazeres
(trabalho, escola, universidade) e quando se passa a ter como fonte de
satisfação da vida prazeres e metas virtuais em vez de prazeres e metas
físicas, individuais, sociais e espirituais. Os jogadores têm de estar
atentos para não se tornarem prisioneiros do jogo e de um circuito
fechado de amigos (gueto), todos eles mais ou menos iguais, prontos a
aplaudir o parceiro, que com isto oferecem um reconhecimento social, que
periga por poder substituir o reconhecimento e auto-satisfação que
viria do seguimento de uma vocação ou profissão. (A este respeito pode
clicar em Pegadas do Tempo: Riscos do crente ad hoc). “Unum facere et alium non omittere”!
Quem mais ganha com o jogo: Nintendo com
cerca de 10% das receitas (= um milhão de € diariamente); os que mais
ganham são: Niantic com 30%, Pokémon com 30% e Apple e Google com 30%.
Desde que Pokémon Go foi lançado, nos
Estados Unidos, em 6 de julho de 2016, o jogo tem alastrado por todo o
mundo. Há locais, firmas e instituições onde se registam incómodos com a
grande afluência de jogadores nas suas áreas.
António da Cunha Duarte Justohttp://antonio-justo.eu/?p=3840
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