Exigências sem
Orçamento económico que as acompanhe são Fogo-preso
António Justo
Arouca ardeu e Portugal continua
a arder, o povo sofre e protesta mas Lisboa não ouve, nem pode ouvir, porque se
encontra demasiado longe da província e o governo está demasiado empenhado na
plantação dos seus eucaliptais de ideologia. O povo, tal como a floresta, é
passivo e portanto propício a ser sempre surpreendido pelas chamas dos
interesses corporativos.*
O Fogo consome a Caça e
o Povo é posto à Caça de Gambozinos
O OBSERVADOR refere que já em 2005 Arouca perdera 90 quilómetros quadrados devorados
pelas chamas do fogo sem que, em consequência disso, algo importante acontecesse.
Agora que arderam “170 quilómetros quadrados” de Arouca – uma catástrofe para a
fauna-flora e turismo - surgiram iniciativas exigindo limites à plantação de eucaliptos.
Sem um conceito económico base,
feito pela Câmara a acompanhar as reivindicações e sem uma política
governamental de aproveitamento económica das florestas nem um programa do
governo de investimento florestal que sustente as reivindicações, tudo não
passará de mais umas folhas de eucalipto a estalar nos ares da informação.
As medidas de reflorestação
exigiriam, para se tornarem eficientes, um programa concreto geral do
Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento para investimento na
floresta em parceria com os fundos europeus.
Propostas políticas que não
tenham inerentes a elas um conceito económico que proporcione rentabilidade
para lhes dar chances de aplicação serão destruídas pela briga política
habitual que distrai do essencial para viver de regulamentações feitas em cima
dos joelhos.
Concretamente, Arouca e o
Governo, além dos industriais da zona deveriam elaborar um programa económico
tendente a solucionar o problema dos incêndios na região. Esse programa poderia
receber muitos milhões de euros dos fundos estruturais (e outros) da União
Europeia. Para isso precisam-se, nas Câmaras, técnicos especializados em
projectos de investimento que prestem apoio a iniciativas locais feitos em
parceria com empresas ou proprietários locais e apoiados pela EU.
Aprender da Idade Média
para democratizar a economia
Falo disto porque estou habituado
a verificar que, na Alemanha, iniciativas culturais, ecológicas, de protecção
de animais, de produção de energia renovável, etc. fazem acompanhar as suas
exigências com propostas ou estratégias de aproveitamento económico ou são
justificadas pela defesa do património histórico e cultural. Num tempo em que a
economia é credo tornam-se inocentes medidas teóricas sem que mostre a
possibilidade de servir a ecologia e a região sem proporcionar lucros económicos.
Em cada Camara municipal terá de haver órgão conglomerador de iniciativas
que reúna sob o seu tecto parcerias entre Camara, associações sem fins
lucrativos e grupos económicos interessados em investimento. Projectos
concebidos sob tal constructo têm imensas chances de conseguir meios económicos
para as iniciativas que tomem em mão e implementem.
A ausência de uma política
económica e ecológica para as florestas torna a discussão num lugar para o
escape de sentimentos frustrados e um motivo de sorriso cínico para os
Ministérios, se continuar na mesma óptica do passado. O corporativismo muito
arraigado em Portugal e que se tem revelado muito útil para a maçonaria e para
outros grupos, reverter-se-ia em benefício público se fosse organizado a nível
camarário na tradição dos homens bons e de “Os 24 mestres do povo” que
defendiam os interesses das profissões e das regiões. Talvez seja preciso
voltar à Idade Média para democratizar a economia! Para isso há que tirá-la dos
monopólios de corporações ideológicas para as disponibilizarmos em proveito do
povo. Na Idade Média vimos na Casa dos 24 o surgir da ideia da democratização
da economia (política regionalista) através dos interesses de uma burguesia
surgente que se debatia contra os interesses monopolistas do clero e da
nobreza.
Vamos nacionalizar e
regionalizar os partidos!
Os políticos apoderaram-se do
lugar do clero na sociedade e o grande capital ocupou o lugar da nobreza. Hoje
para sermos modernos e para democratizarmos a economia será necessário reencontrar
a ideia medieval da regionalização e da indústria regional, sendo, para isso,
necessário acabar com os monopólios ideológicos que deixam a província arder
enquanto se aquecem nas suas chamas no parlamento e nas centrais do poder. Os
deputados das regiões terão de redescobrir o campo e a floresta e a não os
trocarem pelos areais das ideologias partidárias com bom assento no parlamento.
Concluindo: No rescaldo dos fogos
torna-se urgente democratizar e regionalizar a economia. Imagine-se que os
representantes do povo passavam mais tempo em torno da terra e do seu povo e
não se exilavam vivendo todo o tempo na capital em torno do partido e do
parlamento. A política que urge não é tanto nacionalizar bens e terras
mas nacionalizar e regionalizar os partidos; então as ideologias abandonarão as
suas honras e coutadas de interesses ideológicos para descerem ao povoado e se
democratizarem e assim se possibilizar uma verdadeira democratização do povo e
consequentemente uma democratização dos partidos.
Exigências sem um Orçamento
económico que as sustente correm grande risco de se tornarem em espectáculos de
Fogo-preso para agradar à vista muito longe de uma orto-praxia.
*O dinheiro que o Estado ganha ou
pede emprestado é canalizado para os vales da administração, aquela que oferece
sustentabilidade para os adeptos do partido. O dinheiro já não chega para pagar
tantos empregados do Estado com horário de 35 horas nem para o pagamento das
aposentações porque os funcionários do estado aposentados passaram a ser um número
maior que os funcionários no ativo e a política do Estado não investe na
produção real! Quem pode vai vivendo de quem pode menos, à imagem das labaredas
dos fogos.
António da Cunha Duarte Justo
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